Serge Reggiani deve o seu apelido à sua terra natal, Reggio d’Émilie, perto de Parma, em Itália, onde nasceu a 2 de Maio de 1922. Nesse mesmo ano, a 29 de Outubro, depois da “marcha sobre Roma” dos camisas negras, Benito Mussolini chega ao poder pela mão do rei Victor-Emmanuel III. Os pais de Reggiani, operários modestos mas antifascistas convictos, não aguentam muito tempo a rápida implantação da nova situação política e em Novembro de 1930 emigram para França, onde, no ano seguinte, se instalam definitivamente em Paris. Passados alguns anos Serge inscreve-se no Conservatório das Artes Cinematográficas (onde recebe, em 1938, o 1º prémio de comédia) e em seguida no Conservatório de Arte Dramática. É ainda neste final dos anos trinta que se inicia no Teatro e também no Cinema, onde irá participar em mais de 70 filmes, alguns dos quais pertencentes, por direito próprio, à história da Sétima Arte: “Les Portes de la Nuit” (Marcel Carné, 1946), “La Ronde” (Max Ophuls, 1950), “Casque d’Or” (Jacques Becker, 1952), “Il Gattopardo” (Luchino Visconti, 1961) ou “L’Armée des Ombres” (Jean-Pierre Melville, 1969).
Já nos meados dos anos 60 inicia-se como intérprete na canção francesa, graças ao casal Yves Montand / Simone Signoret, de quem se torna amigo inseparável, e sobretudo a Jacques Cannetti, o director artístico mais em voga na época, e também íntimo do casal Montand. O 1º album é editado em 1964, “Serge Reggiani Chante Boris Vian”, sendo bem acolhido pela crítica e pelo público. Dois anos depois, em Dezembro de 66, a cantora Barbara, seduzida pelo seu album de estreia, leva-o como artista convidado a fazer a primeira parte do seu recital no Bobino de Paris. Depois ensina-o a trabalhar melhor a voz, ao mesmo tempo que o apresenta a Georges Moustaki. O resultado é a edição de um 2º album, em 1967. O eclodir de Maio de 68 em Paris torna Serge Reggiani num dos artistas mais queridos da juventude, devido às suas fortes conotações com as políticas de esquerda. Tem já 46 anos quando finalmente se estreia como vedeta principal no Bobino. É o início, tardio, de uma das figuras mais marcantes da Canção Francesa. Esta Antologia, fundamental, reúne em dois discos 47 das melhores canções que Serge Reggianinos deu a conhecer (ou a redescobrir, como no caso das muitas canções de Moustaki que interpretou) ao longo da sua vida.O período abrange 15 anos (de 1968 a 1982) e representa sem dúvida o expoente máximo da sua criatividade.
A vida pessoal do cantor teria uma vertente trágica quando o filho Stéphan se suicida em 1980, apenas com 35 anos de idade. Segue-se um período de grande depressão e um regresso ao alcoolismo que já o havia atormentado alguns anos antes. Mas pouco a pouco, com a ajuda dos amigos, Reggianivolta ao trabalho e ao seu público, brindando-o com um grande espectáculo no Olympia de Paris no ano seguinte. Em 1984 edita o seu último album de originais, “Elle Veut”, na etiqueta Polydor e cinco anos depois assina novo contrato coma editora Tréma, onde serão publicados mais 8 albuns até ao ano 2000. Em 1997 regressa à terra natal, onde dá um espectáculo emocionante, e antes do final do século volta também aos palcos em Paris. Em 2002 numerosos nomes da canção (Birkin, Bruel, Renaud, Arno, Lavilliers...) fazem-lhe uma homenagem num disco intitulado “Autour de Serge Reggiani”. O album é produzido por Jean-Pierre Madet e Serge Reggiani interpreta nele um único tema, “Le Temps Qui Reste”, quase como que uma despedida. 2003 é o ano das condecorações e reconhecimentos “oficiais” por toda uma vida dedicada ao espectáculo. Em Paris dá os últimos concertos no Olympia, a 7 e 8 de Outubro, incluídos na sua derradeira digressão por terras de França. Vem a falecer a 23 de Julho de 2004, na sequência de uma crise cardíaca, aos 82 anos. Repousa no cemitério de Montparnasse.