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FICHA TÉCNICA:
Ano: 2024 - Gravadora: SWP
Nº de catálogo: SWP-0176-2
Seleção de repertório: Leo Brunno
Masterização: Sky Walker
CAPA e ENCARTE:
Fotos: Google exceto contracapa gerada por IA.
Arte-final: Sky Walker
Fonogramas cedidos: UMG-France exceto Hyperion (1) e SME (4 e 12).
PLAYLIST - Todas as faixas regidas por Villa-Lobos exceto faixa 1:
- MAGNIFICAT-ALLELUIA / Corydon Singers; Elizabeth McCormack, mezzo-soprano; Corydon Orchestra; Matthew Best, regente.
- CHOROS Nº 10 "RASGA O CORAÇÃO" (FINAL) / Chorale des Jeunesses Musicales de France; Orchestre National de la Radioffusion Française
- FLORESTA DO AMAZONAS: ABERTURA / The Symphony of the Air & Chorus
- BACHIANAS BRASILEIRAS Nº 5 - 1. ARIA (CANTILENA) / Bidu Sayão, soprano; Leonard Rose, Violoncelo solo.
- BACHIANAS BRASILEIRAS Nº 5 - 2. DANÇA (MARTELO) / Victoria de Los Angeles, soprano; Orchestre National de la Radioffusion Française.
- BACHIANAS BRASILEIRAS Nº 2 - TOCCATA (O TRENZINHO DO CAIPIRA) / **Orchestre National de la Radioffusion Française.
- INVOCAÇÃO EM DEFESA DA PÁTRIA / Maria Kareska, soprano; Chorale des Jeunesses Musicales de France; Orchestre National de la Radioffusion Française.
- DESCOBRIMENTO DO BRASIL, 4ª SUITE: 1. PROCISSÃO DA CRUZ (VISÃO DOS NAVEGANTES)*
- DESCOBRIMENTO DO BRASIL, 4ª SUITE: 2. PRIMEIRA MISSA NO BRASIL / *Choeurs de la Radioffusion Française; Orchestre National de la Radioffusion Française.
- BACHIANAS BRASILEIRAS Nº 4: 1. PRELÚDIO (INTRODUÇÃO)**
- BACHIANAS BRASILEIRAS Nº 4: 3. ÁRIA (CANTIGA)**
- MELODIA SENTIMENTAL (Da "FLORESTA DO AMAZONAS") / Bidu Sayão, soprano. The Symphony of the Air.
- CHOROS Nº 10 "RASGA O CORAÇÃO" [Poema sinfônico completo] [Faixa-bônus digital]
Olá, Padawans! Todes bem?
Poucos sabem ou mal se lembram que eu tenho uma conexão quase que simbiótica com Música Erudita (lembrando que Música Clássica delimita ao período do Classicismo historicamente falando) e aproveitando que, em breve, irei cantar mais uma obra dele, trago a todos um breve portfolio do compositor HEITOR VILLA-LOBOS, considerado o maior compositor das Américas com mais de mil obras no currículo. Começou como um compositor Modernista (oficialmente conhecido e divulgado durante a Semana de Arte Moderna de 1922), bebeu de nosso folclore, aliou ao conhecimento musical erudito e fez o que todo compositor famoso fez: Pegou as nossas raízes e embutiu na música de concerto inovando, assim, a forma de composição que o fez ser aclamado no mundo inteiro. Até hoje ele é referencial de Música Brasileira Erudita no exterior. Durante o Estado Novo, na era Vargas, ele compôs obras de caráter nacionalista e criou o Canto Orfeônico que possui reflexos na forma de se ensinar música no Brasil até hoje. Ele enchia o Maracanã de milhares de alunos que aprendiam música sob sua orientação e regia milhares.
A obra de Villa-Lobos sempre tem tendências apoteóticas, de difícil execução. Músicos medianos não se criavam com ele. Ou sabia fazer o que ele queria ou nem tenta executar uma música dele. Na época os mais renomados músicos do exterior reclamavam e apanharam bastante para executar suas obras conforme ele queria.
Nos últimos anos de sua vida Villa-Lobos foi à França fazer uma série de gravações de suas obras. Lembrando que naquele tempo não tinha como fazer edição de nada e a gravação era um registro ao vivo. Talvez pelo pouco tempo disponível para se gravar, quem cantou suas obras como eu percebe um monte de "saídas" pela tangente que ele mesmo autorizou para que a gravação fosse concluída. Por exemplo: Ele criou onomatopeias simulando Tupi-Guarani em "Floresta do Amazonas", "Descobrimento do Brasil" e "Choros nº 10". Como "Floresta" foi gravado nos Estados Unidos - inclusive desaposentando uma já retirada Bidu Sayão para ser a solista - foi tudo conforme ele quis, mas na França...
As sopranos tiveram muito problema para ler o "Villalupiano" onomatopaico em "Descobrimento do Brasil". O restante do coro mandando ver nos "catupiranga" do texto e as sopranos todas no "la la la". Outro poema sinfônico que sofreu alteração em seu registro foi "Choros nº 10" com o poema "Rasga Coração" escrito por Catulo da Paixão Cearense com menções de Anacleto de Medeiros. Quem tinha o texto do poema (em sua maioria sopranos e baixos) vocalizou em vez de cantá-lo. Como a parte que cabia ao tenor - eu - era "jakatá camarajá", ele não perdoou e baixou a ordem pra todos os outros naipes fazerem a onomatopeia.
Ele compôs os "Choros", que nada tem a ver com o Chorinho carioca. Por exemplo, "Rasga O Coração" está mais para uma toada amazonense e a música é tão percussiva que dá uma vontade mega de se dançar com ela com se estivéssemos em Parintins. Tem até os "hei! hei! hei!" deles.
Outra peça que eu acabei achando curiosa foi "Invocação em Defesa da Pátria" porque Villa fez todo mundo cantar em português. Só que saiu tudo com sotaque francês. Ficou algo como: "Oh, natûrrreeezaaaaah / Do meu Brrrrésillll..." Enfim, ele tinha de gravar, o orçamento só dava para aqueles dias e tocou o f*da-se, como todo bom carioca que se preze.
Uma das suas obras mais célebres, "Bachianas Brasileiras nº 5", foi originalmente composta para octeto de violoncelos. Bidu Sayão, soprano brasileira famosíssima até hoje (foi enredo da Beija-Flor de Nilópolis no carnaval) e amiga do Villa, ficou eufórica e pediu a ele para escrever uma linha de soprano para que ela pudesse cantar. Assim ele o fez e ainda pinçou um poema de Ruth Valladares Corrêa para que ela fizesse um recitativo no meio da música. A última nota, agudíssima, ele a fez sustentar até o ar dela acabar. Isso ficou registrado, gente!
Temos um conexão da música do Villa com a teledramaturgia: "Floresta do Amazonas" foi abertura da minissérie "A Muralha"; "Aria (Cantilena)" das Bachianas Brasileiras nº 5 foi primeiramente tema da novela "Irmãos Coragem" pela voz de Joyce e depois em "Amazônia" pela interpretação da soprano Maria Lucia Godoy"; "O Trenzinho do Caipira" ganhou letra de Ferreira Gullar e foi tema de abertura da novela "A Lei do Amor" pela voz de Ney Matogrosso; e o Prelúdio das "Bachianas Brasileiras nº 4" foi tema instrumental da minisséire "Anos Rebeldes".
Além das citadas temos Villa também interpretado na MPB: Djavan regravou "Melodia Sentimental" e Milton Nascimento regravou a Cantiga das "Bachianas Brasileiras nº 4" que ganhou a letra chamada "Caicó" (Ô, mana, deixa eu ir / ô, mana, eu vou só / ô, mana, deixa eu ir / pro sertão de Caicó) e ficou deslumbrante em sua interpretação.
Em suma: Villa-Lobos é mais entranhado na música brasileira como um todo do que você pensa: Ele viajou o Brasil inteiro, se embrenhou em matas e florestas e catalogou a música folclórica de todo o pais e com isso lançou o "Guia Prático" que até hoje professores de música usam como material de ensino. Muitas dessas cantiga de roda ele deu um re-vamp e transformou a coisa de uma maneira que quem ouve fica estupefato. Ele é o meu compositor brasileiro erudito preferido e entrou para o Olimpo da Música Mundial. Eu falei erudito? Na verdade ele era crossover: Ele transitava com naturalidade entre o erudito e o popular.
É isso, pessoal! A quem tem um certo preconceito com música erudita, eu fiz uma coletânea uma vez chamada "Get Serious!" há algum tempo e provo a todos que o estilo não rima com música que irrita. Baixem e comprovem.
Beijos no corpo e FUI!