01 dezembro 2025

e assim vou, sem ir.

É trágico saber-nos destinados à obscuridade das vanguardas, que é para onde tendem todas elas. Do fim do tempo. Do frio absurdo. Nunca serei um escritor rentável e visível, porque isso, estou no fim da história a fazer os meus vanguardismos agressivos. Só a poesia me salva, e mesmo aí não sei se sou entendido. Senão vejamos: o romance social teve os últimos estertores nos modernismos do século XX. E eu sou todo modernismo século XXI. Bem sabemos que é baralhar e voltar a dar. Não há novidade. É só uma forma de dizer e estar. Mas, porra, a minha forma de dizer é muito agressiva para as mentalidades vigentes. Nunca, ninguém, me entenderá. Ou entenderá, assim: objecto estranho e paranóide. Meio anjo, meio animal.

Se escrevesse um romance, suspeito que primeiro teriam de lhe dar um novo designativo. Escrevo já para a arca? Também não é muito comigo essa atitude heróica. 

E assim vou, sem ir.

30 novembro 2025

oh gente do meu país, ou whoever/wherever

 No Vale do Pereiro, Sertã, existe a Casa de Gigante.

Bela casa, boua causa.

Vão.

Eu fui e irei. Muntaaas xs. Mais muitas.

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(podem pesquisar na net, mas está desactualizado:  vão)

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(ou nunca mais vos emprestarei os meus brinquedos)  


16 novembro 2025

 




regresso ao universo do senhor redman
desta vez imbuído de uma tristeza doce










02 novembro 2025

 





um dos mais interessantes projectos nacionais
a iluminar o jazz de domingo à noite












26 outubro 2025

 




o imortal trio de bill evans num domingo no
village vanguard de nova iorque: um clássico
instantâneo, como alice no país das maravilhas











14 outubro 2025

o primeiro dos Polanski.


É feliz; é feliz a ideia de cumular a faca à água. Essa imagem. A imagem, nervosa e que vem do dentro para o dentro, do belo filme [longa-metragem] de estreia de Roman Polanski, de 1962. Que, a não ser o minimalismo técnico e a plasticidade à deriva de uma língua própria, não parece uma primeira obra. É já crescida. 

O estrangeiro, vagabundo e jovem, repete várias vezes que a faca não lhe serve de nada na água - lugar natural do homem do leme, o nosso Andrzej - não a corta; mas lá de onde vem, no mato, é-lhe útil. Está dado o tom: pseudo-subserviente enfrenta o autoritário. E o quanto é que apetece circum-navegar por uma retórica análoga à situação política da Polónia daquela era? É, apetece.

O Eros, todo ele Antonioni, neste filme de Polanski dá as voltas que quer pelo mar obscuro de lâminas que é a masculinidade e torce pescoços de pronto, ou não tivéssemos uma faca rasgando as águas silentes e pantanosas de um casamento fracassado. Como um sexo que retorna ao lugar de prazer, Andrzej é absoluto, personagem-sem-delírio, mas a cabeça estoura de ressentimento quando Krystyna arma a revolução que lhe estava há tanto por fazer e, sobretudo, dizer. 

Porém, é tudo um caos calmo em êxtase de fogo-fátuo, filmado quase de forma bárbara, porque pequena e incalculável a adrenalina que corre entre este trio que nasce de um acaso. Não faz muito sentido falar do destino até que a última imagem do filme nos ensombra.

12 outubro 2025

contra o esquecimento.


Deus existe, existindo contra o esquecimento. Nós esquecemos, passamos paninhos, fiu fiu fiu, é só assobiar para o lado. Mas uma, à falta de melhor designativo, entidade que sabe tudo e vê tudo... já devíamos estar a tremer, como lá o coisa ruim está, porque sabe que o tempo dele é curto. E sabe que Deus existe contra o esquecimento. Para o bem e para o mal, atenção. Deus é uma verdade MUITO inconveniente para muitos milhões de pessoas. Cada vez mais e em maior número. Mas a indiferença-burguesa-apalermada também se paga, cêntimo a cêntimo - já disse que Deus sabe e vê tudo? Porque Deus não esquece de quem o esquece, ou, por ser demasiado inconveniente, o quer esquecer. Persegue-os, nos casos sem emenda, até à morte. Deus não condena ninguém, diretamente ou por capricho: é a alma empedernida no pecado e no crime que entra em desespero ao entrar em contacto com a realidade que achava não existir, e se condena. Ela própria não suporta tamanho antagonismo. Há aquela ideia de que o inferno é alaranjado e vermelho, que há um fogo que devora. Devemos esclarecer que o inferno é muito mais branco: o fogo que devora é um vazio perpétuo imenso. É a alma separada de Deus, sua fonte. É uma dor de não ter que se transforma em sentimento negativo. Um estado de negação completo. E ainda deve ser mais coisas, nenhuma delas boa. O bom é lá em cima.

06 outubro 2025

Embora tenhamos o Nuno Lopes ao nível médio do Nuno Lopes, Lavagante não dá nada ao espectador para levar, ou ficar, consigo; no fim, não se entra num êxtase amoroso Jane Austeniano, nem lacrimejam os olhos de ver o sacrifício "socialista" Ken Loachinano ser parido nas nossas emoções. Fica-se especado, sem intensidade, entre imagens que vão de A a B e de B para A numa dança muito sem sal e alegria, sem luxos de recorte, tudo assintomático, um discurso em que lhe falha a super-abundância do tempo que retrata e actores capazes de o dar a entender, e cheirar. Apesar da boa-vontade, isto é só transportar bagagem. Quis, Mário Barroso, fazer-se tão entender, que tornou tudo num imenso plano cheio de escrúpulo com 90 minutos. A pedir licença à nossa inteligência para ser suficiente. Acho que José Cardoso Pires entrega mais do que trabalho de arquivista... 

Entendemos, à distância, que este filme é só não-sofisticado: uma estória de amor ténue, porque doente e censurada; sem fuga, é o natural-betinho de boas-famílias em todo o seu esplendor; o que só apetece dizer no fim é 'E daí?' - tanto é o que acrescenta e, como bónus, temos o Diogo Infante a fazer de mauzão PIDEsco... 

Ele anda por aí, nas salas.

05 outubro 2025

 




cinquenta anos depois, a música dos soft machine
regressou aos tempos de antena caseiros. e bem.











03 outubro 2025

Carreteira de fogo


O mar obscuro de lâminas cinza voltou a encontrar-me ensanguentado
Improvisando uma cura na gaze de vilão de cinema, 
Sendo qualquer coisa mais narrativa este sangue que derramo hoje
E não é sémen no chão
É música velada Universo Víscera e círio cardado que ouço com doçura
E contento o mundo com o meu prazer
O meu prazer entre silvos Muito ou pouco O homem que pensei ser
Ser louco Rato ou bardo da loucura
Mas folia funda no meu pensamento sou,
Nos sonhos te vejo É tão tarde
Há os restos de comida nesta mesa de festa
Como os cães de casa que rastreiam as suas presas E por capricho se lamentam
Arrastando o passo até o céu pôr-se a chover chibatas 
E é a dor da terra molhada
A prova evidente de que gostas de mim,
Cantarei a canção e bailarei a pena torcida até saber quem tem razão
Faz tempo que não sei quem sou Contei a mentira
E de noite pedindo perdão
É que voltar por voltar,
Frio tão frio que não posso fazer mais nada do que arder
Esse doce perfume que me voltas Reminiscência, Lá fora é só o mundo
Uma pele uma pedra Voltar voltar voltar Aprender bruxaria
Deixa-me passar feiticeira Tem alguma compaixão
Carena vinho cantar descida 
Não sei se falo de algo antes dos anjos 
Antes de ouvir a manhã
Antes de converter-me de novo em fogo A parábola de um grande sonho
Se pudesse prevenir-te com uma guerra disparar ignorância sobre a tua cabeça
Bombardear todos os meus esquemas obrigar-te a consumir-me e a consumir-te
Para que me desfrutes só tu
Ver-te extinguir
Como a social democracia
Medo ensurdecedor de desestabilizar 
Eu digo o que serei Uma parede Se queres Entre as minhas pernas
Depois de cem anos morto encontrarão o meu corpo que tinhas querido
Entre as paredes se ouvirá uma árvore
Canta
Canta
Canta
Canta
Canta
Deixa-me subir.

28 setembro 2025

 





no jazz de domingo à noite
o trompete mágico do senhor akinmusire












21 setembro 2025

 




no jazz de domingo à noite
o sr. redman brinca às escondidas











14 setembro 2025

 



jazz de domingo à noite: tive a sorte de ter ouvido cada um em concerto,
mas nunca assim neste trio, que marcou muito o jazz dos anos oitenta.
e, claro, agora já não será possível ouvir este palhaço ao vivo.











07 setembro 2025

 




no jazz de domingo à noite
uma irrepreensível cover de
um daqueles standards que...











um mutismo olímpico.

Deus intervém na História que é a dos homens - a vida dos mártires e dos santos de todas as épocas comprova-o; mas o seu mutismo é de iguais proporções, senão maior - a Sua Ausência da História, em momentos trágicos, é dolorosa. Nunca percebi. Acho que só vou entender quando morrer. Acho que Deus, e isto é uma opinião muito pessoal, se resguarda, não se expõe, não se Revela a todos porque isso seria contra a Sua Natureza e Vontade. Afinal, qual era o desafio se Deus tivesse permanentemente na testa um autocolante a dizer Eu sou o que Sou? Não, isso não era destino, incerteza, dados, sorriso sem ambiguidade. Isso seria fatalismo pessimista e desconsolo, uma escravidão involuntária e automática. 

Mas como e porquê? 

Deus dá-nos uma Liberdade incondicional e extrema, até para O odiar. E deixa, misteriosamente, o bafo do Inferno actuar, com limites, sobre o mundo. Procura sempre um maior benefício, disso não tenho dúvida, porque Ele é assim: se puder salvar dois, salva dois em detrimento de um. É entre este limite da actividade satânica, que corrompe e actua sobre os homens, e a Liberdade, que devemos procurar uma resposta: a possível, a satisfatória. O resto é o mistério da arquitectura da Salvação a funcionar.

«O homem é um deus quando sonha e um mendigo quando pensa.» - Hölderlin

02 setembro 2025

ainda não sei e também não quero saber, mas talvez saiba e não pergunto

 Passei de estar queimada, nesta vila, a calcinada.

Até às minhas meninas ofereci, para a sua biblioteca, livros sobre mitologias.

Vários, adequados à idade.

Estou a renascer, como a Fénix.

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A minha beleza de 30 anos tatuou a Medusa (em pontilismo) num braço.

A minha beleza de 27 anos tatuou o Ouroboros, rodeia-lhe uma das pernas.

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Calcinada, o tanas.

A minha herança maior perdura.

Não se pendura!