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quarta-feira, 28 de março de 2018

A IV CONEPIR-PE - Conferência de Promoção de Igualdade Racial de Pernambuco e a revelação do Racismo institucional do Estado

Delegadas e delegados eleitos da IV Conepir-PE. Foto: Acervo de Alexandre L'Omi L'Odò.

A IV CONEPIR-PE - Conferência de Promoção de Igualdade Racial de Pernambuco e a revelação do Racismo institucional do Estado

Infelizmente tenho que escrever esse texto. Gostaria de ter apenas o que comemorar em relação à discussão de Promoção de Igualdade Racial em Pernambuco, mas, não tenho como omitir minha crítica neste momento, que precisamos refletir e nos fortalecer cada vez mais, para combater o racismo e a intolerância.

Este não será um textão... Mas nele, constará algumas visões minhas, sobre a Conferência e a despriorização da pauta racial do Governo do Estado. Quero que fique enegrecido, que esse texto é uma crítica ao Estado e ao seu racismo institucional, não às pessoas que realizaram a conferência, pois compreendo, que mesmo com todas as dificuldades, esses funcionários, tiveram muito boa vontade e lutaram para fazer o melhor, mesmo não conseguindo.

No último dia 27 de Março, uma quarta-feira, de 2018, fui como delegado eleito ao Centro de Formação e Lazer do SINDSPREV, que embora seja um local muito adequado para atividades como uma conferência, localiza-se em uma área de acesso difícil, devido sua distancia. Este fato do acesso ruim, já pode ser aqui, um dos primeiros elementos para desenvolvermos uma discussão sobre como dificultar a chegada dos povos tradicionais e dos movimentos ao local, tendo em vista, que não foram disponibilizados transportes para (por exemplo), pegar pessoas no Centro do Recife, levar ao local do evento, e depois levar de volta ao Centro... como forma de facilitar o acesso. Todas as pessoas que foram, gastaram de seu próprio bolso o recurso para pagar o taxi, uber, ou até mesmo ônibus. A questão do acesso, aos delegados e delegadas, é o mínimo que se deve orçar, quando se trata de uma conferência estadual.

Sabemos que uma conferência, é uma instância da democracia, para a sociedade civil e o governo, debaterem e pautarem questões prioritárias para o desenvolvimento do tema central dos debates. “Conferência, é para conferirmos”, e ampliarmos os avanços das políticas públicas. Um documento geral de uma conferência, tem a função de servir como norteador central para a efetivação de políticas públicas, portanto, sendo assim, não valorizar e garantir o debate coletivo em uma instância dessas, é matar na raiz seu objetivo geral e central. Assim, o Estado, matou na raiz o sentido da Conferência, pois, ela foi realizada em apenas um dia.

Um dia! Um dia não dá pra nada! A dinâmica do encontro foi muito ruim e prejudicou profundamente o desenvolvimento dos debates. Muitos e muitas, falaram por uma boca só: “o que estamos fazendo aqui, senão sendo-nos feitos de palhaços?!”. Essa foi a impressão geral... O que estávamos fazendo ali? Essa foi a face mais racista da Conferência de Promoção de Igualdade Racial do Estado de Pernambuco. A não priorização dos debates, como se não tivessem importância nenhuma, ou como se nós, delegados e delegadas não tivéssemos massa crítica para entender tudo o que estava acontecendo ali, foi a questão mais evidente para criticarmos e nos rebelarmos contra esse processo que, a meu ver, não nos deu condições de considerarmos representativo ou digno de respeito, afinal, nós que fomos desrespeitados.

Uma conferência, que tinha mais de 4 eixos temáticos para serem debatidos separadamente, propostas para serem aprovadas e ampliadas, selecionadas e criticadas... Debates complexos coletivos a serem feitos, além de no final haver a plenária geral para todas e todos aprovarem as propostas de cada eixo temático... Além da eleição dos delegados e delegadas para a Conferência Nacional... Isso tudo, foi impossível ser feito em um único dia. Aliás, foi feito! Feito da pior forma possível, sem nenhuma sensibilização, sem nenhuma respeito às discussões e as pessoas. Foi feito na tora...

Humanamente é impossível! Além dos debates, tiveram mesas de abertura, falas longas... Leitura e aprovação do regimento da conferência e ainda ao final leitura das moções... Muita coisa! Muita coisa jogada de qualquer forma, para ser feita em apenas um único dia... Isso é racismo institucional – O estado de Pernambuco não respeita a discussão racial de forma nenhuma. Nem conseguem fingir direito... Pelo menos fazendo uma coisa com mais respeito... Fizeram e jogaram em nossa cara seu racismo em forma de ausência de recurso e atenção.

Nas circunstâncias apresentadas acima, seria muito melhor não termos feito conferência. Conferência é uma coisa séria e importante, e não um lixo, do qual fomos todos jogados dentro para sermos passados por um rolo compressor que tem como objetivo principal, calar o debate racial em Pernambuco! Compactuar e calar perante a este absurdo, seria ser covarde com nossos ancestrais, pois eles, jamais permitiriam que tudo isso acontecesse, sem haver reação imediata contra os herdeiros da Casa Grande.

Fiquei até o final para ver tudo... Saí de lá mais de oito horas da noite, cansado e pessimista. Meus amigos e amigas de movimento, também expressaram o mesmo sentimento. Infelizmente tivemos que estar ali até o final para vermos com nossos próprios olhos, o quanto o Estado foi racista! Essa conferência, jamais poderá constar no currículo do governador em sua campanha eleitoral, pois sabemos que ela foi feita nas coxas, exatamente para servir como elemento para que esse governo que apoiou o Golpe, diga que apóia a discussão racial! Temos que dizer coletivamente que É MENTIRA! QUE O GOVERNO DE PERNAMBUCO É RACISTA E NÃO NOS REPRESENTA!

Não saí delegado e nem concorri a vaga. Compactuo com o pensamento de meus irmãos e irmãs de Salvador, que não realizaram conferencia por terem a posição política de não dialogar a nível federal com o governo golpista. GOLPE É GOLPE! E estamos em um Estado de exceção. Nunca devemos perder a consciência disso.

Poderia ainda falar que o almoço foi insuficiente, que não teve jantar, que houve erro na condução da conferência etc. Mas não escreverei mais, acredito que não há muito o que falar, após constatar, que a discussão, que é o essencial de uma conferência, foi vilipendiada, prejudicada e tornada inviável, como forma de nos impedir de progredir.

Lamento. Estou triste. Rogo que possamos nos fortalecer mais para não aceitarmos mais esse destrato com nossas pautas políticas. Não podemos brigar entre nós. Não podemos fazer o jogo dos senhores e senhoras da Casa Grande. Temos que eleger nossos próprios representantes para que essa discussão seja feita desde dentro do Estado, com pessoas (não qualquer pessoa) nossas, que possam nos representar e nos fortalecer na luta contra o racismo institucional.

Alexandre L’Omi L’Odò
Delegado na Conferência Estadual – IV CONEPIR-PE
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomiloso@gmail.com

sexta-feira, 7 de março de 2014

Reflexão sobre o patrimônio do carnaval do Recife – A cultura Popular

Registro do Bloco Bola Preta no Carnaval 2014 da Prefeitura do Recife. Foto: Alexandre L'Omi L'Odò.

Reflexão sobre o patrimônio do carnaval do Recife – A cultura Popular

Não detectei nenhuma política efetiva de preservação ou salva guarda do patrimônio material e imaterial de grupos que se apresentam todos os anos no desfile do Carnaval do Recife, como, agremiações, caboclinhos, ursos, bois, maracatus etc. que tem mais de 100 anos de existência como o bloco Vassourinhas e o Bola de Ouro entre inúmeros outros. É incrível ver a olhos nus o quanto é desprezada e desrespeitada nossa cultura. O Estado não se responsabiliza nem toma parte do que é de sua obrigação e ainda promove o racismo institucional de forma aberta na maior festa de nossa terra. Festa esta, que com a face e o colorido dos brincantes e fazedores da cultura popular, enchem os cofres públicos e privados de dinheiro do turismo, sem que este seja compartilhado de forma justa e equânime.

Roupas decadentes, alegorias entristecedoras... Pessoas sem auto-estima de desfilar... “Morgação total”. Tudo bem que são grupos privados, com CNPJ... Mas isso não significa que estes tenham que dar conta da tradição imaterial que mantém viva a duras penas por tantos anos... O Estado lucra com isso, e mais uma vez repito, esta grana tem que chegar às mãos dos grupos de verdade pra poder ajudar na manutenção caríssima de seus “brinquedos”.

Muitos idosos orgulhosos desfilando, provavelmente saudosos dos tempos de ouro do grande Carnaval... Mas hoje vestidos com trapos... Reaproveitando orquestras e grupos de dançarinos de frevo... Uma reciclagem amedrontadora, que sinaliza que temos poucos músicos/orquestras e dançarinos de frevo para compor os quadros destes grupos que funcionam nas periferias das cidades...

Cabe uma pesquisa de grande porte que traga números e orçamentos, que levante novas histórias e reescreva o que aparenta nos releases lidos pelos apresentadores algo estático e ultrapassado... Textos sem brilho... Antigos... Sem graça... O próprio quadro de funcionários é antigo... Não que isso os desqualifique, mas não estamos formando novas lideranças para dar conta deste espaço do Carnaval que é muito importante pra quem quer ver as agremiações de forma total.

Arquibancadas vazias... Horário esticado demais... Estrutura das piores... Tapumes sem pintura... Arquibancadas sem qualidade nem estética decente... Local perigoso e afastado dos grandes eventos... Tudo pra não favorecer a ida de turistas ao local. Que ainda é mal indicado (o local), pois podem haver assaltos entre outras coisas perigosas lá. A má iluminação também é um prejuízo imenso... Dá medo. Uma penumbra nos arredores da passarela que faz com que as pessoas saiam mais cedo do evento pra não correrem perigo de vida. Até que o som melhorou este ano. Já foi bem pior... Pelo menos ouvi bem os grupos de diversas partes do corredor dos desfiles.

Só vemos a comunidade presente neste evento. As comunidades que fazem o carnaval de verdade. Que confeccionam as roupas, que dançam, que brincam e que fazem viva e única esta grande festa. Vão para se verem. Para ver o trabalho que fizeram e, para competirem entre si por prêmios também não muito valorosos. Vejo esta situação quase como uma estratégia de afastar as periferias dos grandes pólos. Uma forma de deixar os pretos e pretas, os pobres longe dos lugares freqüentados pelos brancos com dinheiro...  Para bons leitores de símbolos, fica claro que aquele espaço é o local feito no Carnaval para o povo pobre e negro. Um lugar desvalorizado. Racista. Sem condições de comportar tamanhas riquezas culturais que merecem mais respeito e valorização.

Lá não há “mídia”. Não há visibilidade pública... Ninguém vai lá filmar e fotografar para jornais e noticiários.

Creio que os protestos que foram recorrentes no concurso dos passistas e do rei e rainha do carnaval do Recife, por parte dos brincantes, tenham importante impacto para uma possibilidade de mudança de mentalidade entorno de políticas públicas de valorização e preservação do patrimônio do Carnaval de Pernambuco. Tendo em vista, que os gestores, que como sempre estão com uma “cara de tacho” nestes espaços, viram com seus olhos a indignação do povo. O Prefeito do Recife saiu visitando os pólos por ai... Foi ver até o show do Mono Bloco... Mas pela arquibancada não apareceu. Por que terá sido isso? O que isso significa? Perguntas que são fáceis de responder, após ler este texto.

Temos um “Paço do Frevo” que custou milhões... Onde a Globo contribuiu na construção de forma decisiva, justamente para dominar este quinhão da cultura pernambucana. Um projeto construído quase sem pessoas daqui... Um projeto que desqualificou as pesquisas do povo daqui, que não valorizou ninguém daqui... Onde até (no Cais do Sertão) os eletricistas são de fora DAQUI... Toda esta “desatenção” com os DAQUI, acabou dando em resultados catastróficos, como o quase cemitério de estandartes onde as pessoas os pisam... Pisam em histórias vivas e outras extintas... Pisam naquilo que é de mais importante pra gente, pisam na nossa cara, na nossa moral, na nossa dignidade social... Tem gente at€ que acho lindo. Esteticamente é bonito sim, achei também, mas é feio e profundamente desrespeitoso com nossa história. Isso é resultado de pura falta de vivência com nossas tradições, deslanchando em um desrespeito terrível a estes patrimônios materiais – os estandartes.

Enfim, fico triste de ter que relatar estas coisas aqui. Sou um mero suplente do segmento de patrimônio e arquitetura do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Recife. E tive que andar pela minha cidade para ser um dos olhos que puderam enxergar onde está o racismo – institucional ou não e, e a discriminação. Onde estão as estratégias de encurralamento do povo. Onde está a falta de respeito com as nossas tradições culturais. Saio do Carnaval 2014 com más impressões sobre as gestões públicas, tanto do Recife, quanto do Estado de Pernambuco. Os erros insistem em se manter. Não há pelo menos uma tentativa de melhorar o que está errado... Isso é um mau sinal para um ano eleitoral. Temos diversos documentos produzidos em conferências de cultura, tanto municipais, estaduais e federais. Não é possível que estes gestores desrespeitosos não leiam nada do que nós, o povo, contribuímos e produzimos para melhorar nosso convívio cultural.

Como não seria possível abordar todo o tema Carnaval e gestão, esta minha abordagem e visão é parte de algumas andanças em outros ambientes também, como pólos descentralizados nas comunidades, Marco Zero, Arsenal, Pólos de Olinda etc. Mas em suma, juntando isso aos relatos dos irmãos artistas que ocuparam outros espaços, vejo que estamos em consenso pleno sobre esta situação grave de racismo institucional.

Salve a fumaça da Jurema.

Alexandre L’Omi L’Odò
Quilombo Cultural Malunguinho

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Maracatu Raízes de Pai Adão, comunidades de terreiro e grupos culturais fazem protesto contra racismo institucional em frente a Prefeitura do Recife nesta terça

A direita Leandro, mestre do Maracatu Raízes de Pai Adão, a esquerda Ítalo, integrante do grupo e vítima das agressões cometidas pela polícia. Foto de João Monteiro.

Maracatu Raízes de Pai Adão, comunidades de terreiro e grupos culturais fazem protesto contra racismo institucional em frente a Prefeitura do Recife nesta terça

Nesta terça, 19 de fevereiro de 2013, às 10h em frente ao prédio da sede da Prefeitura da Cidade do Recife, acontecerá um ato coletivo contra o racismo institucional e a intolerância religiosa focado no caso do percussionista e integrante do Maracatu Raízes de Pai Adão, Ítalo Diego José dos Santos, que foi agredido brutalmente pela polícia após a abertura oficial do Carnaval do Recife (dia 08/02), onde o mesmo tocou com Naná Vasconcelos no grande espetáculo que abrilhanta a festa a mais de 10 anos.

Será entregue uma carta oficial pelo Maracatu Raízes de Pai Adão e pelo Quilombo Cultural Malunguinho ao Prefeito Geraldo Julio e a secretária de cultura Leda Alves, com considerações sobre o fato e cobrando posicionamento da instituição em relação ao caso.

Vários representantes de outros maracatus, de grupos percussivos, povos tradicionais de terreiro e interessados confirmaram presença para que junto ao caro de som que foi coletivamente alugado para o protesto possam dar falas e pressionar a Prefeitura para que algo seja feito. 

Além das agressões físicas ele foi xingado de "macumbeiro safado", disseram que ele "não tinha advogado" e que "desceria direto para o COTEL" em uma demonstração de subestimação dele por ser negro e da cultura popular - portanto não teria assistência nenhuma... Racismo e intolerância religiosa... Tudo isso aconteceu... 

Não dá pra calar. O dano moral, simbólico e físico cometido contra Ítalo atingiu a todas e todos que fazem cultura popular em Pernambuco e no Brasil. Ele não apanhou só. Junto com ele sofreram todos os meninos e meninas negros e negras das comunidade em risco, sofreram com ele os ancestrais da nossa religião, sofreram com ele os sacerdote e sacerdotisas das religiões de matrizes africanas e indígenas e sofreram com ele todos os que acreditam na cultura popular.

Não podemos manter uma situação dessas impune. Assim o Estado confirma a tese de centenas de pesquisadores: "O Brasil é racista"! E não fazemos nada para vencer esta doença...

Contamos com a divulgação e presença de todas e todos neste ato coletivo de luta por nossos direitos humanos e de cidadãos.


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

Racismo Institucional na polícia de Pernambuco - A outra face do Carnaval II

Matéria digitalizada do jornal Diario de Pernambuco de 11 de fevereiro de 2013.

Racismo Institucional na polícia de Pernambuco - A outra face do Carnaval II

Publico aqui para divulgar mais informação aos interessados no caso do maracatuzeiro Ítalo, que foi agredido cruelmente pela polícia na abertura do Carnaval do Recife. Foi uma situação constrangedora e muito racista. Nós, comunidades e povos tradicionais de terreiro nos sentimos todos espancados com este ato truculento contra um garoto negro da cultura popular e de terreiro. O policial não o chutou só, chutou com sua bota a todos nós sacerdotes e sacerdotisas do candomblé, jurema e umbanda, chutou todos os maracatus nação e grupos de percussão do Estado, agrediu a tradição pernambucana como um todo. Isso tem que ser reparado pelo "poder público" urgentemente. E esperamos que os órgãos responsáveis, como a corregedoria da polícia militar, o ministério público entre outros, tomem posição perante tamanho racismo institucional. 

Leiam a matéria, cliquem em cima dela e leiam a mesma ampliada. 


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Racismo institucional na polícia de Pernambuco - A outra face do Carnaval

Matéria digitalizada do jornal Diario de Pernambuco de 10 de fevereiro de 2013.


Racismo institucional na polícia de Pernambuco - A outra face do Carnaval 

Mais um carnaval no Estado de Pernambuco. Carnaval maravilhoso, "o melhor do mundo" segundo alguns. Eu particularmente acho também... Porém, existem muitos assuntos que todos nós devemos tratar em relação ao Carnaval pernambucano... Assuntos transversais e completamente necessários. Um destes assuntos é sobre o caso da agressão brutal, denunciada na internet pela jornalista Ivana Moura, proferida pela Polícia, contra o músico e maracatuzeiro Ítalo, integrante do Maracatu Raízes de Pai Adão, instituição pertencente a tradição e terreiro mais antigo dos cultos de matrizes africanas do Estado, o Ilé Iyemojá Ògúnté. 

Todo o caso que teve repercussão fortíssima na internet, pois só na minha página de facebook foram mais de 650 compartilhamentos da digitalização desta mesma matéria que publico aqui, nos leva a pensar o quanto  tem gente querendo combater este tipo de absurdo e também, ainda, avaliarmos o quanto vivemos em um mundo racista que oprime sobre tudo o povo pobre e de religião e tradição de matriz africana e indígena. O batuqueiro Ítalo sofreu o peso da mão do Estado de olhos azuis. Sofreu o peso de ser negro e ter opção por fazer cultura popular. Cultura popular esta que abrilhanta o Carnaval do Estado e traz bilhões para esta terra que sequer distribui essa renda com equanimidade entre aqueles que dão a cara e a alma para fazer esta grande festa. É indignante ver as imagens do vídeo abaixo sem sofrer junto com ele as dores dos mal tratos físicos e simbólicos que ele sofreu. Foi humilhado após tocar na abertura oficial do Carnaval do Recife, em pleno Marco Zero, na frente de todos e todas... Isso é de nos comover. Como a polícia faz isso? Fácil de responder, a polícia é uma instituição criada especialmente para reprimir os que de alguma forma querem alterar o sistema de dominação preponderante e absolutista, que em nada muda em relação ao povo negro e aos povos indígenas ao passar dos séculos. Todo este fato foi racismo institucional dos mais graves. A polícia fez isso. A polícia xingou o menino artista vestido com roupas de maracatu, de "macumbeiro safado", cometendo ainda a intolerância religiosa contra as religiões de terreiro, ainda como se não bastasse disseram que o garoto não tinha advogado, pressupondo que além de negro, pobre, maracatuzeiro, "macumbeiro", ele era um sem ninguém, um daqueles que a polícia pega todos os dias e acusam inescrupulosamente e levam para os presídios sem a menor condição de defesa, mesmo sendo estes inocentes... Foi mais que grave isso e o Estado tem que se posicionar.

Quem utiliza o facebook pode ver toda cena da agressão neste link: https://www.facebook.com/photo.php?v=347562185358221 

Esta matéria que disponibilizo aqui não saiu em toda publicação do Diario deste dia. Recebi a ligação do professor Carlos Tomaz me informando pela manhã cedo sobre ela. Fui ao aeroporto comprar, não tinha nada no jornal, dai comprei outro na comunidade de Peixinhos e também não tinha nada publicado, creio que esta informação só circulou para os assinantes, tendo em vista que com a grande presença dos turistas na cidade, colocar uma matéria deste porte poderia causar medo e afastar os que de fora vieram curtir o carnaval. Achei isso péssimo, pois não haveria como todos não saberem, é uma obrigação da m'idia informar sobre coisas importantes, porém neste caso, foi preferido omitir por interesse do Estado  em esconder os dados da violência no Carnaval. Indico para os que por aqui passarem que cliquem em cima imagem acima para ampliá-la e facilitar a leitura da mesma para que o texto integral seja entendido e consumido de fato. 

Por favor compartilhem esta postagem. Precisamos trazer mais massa crítica para esta discussão toda. A polícia precisa ser formada, educada, regida pela lógica da ética, não ser largada nas ruas para cometer atrocidades que vemos todos os dias.

Salve a fumaça!
Sobô Nirê Malunguinho!

Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Cultura Popular sob a égide do racismo - (parte I)

Coco de roda. Imagem do google images.


Cultura Popular sob a égide do racismo - (parte I)


A Cultura Popular precisa ser melhor discutida entre nós de dentro dela. Temos muita coisa a construir em Pernambuco ainda e não podemos nos excluir deste processo de discussão. Nosso caso é grave. Ainda estamos sob a égide do racismo histórico, que como sistema de poder, nos designou por ordem suprema do Estado o lugar de não merecedores de respeito, de dinheiro, de melhores palcos, de melhores condições, de melhor divulgação no Carnaval etc. Estarmos historicamente onde estamos hoje é sim racismo, até mesmo institucional... Enquanto os órgãos não repensarem a partir de nossas demandas e discussões, sua forma de interagir com a Cultura Popular, Pernambuco não será verdadeiramente a terra onde os turista vem visitar pra ver cavalo marinho, boi, coco, ciranda, entre outros... O Estado ganha bilhões com o carnaval feito na garra pelo povo preto/índio da terra, e estes bens pecuniários não são dignamente distribuídos conosco. É como digo, o Estado ganha milhões com nossa cara, e nós ganhamos o mínimo possível com isso tudo.


Li a matéria do jornal Folha de Pernambuco de 2 de fevereiro, no caderno Programa. O texto tratava do grupo Bongar Grupo. Título: "Espaço do popular na lógica global". Tratava do Porto Musical e suas apresentações... Tem uma fala de Guitinho Xamba muito interessante que quero colocar aqui na íntegra, para refletirmos juntos: "A musica popular nunca vai ser descartável. Ela está impressa na memória afetiva das pessoas e nosso trabalho é manter viva essa tradição" (...). Depois ele ainda pontua: "A música popular não pode ser um elemento a parte da indústria fonográfica." (faz outras reflexões sobre o mercado etc...). Com isso, podemos ver o quanto a cultura Popular a cada dia está tendo mais força no mercado (tocando até no Porto Musical, por exemplo). O coco hoje é um forte elemento no meio mundial da circulação de artistas locais. Mas mesmo assim, tendo todo valor estético, musical e histórico, o Coco e seus artistas contemporâneos mais uma vez não ocupam o espaço dos palcos do Carnaval do Estado como deveriam. Gente, não podemos diminuir tanto nosso potencial artístico nos palcos do Carnaval. O povo quer coco, o povo adora coco, e não importa o período, ou ciclo festivo... 

Por essa e tantas outras ausências é que nosso carnaval não está mais rico como deveria. Somos um vulcão de diversidade, de valores virtuosos da tradição, porém, ainda pesa sobre todos nós, o racismo que quer que estejamos lá no fundo da cozinha, escondidos para comermos os restos daquilo que melhor fazemos.


Alexandre L'Omi L'Odò
Quilombo Cultural Malunguinho
alexandrelomilodo@gmail.com 

Quilombo Cultural Malunguinho

Quilombo Cultural Malunguinho
Entidade cultural da resistência negra pernambucana, luta e educação através da religião negra e indígena e da cultura afro-brasileira!