23.2.21

Séries: Unbealivable


Trailer aqui

Unbealivable, esta série de oito episódios é boa demais. Toda a gente devia ver e aprender o que sente uma vítima de violação. 

A confusão, o medo, a falta de foco, o desnorte, a dúvida, a culpa e todo um rol de comportamentos que uma grande parte das pessoas não entenderá, como a falta de firmeza em colaborar com as autoridades.

A série é da Netflix, podem saber mais aqui e é inspirada na realidade, quando um violador em série difícil de apanhar realizou diversos ataques em Washington e no Colorado. Esta série de crimes resultou numa reportagem da ProPublica, "An unbealivable story of rape", que podem ler aqui.

Afinal, Marie foi violada ou é só uma jovem estranha, meio dramática e mentirosa? 
A depressão.
A pressão dos que a rodeiam.
A quantidade de vezes que tem de repetir a história.
O desprezo.
Os anos que passam.

Todas as pessoas deviam ver esta série, mulheres e homens. E todos os pais deviam dar às filhas adolescentes a ver, se entenderem que têm a maturidade necessária para dali retirar ensinamento.

A série é tão boa que se não fosse uns momentos parvos ali no fim a atirar para o filme americano de quinta categoria, era perfeita.





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5.12.20

Séries: The Undoing

Trailer aqui

Estava a ver que esta série ganhava vida e me dava uma dentada da TV para o sofá!

Não compreendo como The Undoing tem uma pontuação boa no IMDB, mas não excepcional. Enquanto não acabava de ver a série, não descansava. Era tema de conversa à mesa no jantar, tentávamos analisar argumentos, falava por mensagem com amigas, isto consumiu-me algumas vezes! Há muito tempo que uma série não me agitava desta maneira. Atirou-me de um lado para o outro, não tenho memória de mudar de suspeito tantas vezes até aos últimos cinco minutos antes do final como aconteceu aqui.

Parte má (e nota negativa para a HBO), isto de obrigar a ver a série às pinguinhas é muito chato. É um canal de entretenimento, pago, as temporadas têm de ir inteiras, senão anda a fazer as vezes de uma série de TV, em 1980, em que todas as semanas tínhamos de esperar pela semana seguinte. Perde-se alguma coisa entre episódios com toda a espera, não gostei disso. Infelizmente, só me apercebi ao fim do segundo episódio em que queria ver mais e não havia mais. Por mim tinha parado ali mesmo até a temporada ser libertada por inteiro, mas o homem quis ir vendo a conta-gotas e foi o que aconteceu. Nunca mais faço isto, mas quem ainda não viu The Undoing já não terá de passar por esse dilema.

A Nicole Kidman e o Hugh Grant fazem papéis fantásticos e o enredo enrola-nos mesmo. É difícil escrever isto sem ser spoiler (e não vou ser), mas muito resumidamente: mulher aparece morta e quem terá sido? Uma família da alta sociedade nova-iorquina, pessoas de sucesso, endinheiradas, casamento feliz, vê-se apanhada pelo mistério da morte e a série anda em volta da investigação até se descobrir quem cometeu o crime.

A série é curta, tem seis episódios, mas talvez tenha o tamanho perfeito. A história não enche chouriços e brinca com as nossas emoções e apostas de maneira sublime. O Nuno Markl escreveu uma coisa muito engraçada sobre a série dizendo que a certa altura estava tão agastado dos nervos que parecia que estava envolvido no crime, ahahah! É mais ou menos isso.

Só vi o último episódio uns dias depois de ir para o ar. Com o fim a internet encheu-se de polémicas à volta do desfecho. Foi um drama andar a fugir dos conteúdos para não me estragarem a série, mas com luta lá consegui. Depois de verem a série espreitem esta entrevista (tem spoilers).

A não perder, na HBO.




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7.11.20

Documentário: A sabedoria do polvo


Trailer aqui

A sabedoria do polvo ou My octopus teacher é com alta probabilidade o documentário pessoa-Natureza mais bonito que já vi. É de uma beleza memorável e de uma riqueza de aprendizagem que nos dá que pensar. Tem uma pontuação de 8,4 no IMDB, o que para um documentário é extraordinário.

É da Netflix, tem cerca de 1h30 de duração, a qualidade das imagens debaixo de água é excepcional, as cores, a definição, eu quase conseguia sentir o frio e o silêncio, não há palavras. Nem imagino ver este documentário numa daquelas TV que mais parecem realidade alternativa, deve ser de outro mundo.

Eu não sou pessoa de animais. Ainda assim, a história tocou-me imenso, deixou-me de nó na garganta e olhos para disfarçar. Já o vi há semanas e continuo a pensar no documentário. O sentimento humano, da depressão de tristeza ao sentimento de perda de quem toca no coração, quem diria que aquela improvável amizade teria tanto para ensinar.

A sério, é tocante, uma chapada de beleza, uma lição de resiliência, das coisas mais bonitas que podem ver na TV. A não perder!





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1.4.20

Going to the movies: Knives Out


Trailer aqui

Knives Out, que filme genial!

Não faço ideia se o filme custou uma pipa de massa com este elenco ou se o elenco achou o filme tão genial que quis fazer parte dele. O certo é que está cheio de prémios e a render mais do que eu e quem me lê vamos ganhar a vida inteira.

O filme é bom demais, ficará sempre na minha memória toda aquela genialidade do enredo, dos diálogos e das interpretações. Carregadinho de sarcasmo, Knives Out é uma espécie uma espécie de Agatha Christie cheio de requinte. 

No enredo, Harlan Thrombey, escritor de sucesso e milionário, convida a família para festejar o seu 85º aniversário. É uma família disfuncional como muitas, mas para quem está de fora são de um humor maravilhoso. Pronto, são uns totós cheios de si próprios que no fundo vivem à conta dos livros que o pai vai publicando. Mas na manhã seguinte à festa de aniversário, o escritor é encontrado morto.

E mais não digo, vejam vocês se descobrem quem é o assassino. Boa sorte nisso!

Aluguei o vídeo via TV (tenho NOS).




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29.12.19

Going to the movies: The Two Popes



The Two Popes, soberbo!

Nem sabia que este filme estava para chegar, mostrou-me o PAM poucos dias depois da estreia,. Ele já tinha lido alguma coisa sobre o filme, mas eu estava completamente num registo "o que vamos ver hoje?", alheia a tudo. Foi uma completa surpresa!

Podia escrever neste post o nome Anthony Hopkins e pronto, não precisava de escrever mais nada, ficava assim feita a recomendação e resumido o assunto. É evidente que o talento deste actor dispensa apresentações, mas mais uma vez vem provar o bom que é, caso alguém se estivesse a esquecer disso. Que interpretação de Papa Bento XVI (Ratzinger) maravilhosa! E até a caracterização, chega a fazer impressão na semelhança e no envelhecimento que lhe deram.

Jonathan Pryce, na pele de cardeal Bergoglio e Papa Francisco, é delicioso. Aquela boa disposição argentina num actor que é inglês é muito curiosa. Também nele a caracterização é sublime e a interpretação faz-nos sentir que o conhecemos de perto.

Há um artigo do DN que diz que ver este filme é como espreitar pelo buraco da fechadura da Igreja Católica. E é uma excelente descrição, mas não de uma forma de católica, este filme não tem a ver com religião.

Talvez seja importante dizer que sou dura critica da Igreja, acho uma hipocrisia, uma podridão, todos os rituais me parecem uma seca imensa, aos meus olhos não há nada de atraente na Igreja. O que é diferente de ter fé, de sentir fé, e aí abstenho-me de dar opiniões, são questões pessoais da forma como cada um vive a religião. Em suma, acredito que todas as religiões têm bons princípios, mas depois vêm as pessoas e estraga-se tudo.

O filme não é sobre religião, é sobre mudança, sobre uma amizade improvável, sobre os vários olhares que podemos ter sobre um mesmo assunto, é sobre diálogo, comunicação, capacidade para ouvir, sobre o sentido da vida, sobre todos sermos pessoas independentemente do cargo ou da posição, é sobre os efeitos do carisma, é sobre muita coisa, mas a religião parece que está apenas de passagem. Os diálogos são tão, mas tão bons, que o filme podia ser um podcast e seria maravilhoso de ouvir na mesma.

Creio que não será surpresa para ninguém se disser que Ratzinger não inspirou as pessoas em geral. Foi um Papa carrancudo, demasiado conservador, alemão (serve para descrever muitas características pessoais, como frieza). O realizador Fernando Meirelles (o mesmo realizador do filme Cidade de Deus), ele próprio confirma que o retrato de Bento XVI terá saído favorecido no filme, pela interpretação, desculpando-o: "Anthony Hopkins não pode evitar, é encantador", e isto tem muita graça.

Por sua vez, o argentino Bergoglio revelou-se uma inspiração ao mundo, até para os não católicos, pela sua boa disposição, pela sua simplicidade, por não se mostrar distante e intocável, pelo contrário, por se mostrar com os pés assentes ao lado de qualquer um. É um homem que apetece convidar para jantar lá em casa e isso marcou diferença em relação a todos os Papas que conhecemos.

The Two Popes é Oscar material, não percam! Eu estou capaz de ver outra vez só pela delícia de poder ouvir novamente aqueles diálogos. MAS, isto é um filme para quem gosta de pensar e reflectir, para quem aprecia a diferença de contribuições no diálogo, é um filme para ficar a pensar nele.

Para ler depois do filme, este artigo do DN separa alguma realidade da ficção. É que depois de um filme destes uma pessoa queria ser mosca para ter lá estado e saber o que é verdade e o que é filme.




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15.7.19

Séries: Stranger Things



Trailer da 1ª temporada, aqui


Trailer da 2ª temporada, aqui


Trailer da 3ª temporada, aqui


Já vi as três seasons do Stranger Things e calhou que só agora escrevesse sobre esta série.

O género ficção científica não é mesmo, mesmo, o meu estilo (eu nunca vi nenhum Star Wars, por exemplo), mas o Stranger Things tem lá dentro uma coisa muito "minha": um revival da minha juventude. É uma excelente apresentação dos anos 80 que vai da músicas às roupas, da tecnologia da altura à comida, ao cinema da época e aos programas de TV que agora são vintage. Tudo aquilo é uma deliciosa viagem no tempo. Arrisco-me a dizer que os anos 80 são grande parte do sucesso do Stranger Things. Não acredito que tivesse metade do sucesso se a série tivesse lugar nos dias de hoje.

Não sendo o género científico um género de que goste muito, por causa dos anos 80 e de todas essas referências, tudo aquilo é mais do que a história que se passa numa pequena cidade dos EUA. Naquelas cidades do interior com um ritmo de vida longe das grandes metrópoles, numa terra onde pouco ou nada acontece, os adolescentes são iguais aos de outras cidades, sedentos de ser adultos, populares, com as suas histórias de amizade, namoricos e férias de verão. A série é vencedora porque não é apenas ficção científica, é mistério, é suspense, é drama, representa bem uma juventude que todos vivemos, é uma mistura que não se limita a um só género.

Na primeira temporada um rapaz começa por desaparecer misteriosamente, durante a investigação encontram e escondem uma estranha rapariga com poderes sobrenaturais, descobre-se uma realidade alternativa, um sub-mundo por debaixo do dia-a-dia, animais/monstros perigosos, os serviços secretos do país envolvidos na tentativa de esconder a verdade da população e esses mesmos habitantes a quererem retomar a vida normal.

A série tem tantas referências que é fácil identificá-las: transborda de Goonies, de ET, Indiana Jones, muito (mas muito) Spielberg por ali e mil outras cenas que lembram outros filmes que conheço, só não sei dar-lhes nome, mas que o Markl deve ter feito muito bem aqui.

No entanto, da primeira para a terceira temporada vejo grandes diferenças, vai muito de Goonies a Terminator, a série tornou-se muito mais gráfica, com seres mais violentos pelo visual do que pela imaginação, o que não me encantou. Além disso, a terceira temporada trouxe uma inevitabilidade que me faz pena: os miúdos cresceram, nota-se bem, não há nada a fazer, eu preferia o registo mais infantil, mas está bem agarrado, com os primeiros beijos e paixonetas à mistura e todas essas coisas próprias da idade.

Fica evidente que a série não acabou, há uma quarta temporada para entrar, mas espero que acabe por aí para não estragar. Não creio que a série funcione com os miúdos já adultos, com cara de 20 em vez do ar de adolescentes que têm agora. Existe uma história para encerrar, mas não creio que renda mais do que uma nova temporada se for para não entrar em decadência.

Para quem viveu os anos 80, a série é um regalo para os olhos. Por lá aparecem as antigas caixas de Tampax azuis que via em casa, o leitor de cassetes VHS da Sony que estava na sala, um walkman, uma gabardine amarela que tive igual, de repente faz-se uma viagem de mais de 30 anos. Tudo isto surge em segundo plano, vale a pena observar o que está para lá das acções em cena.

Para mim e para as pessoas da minha geração, o Stranger Things é um regalo para os olhos. Para quem os anos 80 não dizem nada, não sei dizer, mas recomendo!







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21.6.19

Going to the movies: Rocketman



Trailer aqui

Sublime. Mas sublime, mesmo.

Há meses, quando vi o trailer do Rocketman, fiquei em pulgas para ver o filme. Ah, eu queria que fosse logo no dia a seguir e ainda faltava tanto tempo. O Elton John faz parte da minha infância, da minha adolescência, era o que a minha mãe ouvia e ouve, os meus tios, sei letras e letras de memória. Estava cá dentro um bom feeling e uma vontade enorme de ver o filme.

Tirei uma tarde de trabalho para ir ver o filme e quando começou levei um murro no estômago: é meio musical (não se percebe no trailer) e eu não gosto de musicais. Nem o PAM. Olhámos um para o outro com olhos de desilusão, mas já estávamos na sala de cinema.

Ainda bem que eu não sabia deste facto, porque provavelmente não teria ido ver e teria perdido um  grande filme. Toda a história com fases tão trágicas e tristes, de alguém que parece ser feliz, milhões de pessoas a quererem ouvi-lo, a querer estar com ele, um mega sucesso, mas infeliz, solitário e depressivo. Não conhecia a história, sabia apenas alguns factos soltos e sem ordem cronológica. O filme é tão bom, tão bom, a música é tão boa que nos esquecemos que é um musical. Na verdade, têm de arranjar uma outra categoria para este tipo de filme porque não o vejo como conheço os musicais.

São cerca de duas décadas de história onde encontramos o contexto de muitas das músicas na vida do Elton John, compreendemos as letras para lá do que dizem, conhecemos a maravilhosa história de amizade com o amigo Bernie Taupin que lhe escrevia letras tão magníficas, vemos a vida de abusos, a mãe e o pai detestáveis, o génio musical que com idade de criança percebeu os sons de cada tecla de piano e conseguia tocar as músicas que a avô ouvia na rádio só de ouvido, o génio musical que lia uma letra e já imaginava a música que a ia acompanhar, os estádios cheios, as roupas teatrais, a luta contra a sua sexualidade, neste filme há tanto de maravilhoso e mágico como de desconcertante. 

O Elton John acompanhou o filme, é autorizado por ele, contribuiu com as suas memórias e esteve presente na estreia em Cannes. Não é um filme feito à revelia, o que o torna tudo ainda mais interessante.

Sabem quando saímos do cinema sem conseguir falar? É assim de bom. Quando o filme acabou poderia ter começado de novo, eu voltava a ver. Cheguei a casa e corri à internet para saber o que era verdadeiro e o que era ficção. Recomendo muito, muito.

E para quem gosta de Elton John, este carpool com o James Corden vale a pena.






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29.5.19

Séries: O desaparecimento de Madeleine McCann



Trailer aqui.

O nome dispensa apresentações, poucas serão as pessoas no mundo que não saibam do desaparecimento da Madeleine McCann, quanto mais se forem portugueses. Acompanhei o caso desde o dia zero, na altura era estudante de comunicação e todo aquele aparato mediático era (e continua a ser) digno de estudo.

Esta série que me parece isenta - começa de uma forma e acaba de outra - é tão boa que não há palavras. Está aqui um trabalho jornalístico de juntar peças, de falar com especialistas de todo o mundo, com envolvidos nas investigações de todas as nacionalidades, o resultado é digno de Óscar, se houvesse para trabalhos de investigação.

Talvez importe dizer que eu tenho a convicção de que aqueles pais são pais em sofrimento e que nada têm a ver com o sumiço da criança. Não só tenho essa convicção como é um assunto tão sério, tão grave, uma realidade que me deixa tão melindrada, que eu não tenho paciência para ler/ouvir as teorias da conspiração. E ainda chega a meter-me nojo as piadas que se fazem em torno do assunto.

Sim, há limites para o humor. Enquanto os humoristas acham que tudo é válido, a linha só deve ser traçada se for o filho deles a desaparecer. A sério, a estes parvos que se põem com graçolas, deviam perder os filhos por um dia para abrir a pestana e ver se tinha graça fazer piadas sobre o assunto. Falta-lhes angústia, falta-lhes sofrimento na pele para perceber o que tem piada brincar ou não.

Nem me quero alongar sobre as piadas de parvos, a desgraça alheia não me dá vontade de rir, dá-me antes medo que me possa acontecer a mim, ainda que seja improvável e que apenas uma muito pequena parte da população viva situações destas.

Não existem crimes perfeitos, mas existem crimes escondidos por muito tempo. Espero que este seja um desses casos. Não acredito numa mão cheia de adultos que estão de férias num país que não conhecem, com mais não sei quantos empregados de hotel, mais pessoas na rua, menos carro que não têm, poupem-me... um corpo não é fácil de esconder num par de horas num país desconhecido.

Além disso, há a luta daqueles pais que se empenham numa campanha sem fim e passam os dias a tentar novos focos de atenção, retomar o caso, quando podiam perfeitamente ter deixado o caso entregue às autoridades e sossegar na terra deles. São activos, não descansam e isso não é um álibi.

As mentiras que envolveram o circo mediático foram vergonhosas. Mas a forma como se comportou a nossa polícia foi abaixo dos mínimos. A série dá um retrato da polícia portuguesa abaixo de cão, provincianos, falta de conhecimentos, o Gonçalo Amaral aparece como um tipo armado em xerife tão cheio dele próprio que não coube espaço a linhas de investigação que não fossem as que ele pessoalmente acreditava. Aquele argumento de "os lençóis estavam esticados, parecia que ninguém se tinha deitado na cama", ó filho! Devias ver como ficam os meus lençóis de baixo que têm elástico.

Na investigação mediática não há paciência para a discussão se a mãe tem cara de quem sofre ou não. Sabemos lá que cara de sofrimento faríamos se nos desaparecesse um filho e nos dissessem que tínhamos de representar de determinada maneira em frente aos meios de comunicação para proteger a vida da criança!

A série começa o desaparecimento da miúda, a GNR chega uns 40 minutos depois do alerta (certamente com a criança já a atravessar a fronteira e a chegar a Espanha). Os episódios passam com os pais da Maddie a parecer que "cheiram mal", com uma polícia portuguesa absolutamente vergonhosa até começar a investigação a sério, já bem mais tarde do que seria suposto. Um ano depois?

Os últimos três episódios sorvi-os. O PAM deixou de ver, aquilo estava a causar-lhe uma angústia desgraçada, preferiu deixar de ver, não estava a conseguir lidar com o abrir de portas de uma realidade que jamais pensaríamos existir em Portugal, um país tão pacato. Com a desistência dele fiquei uma noite a acabar de ver a série até às quatro da matina. Deitei-me sem conseguir dormir, acordei a pensar na série, estive dias e dias a pensar no assunto. 

O documentário é assim de bom, acho que era capaz de ver outra vez. Infelizmente é uma história real. Uma história real em que todos os especialistas mundiais apostam na inocência dos McCann (com base nas provas) e depois há o Gonçalo Amaral e os comentadores de redes sociais, o Zé Povinho, que ocupam espaço na internet quais mestres da investigação sem escolaridade obrigatória.


*** MAIS OU MENOS SPOILER ***

O detective espanhol contratado é sublime, inacreditável de ouvir. O que ele conta é de causar arrepios. Não queria estar no lugar dele.

A cena dos cães é completamente parva e inconclusiva. Se o boneco tem o cheirinho a cadáver, pode parecer perfeitamente normal quando os pais são médicos e trabalham em ambiente hospitalar.

Cheirar qualquer coisa num carro que foi alugado depois do desaparecimento da miúda é andar a gozar com as pessoas. Fizeram o quê? Esconderam o corpo debaixo da cama e foram desaparecer com ele mais tarde num carro alugado quase um mês depois?

O milionário que decidiu ajudar os McCann apenas porque sim, é extraordinário. Ajudar é gratificante, (quase) todos sabemos, mas pôr as mãos na massa e poder ajudar na prática deve ser um sentimento muito bom.

As agências e pessoas que se aproveitaram do sofrimento destes pais receberão a lei do retorno. É preciso acreditar nisso.

No dia a seguir ao rapto, aquela cena da mulher em Barcelona é sinistra e altamente suspeita.

Aquele especialista internacional que começa por achar que os pais estão envolvidos para mudar completamente de opinião (com base na sua experiência de investigação) era onde o Gonçalo Amaral devia colocar os olhos.

Fica claro que existe no Algarve uma operação criminosa de tráfico de pessoas.

O pico da série está no 7º episódio, quando uma estrangeira aluga uma casa no Algarve, um dia recebe um homem à porta num falso peditório para um orfanato que não existe (mas ela ainda não sabe). A mulher sente-se desconfortável naquele contacto, sente que ele só olha para a filha atrás dela, sentada no meio da sala a brincar. Despacha o homem e não pensa mais no assunto. No dia seguinte a mulher está sozinha na casa alugada com a filha, desce as escadas com um alguidar de roupa para lavar, faz a curva para a sala e lá está o mesmo homem sinistro de pé junto à filha, no meio da sala, entrado por uma janela. A simulação e descrição deste momento vivido por uma estrangeira de férias no Algarve é uma coisa absolutamente arrepiante. Juro, literalmente me arrepiei toda e levantei os braços à cabeça. É o pico do documentário e a prova de que algo muito estranho se passa no Algarve.


*******

Existem fundos para prevenir e interromper o terrorismo, para travar as drogas, há tanto conhecimento em volta destes dois problemas, mas o desaparecimento de crianças parece ser tão omisso no que toca a esforços de autoridades que não se compreende. E quando alguém nos abre as portas a este mundo, a dimensão é assustadora: todos os anos, POR ANO, desaparecem 25 mil crianças na Austrália, 40 mil crianças no Brasil, 33 mil em Espanha, 424 mil nos EUA e a lista de países continua com números aos milhares. Alguém consegue reflectir e perceber que estes números não sejam uma prioridade tão importante quanto a luta contra o terrorismo?

Em Portugal, em 2006, desapareceram 31 menores. Não acham isto um número muito grande para Portugal? Alguma vez deram conta desta dimensão? Destas, 24 foram entretanto encontradas, 2 foram encontradas mortas, as restantes continuam desaparecidas.

No fim do documentário ficamos a saber que Portugal é um país sem desaparecimentos significativos em número anual quando comparado com outros países, mas acontecem e é palco de passagem para tráfico de mulheres e de menores. Fiquei com a plena consciência disto e sou da opinião que qualquer mãe/pai devia ver esta série, com especial atenção nos últimos episódios, onde focam outras casos, contam como se processam raptos de menores, falam de casos em Portugal, focam as agências que ajudam nestas situações, é tudo de levar as mãos à cabeça. E de não reconhecer o nosso país. 

Por exemplo, não sabia, não tenho mesmo memória deste caso, mas em leituras posteriores à série descobri que em 1996 desapareceu de uma praia em Aljezur, de uma forma inexplicável como que engolido pela terra, um menino alemão, René Hasée, de seis anos. Não me lembro mesmo de mediatização do caso e não se encontra muita coisa online. No entanto, todos os anos, há 17 anos, ali rumam os pais em busca de um filho desaparecido que terá nesta altura 23 anos.

Outro exemplo, desta vez a norte, esta semana dei com esta notícia de um desaparecimento em 1994. Alguém se lembra deste caso? A ser verdade esta notícia, como é que é possível que o caso tenha sido conduzido assim cheio de pontas soltas. E como? Como? Como é que se destroem processos de desaparecidos que nunca apareceram porque já prescreveu? Ao menos entregassem a papelada à família!

Percebo quem seja como o PAM e prefira não saber, mas entre a escuridão da ignorância ou a luz da informação, eu preferi saber. Depois de ver a série, depois de tudo o que fui lendo pela sede de saber mais que o documentário me provocou, nunca mais saí à rua com a Carminho da mesma maneira. Acho mesmo foi para mim um ponto de viragem na forma como vejo a minha filha em sítios públicos e olho para estranhos.

Se eu acredito que a Maddie está viva? Não sei. Se por um lado a lógica me diz que todo o circo que se montou tinha melhor solução com a morte dela, por outro lado existem outros casos em que a probabilidade da morte da/o desaparecida/o era alta, mas 20 ou 30 anos depois aparecem saídos de uma cave escura onde viveram a vida inteira. Nunca se sabe. Mas se pudesse pedir, espero que um dia apareça. Até porque era preciso esfregar isso na cara do Gonçalo Amaral.

A não perder.


"As a parent of an abducted child, I can tell you that it is the most painful and agonising experience you could ever imagine. My thoughts of the fear, confusion and loss of love and security that my precious daughter has had to endure are unbearable - crippling. And yet I am not the victim, Madeleine is", Kate McCann.





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25.2.19

Séries: Peaky Blinders



Trailer aqui

O Peaky Blinders foi sugestão de uma leitora ao mesmo tempo que o PAM leu boas críticas, mas eu não estava para ali virada. O homem insistiu e uma relação é feita de cedências e, pronto, lá experimentei dar uma oportunidade. Ao fim do terceiro episódio era ele quem estava pronto a desistir, mas a mim já me aguçava a curiosidade. Ao quinto episódio estávamos os dois rendidos e devorámos as quatro temporadas que existem em pouco tempo.

O mal desta série está apenas nos primeiros episódios que não são muito interessantes, embora percebo que sejam introdutórios e necessários. E só isso justifica que não ande o mundo inteiro a falar desta série porque é absolutamente sublime. E o trailer, se fosse pelo trailer não via a série, é de facto muito fraco, não lhe faz justiça, quase nem tenho vontade de o publicar junto ao texto.

Não há, não existe, nunca vi uma série com uma fotografia destas. É absolutamente genial, apetece dizer palavrões para reforçar a admiração, é indiscutivelmente de prémio. Em casa temos uma TV gigante de tecnologia moderna (para compensar o cinema que perdemos depois de a Carminho nascer) e tenho a certeza que ver num ecrã destes ou numa TV pequena e mais antiga, fará toda a diferença. Numa TV realmente grande é possível poder apreciar todos os pormenores, os movimentos, os fumos, os nevoeiros, as sombras... É sublime, é genial, não me poupo a elogios, não sei se já disse que é genial. É de tal forma bom que várias vezes ao longo das temporadas suspirámos a falar alto: "olha-me esta fotografia...!". Quem viu não me deixará mentir.

A série é inglesa e os Peaky Blinders são uma família de gangsters que vivem num bairro manhoso de Birmingham, onde semeiam o respeito na base do medo e gerem um negócio ilegal de apostas. São conhecidos por transportar lâminas entaladas na dobra dos chapeús e acho que o nome blinder vem daí, pois nas lutas davam com os chapeús nos olhos dos inimigos. Mas não posso jurar e sei que o gang de facto existiu. É uma série com violência, mas não é o registo de termos de virar a cara, de fazer demasiada impressão. Está tão bem feito que a impressão que nos fizer passa também pela nossa imaginação.

O actor principal veste a pele de Thomas Shelby (notável e ganhou um prémio pela interpretação), é o líder da família, quem toma decisões e dá ordens, mas logo após a Primeira Guerra Mundial, regressa a casa com um stress pós-traumático que esconde da família. Eles são cinco irmãos, não têm mãe, foram abandonados pelo pai, e a única figura familiar mais velha é uma tia machona com pulso de aço. Todos a viver num miserável e poluído bairro inglês, nos anos 20, Thomas tem uma vontade desmedida de ser mais do que um bandido, sabe que é inteligente mas teve pouca sorte no meio que nasceu e então vê na ilegalidade, nos esquemas e na corrupção, o único meio para a ascensão social que tanto deseja.

A primeira temporada começa pelos anos 20 e eu posso jurar: fazer esta série custou uma fortuna! Está tudo conforme a época, ao pormenor, e à medida que que as temporadas avançam com as décadas, todos aqueles cenários se transformam, os carros, as roupas, as mobílias, o requinte, é delicioso!

Não menos impressionante é a música. Brutal! Arctic Monkeys, PJ Harvey, Radiohead, David Bowie, Leonard Cohen, criaram umas interpretações maravilhosas que encaixam nas cenas como uma luva. Na perfeição, diria mesmo. E, claro, além de uma boa TV, um bom sistema de som também valoriza a forma como entramos dentro desta série!

E pronto, está aqui uma pessoa sedenta à espera de mais.

Mais sobre a série da Netflix, aqui.




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5.12.18

Séries: Safe




Trailer aqui

Safe é uma série Netflix muito curta de oito episódios. Podia ser um estrondo de série, até dá pena. Com alguns detalhes fáceis à parte, a história é muito boa, com um suspense de ter de ver o episódio seguinte logo depois do anterior. Do enredo, não percebemos nada e queremos saber mais, tentamos fazer deduções que são um tiro ao lado e no fim chega um resultado inesperado. Isso é excelente.

Problema: a produção é mediana, os autores são medianos, claramente houve ali um low budget que estragou um grande potencial da série. Ainda assim acho que é de ver, gostei muito.

A história desenrola-se quase toda dentro de um condomínio privado, com moradores com boa qualidade de vida e níveis de educação mais altos, vidas aparentemente normais e felizes. O Tom Delaney (Michael C. Hall, aka "Dexter") é um cirurgião respeitado e reconhecido que perdeu a mulher para um cancro, ficou com duas filhas adolescentes e a fase em que as filhas se encontram e a morte da mãe não lhe facilita a tarefa de pai. Eis que a filha mais velha desaparece na mesma noite em que o namorado é assassinado. A partir daí a série sofre voltas e voltas e prende-nos à televisão.

Eu nunca tinha olhado para o Dexter com um mau actor. Também nunca lhe vi uma obra digna de Óscar, mas nunca me tinha levado a pensar nisso. Não sei se é aquele british accent forçado que estraga tudo, se é ele que é mauzote, há ali alguma coisa que não funciona. Mas a história é boa!

Mais sobre a série aqui.




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29.11.18

Séries: The Crown



Trailer aqui.

The Crown, é tão bom. Já vi há um par de meses e deixou-me saudades. A série é inspirada em factos reais, não será verdadeira de fio a pavio, mas na série a rainha parece ser uma pessoa muito interessante, sensata, uma mulher normal a quem a coroa aterrou na cabeça sem que alguma vez tivesse aspirado a isso. Na verdade, não é uma coroa, é uma cruz que carrega. E mal ou bem, nem me vou pronunciar sobre isso, tem-no feito com uma firmeza e resiliência admirável. Não é para todos.

Já sabia da existência da série mas fui sempre adiando, está completamente fora da categoria de acção ou mistério e talvez tenha sido esse o motivo. Mas comecei a ver e fiquei rendida. Sobretudo percebi quão pouco conhecia da História, dei por mim na maior parte dos episódios à procura de informação para perceber o que era rigor histórico e o que era ficção. Conclusão, está tão, mas tão bem feita esta série! Li algures, é a produção mais cara da Netflix. Não admira, aquele rigor de época, da roupa à decoração, dos carros às ruas, é delicioso, é uma viagem no tempo.

A 1ª Temporada está muito ligada ao nascer de uma nova rainha que não sabe nada, tem de aprender, apanhada de surpresa. Os medos, as ansiedades, o desconhecimento, não terá sido um caminho nada fácil. Está também muito ligada ao Churchill, uma figura deveras interessante. Tanto teve de admirável como de insuportável, de assertivo como de mal-educado, de icónico como desprezível. Mas há um lado dele que percebo: ele nunca perdeu tempo com quem não interessava, ia directo ao assunto. É uma figura histórica, certamente uma temporada não lhe faz justiça, mas diz muito sobre ele e a relação dele com a rainha.

A 2ª Temporada está mais ligada às dificuldades do trabalho como rainha, a um mundo que se altera e ao seu casamento. Carregar a coroa é carregar uma cruz, nenhum casamento sobrevive sem feridas a uma pressão daquelas, ainda mais quando a rainha é a mulher e o homem é um bocadinho adereço, com consequente sentimento de abandono e inutilidade.

Cada temporada corresponde a uma década na história da coroa. Enquanto a 1ª Temporada é mais emocional e política, a 2ª Temporada é mais sentimental. Mas as duas fabulosas.

Estou a adorar a série. Os diálogos, a forma inglesa de dizer tudo sem dizer nada, o curso das coisas alterado por uma época em que "o que é que as pessoas vão pensar?" falava mais alto, os amores proibidos, os salamaleques de rigor inglês, a importância dos secretários, tanta coisa!

Um par de meses depois vou-me lembrando da série, tenho saudades de "estar" com a rainha e não há novos episódios em vista nem parece que vá haver tão cedo, uma pena.

Pergunta para queijinho: será que a Queen Elizabeth viu a série?

Não será para todos os gostos, mas eu recomendo muitíssimo. Mais informação aqui.






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18.9.18

Documentário: Bully



Bully, trailer aqui

Cruzei-me com este documentário no Netflix por acaso e decidi ver. Eu e o PAM ficámos num estado de tristeza e apreensão que só nos fazia suspirar. Todas as pessoas deviam ver este documentário, especialmente quem tem filhos. 

Pergunto-me se isto sempre foi assim, se não era assim e passou a ser, se sempre houve disto mas tornou-se muito mais comum e ganhou força ao receber um nome com um estrangeirismo. 

Imaginem a dor de um miúdo de 11 anos para quem ir à escola é um terror tal, que prefere matar-se. 

Qual é o miúdo de 11 anos que pensa em suicídio? O que é preciso fazer-lhe para sentir que essa é a solução e o alívio? Este documentário é absolutamente arrasador, coloca muitas questões, coloca o dedo na ferida, deixa-nos alerta e faz-nos querer estar mais por dentro do que se passa na escola.

Eu tive a minha dose de bullying, não na escola, mas onde vivia. Queria ser amiga de toda aquela gente e andar com os meninos populares. Eu via-os da janela, pareciam divertir-se tanto! Mas não estava autorizada a socializar com aquela gente (a minha mãe sabia o que fazia). Podia dar-me com as minhas vizinhas do prédio, tenho óptimas memórias desse tempo e por extensão delas, nas férias do verão comecei a conhecer algumas pessoas desse grupo num campo liso onde se jogava futebol e eu podia patinar quando não havia jogos. 

Não era o meu meio social. Nunca foi e eles sabiam. Sem que ainda hoje eu saiba explicar como aconteceu, como foi a cadeia de eventos, passei de uma pessoa que só queria fazer amigos e divertir-me com pessoas da minha idade (13 ou 14 anos) para ser motivo de gozação. Se estivessem em grupo e me vissem passar na rua, cantavam em uníssono chamando de "purgante". Para eles eu era o remédio para cagar. Se me vissem passar na varanda, ecoava o "purgante" pela rua outra vez. Cheguei a sair, a sentir a proximidade de algumas pessoas deste grupo nas minhas costas para me escarrarem na roupa. Tinha de voltar a casa, limpar e desejar que não me vissem outra vez para não me cuspirem.

Não era só eu. Ao irmão mais novo de um deles, com problemas cognitivos, cantavam "deficiente". O próprio irmão cantava isto e ria. Uma vida inteira colocado de parte, com problemas cognitivos e dificuldade na fala.

Isto foi há muito tempo, eu não fiquei traumatizada, mas magoou-me e nunca esqueci. E durante muito tempo morri de pena do rapaz que nunca mais vi. Nunca percebi como era possível os adultos permitirem que fizessem isto ao rapaz e hoje percebo que eram tão burros quanto os filhos. Não percebiam a extensão do problema, achavam que se tratava de um episódio sem importância ou não sabiam de todo. No documentário há um rapaz que nos faz doer a alma de tão maltratado que é pelos colegas. Tão maltratado que procura enganar-se a si próprio e tenta convencer-se que muito do mal que lhe fazem afinal é a brincar. 

Toda a vida odiei de morte os bullies. Quando vi este documentário, sendo mãe, eu não sei se não lhes ia à tromba. Eu acho que não me segurava. Por outro lado, bem sei, não podemos promover como castigo exactamente aquilo que condenamos. Então como se resolve? Não sei.

Toda a gente devia ver este documentário. E devia passar nas escolas, logo no primeiro dia de aulas. E todos os bullies reincidentes deviam ser expulsos das escolas. Ser o homem da câmara e filmar este documentário sem meter o dedo nas situações, deve ter sido das coisas mais difíceis que o gajo da câmara fez.

Neste documentário só faltou explorar um lado que nunca vi explorado como deve ser: os pais dos bullies. Sofrem com isto ou vem o argumento "o meu filho nunca faria uma coisa dessas"?

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6.9.18

Séries: Ozark




Trailer aqui

Ozark. A série é tão boa que que temo não escrever sobre ela com justiça.

Ingredientes: uma família normal dos EUA, em Chicago, dois filhos, uma rapariga mais velha com os dramas habituais da adolescência, um filho mais novo com inteligência em destaque mas socialmente afastado, um casamento por um fio e de repente, o pai anuncia que vão viver para outras bandas, para uma terra que nada tem a ver com a cosmopolita Chicago. O anúncio era como ir viver para a parvónia., já podem imaginar a reacção pouco positiva.

A mudança era na verdade uma forma de garantir a sua sobrevivência e acabar o trabalho de lavagem de dinheiro para um cartel de droga. Parecem tão normais, mas afinal a ambição do pai colocou-os nas teias do crime, tudo corre mal (ou quase tudo), vão para uma terriola cheia de gente estranha, às tantas uma pessoas pergunta-se: "o que mais pode acontecer a este gajo?". E mais não conto para não estragar!

A série Ozark está a consumir os americanos, tem uma excelente pontuação, estreou o ano passado no Netflix, mas só vi este ano, por insistência do PAM quando acabámos mais uma série. Ele tinha lido qualquer coisa que prometia, vi o trailer e não me inspirou, mas também não tinha mais nada para ver e acabei por ceder. Ainda bem que o fiz!

Os primeiros episódios não são do outro mundo, são mais introdutórios para compreender o contexto, mas a partir do quarto episódio a série entra num ritmo "quero ver maaaais!". E se a primeira temporada dá vontade de continuar, a segunda temporada começa com o pé no acelerador e deixa-nos aos pulos no sofá.

Agora estamos aqui, abandonados, de lágrimas nos olhos, mendigando por mais episódios que só devem sair à rua daqui a um ano. Um ano, senhores!





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8.8.18

Documentário: Amanda Knox



Trailer aqui

Está no Netflix, tem cerca de 1H30, podem ler mais informação aqui.

Acho que toda a gente conhece o caso da Amanda Knox que incendiou a Itália. Ela, estudante americana, foi de Erasmus para uma pequena cidade italiana. A colega com quem dividia a casa, ainda meio desconhecida, é assassinada. A menina Knox foi condenada, depois condenada à prisão onde esteve alguns anos, depois absolvida e depois absolvida outra vez.

O documentário mostra um enredo tão mau que se torna fabuloso: o julgamento da comunicação social, a pressão da comunicação social, o tipo de comunicação social italiana (é de cuspir), o jornalista que só quer saber dos furos dele e com uma total e incompleta incapacidade de ver ali seres humanos ou mesmo o benefício da dúvida, o chefe da polícia inflamado pela fama e pouco dado a factos, uma polícia caótica, suspeitos imaturos e com pouca experiência de vida, a família da assassinada inflamada... é um enredo digno de filme!

Para já é um documentário a não perder, mas acho mesmo que isto um dia dará um filme.



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24.6.18

Séries: "Narcos"



Trailer aqui

Narcos, que série tão boa! E o trailer não faz justiça à série.

Eu sei, já imensa gente deve ter visto, mas não era o meu caso. Estávamos a ressacar de boas séries, naquele sentimento "o que é que um gajo vê depois de uma série tão boa?" e num lanche de família sugeriram o Narcos. Tínhamos visto um ou dois episódios, ainda não tinha "pegado", mas para a minha tia ver uma série destas tinha de ser mesmo boa. Insistimos com mais uns episódios e ficámos agarrados.

A série foi lançada em 2015 e o bom de ver séries mais antigas é que as temporadas estão todas disponíveis. Não temos de andar a roer as unhas até aos cotovelos aguardando pelo ano seguinte. Na verdade, detesto esse aspecto das séries. O tempo passa, esqueço-me das coisas e não tenho a mesma motivação a ver (ando completamente a apanhar papéis com a The Affair). Gosto é quando está tudo disponível à vontade do freguês. 

E esta série foi maravilhosa de ver, deu-me mesmo gozo. No IMDB tem uma pontuação de 8,9 o que é algo difícil de conseguir. É preciso ser francamente boa para ter mais de um 8 e ter 8,9 é ao nível do genial. E corresponde, não defrauda as expectativas, apenas achei que os primeiros episódios custaram a pegar. 

Narcos é uma série de televisão americana com co-produção colombiana. E não podia ser de outra maneira, aquilo tem mesmo co-produção colombiana! Tantas vezes pensei no dinheiro que deve ter custado fazer a série, está francamente fabulosa e de uma realidade que achamos que sabemos, mas não. A verdade está para lá da imaginação.

A série de três temporadas conta com excelentes actores, várias nomeações, prémios diversos, e surpreendam-se, de repente estamos a olhar para a TV e pensámos "mas este gajo não é português...?" Fomos ver e é mesmo, temos um actor português na série e está muito bem.

Para ver esta série não sei se vos fale na droga, se na corrupção, nos maços de dinheiro, se na droga, se na corrupção, se no egoísmo pessoal, se na droga ou corrupção... aquilo não pára. Cocaína e corrupção, num enredo extraordinário adaptado à TV, mas uma história verdadeira. 

Quem não viu, não percam!



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3.5.18

Séries: "Mecanismo"



Trailer aqui

Aaaah, esse seriado é bom djimais, cara!

Mecanismo, que maravilha de série! No IMDB a série tem uma pontuação de 9! Isso quase não existe!

"Caso lava-jacto", uma investigação de corrupção no seio do governo brasileiro que envolve empresas de energia e de construção e que dispensa apresentações. Já todos seguimos nas notícias, o escândalo no Brasil não pára e resultou em penas de prisão históricas, até a de um presidente.

O caso é tão cabeludo que vai para lá da imaginação. Mas o mesmo criador da série Narcos e dos filmes Tropa de Elite, pegou na história e criou uma trama viciante. A pergunta que nos fazemos é: afinal, quem é que não está envolvido? 

Lá para o fim da 1ª Temporada percebe-se o motivo para a série ter recebido este nome. E é uma verdade implacável. Adoro o Brasil, vou lá todos os anos, às vezes mais do que uma vez por ano, mas não consigo ver o país a sair daquilo que tem de pior. Não existe como sacudir o seu lado mau.

Recomendo, recomendo!

Há apenas uma questão que eu não consigo perceber: não sei se o som da série é mau, se eles falam de maneira esquisita propositadamente. Certo é que eu nunca na vida tive problemas para compreender português brasileiro, cresci a ver novelas, mas para ver esta série, optámos por colocar legendas em PT. Há frases inteiras que não se compreendem!



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25.4.18

Séries: "Dark"




Que série tão boa! Ah, uma pessoa até tem vontade de escrever palavrões para reforçar que é mesmo boa! Vi no início deste ano e nunca mais me saiu da cabeça. No IMDB leva uma pontuação de 8,7 o que é assim ao nível do extraordinário. Trailer aqui.

Em poucas palavras para não estragar para quem não viu, Winden é uma pequena cidade na Alemanha, quase uma aldeia na medida em que todos se conhecem desde sempre, desde o tempo de escola, lembram quem namorou com quem na adolescência, os filhos andam na escola onde andaram os adultos, é um meio muito pacato e pequeno, quase aborrecido, nada acontece. Até que uma criança desaparece no meio da floresta. O pai dessa criança é polícia. Coincidência, o pai já carregava um enorme sentimento de culpa com o desaparecimento do seu irmão mais novo, 33 anos antes, que nunca apareceu.

Esta série é uma produção original alemã da Netflix, foi lançada em Dezembro de 2017. Não será para toda a gente porque é em alemão (a mim não faz diferença nenhuma) e porque está descrita como a série mais complicada da Netflix. É um molho de brócolos! É uma série para pensar e puxar pelos neurónios, acompanhar aquilo tudo não é fácil.

A 1ª Temporada tem dez episódios e o trailer pode enganar. Quase parece uma coisa de terror, mas não há terror na série (detesto terror), mas garanto um suspense de andar aos saltos no sofá. É daquelas séries que no dia seguinte estamos a desesperar por mais um episódio.

No último episódio percebe-se que vem aí uma segunda temporada, não sei quando é o lançamento e não estou a ver como. Espero que não estraguem, fiquei muito desconfiada com uma continuação, mas eu quero é que me surpreendam!


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6.4.18

Séries: La casa de papel


Trailer aqui

É hoje, é hoje que é lançada a 2ª Temporada da série La casa de papel, wee! 

Mas serve-me de pouco, o homem vai trabalhar o fim-de-semana inteiro e vou ter de esperar pela próxima semana. É muita ansiedade!

Através das redes sociais já tinha percebido que o mundo estava doido com esta série, mas como estava a ver outra fui adiando. Começámos a ver em Fevereiro com uma ideia "isto deve ser bom", mas rapidamente mudámos de opinião e passámos ao "isto é muuuito bom!".

Acho que em três ou quatro dias vimos a primeira temporada inteira, isto porque uma pessoa tem uma cria para cuidar, tem de dormir e trabalhar, porque de outra forma teríamos levado menos tempo a consumir os episódios. É assim de bom, ficamos ansiosos pelo episódio seguinte.

A série é espanhola, o que pode demover algumas pessoas. Há dias falei com uma amiga, recomendei-lhe esta série, mas torcia o nariz ao facto de ser espanhola. E ainda por cima fala espanhol tal como eu! Bom, a mim não me faz confusão, vejo em espanhol, francês, alemão, quando é bom não fico a pensar no idioma. E além disso, por falar espanhol, acho que há um plus em que percebo uma série de piadas e trocadilhos que não se conseguem traduzir.

La Casa de Papel é uma série sobre um assalto ao equivalente da nossa Casa da Moeda. O grupo muito bem composto é liderado por um tipo extraordinariamente inteligente, quase visionário, e durante meses engendram o maior assalto da história. Os planos são infalíveis, mas aqui entra a componente humana e o resto não posso contar, não vou ser spoiler. No entanto, posso dizer que é o tipo de série em que torcemos pelos bandidos.

Deixo uma nota para a música de entrada: adoro. E deixo outra nota musical: no 5º episódio existe um momento em que passam imagens a correr do que está a acontecer em vários pontos do assalto. O protagonistas estão aflitos, mas para quem está do lado da TV são uns minutos para rir que são acompanhados por um fado. Foi um momento extraordinário começar a ouvir acordes, pensar "mas isto é um fado!" e depois começar a ouvir uma voz portuguesa num fado tão giro. Foi memorável e é maravilhoso saber que isto está na Netflix para o mundo inteiro.

La Casa de Papel começou por passar no canal espanhol Antena 3, a Netflix deitou-lhe o olho, comprou os direitos e fez render o peixe. A série que tinha uma temporada passou a ter duas e ainda encolheu os episódios. Depois do novo "arranjo" a série passou a ter a 1ª Temporada com 13 episódios e a 2ª Temporada, lançada hoje, já espreitei, tem 9 episódios.

E agora vou ter de esperar por segunda-feira em sofrimento!


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27.2.17

Going to the movies: Moonlight



Moonlight. O filme começa logo como um murro no estômago: há vidas de merda. Vidas que não se percebe como são vividas, são sobrevividas. Fora de casa há cenários que muitas vezes não nos lembramos ou não nos passam pela cabeça. Deprimente e revoltante.

Bullying, medo, tristeza, ter de crescer, aprender a crescer, enfrentar medos, encontrar-se a si próprio,  criar as suas oportunidades, este é um filme de uma criança que cresce até à idade adulta com as limitações que a sua origem lhe permitem e um caminho traçado pelas suas características pessoais.

Trailer aqui.


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16.2.17

Going to the movies: Jackie




Ai, isto ultimamente anda esquisito para filmes! Jackie, estava cheia de vontade de ver este filme, estranhei estar no Colombo numa sala tão pequena, mas depois percebi que terá pouca procura.

Historicamente está no filme um óptimo trabalho, mas não sei se é o filme que é parado, se é a história que é triste e angustiante, se sou eu que estou grávida e não quero tristezas, há ali um qualquer factor "devia ter esperado para ver em casa". No entanto, não é que se trate de um filme desinteressante, porque levou-me a querer saber mais e a ir procurar respostas a algumas perguntas com que fiquei, sobre ela e sobre o assassinato.

Nota 20 para o trabalho da Natalie Portman (pesado, pesado!) e para aquele diálogo com o padre, logo eu que não tenho a melhor opinião sobre essa forma de procurar respostas.

Trailer aqui.

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© A Maçã de Eva

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