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30/11/2021

O Fogo e as Cinzas

   “Após meia hora de marcha, parou num cruzamento, junto dum sobreiral. Era por ali que Zabela havia de passar se fosse ao Monte da Carrusca. Meteu o carro debaixo da copa rala de um enorme sobreiro, de forma a que as muares ficassem menos expostas ao calor violento do Sol, e sentou-se no chão com as costas apoiadas ao tronco da árvore. Sempre atento ao caminho que entrava pelo sobreiral, acendeu um cigarro, impassível e imóvel, de expressão parada, aguardando, sem que o seu espírito obstinado desse mostras de impaciência ou o corpo de cansaço. 
    Àquela hora, na agreste solidão dos campos, sequer uma asa cruzava o céu esbranquiçado e trémulo de lume. No entanto, pressentia-se vagamente o aparecer da tarde: a calma esmorecia um pouco e a sombra dos troncos alongava-se pela terra gretada e poeirenta. A espaços, as mulas sacudiam a cabeça, afastando as moscas, e as guiseiras retiniam, vibrantes, quebrando violentamente o profundo silêncio.
   De súbito, António de Alba Grande levantou-se; Zabela aparecera ao longe, por entre os sobreiros. Foi esconder-se atrás do carro – e, mal a rapariga chegou ao cruzamento, saiu a cortar-lhe o passo: 
     - Aonde vais?» 
Manuel da Fonseca – “O Fogo e as Cinzas”  – 1953

29/08/2020

100 Livros Portugueses do Século XX

1. A Cidade e as Serras (1901) – Eça de Queirós
2. Gente Singular (1909) – Manuel Teixeira Gomes
3. Marânus (1912) – Teixeira de Pascoaes
4. Húmus (1917) – Raul Brandão
5. Pedro o Cru (1918) – António Patrício
6. Terras do Demo (1919) – Aquilino Ribeiro
7. Clepsidra (1920) – Camilo Pessanha
8. Ensaios (1920) – António Sérgio
9. Canções (1922) – António Botto
10. Poemas de Deus e do Diabo (1925) – José Régio
11. A Selva (1930) – Ferreira de Castro
12. Charneca em Flor (1931) – Florbela Espanca
13. Gladiadores (1934) - Alfredo Cortês
14. Mensagem (1934) – Fernando Pessoa
15. A Criação do Mundo (1937) – Miguel Torga
16. Sedução (1937) – José Marmelo e Silva
17. Nome de Guerra (1938) – Almada Negreiros
18. Contos Bárbaros (1939) – João de Araújo Correia
19. Gaibéus (1939) – Alves Redol
20. Solidão / Notas do Punho de Uma Mulher (1939) – Irene Lisboa
21. Apenas uma Narrativa (1942) – António Pedro
22. O Barão (1942) – Branquinho da Fonseca
23. Historiazinha de Portugal (1943) -  Adolfo Simões Müller
24. Noite Aberta aos Quatro Ventos (1943) – Adolfo Casais Monteiro
25. Mau Tempo no Canal (1944) – Vitorino Nemésio
26. O Caminho da Culpa (1944) – Joaquim Paço D’Arcos
27. O Dia Cinzento (1944) – Mário Dionísio
28.  Poesia (1944) – Sophia de Mello Breyner Andresen
29. Poesias (1944)– Álvaro de Campos
30. Odes (1946) – Ricardo Reis
31. Poemas (1946) – Alberto Caeiro
32. Poesias (1946) – Mário de Sá-Carneiro
33. A Toca do Lobo (1947) – Tomás de Figueiredo
34. Ossadas (1947) – Afonso Duarte 
35. As Mãos e os Frutos (1948) – Eugénio de Andrade
36. Poesia I (1948) - José Gomes Ferreira
37. Retalhos da Vida de Um Médico (1949) – Fernando Namora
38. A Secreta Viagem (1950) – David Mourão-Ferreira
39. O Fogo e as Cinzas (1953) – Manuel da Fonseca
40. Pelo Sonho é que Vamos (1953) – Sebastião da Gama
41. A Sibila (1954) – Agustina Bessa-Luís
42. História da Literatura Portuguesa (1955) – António José Saraiva / Óscar Lopes
43. Movimento Perpétuo (1956) – António Gedeão
44. Dimensão Encontrada (1957)– Natália Correia
45. Pena Capital (1957) – Mário Cesariny
46. Teatro (1957) – Bernardo Santareno
47. A Origem (1958) – Graça Pina de Morais
48. Léah (1958) – José Rodrigues Miguéis
49. No Reino da Dinamarca (1958) – Alexandre O’Neill
50. A Cidade das Flores (1959) – Augusto Abelaira
51. Bastardos do Sol (1959) – Urbano Tavares Rodrigues
52. Tanta Gente, Mariana… (1959) - Maria Judite de Carvalho
53. A Colher na Boca (1961) – Herberto Helder
54. Felizmente Há Luar! (1961) – Luís de Sttau Monteiro
55. O Palhaço Verde (1961) – Matilde Rosa Araújo
56. Rumor Branco (1962) – Almeida Faria
57. Xerazade e os Outros (1964) – Fernanda Botelho
58. A Torre da Barbela (1964) – Ruben A.
59. Praça da Canção (1965) – Manuel Alegre
60. Estou Vivo e Escrevo Sol (1966) – António Ramos Rosa
61. Teoria da Literatura (1967) – Vítor Aguiar e Silva
62. O Delfim (1968) – José Cardoso Pires
63. A Noite e o Riso (1969) – Nuno Bragança
64. As Aves (1969) – Gastão Cruz
65. Maina Mendes (1969) – Maria Velho da Costa
66. Peregrinação Interior (1971) – António Alçada Baptista
67. A Raiz Afectuosa (1972) – António Osório
68. Novas Cartas Portuguesas (1972) – Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa
69. Os Sítios Sitiados (1973) – Luiza Neto Jorge
70. Paisagens Timorenses com Vultos (1974) – Ruy Cinatti
71. Toda a Terra (1976) – Ruy Belo
72. O Que Diz Molero (1977) – Dinis Machado
73. Finisterra (1978) – Carlos de Oliveira
74. O Labirinto da Saudade (1978) – Eduardo Lourenço
75. Rosa, Minha Irmã Rosa (1979) - Alice Vieira
76. Sinais de Fogo (1979) – Jorge de Sena
77. Instrumentos para a Melancolia (1980) – Vasco Graça Moura
78. Uma Exposição (1980) – João Fernandes Jorge, Joaquim Manuel Magalhães, Jorge Molder
79. O Silêncio (1981) – Teolinda Gersão
80. Livro do Desassossego (1982) – Fernando Pessoa / Bernardo Soares
81. Memorial do Convento (1982) – José Saramago
82.  Os Universos da Crítica (1982) – Eduardo Prado Coelho
83. Para Sempre (1983) – Virgílio Ferreira
84. Amadeo (1984) – Mário Cláudio
85. Um Falcão no Punho – Diário I (1985) – Maria Gabriela Llansol
86. Adeus, Princesa (1986) – Clara Pinto Correia
87. As Moradas 1 & 2 (1987) – António Franco Alexandre
88. O Medo (1987) – Al Berto
89. Gente Feliz com Lágrimas (1988) – João de Melo
90. O Pequeno Mundo (1988) – Luísa Costa Gomes
91. A Ilha dos Mortos (1991)– Luís Filipe Castro Mendes
92. A Musa Irregular (1991) – Fernando Assis Pacheco
93. Um Canto na Espessura do Tempo (1992) – Nuno Júdice
94. Um Deus Passeando Pela Brisa da Tarde (1994) – Mário de Carvalho
95. Vulcão (1994) – Luís Miguel Nava
96. Guião de Caronte (1997) – Pedro Tamen
97. Geórgicas (1998) – Fernando Echevarria
98. O Vale da Paixão (1998) – Lídia Jorge
99. Cenas Vivas (2000) – Fiama Hasse Pais Brandão
100. Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura (2000) – António Lobo Antunes
*Jornal Público - 27 abr 2002

25/08/2014

Os erros dos médicos

“Alguns dos erros mais frequentes devem-se ao facto dos médicos simplesmente terem deixado de observar os doentes com atenção. Acrescentem a essa falta de atenção uma tendência para apressar o tempo das consultas – os incentivos económicos e as pressões para ver mais pacientes em menos tempo são enormes – e os erros cognitivos tornam-se habituais. Quando colocados perante uma grande pressão em termos de tempo, os médicos irão forçosamente confiar cada vez mais em atalhos deste tipo para fazer as suas avaliações. O reconhecimento de um padrão com base numa avaliação instantânea do doente vai tornar-se a norma.
Na realidade, a capacidade para realizar diagnósticos instantâneos já é uma competência admirada entre os médicos.”
“Nos seus contactos com os pacientes, independentemente dos incentivos financeiros para serem mais eficientes e produtivos, os médicos devem tentar ser sistemáticos e meticulosos, quando tomam nota da história do paciente e realizam os exames clínicos. Os atalhos são perigosos. Pensar exige tempo.”
Jerome Groopman – “How Doctors Think” – 2007 [tradução livre] – Foto: Pedro Guimarães

17/02/2014

FORÇA PORTUGAL

No meio de tanta notícia sobre a crise, a austeridade, o desemprego, a emigração e com uma profusão de profetas da desgraça a papaguear diariamente o pior dos cenários para Portugal, eis que surge um novo indicador que nos enche de esperança para o futuro. Segundo os dados de Janeiro de 2014 da Associação Comércio Automóvel de Portugal (ACAP), venderam-se 31,9% mais carros do que em Janeiro do ano anterior. Mas quem pensar que o líder do mercado nacional de ligeiros é a Renault, a Volkswagen, a Nissan ou a Peugeot, vai ficar surpreendido ao saber que é nada mais, nada menos que a BMW. Os portugueses podem estar perigosamente próximos do precipício, mas se caírem, caem em grande estilo.

20/10/2013

Quem Governa?

Partilho esta análise muito lúcida, corajosa e perspicaz do que somos, e do que nos trouxe até aqui, publicada na edição de 18 de Outubro do jornal "Correio do Minho". O autor, Prof. Oliveira Rocha tem publicado nos últimos tempos uma série de artigos que deveriam ser de leitura obrigatória para todos os que se interessam pelo presente e futuro de Portugal.
 
"Há mais de cinquenta anos foi publicado um importante livro intitulado: Quem Governa? R. Dahl procurou uma alternativa à visão marxista que via na classe económica dominante a origem do poder. Por outro lado, não acreditava que as políticas fossem determinadas pelos eleitores; criou desta forma a abordagem pluralista à política, insistindo em que vários grupos de interesses competem na esfera política e o papel do governo é funcionar como mediador entre esses grupos.
Relativamente a cada política concreta, nenhum dos grupos tem recursos para decidir só por si; tem que fazer alianças. Ainda, segundo Dahl, os grupos são mais efetivos que os indivíduos; a pluralidade de grupos assegura a competição política; e o processo de negociação dificulta a aparição de extremismos.
Neste contexto, as eleições visam fundamentalmente legitimar os grupos de interesses e não determinar o sentido das políticas públicas.
Esta abordagem comum a G. Sartori, R. Dahl, S. Huntington e J. Shumpeter, explica o que se passa presentemente em Portugal.
Também aqui as decisões políticas resultam da interação entre diversos grupos de interesses que monopolizam o processo político. Só que no nosso país estes grupos não competem entre si, são aliados, funcionando em rede; o seu pessoal circula de grupo para grupo e casam-se entre si. Trata-se de uma classe dominante que suga o país e que decide da nossa vida.
O centro da rede é ocupado pela classe política, constituída pelos partidos que geram os governos e a assembleia, os gestores públicos e a alta administração que implementa as políticas. Mas, na verdade quer Passos Coelho ou Seguro são apenas figurantes; eles dependem dos outros grupos de interesses e presentemente das imposições dos credores.
Neste contexto, os meios de comunicação social têm um papel importante que não se pode confundir com o quarto poder. Desempenham algum controlo sobre os comportamentos dos agentes políticos; todavia, este papel tem limites impostos pela estabilidade e respeito pelos interesses instalados.
Por exemplo, o Secretário de Estado das Finanças e Orçamento foi simplesmente assassinado pelos comentadores políticos (Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes e Correia Campos), enquanto Rui Machete com um comportamento incomparavelmente mais reprovável foi sempre desculpabilizado. E porquê? Porque é um dos “nossos” - ex-ministro, gestor público, advogado de um grande gabinete e consultor dos diversos bancos. A “pequena” falha do BPN é uma coisa de família em que é melhor não tocar.
Os magistrados têm igualmente um papel importante na rede, já que gerem politicamente os processos que envolvem os políticos. Ora investigam agressivamente para pouco depois congelarem o seu andamento, ora deixam sair informações para a comunicação social. E não falamos do Tribunal Constitucional cujos juízes são escolhidos pelos partidos maioritários e contribuem decididamente para a estabilidade deste sistema.
Em quarto lugar, as grandes empresas de construção civil têm influenciado decididamente as decisões políticas. Parte da crise atual pode ser explicada pelos arranjos das grandes empresas da construção civil, com os bancos e o poder político. Estes grupos de interesses tiveram ao longo dos últimos anos uma ação concertada que desaguou nas parcerias público-privadas. Os bancos emprestavam o dinheiro, as construtoras construíam, o Estado pagava a prazo e os partidos ganhavam eleições. A crise financeira internacional veio pôr o fim neste arranjo.
Não nos podemos esquecer também dos grandes monopólios como a EDP, a GALP e brevemente os Correios que absorvem parte dos ex-governantes e que impõem rendas exorbitantes ao Estado, isto é, aos contribuintes.
Falta fazer uma referência aos grandes escritórios de advogados que contratualizam estas relações, ora representando o Estado, ora as grandes empresas. Em simultâneo, redigem as propostas leis que a Assembleia e o governo sufragam. Como disse atrás estes grupos detêm o poder. Não há conflitos porque isso geraria prejuízos e porque parte do pessoal circula da política para as empresas e destas para a administração dos bancos; por outro lado, são comentadores da televisão, moldando o pensamento de cidadãos que absorvem embebecidos as suas palavras.
Podíamos acrescentar outros grupos de interesses como sejam as universidades. Apesar da sua importância e do seu papel no desenvolvimento e inovação do país, foram atiradas para uma posição secundária. Não admira que assim seja, porquanto parte significativa da classe política é oriunda das universidades privadas com cursos a la carte. De resto é significativo que o número de académicos na superestrutura do governo seja pouco significativo.
Mas em contrapartida, o núcleo duro dos grupos dirigentes vindos em grande parte da Monarquia Constitucional (veja-se os Mexias, Ferreira do Amaral, Dias Ferreira, etc.) tiram os cursos na Católica e na Nova, com mestrados em grandes Universidade inglesas e americanas. Esta gente não brinca em serviço como fazem os políticos, entretidos com os seus pequenos negócios.
É isto a nossa democracia, suportada por uma classe média, criada pelos dinheiros europeus e pela dívida externa. Mas agora que a Troika obriga a pagar aos credores, o seu peso é fortemente reduzido pela diminuição de salários, aumento de impostos e cortes de pensões.
O resto da população é arrastada para a penúria e para o desemprego. Mas enquanto a população paga a dívida, os grupos dominantes que gerem o país defendem-se, mantendo o seu nível de rendimentos. Como diz o Primeiro-Ministro é necessário que os portugueses não gastem mais do que o que produzem, regredindo vinte anos no seu nível de vida."

22/01/2013

Plataforma em Chamas

"Às 21:30 de uma noite de julho de 1988, ocorreu uma enorme explosão, seguida de incêndio numa plataforma de perfuração de petróleo no Mar do Norte, na costa da Escócia. Perderam a vida 166 membros da equipa da plataforma e dois socorristas naquela que foi qualificada como a maior catástrofe dos 25 anos de história da exploração de petróleo no Mar do Norte. Sobreviveram 63 trabalhadores da plataforma, entre eles Andy Mochan. A sua entrevista ajudou-me a encontrar uma maneira de descrever a determinação dos vencedores dos processos de mudança. Da sua cama no hospital, ele disse que acordou com a explosão e com as sirenes, tendo saido a correr dos seus aposentos até à berma da plataforma, saltando de seguida para a água. Devido à temperatura da água, ele sabia que poderia viver, no máximo, cerca de 20 minutos, se não fosse resgatado. Além disso, o crude derramado nas águas estava em chamas. Mas ainda assim, Andy saltou de uma altura de mais de 45 metros no meio da noite para um mar de chamas repleto de escombros. Quando lhe perguntaram porque tomou a decisão de dar o salto potencialmente fatal, ele não hesitou: - "Era saltar ou morrer queimado." Tratava-se de escolher entre a morte hipotética e a morte certa. Ele saltou porque não tinha nenhuma alternativa - o preço de ficar na plataforma, de manter o status quo, era muito alto. Este é o mesmo tipo de situação que muitas empresas, líderes sociais e políticos encontram diariamente. Às vezes temos que fazer algumas mudanças, não importa quão incertas e assustadoras elas são. Nós, como Andy Mochan, teriamos que enfrentar um preço demasiado alto para não o fazer. Uma “plataforma em chamas” existe quando a manutenção do status quo se torna proibitivamente caro. Grandes mudanças são sempre custosas, mas quando a situação actual é ainda mais gravosa, estamos perante uma situação de "plataforma em chamas". A característica chave que distingue uma decisão tomada numa situação de “plataforma em chamas” de todas as outras decisões não é o nível de emoções envolvido, mas o nível de determinação. Quando estamos numa situação de “plataforma em chamas”, a decisão de fazer grandes mudanças não é apenas uma boa ideia - é um imperativo de sobrevivência".
Daryl R. Conner - "From Managing at the Speed of Change" - 1993 (tradução livre)

07/01/2013

O pastor e a tempestade

“Há uma imagem da política como poder pastoral, que é de Foucault, em que o político, como o padre, é aquele que orienta o rebanho. O que é o pior que pode acontecer ao rebanho? É se o pastor orienta o rebanho para o desfiladeiro. Mas há coisas úteis mesmo para um pastor incompetente que é uma tempestade. Porque numa tempestade o rebanho junta-se e nem é preciso o cão para o juntar. Junta-se espontaneamente. É nessa fase que nós devemos orientar o futuro. Porque quando passar a tempestade não se pode esperar que o rebanho continue ali parado com o temor à catástrofe, mas é nesse momento que é preciso saber para onde vamos dirigir-nos.” (in entrevista a Joaquim Aguiar, Público, 06-01-2013)

23/12/2012

Ano Capital

O ano de 2012 que agora termina foi o ano em que se acentuou a crise económica e social em Portugal, com cortes salariais, aumento de impostos, redução de serviços públicos, falências, incumprimento bancário, emigração crescente e de desemprego galopante. O ano de 2012 foi também o ano das capitais: a Capital Europeia da Cultura em Guimarães e a Capital Europeia da Juventude em Braga, com todo o foguetório fátuo que se conhece.
Daqui a uns tempos, com um pouco de distanciamento, esta história vai recordar-nos um célebre navio cuja banda de música continuava a tocar, indiferente ao naufrágio irremediável.

07/05/2011

Portugal Electrocutado

Depois do choque fiscal de Durão Barroso, do choque tecnológico de José Sócrates, Pedro Passos Coelho promete o choque da competitividade.

23/04/2011

A Promiscuidade, e o Norte de Portugal

Aproveito estes dias para passar os olhos pela pilha de jornais que se foi acumulando. Respigo algumas notícias exemplares:
- no âmbito da parceria público-privada do Hospital São Marcos em Braga, gerido pelo Grupo José de Mello Saúde, o Ministério da Saúde nomeou em Março de 2009 Francisco Cabral, para representar os interesses do Estado e acompanhar o contrato de parceria no Hospital. Sabe-se agora que este mesmo Francisco Cabral vai ser o gestor do novo Hospital Particular de Vila Franca de Xira, detido, claro está, pelo Grupo Mello. A promiscuidade existente entre o sector público e o sector privado, entre entidades reguladoras e os regulados, entre entidades da tutela e tutelados, é um dos mais graves problemas endémicos de Portugal, que FMI algum será capaz de resolver.
- A taxa de desemprego jovem na região Norte, no último trimestre de 2010, cifrou-se nos 25,3%, representando um novo máximo histórico, segundo dados do IEFP. A taxa total de desemprego na região é de 12,7%, dois pontos acima da média nacional.
- Com as admissões congeladas na Administração Pública, o CEAGP do INA representa a única hipótese de ingressar na função pública. Das
70 vagas fixadas para a 12.ª edição do curso, 62 vagas são para postos de trabalho na região de Lisboa e Vale do Tejo. Para o Norte estão contempladas 2 vagas. Mesmo assim, um olhar mais atento na listagem faz-nos reparar que uma das duas vagas é para Castelo Branco. Ou querem “inflacionar” as vagas do Norte, ou então, andam a precisar de uma reciclagem sobre geografia de Portugal.
- noutro sentido, um recente artigo de opinião publicado no Diário do Minho, dava conta da melhoria da divulgação da Semana Santa de Braga, com reflexos na atracção de mais turismo, desde que essa tarefa passou a ser da responsabilidade da Região de Turismo do Norte, comparativamente com o trabalho que era feito pela extinta Região de Turismo Verde Minho. A ser verdade, pode ser sintomático de que centralizar nem sempre é mau. Principalmente, quando as entidades descentralizadas (do tipo da Região de Turismo Verde Minho) se caracterizam por falta de dimensão, estrutura e recursos, evidente amadorismo, e pelo pior clientelismo político-partidário.

13/04/2011

A História Continua a Repetir-se

Em pouco mais de 30 anos, Portugal teve que pedir três intervenções do FMI. Actualmente, temos a pior média de crescimento económico dos últimos 90 anos, a maior dívida pública em 160 anos e a dívida externa mais elevada dos últimos 120 anos. A taxa de desemprego em Portugal é, hoje, a maior dos últimos 80 anos e assistimos à segunda maior vaga de emigração desde meados do século XIX. Chegados a este ponto, temos que pedir, de joelhos, ajuda externa. Ou mudamos de vida, ou não temos remédio.

25/11/2010

A História repete-se

Portugal sempre teve no decurso da sua longa existência períodos de grandes oportunidades, que se poderiam ter traduzido em prosperidade e desenvolvimento. Bastaria recordar os períodos expansionistas, onde dominamos as rotas das especiarias e todo o ouro vindo do Brasil. De todas estas imensas riquezas, o que é que nos ficou? – O Convento de Mafra e pouco mais.

Mais recentemente, Portugal tem recebido desde 1984 cerca de 7,5 milhões de euros por dia (incluindo sábados, domingos e feriados) da União Europeia (grosso modo, da Alemanha) para modernizar a nossa economia e torná-la mais competitiva. Ao mesmo tempo, “torramos” cerca de 500 toneladas de ouro desde 1974 (tínhamos reservas de 866 ton. e hoje temos 382,5 ton.) e privatizamos praticamente tudo o que havia para privatizar. De tudo isto, o que é que nos ficou? – O Centro Cultural de Belém, uns quilómetros de auto-estradas e… Não temos remédio.

23/11/2010

Under Review

Por motivos académicos/profissionais tive, novamente, que me ausentar de Braga a maior parte do tempo. Este blogue tem estado parado, pois a vontade e a disponibilidade para o actualizar tem sido muito pouca. No entanto, ainda no âmbito da blogosfera, comecei há cerca de três meses a colaborar no blogue Under Review, dedicado à música urbana portuguesa. Para mim, foi um grande privilégio ter sido convidado para o efeito, na medida em que o considero um dos melhores blogues nacionais. Toda a minha disponibilidade para postar tem sido canalizada para esse projecto colaborativo, que abrange toda a produção nacional desde os anos 50 até à actualidade, tendo já mais de 750 entradas sobre grupos musicais dos mais variados estilos. É, evidentemente, um projecto infindável, que se fará ao longo do tempo.
Pretendo continuar a intervir e a reflectir sobre matérias de política local e nacional no Bragaparks, actividade que retomarei logo que seja possível.

23/02/2010

Madeira

Gosto muito da Madeira. O Funchal é uma das minhas cidades portuguesas preferidas. Podia até viver lá...

24/12/2009

Embaixada em Lisboa

O jornal Público de 21 de Dezembro noticia a indigitação de Andreia Galvão para dirigir o Museu de Arte Popular em Lisboa, cuja reabertura se prevê para finais de 2010. A nova directora pretende que este espaço museológico seja “uma embaixada do país em Lisboa onde as autarquias e as comunidades possam mostrar o melhor que se faz nos seus territórios.”
Não deixa de ser espantoso que em pleno séc. XXI, Lisboa e os seus próceres continuem a ver-se como o centro do mundo - a metrópole, e o resto do país como uma parvónia, cujo grande desígnio é ter uma “embaixada” na capital para exibir as suas peculiaridades.
Foto: Gérard Castello Lopes