O instinto maternal nunca me bateu à porta de forma violenta, como aconteceu com algumas amigas, que viviam na angústia de não conseguirem ser mães.
Eu tinha os afectos bem resolvidos, rodeada pela família e amigos, preenchida pelo nascimento das minhas sobrinhas.
A maternidade veio naturalmente, com o casamento com um super-pai em potência. Todo ele queria filhos e, numa relação estável e feliz, fez-me sentido.
Não tive grandes transtornos na primeira gravidez, sofri a espera pelo resultado da amniocentese, alguns enjoos, muito sono e pouco mais.
O parto não foi o desejado, mas acredito que, por vezes, as coisas não acontecerem como planeamos é a nossa maior sorte. Teve de ser cesariana, mas hoje penso que me posso ter livrado de cortes e rasgões e outras chatices do parto normal. Nunca saberei.
O que foi mais complicado foi mesmo o período do pós-parto, em particular na amamentação.
Tendo lido bastante e feito a preparação de pré e pós parto, das poucas certezas que tive e tenho é que o leite materno é o melhor que se pode oferecer a um bebé. Chorei muito para o conseguir e dar de mamar não foi a experiência prazerosa de que tantas mães falam. Tive dúvidas de tudo, demorei a pedir ajuda e o resultado foi ter ficado sem mamilos, que caíram literalmente aos pedaços. Quando fui assistida por uma enfermeira especialista, disse-me que, em milhares de mamas que já tinha observado, nunca tinha visto nada assim.
Com paciência, bicos de silicone e cremes cicatrizantes, o cenário foi melhorando. Hoje, tenho novos mamilos formados pela sucção do primeiro filho.
Sofri muito, mas fiz isto por ele, convicta de que lhe dei o melhor presente de todos: um contributo para um bom sistema imunitário.
Nem tudo foi mau. Tinha muito leite e dei-lho até aos dois anos, mantendo aqueles momentos só meus e dele.
Durante um longo período não quis ouvir falar em ter um segundo filho.
Seguiu-se uma proibição médica de engravidar por suspeita de cancro de mama, em que fui vigiada durante um ano, e, depois, a morte inesperada do meu pai, que me atirou para um estado emocional impróprio para gerar vida.
O meu segundo filho não foi um acaso, foi uma decisão pensada e sentida. Nada contra os filhos únicos, mas prefiro o modelo com irmãos, até porque eu adoro ter um irmão. Embarquei numa nova aventura com mais receios do que na primeira, até pela minha idade. Desta vez, fui mais vigiada, fiz exames com especialistas recomendados, tive mais cuidados com a alimentação.
Não me safei novamente da cesariana, mas desta vez não tinha criado expectativas nenhumas em relação a isso, queria apenas que o bebé nascesse bem. Tive muito medo quando entrei no bloco operatório e demorei a acalmar. Não era só por mim e pelo bebé, era imaginar o sofrimento do meu filho mais velho se algo corresse mal.
Posso dizer que, no segundo filho, até o pós-operatório foi feliz. Tirando uma dor teimosa na cicatriz, não tenho mais queixas. Os inchaços típicos da retenção de líquidos do final da gravidez passaram ao fim de uma semana. Os meus pulsos não acusaram síndrome do túnel cárpico. Tive leite ainda na maternidade e o bebé pegou na mama sem problema algum.
Do primeiro para o segundo filho, descompliquei. Sinto-me mais tranquila e confiante. Não quero saber das opiniões dos outros e sigo muito mais o meu instinto. Ando extremamente cansada, mas sei que esta fase passa demasiado rápido e quero aproveitar ao máximo para dar todo o colo e todo o amor, agora a dobrar.
Sinto-me muito bem neste papel de mãe de dois. E que lindos eles são!