domingo, 26 de novembro de 2017

Dois anos

Faz hoje dois anos que o meu pai morreu. Assim, de repente, sem sinais de doenças graves ou galopantes. Foi a uma reunião, a que não devia ter ido por estar em convalescença de uma operação para partir uma pedra num rim, sentiu-se mal, e já nem o INEM o levou para o hospital. Ficou-se ali mesmo. 

Ainda o senti quente, quando lhe toquei pela última vez, no derradeiro carinho de despedida. Cheguei tarde para lhe dizer, num grito, o amor que lhe tinha, a falta que nos iria fazer, as saudades que iria deixar em todos os que privaram da sua excêntrica maneira de ser.

Todos já vivemos um luto. Infelizmente, já todos perdemos um progenitor, um companheiro, um filho (Deus me livre), ou um amigo especial. Até mesmo um animal de estimação. Não quero discutir qual dói mais, quem sofre mais. Nem pretendo palmadinhas nas costas, o "sei como é" que não tem nada de empático a maioria das vezes. 

Há coisas que nos marcam e nos modificam para todo o sempre, como o nascimento de um filho, como a morte de um pai. A vida encarrega-se de nos ocupar e distrair, mas há dois anos que esta dor me acompanha. Há dois anos que vivo, constantemente, com saudades. E que pena eu tenho de não poder mostrar ao meu pai o seu neto mais novo.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Segundo filho

O instinto maternal nunca me bateu à porta de forma violenta, como aconteceu com algumas amigas, que viviam na angústia de não conseguirem ser mães.
Eu tinha os afectos bem resolvidos, rodeada pela família e amigos, preenchida pelo nascimento das minhas sobrinhas.
A maternidade veio naturalmente, com o casamento com um super-pai em potência. Todo ele queria filhos e, numa relação estável e feliz, fez-me sentido.

Não tive grandes transtornos na primeira gravidez, sofri a espera pelo resultado da amniocentese, alguns enjoos, muito sono e pouco mais.
O parto não foi o desejado, mas acredito que, por vezes, as coisas não acontecerem como planeamos é a nossa maior sorte. Teve de ser cesariana, mas hoje penso que me posso ter livrado de cortes e rasgões e outras chatices do parto normal. Nunca saberei.
O que foi mais complicado foi mesmo o período do pós-parto, em particular na amamentação.
Tendo lido bastante e feito a preparação de pré e pós parto, das poucas certezas que tive e tenho é que o leite materno é o melhor que se pode oferecer a um bebé. Chorei muito para o conseguir e dar de mamar não foi a experiência prazerosa de que tantas mães falam. Tive dúvidas de tudo, demorei a pedir ajuda e o resultado foi ter ficado sem mamilos, que caíram literalmente aos pedaços. Quando fui assistida por uma enfermeira especialista, disse-me que, em milhares de mamas que já tinha observado, nunca tinha visto nada assim.
Com paciência, bicos de silicone e cremes cicatrizantes, o cenário foi melhorando. Hoje, tenho novos mamilos formados pela sucção do primeiro filho.
Sofri muito, mas fiz isto por ele, convicta de que lhe dei o melhor presente de todos: um contributo para um bom sistema imunitário.
Nem tudo foi mau. Tinha muito leite e dei-lho até aos dois anos, mantendo aqueles momentos só meus e dele.

Durante um longo período não quis ouvir falar em ter um segundo filho.
Seguiu-se uma proibição médica de engravidar por suspeita de cancro de mama, em que fui vigiada durante um ano, e, depois, a morte inesperada do meu pai, que me atirou para um estado emocional impróprio para gerar vida.

O meu segundo filho não foi um acaso, foi uma decisão pensada e sentida. Nada contra os filhos únicos, mas prefiro o modelo com irmãos, até porque eu adoro ter um irmão. Embarquei numa nova aventura com mais receios do que na primeira, até pela minha idade. Desta vez, fui mais vigiada, fiz exames com especialistas recomendados, tive mais cuidados com a alimentação.

Não me safei novamente da cesariana, mas desta vez não tinha criado expectativas nenhumas em relação a isso, queria apenas que o bebé nascesse bem. Tive muito medo quando entrei no bloco operatório e demorei a acalmar. Não era só por mim e pelo bebé, era imaginar o sofrimento do meu filho mais velho se algo corresse mal.

Posso dizer que, no segundo filho, até o pós-operatório foi feliz. Tirando uma dor teimosa na cicatriz, não tenho mais queixas. Os inchaços típicos da retenção de líquidos do final da gravidez passaram ao fim de uma semana. Os meus pulsos não acusaram síndrome do túnel cárpico. Tive leite ainda na maternidade e o bebé pegou na mama sem problema algum.

Do primeiro para o segundo filho, descompliquei. Sinto-me mais tranquila e confiante. Não quero saber das opiniões dos outros e sigo muito mais o meu instinto. Ando extremamente cansada, mas sei que esta fase passa demasiado rápido e quero aproveitar ao máximo para dar todo o colo e todo o amor, agora a dobrar.

Sinto-me muito bem neste papel de mãe de dois. E que lindos eles são!

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Alegrias da maternidade

Estamos a brincar aos aquários, pois fomos recentemente ao oceanário. Temos vários peixes, um polvo, uma lagosta e um crocodilo fora de água.
Pergunto ao meu filho quem sou eu.
"És este", e aponta para um peixe palhaço com um ar bem simpático. Que bom, faço parte dos fixes, penso. "Porque é o mais gordo", acrescenta. Ah.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

A vizinha distraída

Cruzo-me com uma vizinha no elevador, levo o bebé no carrinho.
- É seu? - pergunta a vizinha com ar de espanto.
- Claro que é meu! - respondo a rir. Havia de ser de quem?
- Sei lá, talvez um sobrinho!

A vizinha, com quem reuni, já muito barriguda, por assuntos do condomínio, não reparou que eu estava grávida. Por fim, desculpou-se. Como tenho uma criança pequena, achou que ainda não tinha recuperado da gravidez anterior. Ou, dito de forma curta, achou que estava eu gorda.

Normalmente, é ao contrário. Costumam felicitar uma mulher convictos de que ela está grávida quando não está. Que, pensando bem, é o risco que corro agora.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Quando não se tem filhos

O Facebook recordou-me um post bastante antigo em que eu contava ter estado a estudar as características de um ferro antes de o comprar. Dizia assim:
«A difícil tarefa de escolher um ferro de engomar. Já sei quais as principais características a ter em conta: potência, débito de vapor e tipo de base. Também percebi que, em Portugal, é importante que o ferro tenha sistema anti-calcário, pois a água é "dura". E pronto, convém que seja leve e não muito caro. Com isto, penso já saber o suficiente sobre ferros a vapor para fazer uma compra razoável (qualidade/preço).»
Sempre fiz isto. Antes de comprar alguma coisa, lia bastante sobre as suas características, o que ter em conta, qual a opinião dos especialistas na relação qualidade-preço. Valia tudo, desde um computador portátil, electrodomésticos para a casa, a pneus para o carro.
Talvez deva dizer que sempre fiz isto antes de ter filhos.
Para a semana, vêm instalar ar-condicionado na casa toda e a única coisa que fiz foi saber quais as melhores marcas, optar pela menos cara e exigir que os aparelhos sejam silenciosos.
Nem sei bem o que lá vem. Entreguei o assunto a uma empresa especializada e já paguei metade do valor orçamentado.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

As listas

Se há algo que me irrita é esta moda de escrever tudo como uma lista. Os cinco destinos mais baratos, as 10 dicas para manter a casa arrumada, os 15 erros que já cometeu a fazer a mala....
Pior ainda quando provocam a curiosidade. Apostamos que vai adorar a oitava, temos a certeza de que também já fez a terceira, a que gostamos mais é a décima.
Fico logo irritada e, na maioria das vezes, sem vontade de ler o artigo.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Disse-me um Adivinho

A minha pilha de livros para ler tem crescido continuamente desde há 4 anos,  altura em que fui mãe pela primeira vez. E só não cresceu mais porque, a dada altura, recusei-me a comprar livros para ficarem na prateleira. Passei a comprar livros infantis, que, esses sim, tinham, e têm, muita leitura.
Entre comprados e oferecidos, o meu filho tem mais livros do que muitos adultos juntos. (Não é que o muito seja uma coisa boa, sou contra o excesso - também nos livros.)
O historial de noites mal dormidas e de deitares pouco pacíficos deram conta de um dos meus hábitos preferidos, que era (que é!) ler antes de dormir.
Faz parte da rotina do deitar, mas do filho, que a minha, ainda mais agora com um bebé a dormir no quarto, tem sido desmaiar na cama assim que posso.
De modo que, na minha mesa de cabeceira mora um livro há vários meses, Disse-me um adivinho, de Tiziano Terzani. Foi-me oferecido há uns três anos, mas só há pouco tempo lhe peguei, num processo em que acredito que o livro chama por mim quando chega o momento de o ler, e estou a gostar muito do estilo, do tema, da viagem ao oriente para onde o livro me transporta sempre que pego nele.
No outro dia, fiz um teste: quanto tempo conseguia estar a ler sem ser interrompida. Um filho a ver desenhos animados e o outro a dormir. Consegui uns fantásticos oito minutos!
O livro tem quase quinhentas páginas e vou a meio. Suspeito que este será ainda a minha leitura para o Verão.
(Mas ando com muita curiosidade para ler a Elena Ferrante, da qual já tenho os dois primeiros volumes, também oferecidos, da colecção A Amiga Genial.)