terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Pendentes

Ando com este texto há vários meses, nas esperas, nas calçadas, nas garfadas. Até no trânsito, a gotejar enquanto o da frente avança mais um metro. Lembrete para não deixar passar três séries que de alguma forma me salvaram. Uma e outra vez quando a nossa boa vontade é obliterada por dinossauros mutantes e embalagens de Snickers.

do caos

The Bear, e o seu quarto prato. Com o domínio completo da sua orquestra e de quem são os seus, a série atira-se numa edição tesoura de podar, quotidiana, de saltos e contrassaltos. Sem transições ou agendas, todos a cuspir diálogo, de um sítio para outro. Com o coração ao alto - ou debaixo de uma mesa - Carmy, Syd e Richie têm a sua rendição - porque nunca sara realmente - num final mestre, de fade to black, cena sim cena não, enclausurados num desabafo. Nunca pára de surpreender.

da criatividade

Lego Masters: Australia, teve este ano a sua edição Grand Masters of the Galaxy. Série, que nos seus títulos e dinâmicas, parece idêntica aos bolos, às espadas, aos aquários. Mas não, há um regresso à unidade, à imaginação sem aditivos: diferentes pares de construtores são desafiados semanalmente a construir algo. Uma página em branco, uma dúzia de horas e milhares de peças de lego, formas e feitios. Um tema. O resto é o que quiserem, como quiserem, sem dramas nem novelas. E esta oferenda única ao processo de criação - com muito de cinemático - deixa-me sempre a correr por mais.

da amizade


Cobra Kai chegou ao fim no início deste ano, com a parte 3 da sua sexta temporada. Já vi esse trailer dezenas de vezes, vou agora ver de novo, por falar nisso. [Pausa para ver o trailer de novo] Continua bom, sempre a arrepiar. Vamos mostrar a esta malta como se fazem as coisas aqui no vale. E mostraram, não só à vilanagem, mas a todas as outras sagas de que é possível respeitar e saber crescer com as figuras de outrora. Não há Caça Fantasmas séniores assentes em deixas ocas. Há segundas oportunidades, caminhos que nem sempre são óbvios e um grupo de personagens cheio de coração. Pode ser meio ingénuo e novelesco a tempos, mas esta malta estabeleceu um laço único. Daqueles que deixa buraco. Sai o trailer mais uma vez.

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Ep.16 - K-9/Turner & Hooch

Quando Miguel e Carlos são chamados de emergência à Baía da Aventura, para resolver um problema de tráfico de Friskies, dão por si envolvidos numa conspiração internacional que traz à tona fio dental, Eric Roberts e fantasmas caninos do seu passado. Comédia, ação e drama que ninguém pediu, no regresso mais aguardado da temporada podcãostica. 

Episódio disponível aqui.

Ep.15 - Drop Zone/Terminal Velocity


Miguel é chamado ao confessionário para desenhar a sua curva da vida. Entre traumas cinemáticos como o Olha Quem Fala Agora! e Lendas de Paixão, fala também daquela vez que decidiu saltar de paraquedas. Sóbrio. Num testemunho emocionante navegamos pelos detalhes angustiantes de um salto tandem, de hackers aéreos com o plano mais pateta dos anos 90 e de um moço que só queria molhar o pincel mas acaba envolvido nas mais bizarra das conspirações russas.

Episódio disponível aqui.

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

A estrada fora da parentalidade

2025 encontrou o seu Caddo Lake. Thriller na contenção, terror na suposição, Hallow Road chega de mansinho para nos levar na mais escura das estradas. E há não cagaço mais eficaz este ano que a voz daquela senhora, do outro lado da linha. Bela surpresa.

sábado, 8 de novembro de 2025

Predador para toda a obra

Faz mais pelo cinema de ficção científica e de aventura que uma década de Star Wars e Mundo Jurássicos. E depois desta frase direitinha para o verso do Blu-ray, deixem que vos diga: não ia à espera disto. As sondagens - e mesmo os trailers - apontavam para mais uma entrada bruta, em linha recta, direta à carninha. Porém, esses pressupostos silêncios de uma caçada dão lugar a uma inesperada cruzada de criaturas, renegados, alianças improváveis e assuntos de família. Até as clássicas reviravoltas sabem a novo, graças a um guião inteligente, palpitante, onde cada armadilha tem o seu papel. Trachtenberg fecha esta trilogia com um original "dá cá mais cinco" e um revigorante mundo novo a apontar ao infinito.

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Onde estão as bolhas nos pés?

Boa sessão dupla com o Fátima. Apesar de eu preferir os terrores de João Canijo aos dissabores de Francis Lawrence. A cena de apresentação do Mark Hamill, o grande vilão do filme, trouxe-me logo aqueles arrepios passados de tarefeiro: atabalhoada, com grandes planos reveladores, sem inspiração ou tensão. O resto é infetado por um realizador que não tem uma única ideia de cinema, apostando tudo na violência gráfica e esquecendo a implementação de um mundo. Nada rodeia aquele conjunto de rapazes que são obrigados a caminhar uma vida inteira. Ficamos a navegar sem contexto, numa repetição constante de situações que ao fim da primeira hora já fecharam a caderneta das possibilidades. O duo de protagonistas é de facto bastante sólido, com carisma e vitalidade, caindo num final negro e ambíguo. Mas não chega para ferir e chegamos ao final da caminhada com os pezinhos do início, sem uma única bolha.

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

A estranhar até ao fim


[SPOILERS] "Pode ser que o pior já tenha passado, copo meio cheio, sempre o copo meio cheio." Era assim que terminava a minha crónica ao Strangers: Chapter 1. De facto, aquele arranque comatoso deu lugar a um objeto muito mais bizarro e interessante. A trapalhice está lá mas com uma câmara aventurosa que não tem vergonha nenhuma de se embrulhar nos géneros e referências: desde o Halloween 2, com o início no hospital, passando pela sutura à First Blood no meio da floresta, até ao Rei Leão,  num Pumba filha da puta e mau de matar. Ah, mas por que é que não referenciaste o Boar? Porque me apeteceu referenciar o Rei Leão ora essa. Vocês às vezes perguntam cada coisa. Concluindo, curva ascendente sossegada que consegue o mais difícil: marcar presença para o capítulo final.

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

De robe, até ao infinito

[SPOILERS] Quando se dá o salto temporal e somos apresentados a um grande plano da (futura superestrela) Chase Infiniti, seria de esperar, olhando para o livrinho, que o DiCaprio se tivesse transformado. No pai metódico, preparado, responsável. Ele sabe o que tem a fazer, diz Regina Hall. Ele não faz ideia, e essa subversão de expetativas, essa ala Peter Pan da revolução, é a estrela guia do filme. O desnorte que conduz o protagonista e todos os outros que estão deste lado, a serem levados por inacreditáveis sequências de ação e uma banda sonora que é uma segunda realização. O sobe e desce da perseguição final é o sumário perfeito de One Battle After Another: uma montanha-russa de vivas à resistência, de vivas ao cinema.