Mostrar mensagens com a etiqueta Globalização. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Globalização. Mostrar todas as mensagens

domingo, janeiro 18

Coitada, casou com um árabe


O Jahid é descendente de uma família de políticos marroquinos que decidiu ser matemático. Conheceu a Consuelo num daqueles institutos internacionais onde as nacionalidades se esbatem. Arranjaram os dois um posdoc em Lisboa e passaram a viver juntos. Um ano depois resolveram casar, em Rabat. Segundo a lei marroquina, ou muçulmana - não faço ideia, cada casamento é um caso, dando origem a um contrato que é negociado pelos cônjuges ou pelas suas famílias. Acordado os termos gerais do contrato com semanas de antecedência havia que acertar os últimos retoques da negociação na noite da véspera. De acordo com as regras, o noivo estaria presente e a noiva seria representada por um familiar. Os especialistas explicaram à família da noiva que o acordo a que tinham chegado era demasiado liberal e como tal não podia ser aceite. Um truque que deviam estar a usar pela n-ésima vez. Na véspera do casamento a noiva está num estado de especial fragilidade...
Resposta da Consuelo: muito bem, não há casamento. Uma das razões principais porque eles se iam casar, para além de estarem apaixonados, era arranjar um passaporte comunitário para o Jahid, que nos tempos pós 11 de Setembro tinha a vida ainda mais complicada cada vez que queria viajar. Por outro lado o cancelamento do casamento era um escândalo terrível. Quando a família do Jahid resolveu voltar atrás já era muito tarde. Agora era a Consuelo que não aceitava os termos anteriores. Podia-se voltar a considerar a hipótese do casamento se ela pudesse estar presente na discussão de um novo contrato, bem mais liberal que o primeiro.
Coitado no Jahid, que não teve nada a ver com esta história. Hoje a Consuelo, o Jahid e a sua filha vivem felizes no México. Quem manda lá em casa é a Consuelo. O Jahid sempre soube que assim seria.

É claro que este caso é a excepção que confirma a regra. À partida não veria com bons olhos que uma filha minha se casasse com um muçulmano? Certamente que não. Mas depois logo se via. Ela não se ia casar com um católico ou um muçulmano mas sim com um homem (ou uma mulher, sei lá). Espera-se de um cardeal algo mais do que uma boca à Alberto João Jardim. Se um senhor não tem algo mais profundo do que isso para nos dizer, mais valia estar calado. Estava num casino? O Cristiano Ronaldo é um míudo de 23 anos que só pretende saber jogar futebol e engatar umas míuda. Está sob escrutínio permanente de todos os seus actos. Pode-se pedir um tratamento especial para um senhor que se considera um modelo a seguir e que todos os dias nos diz o que como nos devemos comportar? É claro que não.
O que é pior: a traição de uma certa esquerda que faz por esquecer as violações constantes dos direitos humanos nos países muçulmanos, ou a leviandade de sua eminência? Desta vez tenho de ficar do lado do senhor Policarpo.

quarta-feira, abril 23

Vou a Cuba enquanto o Diabo esfrega um olho

O Dr. Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos Médicos exprimiu ontem a sua raiva perante o facto de quatro camaras municipais portuguesas terem estabelecido protocolos com o governo cubano no sentido de enviarem a Cuba os seus municipes com cataratas e outros problemas oftalmologicos. Acusa as camaras de eleitoralismo. Até se esquece que está a tentar ser juiz em causa propria.
A globalização é um fenomeno inevitavel ao qual nos temos de resignar quando fecha uma fabrica de texteis no vale do Ave. Quando belisca os previlégios da classe dominante, já é outra história. Actualmente um americano pode ir à India fazer uma operação ao coração num hospital de luxo, com equipamentos da última geração, operado por médicos conceituados, passar a convalescença num resort cinco estrelas junto às aguas quentes do oceano Indico, fazer a viagem de ida e volta em primeira classe e mesmo assim gastar metade do dinheiro que teria de pagar só pela operação nos Estados Unidos. Por causa dos seguros contra problemas judiciais e por causa dos preços inflacionados a que a saude é vendida nos EUA. As portuguesas já descobriram que com o euro cada vez mais forte, os aviões cada vez mais baratos e os médicos cada vez mais caros, vale mesmo a pena ir passar uma férias ao Brasil e voltar de lá a fazer inveja às amigas. Com os empréstimos loucos que a banca faz(ia), nem foram só as ricas que o fizeram.
Quem necessitar de um tratamento dentário mais sério, colocar uma protese num joelho ou na anca, ou quiser fazer um check up completo, talvez valha a pena considerar a hipótese de o ir fazer à Argentina, à Costa Rica, à Malásia ou à África do Sul. O turismo médico é uma industria em explosão. Cuba atrai vinte mil turistas da saúde por ano. Não são todos enviados pela Camara Municipal de Vila Real de Santo António.
O estrangulamento das entradas nos cursos de medicina tornou o próprio governo refém da classe médica. As reformas antecipadas de medicos e/ou a sua passagem para o sector privado colocam em risco o funcionamento do serviço nacional de saude tal como o conhecemos. Não é muito bom, mas pode vir a tornar-se bem pior. Alguma coisa tem de ser feita. Quatro camaras municipais romperam o monopólio do Dr. Nunes. Que outras lhes sigam o exemplo.