| Arte de Toleitwolf |
Não há deuses
no quarto vazio apenas ausências
flutuantes
esperanças esmagadas
pelas pedras rochosas
pela água salgada que entra
através dos portais carcomidos
Não há deuses
na casa vazia
e tudo é melancolia.
.
Mariza Alencastro
Um poeta é um rouxinol que se senta na escuridão, e canta para se confortar da própria solidão com seus próprios sons. Seus ouvintes são homens arrebatados pela melodia de uma musica invisível, que se sentem comovidos e em paz, ainda que não saibam como nem porquê” (Percy Bysshe Shelley)
| Imagem via Google |
Quando cheguei a casa as minhas mãos traziam ainda o teu cheiro.
A minha boca abandonada na segunda metade de um beijo
mastigava palavras que te amariam se as deixasses pousar-te na pele.
Não quis adormecer para não ter de acordar sem ti mas acordei.
E a manhã é um silêncio
E o teu toque uma mentira.
Pedro Jordão
| Arte de Destiny Blue |
Se tiveres um bocado de tempo
Um bocado precioso do teu tempo
Um momento breve de minutos
Ou doces momentos de segundos
Atravessa a ousadia e vem dormir
Neste leito onde a chama arde
Sem que se faça em cinzas
Aqui é amor apenas e graça
A música que vem de ti
Doce Chopin do meu piano
Barco pronto a partir
Pelo teu rio acima
Tejo que quero descobrir.
Isabel Fidalgo
melopeia
/éi/
substantivo feminino
1.
música
a parte musical, melódica de um recitativo ('gênero de canto declamatório').
música
melodia que acompanha qualquer recitação.
2.
toada, cantiga de melodia simples e monótona, ger. melancólica; cantilena.
3.
figurado
toada doce, suave, eufônica.
"as m. da paixão"
4.
declamação harmoniosa, delicada, aprazível.
5.
história da música
na Grécia antiga, o tratado de composição, o conjunto dos princípios, das regras que regem a composição de melodias.
Origem
⊙ ETIM(1813) grego melopoiía,as 'melodia, música; teoria musical'
| Fotografia de Evgeniy Beloshytskiy (@eugeniqa) |
um olho no caos
outro no cais
um olho na luta
o outro na paz
um olho perdido
outro encontrado
um olho no circo
o outro no prato
um olho invertido
e outro pintado
um olho no peixe
outro no gato
um olho pagão
outro fechado
um olho no pão
outro cansado
um olho futuro
o outro passado
um olho amigo
o outro nem tanto
um olho de vidro
outro de pano
olho
muitos olhos
na plataforma
a esperar
um olho caça um poema
o outro, um lugar pra sentar.
Ana Mendes
| Imagem via Pinterest |
Fica ao menos o tempo de um cigarro, evita
comigo que este tempo ande. Lá fora
são as casas, vive gente à luz de um candeeiro,
o som que nos chega apagado pela distância
só denuncia o nosso silêncio interrompido.
Ajuda-me, faremos o inventário das coisas
menos úteis, mágoas na mágoa maior do tempo.
Fica, não te aproximes, nenhum dia
é menos sombrio, quando anoitecer vamos ver
as árvores cercando a casa.
Helder Moura Pereira
| fotografia em preto e branco intitulada Verklärte Nacht (Noite Transfigurada), do artista Antonio Palmerini |
Esquece-te de mim, amor,
das delícias que vivemos
na penumbra daquela casa,
Esquece-te.
Faz por esquecer
o momento em que chegamos,
assim como eu esqueço
que partiste,
mal chegamos,
para te esqueceres de mim,
esquecido já
de alguma vez
termos chegado.
António Mega Ferreira