Era uma vez a história de uma menina que não gostava de “Era uma vez.” Porque é que tem que ser “Era uma vez”, pensava ela, porque é que não pode ser “Foi um dia”, ou “Era um tempo”, ou mesmo “Era assim”? A menina detestava de tal modo o “Era uma vez” que se recusava a ler ou ouvir contar todas as histórias que assim começassem. Burra menina, que assim não aprendeu nada e acabou como escrava sexual de um caçador, depois de estupidamente ter perdido a avó, e quase ter sido comida por um lobo. Se ela ao menos tivesse lido a história, de certeza que o caçador não teria tido tanta sorte … tê-la-ia tido o lobo, pois claro! Pois que mesmo tendo lido a história, uma teimosa vaidosa será sempre uma vaidosa teimosa! E não, não é esta a moral da história, pois penso que já adivinharam que esta é mesmo uma história sem moral!
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11 de junho de 2010
3 de dezembro de 2007
O universo perverso dos contos infantis ou às vezes dá-me para isto
Desde que comecei a ter algum discernimento, e como apreciadora de contos tradicionais que sou, sempre me fez alguma confusão a maneira como estes são adoçados para os ouvidos das criancinhas. No entanto, continua tudo lá, nas entre-linhas. A crueldade é óbvia, na grande maioria das vezes. Já devem ter percebido que não estou a falar de contos Disney-style, mas daqueles escritos, naqueles que vinham nos livros para ler às crianças. Nos contos de Grim, por exemplo, entre outros. Mas não são para crianças, de facto, fazem parte da tradição oral, são lições. O conteúdo sexual foi disfarçado, claro, quando se tornaram parte do imaginário infantil. Por exemplo... Quando o caçador veste a pele do lobo, no capuchinho vermelho, é para tomar o capuchinho, que não me parece que seja uma criança, mas antes uma suculenta adolescente. Isto são considerações leigas, se por milagre passar por aqui alguém que perceba do assunto, corrijam-me, por favor. Mas porque é que eu estou a falar disto? Bem, há uns tempos dediquei algum tempo a analisar a história da branca de neve e dos seus anões, durante uma viagem de carro. Cheguei a algumas conclusões:
1º- A rainha não estava com inveja da beleza da afilhada, é mais provável que tenha agido por motivos económicos e para garantir a segurança da sua própria descendência. E talvez para contrariar alguma tendência incestuosa daquele pai extremoso.
2º- O caçador não a liberta por ter bom coração, mas sim porque a rapariga era muito boa nos favores sexuais...
3º- A princesa vai parar à casa dos anões. Ok. É uma princesa, ou seja, uma pirralha mimada, nunca lhes iria limpar a casa... Depois, eles são 7. São anões, não são gnomos. Trabalham o dia inteiro nas minas, o que quer dizer que são fortes e com pouco na cabeça, além de estarem sujeitos a uma enorme solidão e a consequentes tendências sodomitas. Portanto...
4º- A princesa não passaria o dia a cuidar deles e a tratar-lhes da casa, mas tranformar-se-ia muito provavelmente na sua escrava sexual. O que talvez não lhe desagradasse totalmente, e o que a inviabilizaria irremediavelmente enquanto provedora de herdeiros reais, e que seria exactamente o objectivo da rainha ao mandá-la para ali.
5º- Posto isto... É muito provável que não tenha sido envenenada com uma maçã, mas que tenha tido problemas com o parto do descendente dos anões. O que possivelmente também teria acontecido à rainha, em vez de morrer por ter brasas nos sapatos.
Parece-me que as coisas assim são muito mais lógicas, não? Também são menos interessantes, e não dão um conto. E não há passarinhos a bailar e a cantar. Nem pentes, nem fitas apertadas no pescoço. Mas não deixa de me agradar.Tal como a visão ali de cima da Paula Rego, mais orgásmica que outra coisa. E tal como esta outra versão alternativa da história aqui em baixo:
Peço desculpa se destruí os sonhos a alguém... Mas já é altura de se ir questionando o que nos enfiam na cabeça em crianças. Afinal de contas, porque será que tem sempre que ser o lobo a morrer?
;P
14 de novembro de 2007
Com a faca contra a onda
«Vivia outrora em Baile Mór um homem bem-parecido que se chamava Seimin Rua, o qual, com a sua tripulação, conduzia o barco a um banco de peixes na baía de Donegal.
De súbito o tempo mudou, o mar embraveceu e ameaçou fazê-los naufragar. Seimin, que se encontrava na popa do barco, viu uma onda gigantesca avançar na sua direcção. Descalçou um sapato e atirou-o contra o perigo. Pouco depois, viu uma segunda onda e apressou-se a descalçar o outro sapato, e a atirar-lho, após o que o mar se acalmou um pouco. Mas foi apenas uma breve pausa. Não tardou a avistar uma terceira, ainda mais ameaçadora que as anteriores, e os sete homens pensaram que ninguém os livraria de morrer afogados. No banco da popa, havia uma faca grande para cortar o isco. Seimin pegou nela e lançou-a contra o perigo. No momento imediato, a tempestade amainou e o mar ficou calmo e plano como uma prancha.
Regressaram a casa encharcados até aos ossos, e depararam-se-lhes as famílias desgostosas, por recearem não os voltar a ver. Não era, pois, de estranhar a alegria que a sua chegada lhes produziu. Depois de repartirem o produto da pesca e encalharem a embracação na praia, recolheram à respectivas casas, sãos e salvos.
Anoiteceu e Seimin estava sentado diante do lume, com a planta dos pés voltada para a fonte de calor. Rodeavam-no alguns vizinhos, aos quais descrevia as peripécias sofridas.
De repente, bateram à porta e alguém foi abrir. Era um ginete montado num cavalo branco, que perguntou se Seimin vivia ali. Em seguida, pediu que acudisse à entrada.
- Ficar-te-ia muito grato se viesses comigo e tirasses a faca que hoje cravaste no coração de minha irmã - anunciou-lhe.
Seimin apercebeu-se imediatamente de que espécie de criatura se tratava.
- Não tenciono abandonar esta casa, a menos que me garantas solenemente que nem eu, nem ninguém da minha família ou da tripulação sofrerá qualquer mal - tratou de advertir.
- Prometo-to, assim como que, ao amanhecer, regressarás a casa, são e salvo.
Seimin partiu com o ginete e não se voltou a saber dele até que o cavalo branco reapareceu na costa da praia Vermelha de Mullaghmore, em Connacht.
O animal subiu pela praia e acabou por desaparecer por uma porta, numa colina. Não passara muito tempo, quando chegaram a um palácio maravilhoso. O ginete desmontou de um salto e indicou a Seimin que o precedesse. A seguir subiram uma escada, até um aposento onde se encontrava uma jovem, a qual tinha cravada no coração a faca que ele atirara contra a perigosa onda e soltava gritos de dor.
- Arranca a faca! - exclamou ao vê-lo.
- Fá-lo-ei de bom grado, mas primeiro tens de me prometer que não me incomodarás, nem à minha família, amigos e tripulação - replicou Seimin.
- Prometido! - arquejou ela.
Seimin extraiu a lâmina da faca do peito da jovem, que parou com os queixumes.
- Porque tentaste afogar-nos? - quis saber ele.
- Porque estou apaixonada por ti e queria ter-te só para mim.
- E não hesitavas em matar toda a tripulação?
- Não- asseverou- Faria tudo neste mundo para que fosses apenas meu.
- Pois agora escusas de pensar nisso. Vou regressar a casa.
Diante da porta, o ginete e o cavalo branco aguardavam Seimin, que subiu para a sela atrás do outro, e o animal não parou até chegar á casa onde o pescador vivia. Uma vez aí, o ginete despediu-se e Seimin não o voltou a ver.»
Conto Irlandês, retirado de O Palácio dos Contos, Março e Abril, Círculo de Leitores, de Ulf Diederichs.
Qual é a moral que retiram? =)
De súbito o tempo mudou, o mar embraveceu e ameaçou fazê-los naufragar. Seimin, que se encontrava na popa do barco, viu uma onda gigantesca avançar na sua direcção. Descalçou um sapato e atirou-o contra o perigo. Pouco depois, viu uma segunda onda e apressou-se a descalçar o outro sapato, e a atirar-lho, após o que o mar se acalmou um pouco. Mas foi apenas uma breve pausa. Não tardou a avistar uma terceira, ainda mais ameaçadora que as anteriores, e os sete homens pensaram que ninguém os livraria de morrer afogados. No banco da popa, havia uma faca grande para cortar o isco. Seimin pegou nela e lançou-a contra o perigo. No momento imediato, a tempestade amainou e o mar ficou calmo e plano como uma prancha.
Regressaram a casa encharcados até aos ossos, e depararam-se-lhes as famílias desgostosas, por recearem não os voltar a ver. Não era, pois, de estranhar a alegria que a sua chegada lhes produziu. Depois de repartirem o produto da pesca e encalharem a embracação na praia, recolheram à respectivas casas, sãos e salvos.
Anoiteceu e Seimin estava sentado diante do lume, com a planta dos pés voltada para a fonte de calor. Rodeavam-no alguns vizinhos, aos quais descrevia as peripécias sofridas.
De repente, bateram à porta e alguém foi abrir. Era um ginete montado num cavalo branco, que perguntou se Seimin vivia ali. Em seguida, pediu que acudisse à entrada.
- Ficar-te-ia muito grato se viesses comigo e tirasses a faca que hoje cravaste no coração de minha irmã - anunciou-lhe.
Seimin apercebeu-se imediatamente de que espécie de criatura se tratava.
- Não tenciono abandonar esta casa, a menos que me garantas solenemente que nem eu, nem ninguém da minha família ou da tripulação sofrerá qualquer mal - tratou de advertir.
- Prometo-to, assim como que, ao amanhecer, regressarás a casa, são e salvo.
Seimin partiu com o ginete e não se voltou a saber dele até que o cavalo branco reapareceu na costa da praia Vermelha de Mullaghmore, em Connacht.
O animal subiu pela praia e acabou por desaparecer por uma porta, numa colina. Não passara muito tempo, quando chegaram a um palácio maravilhoso. O ginete desmontou de um salto e indicou a Seimin que o precedesse. A seguir subiram uma escada, até um aposento onde se encontrava uma jovem, a qual tinha cravada no coração a faca que ele atirara contra a perigosa onda e soltava gritos de dor.
- Arranca a faca! - exclamou ao vê-lo.
- Fá-lo-ei de bom grado, mas primeiro tens de me prometer que não me incomodarás, nem à minha família, amigos e tripulação - replicou Seimin.
- Prometido! - arquejou ela.
Seimin extraiu a lâmina da faca do peito da jovem, que parou com os queixumes.
- Porque tentaste afogar-nos? - quis saber ele.
- Porque estou apaixonada por ti e queria ter-te só para mim.
- E não hesitavas em matar toda a tripulação?
- Não- asseverou- Faria tudo neste mundo para que fosses apenas meu.
- Pois agora escusas de pensar nisso. Vou regressar a casa.
Diante da porta, o ginete e o cavalo branco aguardavam Seimin, que subiu para a sela atrás do outro, e o animal não parou até chegar á casa onde o pescador vivia. Uma vez aí, o ginete despediu-se e Seimin não o voltou a ver.»
Conto Irlandês, retirado de O Palácio dos Contos, Março e Abril, Círculo de Leitores, de Ulf Diederichs.
Qual é a moral que retiram? =)
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