Ecos de tinta negra
chegam de um poema que nunca terminei,
quando tropeço numa inesperada rebentação
de folhas velhas e amarrotadas.
Um emaranhado de sílabas que sacode
a clausura bafienta
de uma inércia de fundo de gaveta,
recordando uma dor antiga
que nenhum parágrafo pôde finalizar.
Palavras esquecidas,
fechadas num silêncio mutilado,
num sono profundo e lazarento,
esvaindo-se num vazio de raízes,
acorrentadas à ferrugem de um grito incompleto.
Numa vertigem de nostalgia,
sopro do papel a poeira amarelecida
onde o poema rumina a réstia de memória
que se desmoronou na lentidão sufocante dos dias,
e junto-lhe as palavras que lhe faltam
para que se liberte, finalmente,
de uma dor que já não me pertence.
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