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domingo, 20 de julho de 2014

A história do Power Violence - Parte 1



O Power Violence (ou PV ou Powerviolence) é um termo empregado originalmente para definir a sonoridade de um conjunto limitado de bandas, especialmente às californianas do fim dos anos 80 e início dos 90, tendo como principais representantes o Infest, No Comment, Capitalist Castualties, Neanderthal, Manpig, Man Is The Bastard, Crossed Out e em seguida também Spazz, Lack Of Interest, Despise You. A maioria destas bandas apresentava características semelhantes, como um hardcore ultra rápido e agressivo intercalado com passagens cadenciadas, quebras de ritmo, vocais urrados, letras sérias e negativas, artes de álbuns com imagens simples e monocromáticas e o espírito do "faça você mesmo". 

O início deste tipo de som é muito atribuído ao Infest, porém, é importante citar algumas bandas que influenciaram tanto o Infest quanto muitas outras que viriam em seguida:
- A velocidade de bandas como D.R.I., Deep Wound, Lärm e Neos;
- O hardcore de Boston de bandas como: Negative FX em seu álbum de 1982. O Impact Unit com seu EP My Friend The Pit, cuja música Nighstalker é muito semelhante à sonoridade e estrutura das músicas de power violence, tendo partes rápidas em contraste com outras arrastadas, lembrando muito o Crossed Out, que inclusive tocava esta música. Podendo assim ser perfeitamente uma grande influência. O DYS em seu disco The Kids Have Their Say.
- Bandas youth crew como Youth Of Today, cujo vocal lembra bastante o do Infest.
Também não podemos esquecer do Siege, com sua demo de 1984, uma destruição sonora que foi influência clara para a criação do power violence, thrashcore e grindcore.

Com estas influências, o Infest nasceu em 1986 e criou seu som bruto e rápido, ainda sem muitas quebras de ritmo, mas com um tipo de vocal urrado que iria se tornar uma das marcas registradas do power violence. Gravaram algumas demos em 1987 mostrando a que vieram.

Eric Wood (PHC, Neanderthal, Man Is The Bastard, Bastard Noise): "Morando no sul da Califórnia, eu tive a sorte de ver o Infest tocar várias vezes. Eles eram foda! A primeira demo tinha uma qualidade sonora primitiva, mas você podia sentir que tudo estava ali, a emoção e a velocidade. Eram uma grande banda e todos os amavam! Uma pena que ela acabou!"

Chris Dodge (Spazz, Despise You, Low Threat Profile, Slap A Ham Records): "Eu vi o Infest pela primeira vez em 1988. Ninguém sabia quem eles eram e eu acho que muita gente ficou confusa. Eles eram mais sérios e rápidos que muitas bandas, mesmo em 1988. Eu realmente gostava deles, e catei a demo logo depois."

Em 1987 foi formado o No Comment que logo lançou sua demo tape. Eles faziam um som rápido e bem executado, muito influenciado pelos primeiros EPs do D.R.I. e com muitas quebras de ritmo. 

Em 1988 saiu pelo selo suíço Off The Disk, o clássico LP "Slave" do Infest, um dos melhores registros do hardcore, contando com as músicas de um EP lançado no mesmo ano, além de outras oito faixas. 
Neste momento o Capitalist Casualties dá os seus primeiros passos e grava uma demo tape com 26 sons ao vivo no Gilman Street, indo totalmente de encontro com o D.R.I. do início, ainda sem apresentar tanta velocidade. 

Em 1989 foi a vez do excelente EP Common Senseless do No Comment, ainda melhor e mais rápido que na demo e com uma gravação de melhor qualidade. Neste ano o Infest faz um show com o Pissed Happy Children de Eric Wood, cuja gravação seria, no ano seguinte, o primeiro registro do selo Slap A Ham de Chris Dodge, que acabou se tornando o principal selo no que diz respeito ao power violence, lançando diversas bandas naquele período. Selo este que mais tarde também foi acompanhado pela Sound Pollution, de Ken (Hellnation); 625 Thrashcore, de Max Ward (Spazz, WHN?, Plutocracy, Scholastic Deth, Capitalist Casualties) e Deep Six, de Bob (Lack Of Interest).

Dodge: "Eu comecei o selo para ajudar bandas que eu gostava e não estavam tendo o reconhecimento que mereciam. O No Use For A Name foi uma delas. Quando eu lancei o 7" deles, eu não estava mais na banda, mas eu ainda queria ajudá-los porque achava que eles eram ótimos. Eles não haviam despertado o interesse de outros selos. O mesmo com os Melvins, eu fiquei amigo deles quando se mudaram de Washington para San Francisco. Não havia muito interesse na banda, eles tocavam em pequenos lugares para poucas pessoas. Meu foco principal passou a ser aquilo que estava se tornando a cena de power violence. Eu gostava da música e das pessoas das bandas, mas também ainda não haviam sido reconhecidas. Bandas como Capitalist Casualties e No Comment já existiam há cerca de cinco anos sem nenhum selo interessado para lançar seus discos. Eu não podia acreditar o quão boas estas bandas eram e fiquei impressionado como não haviam conseguido ninguém para ajudá-los a lançarem seus álbuns”.

Esta parceria entre o Infest e o Pissed Happy Children deu origem, ainda em 1989, ao Neanderthal, unindo Matt Domino, guitarrista do Infest com Eric Wood, baixista do PHC. A velocidade do Infest foi incrementada às passagens cadenciadas e o baixo trabalhado do PHC, dando origem de fato à sonoridade e ao nome "power violence". Este termo saiu de uma brincadeira, em um ensaio do Neanderthal onde Matt buscava um novo rótulo para definí-los como algo diferente e brutal. As características mais significativas do power violence estavam presentes no Neanderthal, que não chegou a fazer shows, mas foi o ponto de partida para o surgimento de outras bandas. 

Eric Wood: "Eu e Matt Domino tínhamos origens diferentes. Eu sou um pouco mais velho do que Matt e eu fui criado com coisas como Mahavishnu Orchestra, Alice Cooper do início, depois Raw Power, Zero Boys, Toxic Reasons, e então Infest. No Neanderthal, nós não tínhamos muitas influências diretas, nós apenas tentamos tocar. Tentamos ser malucos em nossas mentes e desenvolver nosso próprio som. Eu estava no PHC e ele ainda estava no Infest, ao mesmo tempo, eu também estava tocando em uma banda instrumental chamada Cyclops, apenas com baixo e bateria." 

"Algumas partes do 7" Fighting Music do Neanderthal pegaram os tempos e os durações dos sons do Grindcore ("Built for brutality", tem apenas 16 segundos), mas sem as influências metálicas óbvias das bandas Grind da Earache. As partes rápidas devem muito ao hardcore punk, enquanto o metal influenciou as partes arrastadas e pesadas, e também as partes progressivas."

"O 'Kubby Hole' em Pomona, CA, onde o Neanderthal ensaiava, foi o lugar onde 'power violence' foi dito pela primeira vez, no final de 89. Devo dar todos os créditos a Matt Domino. Nós estávamos falando algo do tipo, 'Precisamos entrar com nossa própria parada, não queremos ser agrupados no hardcore, punk e nenhum outro gênero'. Queríamos aparecer com nossa própria descrição do nosso som, e do nada Matt Domino disse 'fuckin' power violence'. E então ficou assim 'west coast power violence'. Tentamos dar um senso de humor, tipo 'nossa localização geográfica é melhor que a sua', e também passar uma imagem bem séria e brutal."

Evan Garner (Burned Up Bled Dry): “Eu acho que o power violence representou o lado DIY do grindcore, bandas como nós que cresceram ouvindo Black Flag, D.R.I. antigo, C.O.C. antigo, coisas do tipo, enquanto o Grindcore representou uma lado mais death metal, o lado Napalm Death - não que o Scum não seja um dos meus albuns preferidos! É mais uma parada punk do que uma metal: shows em porões, ética DIY, poucos mas perfeitos discos”.

Os lançamentos do Neanderthal foram o clássico EP Fighting Music (Slap A Ham, 1990) e os splits EP com Blatant Yobs (Old Word Records, 1991) e Rorschach (Vermiform, 1991), totalizando uma discografia com apenas 8 músicas. Nas gravações, chegaram a contar com a participação de Joe Denunzio, do Infest e Joel Connen, que faria parte do Man Is The Bastard.

Em 1990 mais bandas passaram a surgir, como o Crossed Out e o Man Is The Bastard. O Lack of Interest também nasceu nesta época, porém só foi lançar seu primeiro registro em 1993.
O Crossed Out, em minha opinião, é a banda que melhor define a sonoridade do power violence: músicas extremamente rápidas e brutais, que a qualquer momento ficam lentas e não menos agressivas, voltando em seguida a acelerar, letras críticas cheias de ódio e desesperança na humanidade. Muita influência de Infest e Neanderthal e é também uma das principais influências para muitas bandas de power violence até hoje. As artes dos álbuns sempre traziam imagens sombrias de cenas de assassinatos e serial killers famosos.
Em 1991 lançaram a sua demo tape e o primeiro EP 7", que saiu pela Slap A Ham para se tornar um clássico. 


Já o Man Is The Bastard é um caso à parte dentro deste seleto grupo de bandas. Mesmo que tivesse as características do power violence, foi a banda mais experimental e totalmente fora do convencional, tendo dois baixistas, ruídos eletrônicos e músicas muito mais longas que o habitual. Foi formada por Eric Wood, Joe Connell e Shawn Connell do Pissed Happy Children, mantendo bastante da sonoridade desta banda, assim como do próprio Neanderthal, além do Cyclops, outra banda de Eric Wood e Joe Connell. Mais tarde Andy Beattie do No Comment integrou-se à banda como um dos vocalistas. A proposta principal, além do som agressivo, era de passar mensagens sérias e extremamente politizadas.
A música "H.S.M.P." ("Hispanic small man power"), do split com a banda Aunt Mary, foi a primeira música a utilizar o termo "power violence" como um movimento. A música narrava os acontecimentos de um show do Man Is The Bastard e em seu começo eram citadas algumas bandas referenciando-as ao West Coast Power Violence:

"Crossed Out, No Comment, Manpig, Capitalist Casualties, Man Is The Bastard. West Coast Power Violence. Let's Fucking Go!"

Eric Wood: "Naquela noite, havia muita besteira sendo falada e muitas brigas em uma área do público. Um pequeno homem hispânico, um cara ranchero estava no bar, todo tranquilo, se levantou a foi até a microfone (não sei como ele conseguiu pegar o microfone, mas enfim) e disse 'Por favor! Por favor! Todos devemos ser amigos!' Ele entrou dentro desse clima violento em uma tentativa de acalmar a todos, e realmente conseguiu. Ele conseguiu quebrar o clima tenso no show sendo um estranho se jogando no meio de um grupo estrangeiro e espalhando boas maneiras. Quando Aaron Kenyon viu isso, ele surtou! Nisso, Kenyon citou o quinteto première power violence que dava forma ao movimento: Crossed Out, No Comment, Manpig, Capitalist Casualties e Man Is The Bastard. Essas eram as bandas que existiam e que eram power violence." 

Para alguns dos antigos, o PV é representado apenas por estas bandas. Mas sabemos que o PV é algo difícil de definir, assim como a definição de um filme trash, por exemplo. Cada um tem sua percepção.

O Man Is The Bastard teve a discografia mais extensa do PV, mas acabou começando a querer ir mais para o lado experimental, com elementos eletrônicos até vir a culminar no Bastard Noise, banda que surgiu como projeto paralelo do MITB e segue tocando até hoje.

São vários os álbuns do MITB relevantes e recomendados, como:
- Split EP com o Pink Turds in Space (Slap A Ham, 1991);
- Sum of the Men ''The Brutality Continues...'' LP (Vermiform, 1991);
- Abundance of Guns 7'' EP (SOA Records);
- Split EP com Crossed Out (Slap A Ham, 1992);
- Split EP com Pink Flamingos (Farewell, 1993); 
- Split LP com Capitalist Casualties 12'' (Six Weeks, 1994);
- Thoughtless LP (Gravity, 1995);
- Mancruel cd (Deep Six, 2000).

Além de duas coletâneas em CD com músicas de vários álbuns: D.I.Y.C.D (Slap A Ham/Deep Six, 1995) e Sum Of The Men 'The Brutality Continues...' (Vermiform, 1996).

Professor Cantaloupe (Gasp): "O MITB tinha uma pegada artística na dicotomia do powerviolence, na medida em que abraçou paz, amor, igualdade e respeito a todos os seres vivos como a prioridade número um, enquanto tocavam um som agressivo no estilo 'Eu vou chutar o seu traseiro'".

Goretex (Sem Phixion): "MITB é uma daquelas bandas como Crass ou Black Flag para mim, não só por terem sido tão brutais, você realmente sentia que eles acreditavam no que estavam falando". 

Depois da demo tape, o Capitalist Casualties lança o seu primeiro EP, The Art Of Ballistics 7" (Slap A Ham, 1991) com algumas músicas da demo mas executadas com maior velocidade e agressividade, que foi evoluindo cada vez mais nos discos posteriores. O primeiro álbum full length deles foi no ano seguinte, o Disassembly Line. Desde então sairam muitos EPS e splits, inclusive um com o Man Is The Bastard em 1994 que é excelente. Também saíram splits com MDC, Slight Slappers, Ulcer, Stack, Monster X, Unholy Grave, Hellnation e, o melhor dos mais recentes, com o Lack Of Interest, entre outros. Além de duas coletâneas contendo músicas de vários EPs e splits, mas apesar de todos esses registros, sem contar o ao vivo Live In Nagoya, lançaram somente outro full length, o Subdivisions In Ruin. Vale destacar que no início dos anos 90 a banda tinha um som mais fastcore, rápido e sem tantas variações, que foi mudando com o tempo, ficando mais quebrado, principalmente com a entrada de Max Ward na banda e agora, com Haroldo na bateria, o som parece ter voltado mais às suas origens.

Em 1991 o Infest solta mais um EP, chamado Infest, lançado pela Draw Blank que mais tarde, em 2006, foi ampliado para o LP 10" Mankind (Draw Blank e Deep Six), com algumas músicas a mais. Também foi gravado um show na rádio KXLU e foi lançado em 2001 em LP 12" pela Deep Six e Draw Black Records.

Em 1992, sai pela Slap A Ham um dos principais registros do power violence: o EP Downsided do No Comment. Que é simplesmente perfeito, com excelente qualidade de gravação e técnica dos músicos, letras depressivas e o vocal enfurecido de Andy Beattie. Um álbum indispensável para os apreciadores do gênero e que foi, juntamente com o Common Senseless, relançado pela Deep Six recentemente.

Dodge: "O No Comment era um enigma. Eu tive a oportunidade de conseguir a demo deles e se tornou um dos meus favoritos, mas eu achava que eles tinham se separado. Muitos anos atrás eu estava fazendo review de algumas coisas para a Maximumrocknroll e uma cópia do primeiro EP chegou até mim. Eu não acreditava que eles continuavam tocando, então imediatamente escrevi para eles, pois eu queria ajudá-los a lançar mais material. Downsided estava previsto para ser um LP, mas eles acabaram gravando apenas seis minutos de música, então acabou tornando-se um 7" EP. É um dos meus álbuns favoritos de todos os tempos. "

Andy Nolan (The Endless Blockade): "Power violence é a música que realmente me atraiu durante o início até meados dos anos 90. Ele cortou o papo furado e devastou tudo em seu caminho, ele sintetizou Heresy, Neos, Ripcord, Lärm, Impact Unit e muitos outros grandes nomes perfeitamente, atualizando-os para uma nova era e sempre mantendo um olho sobre as raízes que cresceram antes. Quanto a estar alinhado com power violence, eu diria que somos uma banda de power violence de influência, ou uma banda de neo-powerviolence. Meu disco favorito da época é definitivamente Downsided do No Comment. Você não pode fingir aquela raiva desesperada."

Beau Beasley (Insect Warfare): "De todas as bandas da primeira onda do power violence, o No Comment foi a que teve o maior impacto para mim. Eles pegaram todas as coisas que eu gostava do D.R.I. e elevaram à velocidade da luz.  Dos quatro grandes, eles são os menos discutidos, mas eles sempre serão os meus favoritos. Bem, eles e o Crossed Out, é claro. O Crossed Out é o deus obscuro do power violence."

1992 foi um ano importante para o power violence com mais dois splits do Crossed Out, o EP 5" com o Dropdead e o EP 7" com o Man Is The Bastard, com suas gravações mais brutais. Também em 1992, o Manpig gravava algumas músicas que acabaram perdidas e, após muito tempo, foram regravadas e lançadas em 2012 pela Deep Six, como o LP The Grand Negative. O Manpig foi uma espécie de continuação do Infest, com a parada da banda em 1991, com Matt Domino nos vocais e guitarras e RD Davies na bateria.


Em 1993 aparece também o Lack Of Interest com o seu split EP com o Slave State (Slap A Ham). O Lack Of Interest fazia um som na linha do Infest, mas mais rápido e complexo e com mais variações, também herdando influências do No Comment. Tinham uma constante troca de integrantes, principalmente nos vocais, onde geralmente eram revesados por Rick e Mike que constantemente saiam e voltavam a banda, onde um ou o outro era o vocalista, ou até mesmo ambos, como no split com o Capitalist Casualties (Six Weeks, 2010). Bob, o baterista, também é o responsável pelo selo Deep Six, que lançou diversos álbuns da banda. Ele é neto do icônico Grandpa, um senhor de cerca de 85 anos que está em todos os shows do Lack Of Interest e cia. Definitivamente o vovô power violence!

Os outros splits do Lack Of Interest foram com o Spazz (1997, Deep Six), com Stapled Shut (1997, Deep Six), o primeiro full length, Trapped Inside, de 1999 (Slap A Ham), o segundo CD/LP Never Back Down (2005, Deep Six), o split EP com o Weekend Nachos (2012, Deep Six) e mais recente, o split CD/LP com o Bastard Noise.

Mas 1993 foi triste por ser o ano do fim de duas importantes bandas: Crossed Out e No Comment. O No Comment fez seu último show na primeira edição do Fiesta Grande, que era um festival organizado pela Slap A Ham e que ocorreu entre 1993 e 2000 no lendário 914 Gilman Street, reunindo bandas de hardcore, power violence e grindcore. Aquele que também deve ter sido um dos últimos shows do Crossed Out, que segundo o que se encontra na internet, fez apenas 16 shows, neste, inclusive, com a participação de Eric Wood (Neanderthal e Man Is The Bastard) no baixo. Além de No Comment e Crossed Out, naquela ocasião também tocaram Assück, Man Is The Bastard, Capitalist Casualties e Plutocracy. 
O Man Is The Bastard chegou a tocar outras três vezes no Fiesta Grande enquanto  o Capitalist Casualties tocou em todas edições.

Chris Dodge: "A maioria das bandas de power violence não tinha muitos locais pra tocar e costumavam ficar de fora de muitos outros shows punk. Acho que o Capitalist Casualties tocou com o Green Day algumas vezes, e isso te dá uma idéia de como era o clima da cena punk daquele tempo. O Assück estava em turnê e Ken Saunderson estava reservando o Gilman naquela época. Eu estava falando com ele sobre arrumar algumas bandas power violence locais pra tocar com eles, e acho que foi o Ken a pessoa que sugeriu em fazer uma amostra das coisas da Slap A Ham. Foi a primeira vez que estas bandas tocaram todas juntas, e elas estavam finalmente criando sua própria cena."

Wood: "A primeira edição se destaca na minha mente, porque foi o primeiro, foi um conceito novo, e eu acredito que nenhuma outra vez houve uma programação tão boa. Eu tive que tocar duas vezes, com o MITB e o Crossed Out, mas foi a dupla função mais prazerosa que eu já tive."

Após o fim do Crossed Out, seus integrantes aparentemente desapareceram do hardcore. Sua discografia foi compilada pela Slap A Ham em CD, em 2000, contendo além das músicas da demo e dos EPs, várias gravações ao vivo, inclusive o set da primeira edição do Fiesta Grande. Também existiram inúmeros bootlegs, como a compilação Fuck Grindcore.

Em 1993, Max Ward (Plutocracy) e Dan se juntam a Chris Dodge (Slap A Ham) e formam o Spazz. Dodge também havia tocado no Stikky e até No Use For a Name! O Spazz é considerado da segunda onda do power violence e foi a primeira banda a romper a seriedade, adotando uma postura mais bem humorada e sarcástica, com elementos de hip hop, skate, filmes B, mas ainda assim sem perder a agressividade. Também foi a primeira deste "estilo" a contar com dois vocalistas. 


Chris Dodge: "Eu estava querendo começar uma outra banda thrash como um louco, mas não conhecia ninguém que estava livre pra começar uma, isso até depois do primeiro Fiesta Grande. Max Ward do Plutocracy citou uma banda de fastcore que ele estava começando junto com o Dan Bolleri do Sheep Squeeze, e disse que eles precisavam de um baixista. Max e Dan já tinham feito 10 sons, então nós ensaiamos eles uma vez, gravamos, e lançamos como nosso primeiro 7". Um pouco prematuro, mas... A banda inicialmente se chamava Gash, mas decidimos mudar o nome. Eu sugeri Spasm, mas já havia uma banda na costa leste com esse nome, então sugeri Spazz, e combinou."

O Spazz teve uma das discografias mais extensas do power violence. Além de inúmeros splits (Floor, Rupture, C.F.D.L., Romantic Gorilla, Brutal Truth, Charles Bronson, Toast, Monster X, Hirax, Jimmie Walker, Gob, Subversion, Lack Of Interest, Black Army Jacket, Slobber, Öpstand, e até com o 25 ta Life), foram lançados 3 LPs (que inclusive foram relançados recentemente pela 625 Thrashcore): Dwarf Jester Rising (1993), La Revancha (gravado em 1995 e lançado em 1997) e Crush Kill Destroy (1999), mais 3 EPs e 3 coletâneas integrando boa parte das músicas de splits, ao vivo e de coletâneas. 

Dodge: "O fato de que o meu selo foi chamado de Slap A Ham é a prova de que eu sou um bobão. Quando eu estava começando minha gravadora, eu me lembro de pensar o quão engraçado seria se algumas das bandas mais brutais do mundo todo queriam estar em um selo com um ridículo e inofensivo nome. Uma grande parte do humor do Spazz foi resultado de tédio. Estávamos cansados de como tudo era genérico na cena, então muitas de nossas letras eram referências da cultura pop e piadas sobre os nossos amigos e acabou soando coisas sem nexo, porque ninguém além de nós tinha alguma idéia do que estávamos falando."

Andrew Orlando, do Black Army Kacket e Gary do Nootgrush criaram o zine Monkeybite como forma de documentar a cena power violence que era ignorada por zines maiores como Maximum RocknRoll. O zine teve apenas três edições e era uma boa e divertida fonte de informação sobre as bandas da época. Junto com o zine ainda vinha um EP 7". Na segunda edição foi o split Black Army Jacket/Noothgrush e na terceira o flexi Benumb/Suppression.

Também em 1993 nasce o Apartment 213 em Ohio, provavelmente a primeira banda considerada power violence a romper a fronteira estadual da California. Boa banda com muita influência de Man Is The Bastard, inclusive fazendo algumas músicas mais experimentais e com letras inspiradas em assassinos em série. A banda continua viva e seu álbum mais recente foi o split com o Nothing Is Over, de 2010. Seu melhor álbum, ao meu ver, é o Cleveland Power Violence (2006), mas também recomendo o 93-97, com a discografia deste período.

Nesta mesma época também aparece o Despise You, com riffs mais metálicos e pesados, rápidos blast beats, e tendo uma mulher como integrante e uma das vocalistas, podendo ser a primeira banda de power violence a ter vocais femininos. Gravaram splits com o Crom, Suppression e Stapled Shut e um EP 7". Tiveram toda sua discografia, incluindo faixas de coletâneas e músicas para o que era para ser um split com o Man Is The Bastard, lançada em 1999 pela Pessimiser, selo de um dos integrantes da banda. Uma curiosidade sobre o Despise You são os nomes fictícios usados nos encartes dos álbuns, não listando os nomes reais. A banda voltou em 2011 com o split com o Agoraphobic Nosebleed com Chris Dodge no baixo e desta vez fazendo shows, coisa que não fazia durante os anos 90.

Cabe uma menção honrosa às bandas Crom e Suppression, que mesmo que tenham uma sonoridade mais voltada para o grindcore, também tiveram uma grande influência por parte do power violence. Em especial o Crom, com uma curiosa mistura de PV, grind e Conan.

Em 1995 R.D. Davies (bateria) e Matt Domino (guitarra e baixo) do Infest se reunem e gravam o instrumental das músicas para o LP No Mans Slave que mais tarde, em 2000, teve o vocal gravado por Joe Denunzio e foi lançado somente em 2002. Um álbum póstumo, já que o Infest não estava mais ativo mas ainda assim excelente. Felizmente retornaram em 2013 e estão fazendo shows. Além de Matt Domino e Joe Denunzio da formação original, estão também Chris Dodge e Bob (Lack Of Interest, Deep Six), respectivamente no baixo e bateria, formando uma espécie de Dream Team do power violence.

Felizmente com a tecnologia atual, os seus shows estão sendo registrados em vídeo com boa qualidade e podem ser acessados em sites como Youtube e Vimeo. Além disto, a Draw Blank, selo de Matt, lançou o EP Days Turn Black com quatro músicas inéditas gravadas em 1995, incluindo Why Be Somehing That You're Not? do Negative Approach.

Menos conhecido que as demais bandas californianas da época, o Evolved To Obliteration, que chegou a ter uma passagem de Max Ward (Spazz) nos vocais, fazia um ótimo som. Seu primeiro EP foi o split com o No Less, que saiu em 1994 pela 625 Thrashcore, o selo de Max. Além deste, lançaram o EP (1995) e o split EP com o Taste Of Fear (1996).

Falando em No Less, banda que considero mais voltada para o grindcore, não pode-se deixar de notar uma boa influência do power violence. Nasceram em 1993 e um álbum recomendado é a discografia Lessons '93 -'98 de 2004.

Outra bandas que merecem ser mencionadas e que atuaram durante a segunda metade dos anos 90, são a Jenny Piccolo da Califórnia e o They Live, de New York, esta com bastante influência do Infest.

O power violence viveu seu auge na primeira metade dos anos 90, com a Slap A Ham lançando praticamente tudo. Depois disso as bandas começaram a encerrar as atividades. No Comment e Crossed Out já haviam terminado em 1993, em 1996 foi a vez do Infest parar novamente, em 1997 foi o Man Is The Bastard, que seguiu como Bastard Noise com uma proposta mais experimental. O Spazz terminou em 2000, época em que Apartment 213 e Despise You também já não estavam mais lançando nada, porém voltariam anos depois. 

Dodge: "O Spazz separou-se oficialmente quando eu tive que me mudar para LA. O momento era bom e eu acho que se tivéssemos continuado, iríamos seguir lançando o mesmo tipo de som ano após ano. Ainda não estavam muito cansados de nós, então eu acho que é melhor sair enquanto estávamos bem, em vez de fazer com que todos pensem, 'Oh meu Deus , finalmente!'. O mesmo aconteceu com a Slap A Ham. Eu não podia me dar ao luxo de continuar com o selo. Ele estava perto da falência, e eu já estava tão endividado que tinha que parar. Mas, ao mesmo tempo, eu tinha começado o selo para ajudar todas essas bandas que não estavam recebendo o reconhecimento que mereciam, e na hora de terminar o selo, já haviam selos suficientes de thrash / hardcore / powerviolence que poderiam continuar lançandos os discos. Então a Slap A Ham já não era necessária como nos primeiros dias, e já tinha servido ao seu propósito."

O Lack Of Interest, depois do seu ótimo álbum Trapped Inside de 1999, lançaria seu próximo disco apenas em 2006 e desde então vem lançando alguns splits e tocando ao vivo. 
O Capitalist Casualties também continuou e segue até hoje lançando muitos álbuns, embora o início dos anos 2000 não tenha sido tão produtivo em relação à lançamentos.
Dos integrantes destas clássicas bandas foram aparecendo novas bandas. Uma não tão nova é o Low Threat Profile, formada em 1996, mas só à partir de 2010 começaram a lançar seus álbuns. Antes disso a banda já havia aparecido nas coletâneas Reality Part #4 CD/LP (2002, Deep Six), California Thrash Demolition CD (2004, 625 Thrash) e Socal Thrash Demolition 7" (2004, 625 Thrash).

Em 2010 lançaram um EP chamado Product #1, contando com gravações de 2001 e o LP Product #2, com gravações de 2000 e a adição do vocal em 2010. Nestes álbuns a banda contava com a luxuosa formação com Andy Beattie (No Comment, Man Is The Bastard) no vocal, Matt Domino (Infest, Neanderthal) na guitarra e Bob (Lack of Interest) na bateria, combinando especialmente a sonoridade do No Comment com o Infest. 
A banda já sofreu algumas mudanças na formação, também com passagens de Chris Dodge e Joe Denunzio.

O To The Point é uma das mais novas preciosidades do powerviolence californiano, contando com os onipresentes Chris Dodge, desta vez nos cavernosos vocais e Bob, na bateria. O som é na linha do Lack Of Interest, inclusive tendo praticamente a mesma formação. É o caso de Bob, Kevin Fetus e o próprio Chris Dodge. Além dos três, também temos Dustin Johnston do Marion Barry na formação. A sonoridade, além de bases rápidas com constantes mudanças, ainda tem algumas passagens mais melodiosas na guitarra em algumas músicas mas com ótimo resultado.

O To The Point já lançou os EPs Success In Failure, Mentally Checked Out, um split com o Yacopsae, todos estes de 2012. Em 2013 também lançou o split EP com o ACxDC, e um split LP 10" com o Pick Your Side.


Muito se discute sobre o que é ou não power violence. Nem todas bandas anteriormente citadas tinham um som semelhante, como o caso do Capitalist Casualties que soa muito mais como uma banda de thrashcore, mas ainda assim é considerada por todos como power violence, talvez por ser visto mais como um movimento do que apenas um estilo de som. Alguns dos antigos, como Eric Wood, considera apenas estas primeiras bandas como realmente power violence, embora também credencie assim o Endless Blockade do Canadá. De fato esta classificação não é mais importante, e sim que ainda surjam bandas com aquele espírito do início dos anos 90. Porém, atualmente existem muitas bandas se denominam ou são referenciadas como power violence e que não as vejo desta forma. Mas se faz ou não parte do gênero, não é o mais importante.

Wood: "Um monte de bandas que pensam que são powerviolence hoje, eles não são merda nenhuma. As duas que existem hoje, porque recebem o aspecto psicológico do mesmo, são Apartment 213 de Cleveland e o Endless Blockade de Toronto. Eles entenderam totalmente a ideia. Isso é powerviolence." 

Fim da primeira parte.

Continua na parte 2 com bandas mais recentes e de outras partes do mundo. Até lá!

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Fonte: [interview] An Oral History of Powerviolence
Algumas traduções retiradas do blog Mutante Irracional

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Crossed Out


Mesmo que tenha tido menos de três anos de existência e apenas alguns álbuns lançados, isto foi o suficiente para tornar o Crossed Out uma das bandas mais influentes do hardcore extremo, em especial, do powerviolence, inclusive ainda fazendo seguidores. Embora seja notável a importância da banda para o estilo, é raro uma banda tão influente cujas as informações a seu respeito sejam tão escassas como no caso do Crossed Out, mas isso, muito provavelmente, seja em virtude da própria banda não ter a intenção de se auto-promover e manter-se, de certa forma, obscura.



A banda nasceu no início de 1990 em Encinitas, na Califórnia, formada por Tad Miller (bateria), Scot Golia (guitarra), Rich Hart (baixo) e Dallas Van Kempen (vocal) e tinha como influências Negative FX, Impact Unit, Neos, Siege, Rupture, Void, Deep Wound, Dropdead e a que mais se assemelhava a seu som: Infest. Eu diria que o que eles fizeram foi pegar as bases com rápidas mudanças de acordes, como o Infest fazia e acelerá-las, mas como diferencial, eles usavam mais das bases cadenciadas, sendo capazes de numa mesma música, irem de uma passagem extremamente acelerada para uma mais arrastada em instantes, neste ponto lembrando um pouco algumas músicas do Neanderthal. O que dava um toque mais sombrio e cru às músicas, eram as gravações sujas e sem grande qualidade.

As letras curtas mas muito ácidas não tinham a intenção de serem revolucionárias ou políticas, e sim demonstrar fortes críticas e ódio à sociedade e ao ser humano. A arte usada nas capas e encartes era simples e crua como o som, sendo em geral com imagens em preto e branco, inclusive fotos de assassinos em série famosos.
Curiosidade: Uma imagem clássica relacionada à banda, é aquela em que um homem aponta a arma para outro, esta imagem foi retirada do filme italiano Beyond. 


Em 1991 a banda gravou e lançou a sua primeira demo tape, contendo 7 músicas. Mais tarde declararam não ter gostado muito desta demo, mas foi o suficiente para despertar o interesse de Chris Dodge, que já estava começando a lançar alguns álbuns de powerviolence pelo seu selo, a Slap A Ham. Fazendo com que no mesmo ano saisse pelo selo um 7" EP com 7 músicas, mais agressivas e rápidas que a demo, terminando com a lenta mas extremamente raivosa "Crutch", cuja letra era apenas "Why? Because man always be man".



Em 1992 vieram as gravações que considero mais rápidas e brutais, os splits com Dropdead e Man Is The Bastard, apesar da qualidade de gravação ser inferior ao primeiro 7". O split com o Dropdead saiu em formato 5" em uma colaboração de vários selos (Crust Records, Selfless Records e Rhetoric Records) e contava com 10 músicas (4 do Crossed Out e 6 do Dropdead). Já o split com o Man Is The Bastard saiu pela Slap-a-Ham em 7" e de acordo com a banda, não ficou como o planejado, provavelmente pela guitarra ter ficado um pouco encoberta pelo baixo. 

Ainda em 1992, a banda participou da coletânea Son Of Bllleeeaaauurrgghhh 7" da Slap A Ham com as músicas "Ulcer" e "Homegrown".
Estes foram os únicos lançamentos oficiais da banda durante sua existência, também chegou a ser planejado um split com o Rupture mas isto acabou não se concretizando.

De acordo com as informações disponíveis na internet, a banda não fazia muitos shows, somando apenas 16 no total. Um desses shows foi realizado na primeira edição do festival "Fiesta Grande" em 2 de janeiro de 1993, tocando com No Comment, Assück, Man Is The Bastard, Capitalist Casualties e Plutocracy.  
Em outro show, em 21 de agosto de 1993 no Che Cafe, Eric Wood (Pissed Happy Children, Neanderthal e Man Is The Bastard) foi quem tocou o baixo.


Em 1994, foi lançada uma coletânea não-oficial, chamada Weat Coast Power Violence And More com Crossed Out, Dropdead e Desecration, sendo um 7" para cada banda. O 7" do Crossed Out reunia as músicas do primeiro 7", dos dois splits e da coletânea  Son Of Bllleeeaaauurrgghhh. Outro bootleg foi o Fuck Grindcore, baseado em uma frase dita pelo vocalista ao começar um de seus poucos shows. Esta coletânea é praticamente uma discografia da banda, contendo 35 músicas. Também saiu uma fita com gravações ao vivo do Crossed Out, Dropdead e Suppression.


Em 1999 a Slap A Ham compilou todo material gravado pela banda, acrescentando ainda 4 músicas do show no Che Cafe (Pure Delusion, Lowlife, Nightstalker e Practiced Hatred), as músicas gravadas na KSPC Radio em 27 de março de 1992, além de gravações de ensaio e versões não lançadas. Esta coletânea saiu em CD e LP e possui na imagem da capa uma foto de Albert Fish, o assassino em série.
Em 1997 a Slap a Ham lançou a coletânea Fiesta Comes Alive! - The Best Of Slap A Ham Records Fiesta Grande #'1-5 reunindo gravações ao vivo realizadas nos festivais. O Crossed Out participa com duas músicas Pure Delusion e Practiced Hatred .

Pelas informações disponíveis, seus integrantes surgiram no hardcore com o Crossed Out e com ele sumiram. Mas isto, de forma alguma, exclui os méritos desta excepcional banda. 

Boa parte das bandas influênciadas pelo powerviolence que têm surgido nos últimos anos, devem muito do seu som ao Crossed Out. Como exemplos, pode-se citar Hatred Surge, SFN, Scapegoat (Estados Unidos), Vile Intent, The Endless Blockade, Obacha (Canadá) While Male Dumbinance, Suffer (Austrália),Vacuum (Chile), SU19b (Japão). 


Demo Tape (1991)

Crossed Out 7" EP (1991)



Crossed Out - Dropdead Split 5" EP (1992)

Crossed Out - Man Is The Bastard Split 7" EP

Fuck Grindcore LP [Bootleg] (1998)

1990 - 1993 CD/LP (2000)

Entrevista com o vocalista:

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Top 10 Power Violence

Compensando a falta de posts em 2012, confiram abaixo um gigantesco para começar 2013:

Empreendi-me um desafio nada simples, porém muito compensador: elaborar a minha lista ordenada dos melhores álbuns do power violence das décadas de 80 e 90, que, como diria um velho nostálgico recordando os tempos de outrora, foi a era de ouro do power violence. A lista e sua ordenação não precisam ser entendidas como algo definitivo, até porque cada vez que a revisava, a ordem de algum álbum era alterada. Mas o fato é que todos são clássicos indispensáveis, tanto para o gênero quanto para o hardcore em geral, e é quase uma obrigação conhecê-los.
Para quem ainda não está habituado com o power violence e as ótimas sensações que ele pode proporcionar, a lista pode servir como um guia para a destruição da sua saúde auditiva.
Em breve, quem sabe, uma nova lista com as bandas mais recentes. Espero que apreciem!

#10) Lack Of Interest - Trapped Inside 12" LP [Slap A Ham, 1999]

O LACK OF INTEREST é como o filhote latino, veloz e agressivo do INFEST. A banda nasceu em 1990 e, após alguns splits (com SLAVE STATE, SPAZZ e STAPLED SHUT), teve seu primeiro full length apenas em 1999, o LP TRAPPED INSIDE lançado pela Slap a Ham, que continuava nos alegrando com o que havia de melhor no gênero. Neste álbum a banda contava com Rick nos vocais, Mike no baixo, Isack na guitarra e Bob na bateria. O que mais chama a atenção são os vocais monstruosos de Rick que mais parecem um ameaçador cão raivoso, mas além disto, havia uma banda que tocava músicas simples, mas bem feitas e muito rápidas, sabendo sutil e marotamente cadenciá-las e voltar em seguida para a sua habitual e costumeira violência esplêndida. Outro destaque é Bob, um dos melhores bateristas do estilo que, se houvesse uma convocação californiana do power violence, seria titular da equipe. Na verdade ele faz mesmo parte desta equipe dos sonhos (entenda como LOW THREAT PROFILE). Alguns preferem o álbum seguinte do LACK OF INTEREST, o NEVER BACK DOWN com Mike e seus vocais mais líricos e menos ferozes, com uma sonoridade mais quebrada, soando mais thrashcore. No momento eu prefiro este, que é mais rápido e simples, e também pelos vocais peculiares de Rick. 
São 24 tirambaços em pouco mais de 14 minutos, que poderiam até mesmo caber em um EP. Letras sobre autoridade (Behind Bars); suicídio (Suicidal); ódio (You Hate You, My Life, What's Up); nações ricas que exploram as pobres (What's Wrong); mentiras (Force Fed); lavagem cerebral (Brainwashed); inconformismo (No Solution). Destaque para as músicas My Life, What's Wrong, Force Fed, enfim, difícil definir os melhores momentos do álbum, que é bom do início ao fim. 
A banda tinha uma constante troca de vocalistas, principalmente entre Rick e Mike. Trevor Fairbanks (SCALPLOCK, PETER MANGALORE) também chegou a ter uma passagem nos vocais. O LACK OF INTEREST, hoje com dois vocalistas (Rick e Mike) e o onipresente Chris Dodge no baixo, segue produzindo hardcore de alto nível.

Duração: 14:37
Tracklist: Behind Bars // Suicidal // What’s Wrong // You Hate You // Homeless // Alone Once Again // Lost It // Looking Blindly // Force Fed // No Solution // My Life // Wasted Effort // One Trust // Brainwashed // Impeached // Tough Guy // Empty Pockets // Social Inequality // Stop Hate Unite // What’s Up // Escape Reality // I Know // Nothing // Disciplined



#9) Spazz - La Revancha 12" LP [Sound Pollution, 1997]

O SPAZZ foi a banda que revolucionou o power violence. Enquanto as primeiras bandas tinham letras raivosas e sérias, o SPAZZ, da chamada segunda onda do power violence, mesclou a sonoridade agressiva do CROSSED OUT e MAN IS THE BASTARD com letras irônicas e divertidas, além de incluir, na medida certa, elementos do Hip Hop, skate, filmes B e de kung fu, e vez ou outra, colocando um banjo aqui ou ali e, tudo isto, formando uma sonoridade bastante interessante, sem perder a brutalidade e sem deixar de fazer críticas. A banda foi muito ativa, lançando diversos materiais, mas sempre mantendo o bom nível, apesar de splits com bandas de caráter duvidoso (25 Ta Life). 
Falando especificamente do LA REVANCHA, temos aqui o SPAZZ na sua essência: vinhetas de filmes, senso de humor de sobra, muitas quebras, samplers de hip hop e um som violento e ao mesmo tempo divertido e contagiante. As letras falam de luta livre (como a própria capa do álbum já denuncia); kung fu; críticas aos "libertários" preocupados com suas coleções de discos (4 Times a Day); a moda do power violence e as novas bandas (Let's Kill Fuckin' Everybody); a tendência de relacionar rock com drogas (Musica de la Roca); aos hippies (Raging Hate, Fear, and Flower Power Violence), entre outras. O disco foi gravado em 1995 e só foi lançado em 1997 pela Sound Pollution, e já naquela época criticavam os emos, como na letra da música Backpack Bonfire, mesmo sem saber as proporções que esta epidemia tomaria futuramente. São 26 músicas no total, abrindo com um dos maiores clássicos (WWF Rematch At The Cow Place) e fechando com um cover do Cryptic Slaughter (M.A.D.) e ainda conta com uma participação especial do rapper Kool Keith, além de tocadores de banjo, harmonica e beatbox do próprio Dan, que também assinava como DJ Eons, ou Kung Fu Dan. Entre seus três full lenghts, vejo este como o melhor, seguido do DWARF JESTER RISING, o primeiro da banda, que considero melhores e mais agressivos que o tão mencionado CRUSH KILL DESTROY. Também destacaria, dentre a sua discografia, os splits com o C.F.D.L., FLOOR e CHARLES BRONSON. 
Por mim até colocaria este disco em uma posição mais à frente, mas os outros talvez tenham mais importância. Hoje o Max Ward segue com o seu selo 625 Thrashcore, Chris Dodge toca no DESPISE YOU, no já citado LACK OF INTEREST, entre outros e Dan toca no FUNERAL SHOCK e deve estar envolvido nos seus projetos de DJ ou rapper. Inclusive, uma curiosidade sobre este lado hip hop do Dan, é que mesmo quando tocava no SPAZZ ele ouvia muito mais este estilo do que propriamente hardcore, mesmo assim sem prejudicar a sonoridade spazziana. Tanto era a influência do hip hop para o SPAZZ (Max também gostava), que o nome do álbum CRUSH KILL DESTROY foi uma homenagem ao ULTRAMAGNETC MC's, que tinha uma música de mesmo nome.
Mais sobre a participação do Kool Keith pode ser lido pelas palavras de Dan, no seu blog
Este LP foi relançado em 2011 pela 625 Thrashcore com uma nova arte para a capa.

Duração: 23:34
Tracklist: WWF Rematch At The Cow Palace // 4 Times A Day // Desperate Throat Lock // Bobby’s Jackpot Jamboree // Dewey Decimal Stichcore // Swampfoot // C.I.A. // Camp Chestnut // No Shadow Kick // The One With The Goat’s Got An Orgy Up The Sleeve // Bitter // Let’s Kill Fuckin’ Everybody // Sweet Home Alabama // Rasins Hate, Fear And Flower Power Violence // Climate Best // Urinal Cake // Drunkard Genaii // Sesos // Daljeet’s Detonation // Tumbuckle Treachery // Backpack Bonfire // Don’t Quit Your Day Job // Musica De La Roca // Coil Of The Serpent Unwinds // Golden Ess Stance // M.A.D.



#8) Crossed Out & Dropdead Split 5" EP [Crust Records, Posthumous Records e Selfless Records, 1993]

Mesmo que eu não considere o DROPDEAD como uma banda de power violence, sou um grande admirador deste conjunto. Tanto, que neste split, o lado do DROPDEAD, com músicas de extrema velocidade, violência, e até uma boa dose “powerviolenciana” e crust, é tão bom quanto o do CROSSED OUT. As seis músicas trazem letras relacionadas à opressão, guerras, direitos animais e atrocidades nazistas. A banda contava no momento com o line-up: Ben (guitarra), Bob (vocais), Brian (bateria) e Lee (baixo). Já o CROSSED OUT, que inclusive foi influenciado pelo DROPDEAD, soa como no split com o MAN IS THE BASTARD: brutal. Ambos splits foram gravados no estúdio Headquarters, este em 15 de fevereiro de 1992. 
Neste EP é onde está presente a famosa imagem relacionada à banda, onde aparece um homem apontando uma arma para a cabeça de outro. 
A imagem, na verdade, foi retirada do clássico filme italiano Beyond de Lucio Fulci, onde a vítima é um morto-vivo. Deixando os detalhes cinematográficos de lado, as letras falam de críticas à permanente busca por dinheiro, status e sucesso (Selfserve), à humanidade (Suffocate) e uma possível crítica aos nazistas ou aqueles que se acham puros (Supremacy). O EP foi lançado em uma colaboração de diversos selos: Crust Records, Posthumous Records e Selfless Records. Este split representa a união de duas importantes, indispensáveis e influentes bandas para o hardcore, o único lado negativo é que o pequeno disco de 5” não chega nem aos 5 minutos de duração.

Duração: 04:52
Tracklist: Crossed Out: Supremacy // Selfserve // Neglect // Suffocate // Dropdead: New World Slaughter // Sheep // Belly Full Of Lies // Requiem // Bosnia // Nazi Atrocities
#7) No Comment - Common Senseless 7" EP [Snare Dance, 1989]

O NO COMMENT surgiu em 1987 e sempre contou com Andy (vocal), Vince (guitarra), Brent (baixo) e Raul (bateria) que queriam aproveitar o tempo livre para tocar e mostrar que o hardcore ainda estava vivo. Ainda neste ano (1987), lançaram a primeira demo tape pela Moby Disc Records, que mais tarde foi relançada em 7” pela Noise Patch, em 1994. O EP COMMON SENSELESS, lançado pela Snare Dance em 1989, mesmo não sendo tão bom quanto o sucessor DOWNSIDED, assemelha-se a este e não deixa de ser um excelente EP. Este álbum continha duas músicas já gravadas na demo (Community Slugs, World Of Difference), mas desta vez com uma boa gravação e a banda soando ainda mais rápida.
Além das críticas à sociedade e às indústrias, eles seguem denunciando a exploração dos animais em "In The Name Of Stupidity" onde falam sobre vivisseção e em "Farmer Hitler John", que compara os matadouros aos campos de concentração. Considero a ótima e bem executada “A Mother’s Crime”, um dos mais altos pontos do EP. 
Mais tarde, em 1999, foi lançada pela Deep Six uma coletânea com a discografia da banda, porém, deixando de incluir a música “Special Circumstances”, contida neste EP. Até então, de acordo com o encarte do álbum, Vince tocava guitarra e Brent baixo, e no DOWNSIDED trocaram os instrumentos. Brent também era o responsável pela composição da maioria das músicas. Em comparação com o DOWNSIDED, tem músicas um pouco mais demoradas, fazendo com que não tenha tal intensidade sonora, e qualidade inferior de gravação, mas ainda assim pode ser considerado um dos melhores EPs do power violence, e é datado de uma época em que tal termo estava apenas surgindo e somente mais tarde o NO COMMENT foi real e merecidamente reconhecido como parte do power violence.

Duração: 10:42
Tracklist: For Tomorro’s Sake // Saying Uncle // A Mother’s Crime // Community Slugs // In The Name Of Stupidity // Farmer Hitler John // World Of Difference // Special Circumstances // Open Face Down

Discogs


#6) Crossed Out & Man Is The Bastard Split 7" EP [Slap A Ham, 1992]

Talvez uma das maiores responsáveis pelo que o CROSSED OUT representou, foram as gravações cruas e sem grande qualidade, principalmente nos splits com o MAN IS THE BASTARD e o DROPDEAD, que, por sinal, podem ser consideradas as músicas mais brutas e agressivas da banda. Neste split, o MAN IS THE BASTARD abre com uma faixa de seus ruídos, como de costume, que não me agrada muito. Em seguida vêm quatro curtas e boas músicas, com destaque para "Instantly Bent" e "Screwdriver In The Urethra Of Thomas Lens" e fecha com a lenta e longa "Walkers On The Street" que acaba esquecida quando se vira o EP e começam as seis curtas e violentas músicas do CROSSED OUT, onde nenhuma passa dos 40 segundos, e já fazem valer o disco. 
Se existe uma definição em termos musicais para o power violence, a música Lowlife do CROSSED OUT pode ser considerado um bom exemplo, que em seus apenas 32 segundos, varia constantemente entre a sonoridade ultra rápida e violenta e a mais arrastada. Ainda há a uma música no lado do CROSSED OUT que gerou o nome de outra banda: Scapegoat, esta que faz um som totalmente inspirado no CROSSED OUT, o mesmo pode ser dito de Practiced Hatred, música que batizou outra banda. O MAN IS THE BASTARD ainda veio a lançar muitos outros álbuns, mas acabou partindo para uma sonoridade mais experimental e noise, com ruídos eletrônicos, que continuou após o fim da banda com o BASTARD NOISE. Há quem goste, mas particularmente prefiro a fase mais rápida e agressiva.

Duração: 10:36
Tracklist: Man Is The Bastard: S.O.I.G. // Work To Death // Instantly Bent // Screwdriver In The Urethra Of Thomas Lenz // Snake Apartament // Walkers On The Street // Crossed Out: Practiced Hatred // Pure Delusion // Society // Lowlife // Scapegoat // Vacuum
#5) Infest - No Man's Slave 12" LP [Deep Six, Draw Blank, 2002*]

Acredito que as músicas deste álbum foram as últimas gravações do INFEST, realizadas no verão de 1995, pouco antes do fim da banda no ano seguinte. Na verdade, em 1995, foi gravada apenas a parte instrumental das músicas, com Matt Domino na guitarra e baixo e R.D. Davies do VISUAL DISCRIMINATION na bateria. O vocal de Joe Denunzio só foi gravado em 2000, assim como os backing vocals, que incluíam Andy Beattie do NO COMMENT e MAN IS THE BASTARD, mesmo assim o resultado final do álbum póstumo ficou excelente. O NO MAN’S SLAVE foi finalmente lançado em 2002 pela Deep Six e Draw Blank Records (o selo de Matt Domino), fechando com chave de ouro sua discografia com este álbum bruto e impecável, que não perde em nada para os anteriores e pode ser considerado como um clássico do gênero. 
São 19 faixas, ainda mais rápidas e agressivas, com a guitarra mais suja, encerrando de forma instrumental com a longa "My World...My Way", ultrapassando mais de 5 minutos e trazendo um certo clima de tristeza, com esta que é a última música do último disco da banda. Mesmo com esta longa faixa final, o disco tem apenas 16 minutos em mais um dos grandes álbuns do hardcore, que merece, a meu ver, estar entre os cinco melhores dentre o power violence. Algumas destas músicas já eram conhecidas, pois haviam aparecido no LP LIVE KXLU, originado de uma gravação ao vivo nesta rádio. Agora, parece que a banda deve retornar para alguns shows. Espero que isto realmente se confirme e, quem sabe, possam lançar ainda algo novo futuramente. 

Duração: 16:03
Tracklist: Cold Inside // Feeling Mean // Sick Machine // Upright Mass // In His Name // Behind This Tongue // What’s Your Claim // True Violence // Sickman // Punchline // Contact // Effort Fails Down // You’re A Star // Freeze Dried // Rabid Pigs // Lying To Myself // Nazi Killer // My World… MY Way


#4) Neanderthal - Fighting Music 7" EP [Slap A Ham, 1990]

Este é o primeiro EP da banda que não somente definiu o power violence como termo, mas como som. Matt Domino do INFEST e Eric Wood do PISSED HAPPY CHILDREN uniram suas forças, levando com eles as características de suas bandas, ou seja, a velocidade e agressividade do INFEST com as partes cadenciadas do PISSED HAPPY CHILDREN e aquele baixo característico de Eric Wood. Estas duas bandas já haviam gravado um split ao vivo, que foi o primeiro título da Slap A Ham, e que pode ter significado a parceria entre estes dois importantes nomes. O termo “power violence” foi criado por Matt Domino em um dos ensaios do NEANDERTHAL, no final de 1989, com a ideia de criar um novo rótulo para diferenciá-los das outras bandas, algo como para significar “nós somos os mais rápidos e brutais!”. O termo ficou mais conhecido por ser citado na música Hispanic Small Man Power (H.S.M.P.) do MAN IS THE BASTARD, e assim, "power violence" acabou sendo utilizado para designar algumas bandas de hardcore extremo daquela região da California, que costumavam tocar juntas no famoso 924 Gilman Street, e tinham, até certo ponto, um som peculiar. O EP FIGHTING MUSIC foi o quarto lançamento da até então novata Slap A Ham. O primeiro lado foi gravado em 89 e o segundo no ano seguinte, e a bateria do disco ficou a cargo de Joel Connen, que mais tarde formaria também com Eric Wood, o MAN IS THE BASTARD, levando com eles boa parte da sonoridade do NEANDERTHAL. E ainda tinha a participação de Joe Denunzio (Infest) no vocal de Brain Tourniquet, um dos melhores momentos do álbum. 
O EP tem início com Crawl, que fala como algumas pessoas atualmente se submetem a todas vontades dos chefes e fazem de tudo para puxar o saco deles, também letras sobre sofrimento (Brain Tourniquet) e também sobre assassinos cruéis, como em Mind Eraser que fala sobre a mente deste psicopatas e Kill, Eat And Breed, que trata de uma família de canibais que aterrorizou a Escócia. O NEANDERTHAL, mesmo que não seja tão lembrado como o CROSSED OUT, INFEST e MAN IS THE BASTARD, é um dos principais nomes do power violence e este é um EP histórico e indispensável. A banda ainda teve em 1991 um split com o BLATANT YOBS com duas músicas deste EP e um split como RORSCHACH, além do EP KILL, EAT AND BREED com 3 músicas contidas no FIGHTING MUSIC e outra inédita, somando apenas 8 músicas no total de sua curta existência.

Duração: 08:14
Tracklist: Crawl // Neuter // Brain Tourniquet // Mind Eraser // Kill, Eat And Breed


#3) Crossed Out - Self Titled 7" EP [Slap A Ham, 1991]

Eu diria que o que o CROSSED OUT fez foi pegar as bases com rápidas mudanças de acordes, como o INFEST fazia e acelerá-las, mas como diferencial, eles usavam mais das bases cadenciadas, sendo capazes de numa mesma música, ir de uma passagem extremamente acelerada para uma mais arrastada em instantes, neste ponto lembrando um pouco algumas músicas do NEANDERTHAL, e justamente ao lado desta banda, foi uma das principais bandas a definir a sonoridade do power violence. A banda nasceu em 1990 em Encinitas, na Califórnia, e durou apenas até 1993, mas foi o suficiente para, com sua curta discografia, influenciar uma infinidade de bandas posteriormente. A formação da banda sempre contou com Tad Miller (bateria), Scot Golia (guitarra), Rich Hart (baixo) e Dallas Van Kempen (vocal). 
Ainda em 1991, depois da demo, o CROSSED OUT gravou as 7 músicas deste EP, que foi lançado pela Slap A Ham, mais agressivas e rápidas que a demo. A qualidade da gravação é um pouco melhor que nos split com o DROPDEAD e o MAN IS THE BASTARD e é, sem dúvidas, um dos grandes clássicos do power violence. As músicas não soam tão brutas como nos splits futuros, mas representou um importante registro para o power violence, e continua influenciar novas bandas. Posso dizer que é a banda cujo som melhor representou o power violence, e junto com o INFEST, continua a ser uma das principais influências atualmente no gênero. Letras sempre curtas carregadas de ódio, frieza, desilusão e altas doses de misantropia.
A imagem da capa trata-se de um grupo radical islâmico, que havia tomado o poder, executando alguns curdos que apoiavam o grupo que foi derrubado. Em outra imagem, dentro do encarte, aparece a foto de um assassino em série, pois Dallas tinha bastante interesse a respeito deste tema. 
De acordo com as informações disponíveis na internet, a banda não fazia muitos shows, somando apenas 16 no total. Um desses shows foi realizado na primeira edição do festival "Fiesta Grande" em 2 de janeiro de 1993, tocando com NO COMMENT, ASSÜCK, MAN IS THE BASTARD, CAPITALIST CASUALTIES e PLUTOCRACY. Em outro show, em 21 de agosto de 1993 no Che Cafe, Eric Wood (PISSED HAPPY CHILDREN, NEANDERTHAL e MAN IS THE BASTARD) foi quem tocou o baixo, ele substitui Rich Hart até o fim da banda, no final de 1993. Uma coletânea reunindo toda discografia do CROSSED OUT, incluindo coletâneas foi lançado em 2000 pela Slap a Ham e tinha como imagem de capa uma foto do assassino Albert Fish em seu julgamento. Por onde será que andam os integrantes desta banda?

Duração: 07:55
Tracklist: Internat // He-Man // Locked In // Fraud // Crown Of Thorns // Force Of Habbit // Crutch

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#2) Infest - Slave 12" LP [Off The Disk Records, 1988]

Temos aqui o pai de todos. A banda que, sem a qual, o power violence nunca teria nascido. O LP SLAVE, lançado pelo selo suíço Off The Disk Records é o grande clássico da banda, recheado de músicas épicas como “Mindless”, “Where's The Unity?”, “Sick-O”, “Plastic”. Hardcore cru e rápido, ainda sem muitas das partes lentas amplamente adotadas anos depois, mas com constantes mudanças de tempo e fúria de sobra, nos vocais bem típicos para o estilo, de Joe Denunzio. Clássico fundamental que influenciaria qualquer banda que veio a se dizer power violence. 18 músicas em 20 minutos, terminando com a lenta e instrumental Fetch The Pliers. 10 delas foram previamente lançadas no EP 7” “Infest”, ou também conhecido como “Machismo”, usando a mesma gravação. Como de costume, o INFEST trata de temas sociopolíticos, machismo, guerras, escravidão, o uso de drogas, entre outras desgraças que só nós humanos podemos proporcionar para o mundo e até mesmo críticas a cena e sua falta de união na mais que clássica “Where’s The Unity?”. Este LP teve uma prensagem limitada e hoje é item de colecionadores, por isso apareceram várias versões piratas do mesmo. Naquele momento a banda era formada por Joe Denunzio nos vocais, Matt Domino na guitarra, Dave Ring no baixo e Chris Clift na bateria. Destaques para os enfurecidos vocais de Denunzio e para a guitarra rápida e suja, embora sem tanta distorção, de Matt, que facilmente é identificada, inclusive em sua passagem pelo LOW THREAT PROFILE. A banda, que existiu de 1986 a 1996, durou relativamente bastante se comparada às outras e teve em sua discografia, além deste LP, 2 7” EPs, o ótimo LP NO MAN’S SLAVE, anteriormente citado, o split 7” com o PISSED HAPPY CHILDREN e uma infinidade de coletâneas e versões não oficiais. Banda formadora de caráter e que influenciou todas as outras dentro do power violence e muitas de hardcore rápido.

Duração: 19:58
Tracklist: Break The Chain // Pickled // Sick-O // Plastic // Mindless // Which Side // V.Y.O. // Where’s The Unity // Screwed // Machismo // The Game // Sick Of Talk // Iran Scam // Life’s Halt // Slave // Head First // Sick And Tired // Fetch The Pliers
#1) No Comment - Downsided 7" EP [Slap A Ham, 1992]

Ao iniciar a elaboração da lista, me deparei com o problema de ordená-la, tanto que diversas vezes a alterei, porém, algo era certo e irrefutável: DOWNSIDED é o número 1! Também não acharia exagero dizer que é o melhor álbum de hardcore de todos os tempos. Quanto aos outros discos da lista, talvez eu até os mude de posição novamente, mas provavelmente não este. O EP foi lançado em 1992 pela Slap A Ham, o selo de Chris Dodge, que se faz presente mais uma vez nesta lista, depois do já excelente COMMON SENSELESS de 89, e foi um marco para a música extrema (talvez não tanto como o CROSSED OUT e INFEST, mas deveria). É incrível que até então ninguém havia dado muita importância para o NO COMMENT. 
Se o primeiro álbum foi uma evolução do primeiro EP do DRI, o DOWNSIDED foi a evolução da evolução de algo que já era sensacional. A formação se mantém a de sempre, porém com Brent na guitarra e Vince no baixo, seguindo com Andy nos vocais e Raul na bateria. Se você espera mensagens positivas ou para salvar o mundo, esqueça, aqui é a vida real, onde só há lugar para a desesperança, raiva, e desilusão com o ser humano e a sociedade, somado a uma forte dose de depressão e pessimismo. Nos registros anteriores até se viam letras sobre política e direitos animais, mas neste parece que Brent realmente estava passando por uma forte depressão. 
São 11 músicas em 7 minutos e, meus amigos, o NO COMMENT barbarizou neste álbum, que é tocado com extrema velocidade e uma precisão cirúrgica, sem se tornar repetitivo, com vocais desesperados e uma ótima gravação, resultando em uma das mais intensas e brutais experiências sonoras que podemos experimentar. Podemos encontrar letras falando sobre suicídio (Past Tense), depressão (Sarcastics, Push Down & Turn), raiva (Downsided, Soiled By Hate), ou como olhamos com desânimo o tempo que passou, depois que estamos velhos (Dead Stare For Life), indiferença (Distant) e que os problemas sempre irão persistir, não importando o que se faça (Hurt). Difícil definir os melhores momentos do álbum, já que o mesmo é perfeito do início ao fim, mas talvez o maior clássico seja a “Hacked To Chunks”, que recebeu versões de várias bandas, entre elas Hummingbird Of Death e xBrainiax. 
A arte feita por Brent mostra imagens relacionadas à depressão, remédios, pulsos cortados, crianças nascendo e cemitérios. Reforçando esta ideia suicida do EP, o 7” original tinha as inscrições: “HAPPINESS IS PAIN, HATE RULES” no lado A e “DO DILAUDID SLIT YOUR WRIST” no lado B. Dilaudid trata-se de um forte analgésico a base de ópio. Mas é incrível como toda esta ode ao suicídio e a depressão pode ter se tornado um antídoto para isto, já que a sonoridade do disco nos faz querer ouvi-lo mais e mais, e assim continuar vivendo. Quanto aos vocais de Andy, o considero como o melhor nesta função dentro do power violence, e felizmente mostrou mais do seu poderio durante a passagem pelo LOW THREAT PROFILE. A Deep Six relançou recentemente este EP e o COMMON SENSELESS a preços acessíveis. Uma boa chance para quem quer ter estes álbuns em vinil. Nota 10. Essencial. Sem mais.

Duração: 07:00
Tracklist: Dead Stare For Life // Past Tense // Sarcastics // Distant // Hurt // Hacked To Chunks // Lament // Soiled By Hate // Downsided // Push Down And Turn // Curtains

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ALGUMAS MENÇÕES HONROSAS

Despise You & Stapled Shut Split 7" EP [Pessimiser, 1997]

Excelente split do DESPISE YOU, banda que tocava muito bem, com peso esmagador e com ótimos vocalistas que não podia ficar de fora desta lista. A banda tinha na época Alex e José Morales nos vocais e guitarras, Frank na bateria e Letícia no baixo e vocal, que talvez fora a primeira mulher a cantar em uma banda de power violence. Na verdade, estes eram os nomes falsos que eles assinavam nos álbuns. 
Os riffs e o peso denotavam uma maior influência do metal no som do DESPISE YOU, que aliado à rápidos blast beats e momentos sludges tem um resultado excelente e devastador. Bandas como HATRED SURGE e IN DISGUST foram fortemente influenciadas pelo DESPISE YOU. Este é o registro que conta com a clássica “No More... Feelings”. Destaques também para “Passive Position”, “I End Me”, “Lost And Losing”, enfim, todas são excelentes músicas. Do outro lado vem o STAPLED SHUT, uma boa banda que até lembra o DESPISE YOU, devido a possuir um vocalista em comum. Eles devem ser mais lembrados pelos splits que lançaram, este e outro com o LACK OF INTEREST. O EP foi lançado pelo selo Pessimiser, vocalista do DESPISE YOU.

Duração: 10:15
Tracklist: Despise You: Passive Position // I End Me // Portrait // Lost And Losing // No More... Feelings // Euphoric Confusion // Been Lead // Stapled Shut: Resin Heaven // No Score

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Capitalist Casualties & Man Is The Bastard 12" LP [1994]

Este LP reuniu duas bandas históricas para o gênero e ambas com uma longa discografia, mas não tão regular, com alguns álbuns não tão bons, principalmente o MAN IS THE BASTARD em sua fase mais noise, embora seja inegável a sua importância e contribuição para o power violence. Mas neste split as duas bandas estão em boa fase, embora eu goste mais das 13 músicas rápidas e curtas do CAPITALIST CASUALTIES, que não poderiam deixar de serem mencionados nesta lista. O lado do MAN IS THE BASTARD dá uma esfriada, com músicas mais longas e cadenciadas, no estilo próprio da banda, mas são 5 boas músicas, numa das melhores fases deles.

Duração: 21:03
Tracklist: Capitalist Casualties: Meat Market // Jesus' Whore // Murder Media // Moron // Self-Abuse // Worker // Fuck The Christians // Pin Cushion // You Explode // Nome Dropper // Vomit // Stairs // Waste Life // Man Is The Bastard: Foot Binding // Eunuch Pt. 2 // Gourmet Pez // Blinds

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