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A Deusa Galesa Blodeuwedd



A Deusa galesa Blodeuwedd era conhecida como a Deusa dos Nove Aspectos da Ilha Ocidental do Paraíso, uma conexão tanto com a Lua (nove é número lunar) quanto com a morte e a reencarnação (aspectos da Lua Nova). Robert Graves escreve que Blodeuwedd possuía nove poderes: nove também é um múltiplo de três, outro número da Lua e da Deusa. A coruja era o animal sagrado de Blodeuwedd. Ela lidava com mistérios lunares e iniciações místicas.

De acordo com a mitologia galesa, Blodeuwedd foi criada por Gwydion e Math a partir de brotos de carvalho, gesta e rainha-dos-prados para ser a esposa de seu sobrinho, o jovem deus Lleu. Seu nome significa literalmente "Face de flor". No entanto, após algum tempo, Blodeuwedd perdeu seu interesse por Lleu e se apaixonou pelo obscuro deus da caça da floresta. Quando ela perguntou a Lleu como ele poderia ser assassinado, ele contou a ela. Ela então contou a seu amante, o deus da caça, que o matou. Entretanto, os tios de Lleu fizeram com que ressuscitasse. Lleu, por sua vez, matou seu rival. Gwydion transformou Blodeuwedd em uma coruja, um pássaro que prefere a noite e caça à luz do luar.

A coruja, uma criatura também ligada a Athena e outras deusas lunares, simboliza a sabedoria e os mistérios da Lua. Voar ao Luar significa compreender e usar os poderes da Lua.

Blodeuweed está relacionada à estação da Primavera e é honrada principalmente na Lua Cheia entre Imbolc e Beltane, assim como no amanhecer, que é sua hora de poder. Seus atributos estão relacionados à transformação, e ela nos ensina a nos compreendermos.

Magicamente falando, ela tem o poder de recuperar o verdadeiro Eu.

Os celtas acreditavam que por suas nove flores seríamos capazes de atrair a benção da Deusa à nossa vida.

A flor de giesta era capaz de purificar e proteger; a da bardana afastava os maus espíritos e energias negativas; as flores do prado traziam gentileza e amor natural; a prímula atraía o verdadeiro amor; a urtiga estimulava os desejos e paixões; o espinheiro trazia pureza de espírito; as flores do carvalho eram capazes de atrair vigor, força e aguçar os poderes de fertilidade; o castanheiro, a permanência do amor; o feijão trazia as bençãos da Deusa sobre sua criação.

Blodeuwedd representa a Terra em sua plenitude no período da Primavera.

Deusa criada de flores de árvores poderosas, mágicas e curadoras, representa assim a continuidade da cura e renovação da vida.

É a Deusa das emoções e da energia que movem a vida. É ela quem nos coloca em confronto com as novas descobertas e obstáculos capazes de nos fazer crescer e evoluir, fazendo com que assim cheguemos até a Iniciação na vida.

Vista como um aspecto da Rainha de Maio, é considerada uma das formas da Deusa Tríplice de Gales. Ela governa as flores, a magia lunar, os mistérios e iniciações, os inícios e a independência.

Alguns historiadores vêem nela uma imagem de mulher contra o patriarcado e a dominação masculina, outros vêem-na simplesmente como uma Deusa da Vida, da Morte e do Renascimento, uma forma simplificada da Deusa Terra como Circe, Ishtar, Cibele, todas amantes e devoradoras da vida.

Em cada mulher há uma virgem de flores escondida, uma virgem que nascerá novamente um certo dia, num certo lugar.

CORRESPONDÊNCIAS

Invoque Blodeuwedd para amor, descoberta de traições, felicidade, fertilidade, magia, conhecer os mistérios do renascimento, iniciações, vencer desafios, ultrapassar barreiras e vencer inimigos.

Símbolos: coruja, flores, lua.
Dia: sexta-feira.
Cores: rosa, verde, marrom.
Aroma: flores do prado.




(Desconheço a autoria)

A Deusa Freya



Na mitologia nórdica, Freya é a Deusa-Mãe da dinastia Vanir, raça oposta a dos primitivos Aesir, dos quais Odin era o líder.

Deusa do sexo e da sensualidade, da fertilidade, do amor e da atração, da luxúria, da música e das flores, da magia, bruxaria, adivinhação e encantamento (especialmente amoroso), da riqueza e das guerras, além de líder das Valquírias (condutoras das almas dos mortos em combate).

Infelizmente, poucas de suas histórias sobreviveram, talvez porque suas lendas foram registradas por eruditos influenciados pelo cristianismo, e muito provavelmente, ferozes contra qualquer registro sobre Freya, a deusa da adivinhação e da independência sexual.

Era irmã de Freyr (deus da fertilidade) e filha de Njord (deus do mar) e Skadi (deusa do inverno e da caça).

Uma deusa-Vana, ela foi por algum tempo casada com o misterioso deus Od, ou Odr, o qual desapareceu e foi sempre procurado por Freya, no céu e na terra, enquanto derramava lágrimas, que se transformavam em ouro na terra e âmbar no mar. Tais lágrimas lhe renderam o atributo de deusa da riqueza e sua constante busca, os títulos relacionados ao amor.

Com exceção desta vaga menção a um marido, Freya nunca esteve associada a outro deus no papel de "esposa". De caráter arrebatador, teve vários deuses como amantes (o que lhe rendeu a qualificação de deusa do sexo, da sensualidade, da luxuria e da atração), e é representada como uma mulher atraente e voluptuosa, muitas vezes com olhos azuis.

Possuía muitos gatos, os quais puxavam sua carruagem em batalha, e a tornaram a senhora dos gatos, o mesmo título atribuído à egípcia Bast e à grega Ártemis.

Mulheres sábias, videntes, senhoras das runas e curandeiras estavam intimamente conectadas a Freya, pois ela era a deusa da magia, bruxaria e dos assuntos amorosos.

Há quem diga que a Deusa possuía o segredo das runas mesmo antes de Odin e, graças à sua ligação com a magia, é conhecida como a deusa da magia, bruxaria e encantamento.

A magia de Freya era xamanística por natureza, como indica seu vestido ou capa de pele de falcão, que permitia que se transformasse em um pássaro, viajasse para qualquer dos mundos e retornasse com profecias. Aliás, várias vezes Loki emprestou tal pele de falcão, geralmente para espionar pessoas e criar problemas.

Entre os povos nórdicos, tal habilidade de efetuar viagens astrais, hoje tida pelos xamãs como necessária para previsão do futuro e obtenção de sabedoria, era conhecida por seidr.

Seidr era uma forma mística de magia, transe e adivinhação primariamente feminina, e, em sua maior parte, envolvia a prática de transmutação, viagem do corpo astral através dos Nove Mundos, magia sexual, cura, maldição e outras técnicas. Suas praticantes, chamadas de volvas ou às vezes seidkona, eram sacerdotisas de Freya.

Ressalta-se que na mitologia há indicações que o seidr foi também praticado por homens vestidos com roupas de mulher. No entanto, esta não era uma atividade masculina popular e aqueles que a praticavam eram ridicularizados ou até mesmo assassinados. Vestir-se com as roupas do sexo oposto é uma tradição realmente antiga que tem suas raízes na crença de que um homem deve espiritualmente transformar-se em uma mulher para servir à deusa. Isso não poderia ser bem recebido numa sociedade patriarcal. Odin, iniciado pela própria Freya, é a única deidade masculina listada nos mitos a ter praticado este tipo de magia exclusivamente vestido como homem.

As volvas moviam-se livremente de um clã para outro, suas habilidades eram constantemente exigidas. Elas não costumavam se casar, apesar de possuírem amantes. Portavam cajados com uma ponteira de bronze e usavam capas, capuzes e luvas de pele de animais.

Apesar de Freya não ser uma deusa lunar, muitos de seus aspectos a ligam às Luas Cheia e Nova. Aspectos estes, frisa-se, relacionados ao seu colar mágico que portava, Brinsigamen, equivalente ao machado de Thor.

A história de como obteve este colar é uma lição de como usar os Quatro Elementos, conhecimento hoje tido como essencial para a prática do xamanismo.

Certa vez, quando Freya passeava, se deparou com quatro gnomos que fabricavam o mais belo colar por ela já visto. Esses artesãos, conhecidos como Brisings, chamavam-se Alfrigg, Dvalin, Berling e Grerr. Freya decidiu que o colar deveria ser seu, mas os gnomos não o venderiam, apenas a presenteariam, se ela passasse uma noite com cada um deles. Sem hesitar, Freya concordou e tornou-se a proprietária de Brisingamen, um poderoso equilíbrio da Serpente Midgard e um símbolo de fertilidade. Tais atributos correspondem à Lua Cheia.

Uma vez que os monges cristãos julgaram esta história amoral, é de se admirar que tenha sobrevivido nos mitos nórdicos. Mas não é puramente uma história sobre sexo, mas sim sobre obter conhecimento (algo considerado tão maligno quanto o sexo pelos monges).

Os quatro gnomos representam os Quatro Elementos. Brisingamen simboliza a beleza, o poder e a riqueza que advêm do saber como utilizar e equilibrar esses tijolos de matéria.

A inveja e a cobiça de Odin por tal jóia e pelo meio através do qual Freya a obteve, o levou a ordenar a Loki que roubasse o colar. Para recuperá-lo, Freya deveria concordar com uma obscura ordem de Odin: incitar a guerra entre reis e grandes exércitos e, depois, reencarnar metade dos guerreiros mortos em batalha, para que lutassem novamente. A outra metade, junto com todas as mulheres, era transportada para seu castelo Sessrumnir. Este aspecto da deusa, a conecta à Lua Nova e caracteriza como líder das Valquírias e senhora das guerras.

O seu nome tem várias representações (Freia, Freja, Freyja, Froya, etc.) sendo também, por vezes, confundida com a Deusa Frigga.

Freya é, ainda, a senhora das sextas-feiras, de onde se tira a tradição usada por suas filhas, sacerdotisas e seguidoras de fazer encantamentos, essencialmente os amorosos, neste dia.


(Desconheço a autoria)

As faces da Deusa




As Faces da Deusa  
(Por Dri e Quíron)

A Deusa, quem é Ela? A idéia de uma Deusa costuma nos parecer estranha. Afinal, estamos acostumados a ver a Divindade como "Ele". Mas na Wicca as coisas não são bem assim. A Divindade é vista tanto como feminina como masculina, sendo que o aspecto feminino (a Deusa) é o aspecto primordial, que cria o aspecto masculino (o Deus Cornífero). Inconcebível a idéia de trabalharmos com estas duas forças separadas, afinal cada uma delas tem suas particularidades, o yin yang. Mas nossa idéia central aqui é falarmos sobre Ela, a Deusa, que a todos concebeu e para onde todos iremos voltar.

Vemos a Deusa como sendo o aspecto primordial da divindade, pois é Ela a Criadora de Tudo, assim como uma mãe dá a luz aos seus filhos. Os filhos da Deusa somos todos nós e tudo o mais que existe no Cosmos. Até mesmo o próprio Deus Cornífero, Sua contraparte.

Do ventre da Deusa tudo nasceu e para ele todos retornarão para renascer, é o que se diz na Wicca. O ventre da Deusa é também simbolizado pelo caldeirão, um símbolo celta importante, entre outras coisas, ligado à transformação e a reencarnação.

A Deusa não apenas criou tudo o que existe, mas também É tudo o que existe. Ela não é apenas transcendente, mas imanente. O Universo é Seu corpo, Sua mente, Sua alma e Seu Espírito. Vemos a Deusa em todos os lugares e em lugar nenhum, dentro e fora de nós mesmos. Reside dentre de nós próprios uma centelha Dela (e também do Deus), o que nos faz divinos.

A Deusa costuma ser representada pela Lua. Este satélite da Terra costuma, desde tempos antigos, em diversas culturas, ser visto como feminino, regendo as emoções, os sentimentos, o inconsciente, as sombras, a intuição e tudo aquilo que não pode ser analisado e classificado friamente.

Toda mulher sabe muito bem o significado da Lua, pois seu organismo atua de acordo com ela, assim como as marés. As mulheres podem sentir sua força, sua influência tanto no seu físico quanto no emocional.

A lua muda de fase a cada sete dias. Isso mostra o caráter mutável da Deusa. Ela não é estática, ela sempre apresenta uma face nova, de tempos em tempos. 

Na lua crescente Ela é a Donzela, também chama de Virgem. 
Na lua cheia Ela é a Mãe, Criadora de Tudo. 
Na lua minguante é a Anciã, ou a Velha Sábia.

Como Donzela, Ela possui o seu aspecto virginal, significando não o fato de nunca ter se relacionado sexualmente com um homem, mas, sim, o fato de ser solteira, independente e livre, não se submetendo ao jugo de homem algum. A cada dia da lua crescente, a força da Donzela floresce, como cresce sempre a força da juventude. Ela é vista muitas vezes como sendo delicada, gentil, uma criança brincando, mostrando assim sua inocência.

Mas é também vista como uma Caçadora (Ártemis/Diana, por exemplo). Dessa forma, pode ser agressiva, pois desafia a tudo e a todos para garantir a sua liberdade. A Donzela vê o Infinito à sua frente e não deseja que ele seja restringido.

Na primeira noite de lua cheia, a Deusa passa de Donzela para Mãe. É o Seu momento de maior poder, em que Ela é a Criadora de Tudo. Este aspecto luminoso representa o parto. Muitas vezes, a Mãe é vista como uma mulher grávida, ou uma mãe zelosa (Deméter/Ceres).

A Mãe dá Amor a todos os seus filhos, o que inclui não apenas os seres humanos, como também toda a Natureza. A Mãe também dá a luz ao Deus Cornífero, Seu filho, a Criança Prometida, que mais tarde se apaixonará por Ela, quando esta for novamente a Donzela, e Ele se converterá em Seu Consorte.

A Mãe representa a abundância e, por isso, é a Rainha da Colheita. A Deusa é a própria Natureza, da qual fazem parte todos os seres que aqui habitam, de todos os reinos, sejam eles animais, vegetais ou minerais.

Como tudo o que chega ao seu ápice começa a declinar, depois da lua cheia vem a lua minguante, em que a Deusa se torna a Anciã. Neste momento, a Deusa não é mais capaz de engravidar. Ela retém o seu sangue menstrual, o que lhe conserva poder. Se por um lado a Deusa perdeu o viço da juventude, por outro ganhou experiência, sabedoria e conhecimento. Ela é vista como a Conselheira. Já passou pela etapa de concepção, sabe o que significa gerar a vida, o que lhe torna sábia.

A Anciã está relacionada à morte. Ela é a Ceifeira, aquela que restringe aquele Infinito que a Donzela preza tanto. Afinal, tudo o que nasce morre para que possa ser transformado. Porém, a Anciã também é vista como a Curandeira, que entende das ervas que curam os males de um doente, sejam eles de qualquer espécie. Além disso, a Anciã é uma Parteira, o que mostra que a Morte está relacionada à Vida e vice-versa. O Caldeirão da Transformação é propriedade da Anciã (como mostrado na deusa celta Ceridwen).

As faces da Deusa mostram como ela é mutável. Ele muda como também muda a Natureza e nós mudamos. Por esse caráter, um dos símbolos da Deusa é a Serpente, pois ela troca de pele quando esta já cumpriu o seu papel, renovando-se. Pois para a Deusa a Eternidade é a Mudança. "Tudo flui". "No mesmo rio entramos e não entramos, somos e não somos". (Heráclito, filósofo pré-socrático).

A Deusa não pode ser definida com poucas palavras. Ela possui suas três faces e é representada por infinitas divindades femininas em todo o mundo. Cada divindade, um aspecto Dela, como espectro de uma luz que passa por um cristal e se divide em milhares de cores. Ela é a chamada Deusa dos Dez Mil Nomes.

Como já foi dito, Ela é a Deusa da Terra; Ela é a própria Natureza; é Gaia. Sua pulsação é sentida nos bosques, nas matas, nas florestas. Seus humores são sentidos nas marés dos oceanos. Sua solidez está nas montanhas, no solo firme. Nos lagos, a sua placidez. Nos rios correm seu sangue. No centro do planeta, bate seu coração ardente. Sua calma respiração é percebida na doce brisa que nos refresca. Sua fúria inconcebível é sentida no poder dos furacões. Ela é Deusa de tudo o que vive e tudo o que existe está vivo, tudo emana as energias Dela.

Mas a Deusa não está só no planeta em que vivemos. Ela é também a Deusa Estelar e por isso seu símbolo é a Lua. Está nos mistérios do Universo, nas estrelas, em distantes planetas, nos intrigantes buracos negros. A Deusa está além do Universo, naquilo que não podemos compreender, do qual não conseguimos falar. Ela é imanente, sentida na Natureza e dentro de nós mesmos. E ela é transcendente, estendendo-se até o Infinito, Sua Criação.

À Deusa pertence a Sabedoria. Pela mitologia comparada podemos perceber que normalmente as deidades relacionadas à Sabedoria são femininas, tais como Minerva, Sophia, Athena, Ísis e Ceridwen. Até mesmo no misticismo judaico isso pode ser visto. Shekinah, a parte feminina do Deus judaico-cristão, é também relacionada à Sabedoria. Às deidades masculinas normalmente o que cabe não é exatamente a Sabedoria, mas o Conhecimento, o que pode ser muito bem visto em Thot/Hermes.

Embora possamos sentir a Deusa, ter uma experiência direta com Ela, realmente tomar conhecimento empírico de que Ela existe, não podemos compreendê-La em sua totalidade. A Deusa transcende tudo o que conhecemos. Pois Ela é tudo o que é conhecido e também todos os mistérios que ainda estão por ser revelados. Todos os conceitos que podemos formular através da nossa mente tão poderosa e tão limitada são dissolvidos por Ela. Bem e mal, certo e errado, nada disso existe para a Deusa. Ela está além disso.

Ela está ligada não apenas à criação, mas também à destruição. E não vemos nisso o mal. A destruição é um processo natural para que a criação possa se dar. Ao se cortar madeira e queimá-la em um fogão à lenha, garante-se que comida poderá ser preparada e uma família ter suas necessidades alimentícias satisfeitas. Através da destruição da madeira o sustento de uma família foi garantido. A destruição não é algo mau em si, desde que trabalhe lado a lado das forças da criação.

Por isso, não devemos ver tudo o que é destrutivo como algo maléfico. Muitas vezes o que parece aterrorizante é uma força necessária. Não dá para conceituar com exatidão os processos da Deusa, pois eles transcendem a nossa capacidade de compreendê-los totalmente.

Tem se falado muito atualmente, nos meios wiccanos, sobre a segunda vinda da Deusa. Com o florescimento da Wicca e outras religiões pagãs a partir do meio do século 20, o aspecto feminino da Divindade voltou à tona, depois de pelo menos dois mil anos relegado à obscuridade, muitas vezes referido como algo maléfico.

Na realidade, a Deusa não está voltando de algum lugar para aqui onde estamos, é claro! Se a Deusa não apenas tudo criou como tudo é, como pode ela ter ido para algum lugar em que Ela já estava para depois voltar para algum lugar da onde Ela nunca saiu? A volta da Deusa é o reflorescimento da percepção dos seres humanos da parte feminina da Divindade.

É o encontro com o feminino que mora dentro de cada um de nós, o despertar da intuição, a capacidade de amarmos e respeitarmos ao nosso próximo, a compreensão das diferenças, a preservação da natureza.

Por muito tempo, os seres humanos deixaram de perceber o feminino na Divindade. As religiões patriarcais, muitas vezes distorcendo o que foi pregado pelos seus fundadores (como aconteceu no cristianismo) passaram a valorizar o aspecto masculino mais do que o feminino, causando um desequilíbrio.

A Deusa perdeu sua importância para sobreviver pelos séculos em figuras como Virgem Maria e Maria Madalena, que, embora importantes, estão relegadas à segundo plano no patriarcalismo. Elas não tem um papel em si mesmas, mas um papel em função de Jesus Cristo.

Durante muito tempo o feminino esteve em baixa. Com a volta da Deusa, um reequilíbrio está vindo à tona. Não julgando o patriarcalismo como algo definitivamente maléfico, pois ele também teve os seus méritos, o Divino Feminino vem para corrigir distorções que se estabeleceram com o tempo. A centelha Divina está dentro de nós mesmos, não distante e inatingível, e ela jamais é punitiva e castradora, pois é acolhedora, como uma Mãe.

Para se perceber a volta da Deusa não é necessário fazer parte de Sua religião. Os efeitos da Sua volta são perceptíveis a qualquer um que nem ao menos tenha já ouvido falar de Wicca ou de outra religião pagã. São mudanças psicológicas e sociais que têm acontecido no século 20, principalmente a partir da década de 10 e de 60.

A mudança mais óbvia é o feminismo. Ele combate o machismo do sistema patriarcal. Numa análise dialética, o machismo é a tese, o feminismo é a antítese e agora estamos começando a viver a síntese desse processo, o igualitarismo entre os sexos. A harmonia entre o homem e a mulher tem a sua origem na Deusa, que abraça a todos sem distinção, como uma mãe faz com seus filhos.

Também pelo fato Dela abraçar a todos como seus filhos, outras transformações sociais são frutos de Sua volta. A visão do sexo como algo natural e não pecaminoso; o direito à homossexualidade; a luta pela melhoria das condições sociais de todos os menos favorecidos do mundo; o abalo no conflito senhor versus servo no qual o nosso sistema baseado na competição (típico do patriarcalismo) se sustenta, algo que consideramos feudal; o movimento ecológico crescente em todo o mundo; o fim da discriminação racial e social; a derrocada progressiva das ditaduras em todo o mundo.

Tudo isso significa a volta da Deusa, que vem para unir a Humanidade, ao invés de colocá-la em guerra consigo mesma.

Muito disso pôde ser visto com clareza no movimento hippie dos anos 60 e nos movimentos de esquerda, que ocorrem desde 1914. Esses movimentos não foram totalmente bem-sucedidos e isso aconteceu porque as mudanças definitivas não ocorrem de uma hora para outra. Mas foram movimentos necessários para se dar um primeiro impulso; necessários para que possamos corrigir as falhas de um sistema ultrapassado.

Estes movimentos foram importantes para que pudéssemos discutir qual a função dos seres num contexto global. Dessa maneira foi possível começar a aparar algumas arestas, mas temos ainda um longo trabalho.

A Deusa também vem para alterar a relação do sacerdote e do fiel.

Na Wicca não temos uma figura central, que decide os rumos tomados pela religião, como há o Papa no Cristianismo. A estrutura da Wicca é celular. Cada grupo, sempre pequeno, é independente e não presta contas a um "poder maior". Todo praticante da Wicca é seu próprio sacerdote. A Deusa não possui intermediários. Cada ser humano é capaz de entrar em contato direto com Ela.

Na Wicca, nós não acreditamos nos Deuses, nós os conhecemos e os experimentamos através de experiências místicas. Nós sabemos que eles existem. Pois os Deuses não são apenas símbolos psicológicos. São também realidades manifestas. Fazem parte de nossas vidas, de nosso cotidiano, podemos senti-los, o que nas religiões cristãs não existe, pois afinal, elas negam qualquer sensação que não seja fisicamente comprovável.

Depois de tanto tempo de racionalismo cartesiano, de valorização à razão como a mais bem acabada faculdade da mente humana e de positivismo valorizando as ciências objetivas em detrimento dos processos subjetivos e da luz, com a volta da Deusa, o emocional, o intuitivo, o inconsciente, as sombras, o subjetivo tornam a ser valorizados na nossa sociedade.

Pois vimos ser ilusão a idéia de que tudo isso é algo menor do ser humano a ser superado com o "progresso" da humanidade. A razão e a intuição, o objetivo e o subjetivo, o consciente e o inconsciente, a luz e as sombras etc são apenas lados da mesma moeda, igualmente importantes. A filosofia e a ciência da era do patriarcalismo fizeram com que determinados dons fossem vistos como "evoluídos" e outros como "atrasados", ao mesmo passo que as religiões patriarcais fizeram com que os primeiros fossem considerados benéficos, de Deus, e os segundos, maléficos, do Diabo.

Hoje, podemos novamente aceitar ambos como complementares.

Vemos assim como é importante a volta da Deusa no nosso mundo. É algo inevitável, que está acontecendo por uma real necessidade. Faz parte das mudanças pelas quais o planeta passa de tempos em tempos. A volta da Deusa não passa de um outro nome para o que uns chamariam de Nova Era, Era de Aquário ou Novo Aeon.

(Texto de Dri e Quíron)


Obs.: Esta postagem foi feita originalmente no meu antigo site do extinto Vilabol.

Viviane Lopes