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segunda-feira, março 27, 2023

NURIA AMAT. SUSAN NEIMAN, MARIE UNDER & LADJANE BANDEIRA

 

 Ao som dos álbuns Kronos (Paradoxx, 1998), Um Outro Silêncio (Eldorado, 1999); Oriki (Saga\Trama, 2003). Presságios (Sonhos e Sons, 2007), Mae Inini (Wante, 2008), Layers of Now (Akasham, 2013), A Way Beyond (Akasham, 2015) e Enchanted (Wante, 2016), do violonista e compositor Eduardo Agni.

 

TRÍPTICO DQP: Uma: Baião das encruzilhadas - O que sou de ressurreto entre ambívios e malogros, meus sentimentos gotejam no caos, no meio de um torneio de ventos. Errei demais da conta e, da jornada do herói, a única lição: errar sempre para acertar. Não há fórmula mágica. Afinal, já dizia Umberto Eco: Nem todas as verdades são para todos os ouvidos, nem todas as mentiras podem ser reconhecidas como tais... Assino embaixo. Claro, viageiro das estrelas nuas, com todos os escombros e precipícios: porque todo ato é imperfeito e implora por ajuste – pior os casuísticos, já nascem natimortos. Resta ouvir Susan Neiman: O banal não despedaça o mundo, o compõe... Há quem desespere da bifurcação e do ambíguo, o medo do sacrifício. Ah, não! Encruzilhadas tantas quantas, prefiro adiante e pro leste, se possível; senão, fazer por onde. Já me julguei preparado para o que nem precisava. Aprendi o silêncio e me encontrei inteiro: uma vírgula e eu, outras a mais... Estava pronto para ficar só, a emendar, ou melhor, empiorando mais o já ruim. Pois é, ainda tem como ficar péssimo além da conta. Torço pelo contrário, vambora...

 


Pelo rio mais deteriorado... – (Imagem Acervo ArtLAM) - Sim. É o caso do vizinho que vivia só no final de semana. Nos dias de feira só o via às noites das sextas, não mais. Era casado, segundo ele mesmo, com a Víbora da sobrancelha violinista, esse o apelido dela: a vozinha aguda de rabeca desafinada aos resmungos das calçadas. Mantinha com ela uma quebra de braço, dizia reiteradamente. É que pra ele ela era careca e viúva negra, quando cerrava o cenho era a hora do golpe. Ele esperto, ora, não baixava a guarda. Tomava umas e outras quase todas só para o exercício de esquentar a mão no maluvido alheio e torcer que, com isso, surgisse, no mínimo, um canivete que fosse para renovar o sangue. Para ele: sangue preso mata, tá doido! Ficava em forma para enfrentar a megera! A filha do casal, a menina dos olhos dele. Sim, até o dia em que ela brincou de escrever com uma pedra pontiaguda na lataria do automóvel recém comprado, zero quilômetro. Oxe! Ela tinha apenas dois anos. Ele chegou nela com um safanão bruto, pisou-lhe a mão com fúria, esmagando-a. No pronto socorro: Por mim amputava! E foi isso mesmo. Quase três anos depois, separado da esposa e morando longe, a filhinha chorosa foi visitá-lo e aproximou-se dele: Papai, quando minha mão crescer de volta, eu vou trabalhar para comprar outro carro novo pro senhor, viu! De soslaio, nenhum remorso, nem deu ouvidos, indiferente como o Pirangi de Pelópidas. Disfarçou o pior - ódio, cada qual seu jeito, como dizia Nuria Amat: Cada povo se comporta como se tivesse chegado ao fim da história... Agora eu não sei quem você é. Se você existe, se você não existe, se você é um homem fantoche ou pesadelo... Era a vez de Marie Under: Uma pessoa nunca repara o que foi feito, mas sim o que ainda precisa ser feito... E Perse queria levar belas palavras ao coração humano. Ah, o horror de viver passou da conta até a exaustão do deus de todos na paz tumular dos inimigos insones com suas formas de copular amálgamas levados pela desfiguração do cenário. Ademais, como diz Caio Fernando Abreu: O resto é engano, meu filho, é perdição. Nada demais, não são apenas os outros, cada um de nós, coisa complicada...

 


Intermezzo... – (Imagem: Acervo ArtLAM) - Havia o intervalo e ela Chloé era o improviso: ela havia chegado como se tivesse visto a esperança brilhar na rua Sol. Mas não disfarçou a profecia: confusão das estações, corrupção dos homens, decadência das classes sociais, maldade, relaxamento dos costumes. Eita, resumo das manchetes do noticiário de hoje? Não, há milênios profetizou a deusa trina da religião da Wicca e da guerra celta, Morrigu, durante a narrativa das vésperas da Segunda Batalha de Moytura! Parece com os dias atuais, né! Sim, como nos salvaremos, ora, o Doomsday Clock está aí contando os segundos que restam. Ou façamos como o historiador romano Sofrônio Eusébio Jerônimo, o Jeronimo de Estridão: Quid salvum est si roma petit... Ironicamente citou o epitáfio do Rubem Braga: De volta às cinzas... Respondi-lhe Dorothy Parker: Desculpe a poeira... Ela tentou disfarçar e recitou A mão – esse pássaro digital, de Ladjane Bandeira: Te sou limite de exigências e ansiedades \ se me constrange a servidão quando te afastas \ por meu domínio temporal. \ Minha lucidez te fere e injusta sou\ se em confusão também me gastas.\ Se hesito, vens a mim\ e na firmeza \ tenho inteira e súbita tua luz carnal \ no limiar do acontecer de transgredir-me\ nessas tão nossa hegemonia instrumental... Parecia um tanto desolada, não se conteve e me abraçou pressurosa sussurrando palavras enlouquecidas para que eu a amasse ali mesmo, urgentemente. Tomei-a em minhas mãos, e soletrei o seu nome infinito com todas as minhas confissões à socapa. Suas mãos viçosas rondavam o que amanheceu em mim, misturando suores e salivas, e tocou minha alma com o hausto de êxtase lambendo o meu sexo na alvorada dos seus lábios de pajem magnífica, a me determinar levá-la lauta ao ergástulo, confiscando-a, rechaçada e fausta pro meu apetite, enquanto investia a dilapidá-la por baixo das suas vestes, desnudando-a para ter-lhe a cachoeira de sua fonte hibernando a volúpia – da vilegiatura ao êxtase, arqueando triunfal para que eu me enterre na sua terra pura que hoje tem e depois também. Aí lavrei em sua carne noturna o poema com meus versos mortais por suas margens curvas, o convexo ventre e sua joia côncava rutilante, a brindar no seu cálice auspicioso, o seu alvo imperecível, seu hangar - bendita seja a sua peçonha porque sou viciado Príapo para acicatá-la plenipotenciária, destra e retesada, atravessada adepta nas proezas que nunca envelhecerão, porque nela sou constante estado de graça, amanhã eu não sei. Até mais ver.

Veja mais aqui.

 


segunda-feira, janeiro 07, 2019

RUBEM BRAGA, JOÃO CÂMARA, LÍDIA BAZARIAN & ESCRITOS NA AREIA


ESCRITOS NA AREIA – Para quem sabe ou não, o Sol nasce para todos de uma forma ou de outra: cada um presta atenção como pode ou quer. O que sei é que quando me dei conta de que tudo sabia, parecia nada, apenas um fantasma enredado, um mudo sonhador diante: “A grande senda não possui portões. Milhares de estradas entram nela. Quando alguém atravessa o portal sem portões caminha livremente entre o céu e a terra”. Ora, era tudo muito complicado ao entendimento, sempre. Então, segui a estrada que pude para encontrar a entrada certa: quando não houver portões, para entrar é preciso inventá-los e depois suprimi-los, só assim o verdadeiro portal será atravessado. E me reinventei com a primeira flecha, leve; a segunda, penetrou profundamente. Aí o mundo era outro: tão amplo pra quem vê o som, ouve a luz e nada diz, cheira a vida, digere a tigela com as cascas e sementes de todas as coisas, toca tudo na concha da mão vazia: como é lindo testemunhar os pássaros cantando entre as flores perfumadas de todos os matizes. Quase sabia que pro cego de nariz alto tanto faz a luz ou a escuridão; e mesmo que ele leve uma lanterna, também será pro outro se estiver apagada: ninguém saberá dele. Um pouco mais: pra quem determinado ou pretendente das amenidades, algo pode se abrir a qualquer momento, o ouro do pó ou iluminação: só quem souber será premiado. E eu me vi no embarque do aeroporto pra imensidão do céu, do cais pras profundezas dos oceanos, da porta de casa pra ganhar as ruas e rodovias do fim do mundo. Enfim, a vida é a confluência de todos os caminhos e nenhum. As ilusões perturbam e, quando menos se espera, fenecem e se dissolvem, só assim se sabe do engodo: navios em águas rasas, sandálias na cabeça, o osso da língua - o tolo não sabe qual a primeira ou a última verdade, o erro sai pela boca e a fala tagarela é como o peixe encontra o anzol. Isso sou eu, patético. De outra forma, o drama jamais seria comédia porque não se luta com as armas alheias, não se cavalga com o cavalo de outro. É preciso perdoar e não só pancadas por não se saber digerir a verdade, qualquer que ela seja. Só depois de quinhentos renascimentos, o coração realiza pelas dez partes do mundo, seguindo as pegadas dos 10 Touros para entrar no portal sem portões. Sim, tentei, segui. Procuro escrever cartas legíveis, meus garranchos se escondem aos relâmpagos, as palavras não resistem a um piscar de olhos: ninguém ouve entre o instante e o infinito tempo, meus pés pisam a Terra pura: onde houver lógica não haverá graça, nada faz sentido. Dentro da minha casa os sábios me desconhecem e ninguém, muito menos, sabe do jardim invisível que cultivo iluminando cada uma das minhas vértebras para aprender que o caminho é a vida diária e o outro que continue o poema. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS
Ir à praia cedo, como na infância. as ilhas no horizonte ainda estão veladas pela névoa da madrugada. O mar andou bravo esta noite, arrancando algas e mexilhões das pedras, em seu grande assanhamento de lua; respirar seu hálito acre; dar um mergulho na água fria, na praia ainda solitária, levar umas pancadas de onda, voltar para o sol na areia. E andar à toa ao longo da praia, chapinhando na espuma branca. Mas encontro, com surpresa, uma senhora conhecida. [...] Eu me afasto mais; longe, me sento na areia, e fico olhando o quadro. Contra a luz, já não distingo as feições nem ouço a voz da mulher. Assim, com a silhueta cortada contra a luz que se reflete no chão molhado, ela parece estar nua com o seu menino. É apenas uma jovem fêmea que ensina o mar e o mundo à sua cria; transmite-lhe a experiência da espécie e o sentimento dos deuses; na sua graça matinal esse batismo tem uma beleza solene.
Crônica Batismo (Rio, setembro, 1959), extraída da obra Ai de ti, Copacabana (Record, 2006), do escritor Rubem Braga (1913-1990). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

DEZ CASOS DE AMOR DE JOÃO CÂMARA
Dez casos de amor e uma pintura de Câmara (1977) é o título de uma série reunida em um caderno de fontes com diversas litografias, um tríptico, pinturas, gravuras, montagens e objetos do premiadíssimo pintor paraibano residente em Olinda – PE, João Câmara. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje curta na Rádio Tataritaritatá a música da pianista e professora Lídia Bazarian: Poemeto, Miragem, Manhã e Segundo Solo para Cortázar. Para conferir é só ligar o som.
E mais:
O Sol nasce paratodos aqui.
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Vale do Una aqui.
&
Missiva do Esconjurado, Walter Benjamin, Uma Carta de Miguel Jasseli, A musa sem máscara de Maria Áurea Santa Cruz, Um poema de Lourdes Sarmento aqui
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Música aqui Veja aqui.
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quinta-feira, fevereiro 08, 2018

WALT WHITMAN, RUBEM ALVES, HEISENBERG, RUBEM BRAGA, MARLOS NOBRE, MURILO MENDES, OPHÉLIE GAILLARD, LOLA ÁLVAREZ BRAVO, YOLANDA MOHALYI & BRUCE TIMM

ELUCUBRAÇÕES À TOA & MEROS DISLATES – Imagem: arte da pintora e desenhista húngara Yolanda Mohalyi (1909-1978). - UMA: O FLERTE & O FIM DO MUNDO – Olhela! Era ela, aquela que havia escolhido para ser a mãe dos seus filhos. Ela não sabia, por enquanto. E a perseguia aonde quer que fosse: corredores, classes, becos, esquinas, ruas. Saísse de casa, descobria pela destrava do trinco abrindo o portão, é ela, sabia, e era ela, perseguição dos olhos, afã da paixão. Subia galhos por cima do muro, era ela no quintal; pelas brechas dos combogós, era ela na intimidade do seu lar; pela fresta da porta, era ela à vontade na sala. Da classe olhava pra dela, esperava ela sair da sua, porta fechada. De repente lá ia pra toalete, riscava calcanhares e invadia o sanitário do outro lado e de uma fissura privativa na parede, dava pra vê-la ajeitar-se ao espelho. Ao sair, acompanhava seus passos elegantes dançando no coração. Fazia de tudo para cruzar-lhe o caminho, ou encontrá-la assim do nada vindo ou indo, ou sei lá, esbarrando numa esquina, tramava, provocava e esgueirava até nada de acontecer. Queria ao menos que ela o visse, que desse conta da sua existência, seu olhar sempre do lado oposto e isso o fazia sair feito louco de onde estava para ir ao encontro de sua visão do outro lado, ela desvirava e pra lá e pra cá, jamais coincidindo de estar frente a frente com ela. Quanta falta de sorte a dele. Viu, então, que não acertava, jamais, não dava certo, não era pra ser dele, infelizmente. Deixou de mão. E quando menos esperava, lá estava ela desolada no batente. Era a sua vez, e agora, não podia desperdiçar. Ou agora ou nunca! Tremia dos pés à cabeça, o que dizer e o que falar, fazer, não sabia, perdeu a noção de tudo, pouco importa, é pra ela que vai expressar a sua intuição. Vai ser agora e foi. Ao se aproximar, ao seu lado, nem levantou os olhos nem se virou pra vê-lo, ela lá, envolta em seus pensamentos. Aproximou-me silente, discreto, na ponta dos dedos. Ao se encostar à parede, pronto pro flerte num contato de sexto grau, respirou fundo, é agora, dobrou a perna, o pé na parede e o inesperado: Poim. Danou-se, disse ela. E fitou pela primeira vez, uma mão ao nariz, olhos arregalados e uma saída inexperada com uma fala anasalada: Peidão da porra, meu! E nunca mais ela apareceu na vida. DUAS: A PAIXÃO & A SEGUNDA TRAGÉDIA - Dinalva era linda, extremamente bonita: os olhos vivos, o riso encantador, a estatura idílica, o jeito apaixonante de ser. As flores, as rosas, os jardins eram mais coloridos e intensos quando ela passava; o Sol brilhava mais ameno, a Lua era o reflexo do seu brilho, tudo era mais vivo quando ela aparecia, porque tudo nela transpirava vividez exaltada. Um feitiço emanava dela, só podia ser, e eu mais que encantado no rol de sua plateia, maravilhado e irrequieto. O que me impressionava mais é que ela ouvia, ria e falava com todos, distribuindo sua simpatia a quem aparecesse, peito aberto pra quem chegasse. Dela eu queria mais, muito mais, impossível, era pra tudo e pra todos. Um ser como ela não servia pra tomar exclusividade, sempre livre, libertária. Eu seguia seus passos, a sua refulgente simpatia, a sua cativante serenidade. Hoje eu cheguei aqui, ela não estava. Será que viajou e não me disse? Procurei saber, nada disseram, um silêncio e gestos contidos. Ao perguntar os olhos me evitaram, ninguém respondia. Quanto mais perguntava, mais se eximiam, afastavam. O que houve? A ausência da coragem de todos me fez invadir todo recinto, assim fiquei sabendo. Isso não tem a menor graça. Dinalva se matou. TRÊS: ANTEMÃO E ATÉ JÁ - Gente feita, achava e não era, na verdade, mas caí no mundo, era eu diante da incompletude e meu próprio destino, a pele da palavra na surdez dos muros e paredes altas. Era como perder o mundo entre abraços avulsos e a solidão na doçura do tato. Vinham-me os apelos das lembranças aos gritos no impasse do tempo, medo de mergulhar no passado e nunca mais sair do escuro da existência, nunca mais voltar com os olhos acesos na noite. A rua passeava pela melancolia e eu sabia: as paixões tanto exaltam como devoram, são as escolhas que definem o futuro e o peito deserto na rua que é tanta, quantas páginas de duração, um tanto pra lá, outro pra cá, episódios em retalhos por corredores compridos e imensos, um túnel que desemboca em nada. Era pra saber que a loucura é uma caverna perdida, mas não, esqueci e sem saber a primeira lapada da vida doeu no osso do mucumbu. Doeu muito, nem sei se aprendi. É só recomeçar e da estaca zero fui em frente, a segunda lapada não demorou: caiu o retrato na parede. Não adiantava mudar de nome, só me restava pegar o alicate e espremer o dedo. E mais espremi, não devia, a dor não me ensinava, piorava, talvez não esteja de todo errado. Daí a pouco a terceira lapada veio com gosto de sangue na língua e, por isso, lembrei a primeira e a segunda, não havia mesmo aprendido, a vida por um fiapo, o gesto da natureza morta, a incompreensão do sem-fim e um inferno de presente. Queria saber quem tece a vida dos sobreviventes, pedras entre rastros, ecos de longínguos e a lâmina dos segredos. Quase adivinho: a vida é mentira pouca e nenhuma poesia: ontem se fez hoje, cominhos de sol e as mãos ao luar. Pernas pra que te quero, errâncias no meio, sou do que não valeu. Quais perdidos sonhos de outra vida, calafrio que fui dia na ponta dos dedos: tudo está no que nada se parece. Coração aceso na boca, toda memória no espelho e as mil faces secretas do silêncio. Ainda uma vez estou vivo ao amanhecer. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com o pianista, maestro e compositor Marlos Nobre: Yanomami for choir & guitar com o Coro Cervantes, Passaglia for Orchestra & Três Cantos de Yemanjá for cello & piano; a Sonata for cello & piano nº 1 op 38 de Brahms, Grand Tango de Astor Piazzolla, Água e Vinho de Egberto Gismonti & O canto do cisne negro de Villa-Lobos, da violoncelista francesa Ophélie Gaillard & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIASermões e lógica jamais convencem. O peso da noite cala bem mais fundo em minha alma. Pensamento do poeta, ensaísta e jornalista estadunidense Walt Whitman (1819-1892). Veja mais aqui.

CIÊNCIA ATUAL - [...] A cisão cartesiana penetrou fundo na mente humana nos três séculos após Descartes, e leverá muito tempo para ser substituída por uma atitude diferente diante do problema da realidade. [...]. Trecho extraído da obra Física e filosofia (EdUnB, 1995), do físico e Prêmio Nobel de 1932, Werner Heisenberg (1901-1976), laureado pela criação da mecânica quântica, cujas aplicações levaram à descoberta, entre outras, das formas alotrópicas do hidrogênio. Veja mais aqui.

É ASSIM QUE ACONTECE A BONDADE - [...] A solidariedade é a forma visível do amor. Pela magia do sentimento de solidariedade, meu corpo passa a ser morada do outro. É assim que acontece a bondade. [...] Para isso as palavras do conhecimento são inúteis. Seria necessário fazer nascer ipês no meio de gelos e das areias! E eu só conheço uma palavra que tem esse poder: a palavra dos poetas. Ensinar solidariedade? Que se façam ouvir as palavras dos poetas nas igrejas, nas escolas, nas empresas, nas casas, na televisão, nos bares, nas reuniões políticas, e, principalmente na solidão... “O menino me olhou com olhos suplicantes. E, de repente, eu era um menino que olhaca com olhos suplicantes”. Extraído da obra As melhores crônicas (Papirus, 2008), do psicanalista, educador, teólogo e escritor Rubem Alves (1933-2014). Veja mais aqui e aqui.

O SENHOR ALBERTO, AMIGO DA NATUREZAO livro é impresso em Prudentópolis, no interior do Paraná, e se chama Manual do caçador ou Caçador brasileiro. Seu autor, é o sr. Alberto de Carvalho, que não tem prática de escrever, mas de caçar tem. Fala de cães, e como usá-los; e dos bichos do mato, e como mata-los. O sr. Carvalho nos avisa que os poetas têm falaod do mavioso canto do sabiá, mas não dizem nada de sua saborosa carne. Ele, o sr. Carvalho, come sabiá, de resto come tudo, inclusive macaco. Para caçar rolas, aconselha-nos fazer cevas com milho, quirera ou arroz. As rolinhas se acostumam a ir comer toda manhã, e uma bela manhã – pum! O sr. Carvalho conta, com exclamações deliciadas, que já viu um só tiro matar dezesseis rolas. Mais difícil é caçar papagaios, cuja carne, aliás, não presta. Mas assim mesmo vale a pena, porque “a chehada de um caçador carregado de papagaios é sempre aplaudida em conseuqneicta da beleza da plumagem”. (É um esteta, o sr. Carvalho). Falando-nos de tucanos ele não informa se a carne é boa ou má, mas a verdade é que fala bem dos tucanos. “Pela beleza da plumagem constituem um belo alvo”. Garante que é possível mestiçar uru com galinha garnisé, e que é mesmo infalível a receita de desentocar tatu com o auxilio de um pauxinho ou do dedo aplicado em certo lugar, convindo “segurá-lo fortemente com a outra mão pela cauda, porque do contrário ele espirrará pela porta afora com assombrosa agilidade”. Quanto aos veados, não há dificuldade: “Em geral eles têm seu lugar de morada ou paradouro, de onde não se afastam para longe, exceto quando corridos”. O sr. Carvalho ensina também como asfixiar cutias com fumaça, no oco do pau. Enfim, o sr. Carvalho é, como ele mesmo diz, um amante da Natureza! Extraído da obra As boas coisas da vida (Record, 2010), do escritor Rubem Braga (1913-1990). Veja mais aqui.

GRAFITO PARA IPÓLITA - 1 – A tarde consumada, Ipólita desponta. / Ipólita, a putain do fim da infância, / nascera em Juiz de Fora, a família em Ferrara, / seus passos ferminantes fundam o timbre. / Marcha, parece, ao som do gramofone. / A cebeleira-púbis, perturbante. / Os dedos prolongados em estiletes. / Os lábios escandindo a marselhesa / do sexo. Os dentes mordem a matéria. / Os olhos meduseu sacode o espaço. / O corpo transmitindo e recebendo / o desejo o chacal a praga o solferino. / Pudesse eu decifrar sua íntima praça! / Expulsa o sol-e-dó, a professora, o ícone. / Só de vê-la passar, meu sangue inobre / desata as rédeas ao cavalo interno. 2 – Quando tarde a revejo, rio usado, / já a morte lhe prepara a ferramenta / deixa o teatro, a matéria fecal. / Pudesse eu livertar seu corpo (Minha cruzada!) / Quem sabe, agora redescobre o viso / da sua primeira estrela, esquartejada. 3 – Por ela meus sentidos progrediram. / Por ela fui voyeur antes do tempo. 4 – O dia emagreceu. Ipólita desponta. Poema extraído da obra Melhores poemas (Global, 2000), do poeta e prosador do Surrealismo brasileiro, Murilo Mendes (1901-1975). Veja mais aqui e aqui.

A FOTOGRAFIA DE LOLA ÁLVAREZ BRAVO
A arte da fotógrafa mexicana Lola Álvarez Bravo (1903-1993).

Veja mais:
No país da sabiduria, só sabido ganha jogo!, a literatura de Alfosno Hernández Catá, a fotografia de Sebastião Salgado, a escultura de Michael Malfano, a música de Zé Paulo Becker & o grafite de Pedro Sangeon aqui.
Cheiro da felicidade & Segunda feira do Trâmite da Solidão aqui.
Caboclinhos aqui.
O frevo aqui.
Martin Buber, Julio Verne, Rick Wakeman, Pier Paolo Pasolini, Abelardo & Heloisa, Vangelis, Gustave Courbert & Arriete Vilela aqui.
Empreendedorismo & o empreendedor aqui.
A fotografia de Sebastião Salgado aquiaqui.
Uma cachaçada e uma casa no meio da rua aqui.
O trânsito e a fubica do Doro aqui.
A varanda na noite do amor aqui.
A obra de Pedro Abelardo, Projeto Carmin & Cruor Arte Contemporânea aqui.
Recontando Caetano Veloso & Podres Poderes aqui.
&
Recitando Castro Alves & O Navio Negreiro aqui.

A ARTE DE BRUCE TIMM
A arte do ilustrador, animador, escritor e produtor estadunidense Bruce Timm.

 

sexta-feira, novembro 10, 2017

TRANSTRÖMER, HESSE, RUBEM BRAGA, LEWIS CARROLL, NINON DE LENCLOS. EDUCAÇÃO DE SAVATER, CARLO MOLLINO & CAMOCIM

A SEXTA É O DIA! – Pra José Zé a sexta sempre era o dia! Até sua vida descambar, a sexta sempre foi o seu dia preferido. O sábado não, pois era dia de feira e de afazeres domésticos. Logo cedo pegava as sacolas e se mandava pra feira com os trocados nos bolsos, arengar com feirantes, justando o preço do inhame, pechichando os tomates, especulando pelas cebolas, regateando por tudo, galinhas, cenouras, feijão, arroz, queijo de coalho, bananas, disputando frutas, legumes, raízes e verduras – o preço da carne de boi estava pela hora da morte, de porco muito menos, bode não dava, peixe só se fosse cundunda -, basta, pra quem levou quatro sacolas, voltar com uma e meia de mantimentos, já estava no lucro: foi o que o dinheiro deu mesmo. Em casa todo pavoneado, exibindo as compras como troféu: tem que dar pra semana toda! Aí ia se dedicar aos afazeres domésticos: consertar a descarga do banheiro que vazava por todo lado, o chuveiro que tinha água pela parede e não pingava água no banho, as caqueiras da varanda, o varal despencado, as telhas pras pingueiras, a lavanderia entupida, os rebocos da parede, almoçava a comida misturada a cimento e cal, voltava pros consertos, se danava na faxina, uma lapada da pinga, uma louraça suada lavando tudo, banho meticuloso, jantava aos peidos e arrotos, caía na cama que amanhã é domingo. O domingo também não, era dia de missa logo cedo na matriz, reza pro devotado, atualizar os pedidos de perdão com seus protetores pelos pecados que escapuliram quando nem queria mesmo pecar, a confissão nos pés do padre, a hóstia e calado pra casa pagar as penitências. Depois disso, aboletava-se no sofá que precisava duns ajeitados, mas deixara para o próximo sábado, agora era hora de ver a corrida de Fórmula 1 e sonhar piloto nos circuitos automobilísticos para orgulhar a nação brasileira como Fitipaldi, Piquet e Senna, seus heróis. Com isso, entornar duas lourinhas suadas, ficar todo ancho, comer de tudo sem culpa nem arrependimento, deitar-se na rede e roncar a tarde toda até a hora do futebol na tevê. Nem devia ter assistido, o jogo foi uma droga, seu time de coração perdeu de feio, melhor comer alguma coisa e ir pra cama que amanhã é de branco. A segunda também não, dia de batente e de ficar esperto, todo mundo dava nó em pingo d’água e ele tinha que obrar milagres: do nada arrancar alguma moeda pro sustento. Ao meio dia, a marmita e uma passada rápida no barbeiro: E aí, Ocride, sexta? Sexta está de pé. Já mandou a carta? Ainda estou escrevendo. Inté mais. Inté. A tarde passa num pulo e a gororoba do domingo faz efeito no bucho, desanranjo, cama, amanhã é terça. A terça também não, dia de cumprir a obrigação à noite com a matriz do seu coração: a madame está no quarador só olhando pros pés dele de soslaio. É hoje, mulher! A manhã passava rápido com a ocupação, no almoço o de sempre na marmita, uma passada no Ocride: E sexta, barbeiro? Sexta está marcada, não se atrase. Inté. Inté. A tarde foi-se como num pinote, chegou ao lar, pegou o calção, a bola e gritou pra esposa: É hoje, mulher! Chego já. Depois da pelada no campinho, lá vem ele todo destroçado, banho demorado e correndo pra cama cair na função. Um ajeitado com um beijo estalado, encarca as carnes, abre caminho e manda ver! Ufa! Vira do lado e ronca a madrugada toda. A quarta também não, serviço, almoço, Ocride: Até sexta! Inté. A tarde voa, corre pra casa, liga a tevê pra ver o noticiário, enquanto sonha um dia poder comprar uma tevê a cabo, se contenta com a pé de galinha e os quatro canais disponíveis. Enrola o tempo enquanto o jogo não começa, cutuca a mulher, faz uma boquinha e corre pra ver o apito do juiz. Melhor nem tivesse assistido, perde de novo: Esse time ainda me mata do coração. O pior era a gozação no dia seguinte. A quinta, também não, logo cedo a agonia da véspera, a mangação com o resultado do jogo. Fazia tudo atrapalhado, olhando pro relógio, conferindo o celular pé duro chingling que só liga e recebe, nada mais funciona; o almoço, a passada no barbeiro: É amanhã, Ocride! É, amanhã. Inté. Inté. A tarde logo escurece e depois das voltas na mesa, resolve dormir cedo pra sexta chegar mais depressa. Enfim, a sexta: É hoje! Mais atrapalhado que o dia anterior, nem trabalha direito, pois tudo que faz dará retorno na próxima semana, ah, nem aí, sem ligar pra nada, almoço, barbeiro: É hoje, Ocride! É hoje. Inté. Inté. Olha tanto pro relógio que reclama: Hoje chega sábado, mas não chega sexta de noite. Bate o pé, zanza de lado, dá voltas, arruma o que fazer, juízo não funciona, tudo dele, corpo, alma, pensamento e astucias tudo só no seu desejo. Quase tem um troço de agonia quando vê Ocride vindo ao seu encontro: Vamos? Vamos. Saem juntos, vão pro carteado, leva toque e perde a partida, pouco importa, Ocride pigarreia, olha pro lado, confere tudo e se vira pra ele: Vamos! Seguem juntos. Ao se aproximar ouvem os tambores, Ocride manda que ele aguarde do lado fora e entra no recinto barulhento, mais de hora em pé na porta, esperando, quando aparece de repente aquela morenaça escorreita, assanhada, bem feita, risonha e reboladeira que vai fazer sua vida valer por muitas outras no maior dos chambregos até altas horas da noite. É hoje que vou lavar a égua! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com o violonista Turíbio Santos: Violão Sinfônico & Orquestra de Violões; a pianista Magda Tagliaferro com recitais da obra de Heitor Villa Lobos; o violonista Álvaro Henrique com a Suíte Candanga & Villa Lobos; e a pianista Anna Stella Schic com prelúdios & infantis de Villa Lobos. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA - O amor é um sentimento tirânico e zeloso, que somente se satisfaz quando a pessoa amada lhe sacrifica todos os seus gostos e todas as suas paixões. Nada se faz, se não se faz tudo. [...] O amor sem desejo é uma ilusão, não existe na natureza. Pensamento da escritora, cortesã e patrona das artes francesa Ninon de Lenclos.

QUE EDUCAÇÃO É ESSA? – [...] A educação está orientada a ensinar-me a reprimir nossos desejos incontrolados. Se você mesmo não o faz, há toda uma legislação destinada a reprimi-lo [...]  educação implica limitação do ser humano como base de uma determinada cultura. Quer dizer, o que a própria cultura considera que pode ser criativo ou não. Tem inicio, então, as decisões ideológicas individuais, que se referem a como lidar com os limites sociais dentro de certa cultura. A educação é, por excelência, a arma da censura. É a forma que a sociedade tem para indicar o que não deve ser feito. A palavra em hebraico para educação é jinuj, que pode implicar educação ou em seu extremo, afogamento, sufoco. [...]. Trecho extraído da obra Os sete pecados capitais (Ediouto, 2006), do escritor e professor catedrático espanhol Fernando Fernández-Savater.

CAMOCIM DE SÃO FÉLIX - Camocim era inicialmente distrito de Bezerros. Depois passou-se a denominar Camocituba por conta do Decreto-Lei estadual 952, de 31 de dezembro de 1943, e município pela Lei municipal 02, de 20 de abril de 1993. A Lei estadual 1818, de 29 de dezembro de 1953, criou o município de Camocim de São Felix, tendo sido instalado em 15 de julho de 1954. Anualmente, no dia 29 de dezembro, o município comemora sua emancipação política. Administrativamente é formado apenas pelo distrito-sede e pelo povoado de Santa Luzia, em conformidade com a Enciclopedia dos Municipios do Interior de Pernambuco (FIAM/DI, 1986). Veja mais aqui.

CHAGRIN D’AMOUR - [...] Fez uma profunda reverencia e aceitou, vacilante, o alaúde que lhe trouxeram. Enquanto dedilhava agilmente as cordas do instrumento, não tirava os olhos da rainha. Cantou então uma canção de amor que, há anos compusera em sua pátria. Depois de cada sextilha havia um refrão de dois versos simples, que soavam melacolicamente e brotavam do coração magoado do trovador. É esses dois versos, que foram ouvidos nessa noite pela primeira vez, logo se tornaram conhecidos e muito cantados por toda parte. Assim diziam: O prazer do amor dura apenas um momento, / As mágoas de amor duram a vida inteira. [...] Não voltou para o acampamento e caminhou em outra direção, para fora da cidade, noite adentro, decidido a renunciar aos ideais de cavalaria andante e a levar uma vida sem pátria, como trovador. [...] Através dos séculos, nada sobrou senão um punhado de nomes de arrevesada pronuncia e sabor antigo. Mas aqueles versos do jovem cavaleiro e trovador são cantados ainda hoje. Trecho de Chagrin D’Amour, extraído da obra O livro das fábulas (Civilização Brasileira, 1975), do escritor alemão Hermann Hesse (1877 – 1962). Veja mais aqui e aqui.

VOTOS PARA O ANO NOVO – [...] Dizem que o crime não compensa. E a virtude, compensará? Espero que sim; mas talvez só outro mundo. Neste aqui não sei; mas conheço pessoas virtuosas que me parecem tão azedas, tão infelizes, tão entediadas, tão sem graça com a própria virtude que dão vontade da gente dizer: - Está muito bem, nossa amizade, você é formidável. Mas assim também enjpa. Pegue pelo menos uma vezinha, sim? É bom para relaxar. [...] Desejo a todos, no Ano Novo, muitas virtudes e boas ações e alguns pecados agradaveis, excitantes, discretos,e, principalmente, bem sucedidos. Trecho do Votos para o Ano Novo, extraído da obra As coisas boas da vida (Record, 2010), do escritor Rubem Braga (1913-1990). Veja mais aqui, aqui e aqui.

PRESENTE DE AMORCriança da pura fronte sem névoas / e sonhadores olhos de espanto! / Embora o tempo seja veloz / e meia vida separa você e eu / seu adorável sorriso bem certo saudará / o presente de amor de um conto de fadas. Trecho extraído da obra Através do Espelho (Circulo do Livro, 1983), do escritor, desenhista, fotografo e matemático Lewis Carroll (1832-1898). Veja mais aqui.

PÁSSAROS MATINAIS DE TOMAS TRANSTRÖMER
Desperto o automóvel
que tem o pára-brisas coberto de pólen.
Coloco os óculos de sol.
O canto dos pássaros escurece.
Enquanto isso outro homem compra um diário
na estação de comboio
junto a um grande vagão de carga
completamente vermelho de ferrugem
que cintila ao sol.
Não há vazios por aqui.
Cruza o calor da primavera um corredor frio
por onde alguém entra depressa
e conta como foi caluniado
até na Direção.
Por uma parte de trás da paisagem
chega a gralha
negra e branca. Pássaro agoirento.
E o melro que se move em todas as direcções
até que tudo seja um desenho a carvão,
salvo a roupa branca na corda de estender:
um coro da Palestina:
Não há vazios por aqui.
É fantástico sentir como cresce o meu poema
enquanto me vou encolhendo
Cresce, ocupa o meu lugar.
Desloca-me.
Expulsa-me do ninho.
O poema está pronto.
Poema extraído da obra 50 poemas (Relógio D’Água, 2012), do poeta, psicólogo e tradutor sueco, Prêmio Nobel de 2011, Tomas Tranströmer (1931-2015).

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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do fotografo, arquiteto e designer Carlo Mollino (1905-1973).
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sábado, dezembro 24, 2016

RUBEM BRAGA, ERNESTO NAZARETH & TERESA MADEIRA, PERRON, WILHELM MARSTRAND & XOTE DE NATAL

O XOTE NO AUTO DE NATAL – Desde o início do ano passado que Jesus vinha numa embalagem só: solitário, ignorado, triste, endividado. Não lhe sobrara nada dos últimos anos, só a roupa do couro e uma mão na frente, outra atrás. Tanto trabalhara, correra e se ocupara, tanto fizera para superar as dificuldades, não conseguira: ninguém para estender-lhe a mão, antes portas fechadas. Era noite de natal, mais uma vez sozinho, não tinha nada para fazer nem para onde ir. Mesmo assim, resolveu caminhar. Deparou-se com a encenação de um Auto do Presépio e ficou ali entretido com a representação, emocionando-se com a história, a ponto de algumas lágrimas escorrerem por suas faces. Ao final constatara: um Jesus tal como ele, também sofrera revezes. Saiu, então, enchendo as ruas de pernas, quando tropeçou num cotoco de craíba. Ao invés de maldizer daquilo, tomou às mãos e seguiu seu caminho. Teve uma ideia: com aquele graveto ia fazer a sua própria árvore. E pensou: não era um pinheiro, mas dava bem pra fazer de contas. Nada mais tinha para tal e ficou pensando como fazer o que pretendia. Aí juntou umas metralhas com barro e fez a base. Com alguns retalhos começou a revestir e a dar forma ao seu intento. Ao seu modo, ficou uma beleza de árvore de natal e ficou contemplando. Nem dera por conta da aproximação de uma bela mulher, muito formosa e elegante que disse: - Não se entristeça, veja como foi feliz quando criança. – Quem é você? Sou Clotilde, a Mulher da Sombrinha, aquela que traz de volta o seu passado. Aprenda e refaça o seu presente. Disse-lhe isso e desapareceu. Realmente, quando criança fora muito feliz com seus pais, agora não mais, órfão no mundo, sem ter com quem dividir seus momentos de existência. Revivendo suas belas imagens da infância e juventude com sua família, percebeu a presença de um besouro zunindo ao seu redor. Agoniado com a presença daquele indesejável inseto, logo tentou espantá-lo para longe, quando ficou maravilhado ao perceber que se transformara numa linda mulher que lhe falou: - O passado construiu o presente. O futuro se faz agora. – Quem é você? Sou Coatilicue, o seu presente e que me conhece como Cumade Fulôzinha, acompanho sua vida como o besouro Mãe do Sol. Dito isto, ela novamente se transformou no besouro e saiu voando. Ele, então, ficou consigo pensando como construir o futuro agora, já que não tinha nada nem sabia por onde começar. Já estava se aborrecendo com a sua falta de sorte, sua incompetência, sua completa falta de senso para mudar sua vida noutra diferente, quando surgiu uma terceira mulher, muito mais bonita e mais alta que as demais, com um vestido branco que iluminava prateado e transparente, mostrand0-lhe as suas sedutoras formas, sem que jamais distinguisse suas faces cobertas com seus negros e longos cabelos. - Quem é você? -, perguntou-lhe. – Sou a Uiara do Una, a Mãe d’Água, Iemanjá, o seu futuro e morte. Os olhos dele quase pulavam fora diante de tanta formosura, temendo ter um troço diante de ser tão majestoso e bater as botas na hora. – Quer fazer um futuro diferente? Sim, evidente que quero, mas como fazer? Comece sorrindo e ofereça essa rústica árvore que você mesmo construiu a uma criança que encontrar, logo saberá como construir o futuro no presente. Dito isto, ela sumiu da mesma forma que aparecera. Ele olhou dos lados, tomou a sua criação entre as mãos e à primeira criança que encontrou ele a oferecera. E quando viu o lindo riso da criança, ele sentiu pela primeira vez na vida que nada seria mais valioso. Aquele sorriso fora a motivação que precisava para fazer muitas outras árvores com cotocos de craíbas, metralhas e retalhos e, com isso, pode fazer muitas crianças felizes. E com a felicidade delas ele aprendeu a verdade e, a partir de então, nunca mais se vira sozinho nem triste nem desolado, estava ele feliz na noite de natal, ao embalo de um trio pé-de-serra no maior trupé, e quando olhou direito, cada uma daquelas mulheres estava disfarçada de músicos, cada uma na sanfona, no triângulo e na zabumba, o xote da trindade natalina. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui

 Curtindo o Box Ernesto Narzareth (Laranjeiras Records, 2016 - 12 cds) com a obra completa do pianista e compositor Ernesto Nazareth (1863-1934), na interpretação da pianista Maria Teresa Madeira. Veja mais aqui.

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Renascendo das cinzas na véspera de natal, Goethe, Federico Fellini, Zygmunt Bauman, Harvey Spencer Lewis, Ana Maria Machado, Olivia Byington, Yuri Krotov, Nikolaj Wilhelm Marstrand, Da Priapeia, Clara Redig & Maria Eduarda Rodrigues aqui.


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Crônica natalina, John Keats, Lampedusa, Gregório de Matos Guerra, Betinho, Chet Baker, Paulo Cesar Sandler, Franco Zeffirelli, Willy Kessels, Hans Makart & Teatro Renascentista aqui.
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DESTAQUE: CONTO DE NATAL DE RUBEM BRAGA
Sem dizer uma palavra, o homem deixou a estrada andou alguns metros no pasto e se deteve um instante diante da cerca de arame farpado. A mulher seguiu-o sem compreender, puxando pela mão o menino de seis anos.
— Que é?
O homem apontou uma árvore do outro lado da cerca. Curvou-se, afastou dois fios de arame e passou. O menino preferiu passar deitado, mas uma ponta de arame o segurou pela camisa. O pai agachou-se zangado:
— Porcaria...
Tirou o espinho de arame da camisinha de algodão e o moleque escorregou para o outro lado. Agora era preciso passar a mulher. O homem olhou-a um momento do outro lado da cerca e procurou depois com os olhos um lugar em que houvesse um arame arrebentado ou dois fios mais afastados.
— Péra aí...
Andou para um lado e outro e afinal chamou a mulher. Ela foi devagar, o suor correndo pela cara mulata, os passos lerdos sob a enorme barriga de 8 ou 9 meses.
— Vamos ver aqui...
Com esforço ele afrouxou o arame do meio e puxou-o para cima.
Com o dedo grande do pé fez descer bastante o de baixo.
Ela curvou-se e fez um esforço para erguer a perna direita e passá-la para o outro lado da cerca. Mas caiu sentada num torrão de cupim!
— Mulher!
Passando os braços para o outro lado da cerca o homem ajudou-a a levantar-se. Depois passou a mão pela testa e pelo cabelo empapado de suor.
— Péra aí...
Arranjou afinal um lugar melhor, e a mulher passou de quatro, com dificuldade. Caminharam até a árvore, a única que havia no pasto, e sentaram-se no chão, à sombra, calados.
O sol ardia sobre o pasto maltratado e secava os lameirões da estrada torta. O calor abafava, e não havia nem um sopro de brisa para mexer uma folha.
De tardinha seguiram caminho, e ele calculou que deviam faltar umas duas léguas e meia para a fazenda da Boa Vista quando ela disse que não agüentava mais andar. E pensou em voltar até o sítio de «seu» Anacleto.
— Não...
Ficaram parados os três, sem saber o que fazer, quando começaram a cair uns pingos grossos de chuva. O menino choramingava.
— Eh, mulher...
Ela não podia andar e passava a mão pela barriga enorme. Ouviram então o guincho de um carro de bois.
— Oh, graças a Deus...
Às 7 horas da noite, chegaram com os trapos encharcados de chuva a uma fazendinha. O temporal pegou-os na estrada e entre os trovões e relâmpagos a mulher dava gritos de dor.
— Vai ser hoje, Faustino, Deus me acuda, vai ser hoje.
O carreiro morava numa casinha de sapé, do outro lado da várzea. A casa do fazendeiro estava fechada, pois o capitão tinha ido para a cidade há dois dias.
— Eu acho que o jeito...
O carreiro apontou a estrebaria. A pequena família se arranjou lá de qualquer jeito junto de uma vaca e um burro.
No dia seguinte de manhã o carreiro voltou. Disse que tinha ido pedir uma ajuda de noite na casa de “siá” Tomásia, mas “siá” Tomásia tinha ido à festa na Fazenda de Santo Antônio. E ele não tinha nem querosene para uma lamparina, mesmo se tivesse não sabia ajudar nada. Trazia quatro broas velhas e uma lata com café.
Faustino agradeceu a boa-vontade. O menino tinha nascido. O carreiro deu uma espiada, mas não se via nem a cara do bichinho que estava embrulhado nuns trapos sobre um monte de capim cortado, ao lado da mãe adormecida.
— Eu de lá ouvi os gritos. Ô Natal desgraçado!
— Natal?
Com a pergunta de Faustino a mulher acordou.
— Olhe, mulher, hoje é dia de Natal. Eu nem me lembrava...
Ela fez um sinal com a cabeça: sabia. Faustino de repente riu. Há muitos dias não ria, desde que tivera a questão com o Coronel Desidério que acabara mandando embora ele e mais dois colonos. Riu muito, mostrando os dentes pretos de fumo:
— Eh, mulher, então “vâmo” botar o nome de Jesus Cristo!
A mulher não achou graça. Fez uma careta e penosamente voltou a cabeça para um lado, cerrando os olhos. O menino de seis anos tentava comer a broa dura e estava mexendo no embrulho de trapos:
— Eh, pai, vem vê...
— Uai! Péra aí...
O menino Jesus Cristo estava morto.
Conto de Natal (Nós e o Natal – AGGS, 1964), do escritor Rubem Braga (1913-1990). Veja mais aqui, aqui e aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do pintor dinamarquês Wilhelm Marstrand (1810-1873)
Veja mais aqui, aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: 
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.


ROSA MECHIÇO, ČHIRANAN PITPREECHA, ALYSON NOEL, INDÍGENAS & DITADURA MILITAR

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som de Uma Antologia do Violão Feminino Brasileiro (Sesc Consolação, 2025), da violonista, cantora, compos...