Ca' Rezzonico
O Ca' Rezzonico é um dos mais famosos palácios de Veneza, com a fachada principal voltada para o Grande Canal. Fica situado no sestiere de Dorsoduro. Actualmente acolhe um museu público dedicado ao século XVIII veneziano.
História
Origens - a família Bon
O Ca' Rezzonico ergue-se na margem direita do Grande Canal, no ponto onde se lhe junta o Rio di San Barnaba. O local foi previamente ocupado por duas casas pertencentes à família Bon, uma das famílias patrícias de Veneza. Em 1649, o chefe da família, Filippo Bon, decidiu construir um grande palácio naquele sítio. Com esse propósito, empregou Baldassarre Longhena, o maior defensor do barroco veneziano, um estilo que substituia lentamente o mais floral estilo gótico de tais palácios, como os vizinhos Ca' Foscari e Ca' d'Oro, construidos mais de 100 anos antes. No entanto, nem o arquitecto nem o cliente veriam a conclusão do Palazzo Bon: Longhena faleceu em 1682 e Filippo Bon sofreu um colapso financeiro. Permaneceu apenas fachada nobre voltada ao Canal Grande e um primeiro andar coberto por traves em madeira.
A família Rezzonico
O inacabado palácio foi comprado à empobrecida família Bon, em 1751, por Giambattista Rezzonico, proveniente duma família lombarda, os Della Torre-Rezzonico. A sua família, tal como os seus amigos do Palazzo Labia, havia comprado o ser nobre estatuto veneziano, em 1687, depois duma guerra com os turcos, quando os cofres do Estado Veneziano se encontravam vazios. Daí que fosse permitido aos meramente ricos, em oposição à opulenta aristocracia, fazer grandes doações à Sereníssima República, comprando, deste modo, patentes de nobreza e tendo os seus nomes inscritos no Libro d'Oro (o "Livro de Ouro").
Uma pintura de Canaletto, de inícios do século XVIII[1] mostra apenas o piso térreo e o primeiro andar nobre concluídos, com um telhado provisório protegendo a estrutura dos elementos. A conclusão do palácio simboliza a concretização da ascenção social dos Rezzonico. O pináculo do poder dos Rezzonico e a grandeza do palácio chegaram em 1758, quando Carlo, filho de Giambattista Rezzonico, foi eleito Papa como Clemente XIII, o mesmo ano em que Ludovico Rezzonico casou com Faustina Savorgnan em Veneza. Desta forma, duas das mais influentes famílias da cidade ficaram unidas pelos laços do matrimónio. No entanto, essa união, ao contrário do que era habitual na época, também era um casamento por amor, o que seria celebrado nos afrescos do palácio. O feliz casal desfrutou duma vida alegre e despreocupada no seu belo palácio, na cúpula da sociedade veneziana. Mais tarde, Ludovico tornou-se procurador da Basílica de São Marcos. Em 1810, a família havia-se extinguido, deixando apenas o seu estuoendo palácio para preservar o nome Rezzonico.
Do Século XIX a 1935
Nos primeiros anos do século XIX, o palácio esteve para se tornar num colégio Jesuita, embora, através de complicadas heranças, acabou por chegar às mãos da família Pindemonte-Giovanelli. Em 1832, a família vendeu todas as mobílias e colecções do palácio. Apenas os afrescos permaneceram in situ. Em 1837, o Ca' Rezzonico foi adquirido pelo Conde Ladislao Zelinsky, que por sua vez cedeu o palácio a uma sucessão de aristocráticos inquilinos. Na década de 1880, tornou-se lar do pintor Robert Barrett Browning, cujo pai, o poeta Robert Browning, faleceu no seu apartamento, situado no mezzanino, em 1889. Nessa época, John Singer Sargent, o pintor de retratos norte-americano, também tinha um estúdio no palácio.
Em 1906, Browning, ignorando uma oferta do Imperador Guilherme II da Alemanha, vendeu o palácio ao Conde Lionello von Hierschel de Minerbi. O extravagante e amante da arte de Minerbi (que remobilou o palácio com objectos de arte, por vezes de gosto questionável) viveu luxuosamente no Ca' Rezzonico até 1935 quando, tal como aconteceu com a sua predecessora família Bon, o dinheiro lhe faltou.
De 1935 à actualidade
Arquitectura
A fachada principal do palácio, com três andares em mármore, prefila-se no Canal Grande, posição que reflecte o prestígio da família proprietária. O piso térreo rusticado, contendo um central pórtico recolhido de três secções sem frontão, simetricamente flanqueado por janelas em duas secções. Sobre este, o andar nobre (piano nobile) de sete secções de janelas arcadas, separadas por pilastras, a que se segue o "segundo andar nobre", quase idêntico ao primeiro, e sobre este o piso mezzanino com baixas janelas ovais. A ligeira projecção dos dois níveis de balcões dos andares nobres acentuam a decoração barroca e o desenho do edifício. O palácio, actualmente, segue essa forma, apesar de só ter sido concluído em 1756 pelo arquitecto Giorgio Massari, o qual foi convidado pelos novos donos - a família Rezzonico - para supervisionar a conclusão do projecto. Massari, no entanto, parece ter aderido aos planos originais de Longhena, com a adição de alguns conceitos seus, reflectindo a mudança na arquitectura entre a concepção do palácio e a sua conclusão, cem anos depois.