Correio Braziliense (1808)
Correio Braziliense ou Armazém Literário foi um mensário português publicado por Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça (à época grafado "Hippólyto") em Londres[1]. Precursor dos chamados "jornais de Londres", é também considerado o primeiro jornal brasileiro — se contarmos os que não eram impressos no país. Circulou de 1 de junho de 1808 a 1 de dezembro de 1822, contando 175 números, agrupados em 29 volumes, editados durante 14 anos e 7 meses, ininterruptamente, com marcante pontualidade.[1]
Nos tempos de hoje, o jornal se chamaria Correio Brasileiro. O gentílico "brasileiro" ainda não era consagrado no início do século XIX, e discutia-se qual a designação dos nascidos no Brasil. Hipólito da Costa, por exemplo, acreditava que o natural do Brasil era brasiliense; o português ou o estrangeiro estabelecido aqui, brasileiro; e o indígena, brasiliano.[2]
Características
[editar | editar código-fonte]Editado para o Mundo Lusíada, o jornal tinha (como hoje conserva a versão moderna homônima, Correio Braziliense, de Brasília) como divisa os seguintes versos de Luís de Camões publicados nos Lusíadas, canto VII, estrofe 14:
Na quarta parte nova os campos ara
E, se mais mundo houvera, lá chegara
Através desse veículo, remetido clandestinamente para o Brasil, Hipólito da Costa defendia ideias liberais como a de uma monarquia constitucional e o fim da escravidão, dando ampla cobertura à Revolução Pernambucana de 1817 e aos acontecimentos de 1821 e de 1822 que conduziriam à Independência do Brasil.
O periódico era dividido em quatro segmentos:
- Política, com a transcrição de documentos oficiais acerca dos negócios nacionais e estrangeiros; essa era, sem dúvida, a seção mais destacada do jornal.
- Comércio e Artes, contendo as publicações referentes ao comércio nacional e internacional. Hipólito sempre teve interesse com assuntos de Economia Política.
- Literatura e Ciências, com as informações de novas publicações na Inglaterra e Portugal, transcrições de obras científicas ou literárias, com respectivos comentários.
- Ciências e Miscelânea, como o nome indica, assuntos diversos, novidades do Brasil e Portugal e temas polêmicos. Continha duas subseções:
- Reflexões, com os comentários dos principais acontecimentos, brasileiros ou portugueses, que o jornal divulgava.
- Correspondência, comunicações oriundas dos leitores (assinadas, anônimas ou com pseudônimos).
O desconforto causado à Coroa Portuguesa pela publicação do periódico levou a que a mesma patrocinasse, à época, também em Londres, a publicação d’O Investigador Portuguez em Inglaterra, visando diminuir sua influência. Posteriormente, a partir de 1813, a Coroa viria a pagar mil libras esterlinas por ano (equivalentes a 500 assinaturas) a Hipólito da Costa, por meio de um amigo seu, Heliodoro Jacinto de Araújo Carneiro, o que teria abrandado o tom das críticas do jornalista a partir de então.
Após a independência, Hipólito da Costa encerrou a publicação do jornal, visto que já não fazia sentido editar um jornal no exterior com o país independente.
Informações gerais
[editar | editar código-fonte]O nome 'brasiliense' (como seria grafado hoje) devia‐se à aversão de Hipólito ao gentílico ‘brasileiro’, por este denominar originalmente a atividade de extrator de pau‐brasil, exercida por índios que o vendiam aos europeus e acabaram por emprestar o nome a todos os habitantes da América portuguesa.
Em formato de livro, não tinha colunas nas páginas. Não havia anúncios. Para manutenção do jornal, de periodicidade mensal, eram necessárias 300 assinaturas pontuais.
- Páginas por edição: geralmente, de 70 a 140
- Maior número de páginas: 236 (Nº 51, agosto de 1812)
- Menor número de páginas: 48 (Nº 175, dezembro de1822)
- Total de páginas: 21.525
- Subtítulo: “Armazém Literário”
Algumas campanhas preconizadas no Correio Braziliense
[editar | editar código-fonte]Entre as campanhas preconizadas pelo Correio de 1808, destacam-se:
- Liberdade de imprensa
- Garantia da propriedade
- Introdução do júri
- Responsabilidade dos ministros
- Publicação dos orçamentos e das contas do Tesouro público
- Segurança de ninguém ser preso sem culpa formada (visto que Hipólito fora preso pela Inquisição)
- Reconhecimento do direito de associação e de petição
- Acesso de todos aos cargos públicos, eliminando-se os favoritismos
- Abolição da Inquisição, do juízo da inconfidência, dos foros especiais e das penas infamantes
- Mudança da Capital para o interior do País
- Combate ao despotismo dos governantes e às instituições anacrônicas
- Imigração europeia a determinados cultivos (colonos de várias origens: alemães, italianos, holandeses, irlandeses, escoceses, húngaros, etc.)
- Abolição da escravatura, de maneira gradual e controlada
- Instalação de alto-fornos no Brasil (precursores da implantação da siderurgia no Brasil: Hipólito da Costa e José Bonifácio de Andrade e Silva)
- Promoção do progresso do Brasil, erguendo-o da situação de colônia à Nação
Opositores do Correio Braziliense
[editar | editar código-fonte]Esta página ou seção foi marcada para revisão devido a incoerências ou dados de confiabilidade duvidosa. |
Diversos periódicos foram lançados em Londres, Paris, Hamburgo e Lisboa, para combaterem as idéias e ideais do Correio Braziliense. Os seus principais opositores foram:
- "Argus Lusitano" ou "Cartas Analíticas", Londres (1809), em 4 edições
- "O Investigador Portuguez em Inglaterra", Londres (1811-1819), em 23 volumes
- "O Espelho Político e Moral", Londres (1813-1814)
- "Microscópio de Verdades" ou "Óculo Singular", Londres (1814), em 7 edições
- "O Portuguez" ou "Mercúrio Político", Londres (1814-1821), em 12 volumes
- "O Observador Lusitano em Pariz" ou "Collecção Literária, Política e Comercial", Paris (1815)
- "O Espectador Português", Londres (1816-1817), em 2 volumes
- "Anais das Ciências, das Artes e das Letras, Paris (1818)
- "Le Plenipotentiaire de la Raison", Hamburgo (1818)
- "O Campeão Portuguez" ou "O Amigo do Rei e do Povo", Londres (1820-1821), em 4 volumes
- "O Padre Amaro" ou "Sovela Política, Histórica e Literária", Londres (1820)
- "Azorrague das Cortes Novas", Londres (1820)
- "O Contemporâneo Político e Literário", Paris (1820)
- "Folhetos portugueses contra o Correio"
- "Abelha do meio-dia", Lisboa (1809)
- "Reflexões sobre o Correio Braziliense", Lisboa (1809), em 8 fascículos
Ver também
[editar | editar código-fonte]Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- COSTA, Fernando Hippólyto da. Hipólito da Costa: Cronologia do fundador da imprensa brasileira. Natal: 2008.
- DOURADO, Mecenas. Hipólito da Costa e o Correio Braziliense. Rio de Janeiro: F. Bastos, 1957.
- FERREIRA JUNIOR, José. Capas de jornal: a primeira imagem e o espaço gráfico visual. São Paulo: Senac São Paulo.
- LUSTOSA, Isabel. O Nascimento da Imprensa Brasileira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
- NOBLAT, Ricardo. O que é ser Jornalista. Rio de Janeiro: Record, 2004.
- RIZINNI, Carlos de Andrade. Hipólito da Costa e o Correio Braziliense. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1957.
- SOBRINHO, Barbosa Lima. Antologia do Correio Braziliense. Rio de Janeiro: Editora Cátedra, 1977.
Referências
- ↑ a b «Hipólito José da Costa». Museu da Comunicação Hipólito José da Costa. Consultado em 2 de fevereiro de 2015. Cópia arquivada em 26 de julho de 2013
- ↑ Gomes, Laurentino (2007). 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. [S.l.]: Editora Planeta do Brasil. p. 121