Arte postal
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A arte postal, também conhecida pela expressão inglesa mail art, é uma forma de arte que utiliza objetos relacionados ao veículo de comunicação correio como meio de linguagem e manifestação artística, utilizando uma rede de troca de mensagens e conteúdos como forma de interação entre artista, público e obra.[1]
O termo arte postal pode se referir a uma mensagem individual, o meio pelo qual ela é enviada, ou a um gênero artístico. Muitas vezes ela é também referida em inglês como Correspondence/Mail Art (CMA).
Ela se iniciou em meados do Século XX na "Correspondance Art School" de Nova Iorque e teve grande expressão nas décadas de 1970 e 1980.[2]
Artistas postais tipicamente trocam efêmeras na forma de cartas ilustradas, fanzines,[3] envelopes decorados ou ilustrados, cartões postais, objetos tridimensionais, etc.
Uma rede internacional de arte postal amorfa envolvendo milhares de participantes em mais de cinquenta países desenvolveu-se entre as décadas de 1950 e 1990.
Ela foi influenciada por outros movimentos, como Futurismo, o Dadaísmo e o Fluxus. O artista Marcel Duchamp, utilizou este recurso como linguagem artística, sendo um dos grandes precursores da Arte Postal, com seu cartão postal intitulado:
Podebal Duchamp, telegrama datado de Nova York a 1º de junho de 1921 e que fora enviado por Marcel Duchamp ao seu cunhado Jean Crotti. Seu texto é intraduzível: PEU DE BALLE ET BALAI DE CRINI e é a resposta no Salão Dada/Exposição Internacional que se celebrava em Paris na Galeria Montaigne, organizado por Tristan Tzara, prévia negativa de participar no mesmo e que fora comunicado por carta enviada com anterioridade ao referido telegrama. E uma vez mais devemos situar a figura de Marcel Duchamp em processos atuais. Esse gerador de ARTETUDO faz-se presente nas comunicações marginais. [4]
Uma das proposições da Arte Postal é a de troca sem comércio; a arte postal inicial era, em parte, esnobada de galerias de arte, show de jurados, e exclusividade em arte. Assim, criava-se um novo circuito da arte, utilizando-se de um sistema comum de correspondência já estabelecido socialmente, questionando a própria circulação do objeto artístico, muitas vezes centrado nos grandes museus e galerias. Conforme novos objetos chegam ao seu destino, a artes postais se reconfiguram, de modo que novas cartas, antes fragmentadas, se remodelam enquanto seu conteúdo e sua forma.
Um dito no movimento de arte postal é "remetentes recebem" ("senders receive"), significando que alguém não deve esperar receber arte postal a menos que participe ativamente do movimento. Nos anos 90, com o advento da internet comercial, a arte-postal passou a ser utilizada sob uma nova visão de participação através do e-mail e dos sistemas de compartilhamento de opiniões.
Arte Postal no Brasil
[editar | editar código-fonte]No Brasil, artistas como Paulo Bruscky, Julio Plaza, Regina Silveira, Anna Bella Geiger e Gilbertto Prado, destacam-se por utilizarem este meio como linguagem artística, apropriando-se papéis, envelopes, carimbos, selos, desenhos e colagens como matéria para suas proposições.
Com destaque da Arte Postal na década de 1970, estabeleceu-se em um período em que a desmaterialização do objeto artístico era amplamente discutido por diferentes artistas, desencadeando na presença da Arte Postal na XVI Bienal de São Paulo em 1981 e também na realização de mostras de Artes Postais durante a década de 1990. Este movimento possibilitou a correspondência entre diferentes artistas ao redor do mundo, devido o rompimento de fronteiras com a possibilidade do envio de cartas por meio da arte postal.
Arte Postal e a Ditadura Militar no Brasil
[editar | editar código-fonte]Com o Ato Institucional n.º 5, os artistas sofreram censura e limitações na criação artística no Brasil. O Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, nos anos de 1960 e 1970, desenvolveram uma rede de comunicação por meio da Arte Postal, com o auxílio do artista On Kawara, enviando, ao longo dos anos 1968 a 1971, 2.200 postais direcionados à duas pessoas diferentes por dia. Suas ações incentivaram que outros artistas aderissem ao projeto. Assim, a arte postal era uma forma de resistência, veiculando informações, denúncias e protestos.
Em 1976, período da ditadura civil-miliar no Brasil, o artista Paulo Bruscky realiza a exposição Arte Correio na Cidade de Recife. As propostas artísticas apresentadas na exposição criticam as políticas impostas pelo regime, sendo acusada de promover ideias imorais e subversivas, sendo fechada pela polícia e impedida de sua continuidade.
Na atualidade, a arte postal teve seu lugar ocupado pelos meios digitais de comunicação. Contudo, alguns artistas e propostas de coletivos artísticos mantém viva a intencionalidade da Arte Postal a partir de grupos organizados.
Referências
- ↑ «Arte postal: Correspondência com valor artístico». UOL. Consultado em 23 de dezembro de 2020
- ↑ Mail-Art: A (R)evolução de Darwin, autor: Museu da Ciência
- ↑ «Zine: aprenda a fazer uma revista independente». www.imbituba.sc.gov.br. Consultado em 27 de junho de 2020
- ↑ * VIGO, Edgardo Antonio. Carta de 06.04.1970.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]COSTA, Cacilda Teixeira da. Arte no Brasil 1950-2000: Movimentos e Meios. São Paulo: Alameda, 2004.
GIFALLI, Ronaldo. Arte postal no Brasil: comunicação criativa e sua atualização nas redes sociais. Revista Multiplicidade, v. 1, n. 1, 2011.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Mailart & ArtByMail // open_calls & exhibitions repository, listagem de todos as convocatórias ativas ordenadas por data limite de submissão.
- Paulo Bruscky: Itaú Cultural.
- «Programa da TV Brasil sobre arte postal» 🔗
- VIGO, Edgardo Antonio. Carta de 06.04.1970.