Assilvestrado
Assilvestrado, asselvajado, ou feral, é qualquer animal doméstico que se torna selvagem,[1] passando a sobreviver por conta própria na natureza. Pode ainda chamar-se assilvestrados, aos animais selvagens descendentes de parentes domésticos.
Os animais assilvestrados podem ter vindo de forma involuntária, ou ter sido introduzidos propositalmente de forma deliberada por seres humanos geralmente em regiões não-nativas da espécie. Com o passar do tempo, alguns destes animais podem gerar populações inteiras e são muitas vezes um problema para a fauna selvagem por serem espécies invasoras. No entanto, às vezes, os animais assilvestrados podem servir para combater certas espécies consideradas pragas, como roedores, insectos ou plantas agressivas.
Animais
[editar | editar código-fonte]Cavalos
[editar | editar código-fonte]Os cavalos selvagens, durante a conquista espanhola da América, formaram as manadas de mustangues (do espanhol: Mesteño), que hoje podem ser vistos nas pradarias dos Estados Unidos e nas de cavalos selvagens, ou nalgumas partes da Argentina e do Chile (durante o Pleistoceno havia cavalos na América, que logo se extinguiram). Os mustangues são ainda uma espécie protegida nos EUA.
Cabras
[editar | editar código-fonte]Durante os séculos XVII e XVIII, especialmente (embora casos mais antigos sejam conhecidos no Mediterrâneo) as cabras eram soltas deliberadamente nas ilhas frequentadas por marinheiros, a fim de servir como uma despensa viva, quando os barcos voltavam para terra firme. Por causa disto, estes animais são encontrados em muitas ilhas em todo o globo. Na actualidade, o governo do Equador lançou um plano para as eliminar das Ilhas Galápagos, onde elas competem com as famosas tartarugas gigantes do arquipélago pelo alimento. Algo semelhante acontece na ilha Juan Fernández (que é um parque nacional no Chile), onde a cabra de Juan Fernández se assilvestrou desde que foi introduzido pelo descobridor da ilha (Juan Fernandez Sotomayor), no século XVI, causando um impacto considerável sobre o frágil ecossistema da ilha.
Coelhos
[editar | editar código-fonte]Os coelhos são pragas particularmente prejudiciais na Austrália, onde eles têm se reproduzido chegando a tornarem-se centenas de milhares e continuam a aumentar. Por incrível que pareça, estes coelhos assilvestrados descendem de alguns casais que alguém terá lançado no final do século XIX, na costa sudeste da ilha. As autoridades australianas já não sabem o que fazer com eles para evitar a concorrência que fazem aos marsupiais, como cangurus e wallabees, alguns dos quais já estão perto da extinção. A introdução da raposa vermelha tornou-se um novo problema, porque este animal tem tido tendência para caçar marsupiais, em vez de coelhos, bem como o desenvolvimento artificial da mixomatose se tornou uma catástrofe para as populações de coelhos de outros lugares onde não são uma praga, especialmente na Europa, o que afectou a cadeia alimentar. Na Austrália tem sido sugerida a importação do Diabo-da-Tasmânia, hoje extinto fora da sua ilha, para as combatê-los. De momento os ataques continuam. Os coelhos europeus também se tornaram selvagens na Argentina, Chile, e no estado de Washington, Nova Zelândia e algumas outras pequenas ilhas.
Dromedários
[editar | editar código-fonte]Os dromedários são originários da Arábia, mas já na antiguidade foram introduzidos no norte da África, onde existem populações em estado selvagem ou semi-selvagem. Durante a exploração da Austrália, os ingleses levaram dromedários e camelos britânicos que agora formam manadas nos desertos e estepes do interior. Eles são uma das poucas espécies introduzidas na Austrália que não se consideram particularmente prejudiciais.
Gatos
[editar | editar código-fonte]Na Europa, os gatos bravos estão a aumentar nos últimos anos devido aos abandonos durante o período de férias. Como consequência, muitos destes gatos assilvestrados competem ou cruzam-se com o gato bravo europeu, reduzindo a sua pureza genética. Em ilhas oceânicas e na Austrália são considerados a principal praga não-nativa, depois dos ratos e ratazanas, sendo as principais vítimas, as aves oceânicas no período de nidificação. Na Nova Zelândia e nas Ilhas Galápagos, os gatos bravos terão sido caçados, a fim de erradicá-los e proteger as aves locais, muitas delas ameaçadas de extinção por causa destes animais.
Cães
[editar | editar código-fonte]Os cães são os animais que primeiro foram domesticados e, por isso, não é de estranhar que se encontrem como assilvestrados em quase qualquer lugar onde haja humanos. Na Europa e América do Norte são com toda a certeza, o principal assaltante de fazendas e galinheiros (não temem os seres humanos), mas mais frequentemente os agricultores culpam raposas e lobos. Nestes lugares, também podem cruzar-se com lobos e coiotes (nos EUA), gerando híbridos férteis ainda mais perigosos do que muitas vezes os seus ancestrais salvagens. O seu impacto é ainda maior em ilhas como a Nova Zelândia, onde houve casos em que um único cão grande (pastor alemão, dobermann, etc.) dizimou grande parte de populações de kiwis.
Depois de milhões de anos de evolução numa ilha sem predadores, os animais tornam-se indefesos, atraentes e tão fáceis de matar, que os cães os caçam por centenas, sem realmente comê-los, na maioria das vezes. Tem sido sugerido que o dingo australiano possa ter tido a sua origem a partir de cães selvagens primitivos.
A partir dos canídeos trazidos para a América, pelos colonizadores europeus, geraram-se variantes particularmente resistentes a meios-ambientes hostis, como é o caso do Cimarron uruguayo e do sato, uma variante canina surgida de cruzamentos múltiplos de canídeos que podem ser localizados em toda a extensão continental do centro e sul da América; e que não são exclusivos de nenhum país.
Gado bovino
[editar | editar código-fonte]No início do século XVII, foi solta uma grande quantidade de gado em ambos os lados do Rio da Prata, por ordem do vice-rei do Peru, Hernando Arias de Saavedra, conhecido como Hernandarias; com a intenção de que se pudessem reproduzir livremente. Partiu Buenos Aires em 1604 em busca da mítica Cidade dos Césares com 600 cabeças de gado bovino e a mesma quantidade de gado equino, alguns dos quais decidiram ir abandonando prevendo que a zona era apta para a sua proliferação. Em 1618, ostentando o recém-criado título de Governador do Rio da Prata, liderou uma expedição à Patagônia que culminou com a sua apreensão e fuga fortuita das mãos dos Tehuelches, deixando novamente o gado bovino, desta vez nas margens do rio Negro. Este gado foi desaparecendo gradualmente, à medida que se multiplicavam as estancias e se alargavam os campos. É atribuida a mesma origem ao gado assilvestrado equino pampeano.
Porco
[editar | editar código-fonte]Os porcos são descendentes de javalis, e tanto ele quanto o javali, fazem muita bagunça no meio ambiente, tendo inimigos naturais ou não.
Nos anos 1990, uns mercadores uruguaios pensaram em criar javalis para vender carne, ou melhor tentando porque não conseguiram, nesse tempo, os javalis fugiram dos cercados e com o tempo, os javalis se adaptaram muito bem em toda a América latina, e se espalharam em todo o Brasil, os únicos predadores naturais são ursos, leões, tigres e obviamente os lobos, no Brasil a única subespécie de lobo cinzento é o cão doméstico, e eles estão ajudando, um pouco, mas como eles não são o suficiente para abater os javalis, o jeito foi na caça mesmo, e além disso no Brasil há cruzamentos entre javalis e porcos domésticos o qual resultou no cachaço, conhecido como javaporco.
Na Austrália e Estados Únidos também tem Javalis, mas ao contrário do Brasil, a Austrália e os Estados Únidos realmente possuem lobos cinzentos nátivos de lá, na Austrália tem o dingo. Já nos Estados Únidos tem lobos como o lobo do vale mackenzie, o lobo oriental, o lobo das planícies e o lobo vermelho, além de outros superpredadores como ursos pardos, ursos negros americanos e leões da montanha, e os mesopredadores como coiotes.
Sem falar dos porcos que vivem na ilha de porcos em Bahamas.
Outros usos do vocábulo
[editar | editar código-fonte]Humano
[editar | editar código-fonte]O termo foi usado na América colonial para descrever escravos que escaparam do cativeiro. Em Cuba, Jamaica, Panamá e alguns países da América do Sul (Colômbia, Venezuela, etc.), o termo assilvestrado está associado aos negros fugitivos que viviam uma vida de liberdade em regiões afastadas dos centros urbanos, onde construíam pequenas cabanas no meio da selva evitando a todo o custo serem descobertos.
Plantas
[editar | editar código-fonte]No caso de plantas assilvestradas, também podem chamar-se, simplesmente, de "escapadas" ou introduzidas, e a maior parte vem de plantas de jardim. Há também plantas que foram introduzidas em determinados lugares por seu valor nutritivo, como a Opuntia ficus-indica americana no Mediterrâneo e na Austrália (onde ela também se tornou uma praga). Em outros casos, é difícil discernir se uma planta é um produto de uma introdução precoce ou se é verdadeiramente nativa do lugar que agora habita. Este é o caso de árvores como o castanheiro e a aveleira em grandes zonas da Europa Ocidental, o poderiam ter chegado das mãos dos romanos. Outros invasores vegetais chegaram acidentalmente, como a papoula comum, cuja origem está no Médio Oriente e Anatólia. Nessas zonas, a papoula é um acompanhante natural dos cereais selvagens; após o desenvolvimento da agricultura no Neolítico, a papoula foi colhida por acidente juntamente com o trigo, centeio e cevada, e as suas sementes foram depositadas em zonas onde estas eras cultivadas, expandindo-se à mesma velocidade a que se expandiam nos campos cultivados.
Na Argentina, o mate amargo também é chamado de assilvestrado.
Veja-se também
[editar | editar código-fonte]- Espécie invasora
- Praga
- Antropogénico
- Cavalo assilvestrado
- Cabra de Juan Fernández
- Vertebrados introduzidos na Argentina
- Vertebrados introduzidos no Chile
- Vertebrados introduzidos no Uruguai
- Ecologia
- Cão selvagem uruguaio
- Camelo selvagem australiano
- Cimarrona
- cães ferais
Referências
- ↑ Infopédia. «assilvestrado | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 15 de dezembro de 2022