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Green Dragon

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Green Dragon é uma bebida de alto teor alcoólico onde se mistura maconha. Na perspectiva da farmacotécnica trata-se de uma tintura ou alcoolatura, formas farmacêuticas que decorrem da atuação dissolvente e extrativa do álcool. Em medicina popular é uma infusão, segundo Ortêncio, [1] é a mesma maceração, só que na infusão a substancia é extraída à quente, em líquido que pode ser água, álcool, cachaça, vinho, sendo a cachaça seguida do vinho as mais usadas.

Há diversos relatos, especialmente de páginas policiais do jornais, que a Cannabis sativa é comercializada dissolvida em infusões de cachaça, inclusive nas feiras livres do Nordeste do Brasil, a exemplo da antiga feira de Água de Meninos em Salvador, Bahia, onde segundo Lobos se produzia e consumia uma infusão de milho, cachaça e a dita erva. [2]. Atualmente em alguns países onde o consumo dessa erva é livre existem diversos preparados de Cannabis como licor [3]. Observe-se que a comercialização com este nome Green Dragon é associado ao uso recreativo, muitas vezes ilícito e não às antigas formulações de alcoolaturas de uso homeopático em distintas diluições.

O objetivo de tais formulações é extrair o THC para o álcool, fazendo assim uma bebida muito potente, que em questão de gotas pode proporcionar o mesmo efeito da maconha fumada. Quando na forma desta tintura, o THC já diluído em álcool ficará solúvel em água. Popularmente é uma garrafada, embora esse termo no Brasil remete-se a uma combinação de várias plantas.É muito comum em garrafadas do Nordeste do Brasil a utilização do vinho branco ou infusão de ervas em aguardente de cana.

A Lilly, a Parke Davis, a Boericke & Tafel e Merrell Company estão entre as principais empresas farmacêuticas que comercializavam o extrato de Cannabis até 1942 quando a Cannabis sativa e C. indica foram excluídas da Farmacopeia americana[4]

Uso recreativo e medicinal

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Ver artigo principal: Efeitos da cannabis à saúde

Uma das mais antigas referências à tinturas de cannabis descreve o Squire's Extract no Journal of the Chemical Society's Trasactions, 1842. Consta que o médico cirurgião e professor de química da Universidade de Medicina de Calcutá, o Dr. William O'Shaughnessy (1809-1889) no seu regresso a Inglaterra, trouxe consigo uma remessa de Cannabis e propôs ao farmacêutico Peter Squire a referida tintura, com propriedades sedantes, analgésicas, hipnóticas e espasmolíticas, referendada pelo Lancet que destacou a particularidade de tintura não produzir obstipação nem inapetência como no consumo crônico do ópio e cloral. [4] Observe-se que a Cannabis já era reconhecida e utilizada na homeopatia, com indicações do próprio criador desta especialidade médica, Samuel Hahnemann (1755-1843) em 1796. [5], [6]

A preparação farmacêutica denominada tintura ou tintura-mãe, da qual se preparam as diluições homeopáticas, é um dos métodos de se extrair os princípios ativos encontrados na Cannabis sativa ou C. indica. Estes componentes químicos, principalmente o THC, são insolúveis em água, mas solúveis em solventes orgânicos, como o álcool. Embora outros solventes orgânicos (como o álcool isopropílico ou o metanol) possam ser usados para a extração, eles são altamente tóxicos ao corpo humano, sendo assim, na prática, impossíveis de serem usados. Não há restrição porém ao uso de "álcool de farmácia", ou seja, o álcool 92° GL, aliás, este pode ser o melhor álcool possível de ser encontrado em muitos casos. O mais recomendado, porém, é o álcool de cereais, que é formulado especialmente para medicamentos, perfumes e bebidas e possui até 95° GL de teor alcoólico. A extração do canabidiol (CBD) especialmente para uso medicinal requer preparação mais cuidadosa e geralmente utiliza butano como solvente. [7]

Preparação do Green Dragon

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Existem duas formas ou caminhos mais comuns de extração.

O primeiro, lento, envolve simplesmente a pulverização da maconha e sua imersão em uma garrafa com o álcool (ou bebida de alto teor). Ela deve ficar submersa por um período de várias semanas ou meses, agitando-se diariamente o preparado. Com o passar do tempo os canabinóides irão migrar da planta para o solvente. Um cuidado importante para que este processo é manter a garrafa selada e em um lugar escuro, uma vez que o THC decompõe sob a influência da luz.

O segundo, rápido, envolve o aquecimento do álcool para que se melhore seu poder como solvente. É preferível, a fim de se evitar acidentes, que este processo de aquecimento do álcool seja feito em "banho-maria". Os vapores do álcool, que tem ponto de ebulição por volta de 78,4 °C, são altamente inflamáveis, portanto muito cuidado deve ser tomado ao se aquecer a mistura. A maioria dos canabinóides será extraída por este método depois de 20 minutos de aquecimento.

Paralelamente a isso, se a maconha for secada no forno antes de sua adição ao álcool, em ambos os casos, a potência do preparado resultante aumenta consideravelmente, uma vez que este pré-aquecimento converte os insolúveis ácidos de THC em THC solúvel por decarboxilação. Este processo é feito em tempo de consumo quando a maconha é fumada. Mas no caso da extração do Green Dragon, esta etapa deve ser emulada com o pré-aquecimento. Entretanto se a maconha for elevada a uma temperatura muito alta (200 °C), ela começará a liberar o THC, perdendo assim o princípio ativo rapidamente. Para a segurança de não se perder o THC, a temperatura no forno nunca deve ultrapassar 175 °C. Mais ainda, alguns canabinóides vaporizam a temperaturas tão baixas como 126,7 °C, desta forma um cozimento mais prolongado e em uma temperatura menor (20 minutos à 93,4 °C, como citado em algumas receitas famosas) é mais recomendado.

Tinturas de fabricação caseira, café; gengibre e especiarias; café e especiarias

Referências

  1. ORTÊNCIO, W. Bariani. Medicina popular do Centro-Oeste. Brasília, Thesaurus, 1997 Google Livros Consulta, Ag. 2014
  2. LOBOS, Hilton. O Grande incêndio. Boca do Inferno, Ano I nº 1, Salvador, 1976
  3. Globo Comunicação "Licor de maconha é lançado na Holanda" Globo.com 07/01/08 Acesso Ag. 2014
  4. a b GREEN, Jonathon. Cannabis. Barcelona, RBA Integral, 2003 p. 183 - 185
  5. MORRELL, Peter Hahnemann's First Provings. in: Articles on Homeopathy by Peter Morrell Jul. 2014
  6. HAHNEMANN, Samuel Organon of Homœopathic Medicine. New York, William Radde, 1849. Disponível no Google Books Acesso em Julho de 2014
  7. CannLabs, Inc. The science of extraction. CannLabs.com Acesso Agosto 2014