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Lagerstätte

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Depósitos de Burgess, Canadá, um lagerstätte de conservação.
Peixes fósseis da Formação de Green River, um Lagerstätte do Eoceno.
Scyphozoa arrojados à praia, com rastos de Climactichnites no Lagerstätte de Blackberry Hill, Wisconsin (Cambriano). O cifozoário em primeiro plano tem 10 cm de diâmetro. A laje é em hiporrelevo.

Lagerstätte (alemão: [ˈlaːɡɐˌʃtɛtə], de Lager 'armazém, jazimento' Stätte 'lugar'; plural Lagerstätten) é a designação dada em Paleontologia aos depósitos sedimentares, as jazidas, que apresentam fósseis extraordinários com preservação excepcional, por vezes incluindo tecidos moles conservados.[1] Estas formações resultam em geral do soterramento de carcaças animais em ambiente anóxico com actividade bacteriana reduzida, o que atrasa a decomposição permitindo a fossilização. Conhecem-se Lagerstätten originados em diversos períodos geológicos, desde a era Neoproterozoica ao presente. O jargão técnico conserva o termo na língua original, conforme cunhado em 1970 por Adolf Seilacher, para denominar este tipo particular de jazida, os Fossillagerstätte ou também Fossil-Lagerstätte (em alemão, «jazida de fósseis»; no plural Fossillagerstätten).[2] O termo é apenas usado para designar aquelas jazidas paleontológicas com grande riqueza de fósseis bem conservados, capazes de fornecer informação paleobiológica de grande qualidade pela abundância de fósseis ou pelo seu excelente estado de conservação.[3][4] Os depósitos de fósseis estão sempre associados a sedimentos ou rochas sedimentares que no caso dos Lagerstätten necessariamente têm uma génese compatível com a boa conservação dos restos biológicos que originaram os fósseis.

Os paleontologistas distinguem dois tipos de Lagerstätten, agrupando-os conforme o mecanismo dominante na sua origem:[5]

  1. Konzentrat-LagerstättenLagerstätten de concentração») — são depósitos onde ocorreu uma especial "concentração" de partes orgânicas duras disarticuladas de organismos, em geral arrastados pela água ou por qualquer outro mecanismo físico. A forma mais comum de Lagerstätte de concentração são as camadas de ossadas. Estes Lagerstätten são menos espectaculares que os do tipo Konservat-Lagerstätten, em geral mais famosos, e cobrem invariavelmente longos períodos de tempo, dado que a acumulação de partes duras na ausência de quantidades significativas de outros sedimentos requer longos períodos de acção do mecanismo concentrador. Depósitos com uma elevada concentração de fósseis que tenham origem numa comunidade biológica existente in situ, como os recifes coralinos ou as ostreiras, não são considerados com Lagerstätten;
  2. Konservat-LagerstättenLagerstätten de conservação») — são depósitos notáveis pela excepcional preservação dos organismos fossilizados ou por traços da actividade biológica extraordinariamente bem preservados. A tafonomia individual dos fósseis varia consoante as jazidas. Os Lagerstätten de conservação são fontes cruciais sobre importantes momentos na história da evolução da vida na Terra. Por exemplo a formação Burgess Shale, na British Columbia está associada à descoberta da explosão cambriana e os calcários de Solnhofen com a descoberta da ave mais antiga conhecida, o Archaeopteryx.

Formação dos fósseis

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Nos Lagerstätten de conservação (Konservat-Lagerstätten) devido a uma combinação muito favorável de factores físico-químicos ocorre a preservação de estruturas anatómicas apenas ligeiramente esclerotizadas e de tecidos moles de organismos, podendo também ser preservados traços de organismos que normalmente não seriam preservados no registo fóssil mais comum, em que apenas conchas e ossos são fossilizados. Em resultado destas condições especiais de preservação, os depósitos que formam estes Lagerstätten oferecem um registo mais completa da antiga biodiversidade, podendo mesmo incluir pistas sobre o comportamento que permitem inferir sobre a estrutura das comunidades biológicas existentes ao tempo da formação dos depósitos, dando assim importantes indicações sobre a paleoecologia do local. Estes tipos de depósitos são mais frequentes em antigas comunidades aquáticas.

Demonstrado a excepcional capacidade de preservação deste tipo de ambientes, em 1986, o paleontologista Simon Conway Morris apresentou dados que permitem concluir que apenas cerca de 14% dos géneros identificados na formação canadiana conhecida por Burgess Shale apresentava tecidos biomineralizados em vida.

Num exemplo da informação que pode ser extraída destas formações excepcionais, as afinidades dos elementos da concha dos conodontes permaneceu um mistérios até traços dos tecidos moles associados serem descobertos nos arredores de Edinburgh, Escócia, embebidos na formação conhecida por Granton Lower de xistos betuminosos do Carbonífero.[6] A informação sobre o largo espectro de organismos encontrados em Lagerstätten tem resultado em importantes contributos para os recentes estudos de reconstrução da filogenia dos principais grupos de metazoários.

Os Lagerstätten aparentam ter algum grau de autocorrelação temporal, talvez devido a factores de ordem global, tais como o clima predominante, poderem afectar a sua deposição e preservação inicial.[7]

São conhecidos diversos processos tafonómicos que podem produzir Lagerstätten, entre os quais os seguintes:

Konservat-Lagerstätten de importância global

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Entre os mais importantes Lagerstätten conhecidos estão os seguintes:

Precambriano
    Bitter Springs 1000–850 Ma South Australia (Austrália do Sul)
    Formação Doushantuo 600–555 Ma Província de Guizhou, China
    Mistaken Point 565 Ma Newfoundland (Terra Nova, Canadá)
    Ediacara Hills 550-545? Ma South Australia
Cambriano
    Xistos de Maotianshan (Chengjiang) 515 Ma Província de Yunnan, China
    Sirius Passet 518 Ma Gronelândia
    Xistos de Emu Bay 513 Ma South Australia
    Formação Kaili 513–501 Ma Guizhou, sudoeste da China
    Blackberry Hill ~510–500 Ma Central Wisconsin, USA
    Xistos de Wheeler (House Range) 507 Ma Utah, USA
    Burgess Shale 508 Ma British Columbia, Canadá
Qingjiang 500 Ma China
    Orsten e depósitos de alúmen de Kinnekulle 500 Ma Suécia
    Orsten e depósitos de alúmen de Öland 500 Ma Suécia
Ordoviciano
    Formação de Fezouata c. 485 Ma Vale de Draa, Marrocos
    Beecher's Trilobite Bed 460? Ma New York, USA
    Walcott-Rust Quarry c. 455? Ma New York, USA
    Xistos de Soom 450? Ma África do Sul
Siluriano
    Wenlock Series ~425 Ma Inglaterra
Devoniano
    Rhynie 400 Ma Escócia
    Ardósias de Hunsrück (Bundenbach) 390 Ma Rheinland-Pfalz, Alemanha
    Formação Gogo 380 Ma (Frasniano) Western Australia
    Parque Nacional de Miguasha 370 Ma Québec, Canadá
    Canowindra, New South Wales 360 Ma Austrália
Carbonífero
    Calcários de Bear Gulch 320 Ma Montana, USA
    Joggins Fossil Cliffs 315 Ma Nova Scotia, Canadá
    Mazon Creek 310 Ma Illinois, US
    Montceau-les-Mines[8][9] 300 Ma França
    Hamilton Quarry 300 Ma Kansas, USA
Permiano
    Formação Mangrullo[10] c. 285-275 Ma (Artinskiano) Uruguai
Triássico
    Formação Madygen 230 Ma Kyrgyzstão
    Ghost Ranch 205 Ma New Mexico, USA
Jurássico
    Holzmaden/Xistos Posidonia 180 Ma Württemberg, Alemanha
    Mesa Chelonia[11] 164,6 Ma Shanshan, China
    La Voulte-sur-Rhône 160 Ma Ardèche, França
    Formação de Karabastau 155,7 Ma Casaquistão
    Calcários de Solnhofen 145 Ma Baviera
    Calcários de Canjuers 145 Ma França
Cretáceo
    Las Hoyas c. 125 Ma (Barremiano) Cuenca, Espanha
    Formação de Yixian c. 125-121 Ma Liaoning, China
    Formação de Xiagou c. 120-115? Ma Gansu, China
    Formação do Crato c. 117 Ma (Aptiano) Nordeste do Brasil
    Haqel/Hadjula/al-Nammoura c. 95 Ma Líbano
    Formação de Santana 108-92 Ma Brasil
    Smoky Hill Chalk 87-82 Ma Kansas e Nebraska, USA
    Xistos de Ingersoll 85 Ma Alabama, USA
    Auca Mahuevo 80 Ma Patagónia, Argentina
    Zhucheng 66 Ma Shandong, China
Eoceno
    Formação de Fur 55-53 Ma Fur, Dinamarca
    London Clay 54-48 Ma Inglaterra, Reino Unido
    McAbee Fossil Beds 52.9 ± 0.83 Ma British Columbia, Canadá
    Green River Formation 50 Ma Colorado/Utah/Wyoming, USA
    Klondike Mountain Formation 49.4 ± .5 Ma Washington, US
    Monte Bolca 49 Ma Itália
    Messel Oil Shale 49 Ma Hessen, Alemanha
    Quercy Phosphorites Formation[12] 25–45 Ma Sudoeste da França
OligocenoMioceno
    Âmbar dominicano 30-10 Ma República Dominicana
    Riversleigh 25-15 Ma Queensland, Austrália
Mioceno
    Clarkia fossil beds 20-17 Ma Idaho, USA
    Barstow Formation 19-13.4 Ma Califórnia, USA
    Ashfall Fossil Beds 12–13? Ma Nebraska, USA
Pleistoceno
    Mammoth Site 26 Ka South Dakota, USA
    Rancho La Brea Tar Pits 40-12 Ka Califórnia, USA
    Waco Mammoth National Monument 65-51 Ka Texas, USA

Notas

  1. Schweitzer, Mary Higby; Wittmeyer, Jennifer L; Horner, John R (22 de janeiro de 2007). «Soft tissue and cellular preservation in vertebrate skeletal elements from the Cretaceous to the present». Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences. 274 (1607): 183–197. ISSN 0962-8452. PMID 17148248. doi:10.1098/rspb.2006.3705 
  2. Fossil + Lagerstätte: Diccionario Alemán PONS.
  3. Fernández López, S. R. (2000). Temas de Tafonomía. Departamento de Paleontología, Universidad Complutense de Madrid. 167 págs.
  4. Fernández-López, S. R. (2013) «Postulates of the Evolutionary Taphonomy». En: Chacaltana, C; Tejada, L. M. y Morales, M. C. (eds.) I Simposio Internacional de Paleontología del Perú. Lima: Instituto Geológico Minero y Metalúrgico. Resúmenes extendidos: 119-122
  5. O termo foi originalmente cunhado por Adolf Seilacher neste aertigo:Seilacher, A. (1970). «Begriff und Bedeutung der Fossil-Lagerstätten: Neues Jahrbuch fur Geologie und Paläontologie». Monatshefte (em alemão). 1970: 34–39 
  6. Briggs et al. 1983; Aldridge et al. 1993.
  7. Retallack, G. J. (2011). «Exceptional fossil preservation during CO2 greenhouse crises?». Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology. doi:10.1016/j.palaeo.2011.04.023 
  8. Garwood, Russell J.; Sharma, Prashant P.; Dunlop, Jason A.; Giribet, Gonzalo (2014). «A Paleozoic Stem Group to Mite Harvestmen Revealed through Integration of Phylogenetics and Development». Current Biology. 24 (9): 1017–1023. doi:10.1016/j.cub.2014.03.039. Consultado em 17 de abril de 2014 
  9. Perrier, V.; Charbonnier, S. (2014). «The Montceau-les-Mines Lagerstätte (Late Carboniferous, France)». Comptes rendus Palevol. 13 (5): 353–367 
  10. Piñeiro, G.; Ramos, A.; Goso, C. S.; Scarabino, F.; Laurin, M. (2012). «Unusual Environmental Conditions Preserve a Permian Mesosaur-Bearing Konservat-Lagerstätte from Uruguay». Acta Palaeontologica Polonica. 57 (2). 299 páginas. doi:10.4202/app.2010.0113 
  11. Wings, Oliver; Rabi, Márton; Schneider, Jörg W.; Schwermann, Leonie; Sun, Ge; Zhou, Chang-Fu; Joyce, Walter G. (2012), «An enormous Jurassic turtle bone bed from the Turpan Basin of Xinjiang, China», Naturwissenschaften: The Science of Nature, 114, doi:10.1007/s00114-012-0974-5 
  12. Lalloy, F.; Rage, J.-C.; Evans, S.E.; Boistel, R.; Lenoir, N.; Laurin, M. (2013). «A re-interpretation of the Eocene anuran Thaumastosaurus based on microCT examination of a 'mummified' specimen». PLoS ONE. 8: 1–11. doi:10.1371/journal.pone.0074874