PEQUENO
CONTO
(
SU)
Era tarde, ela deveria estar dormindo, mas seus pensamentos não a
deixavam descansar. Três semanas haviam se passado, mas ela ainda não conseguia
esquecer tudo que passara naquela noite. As cenas estavam ainda tão
vivas em sua memória, mesmo querendo esquecer cada segundo de dor.
"Aquelas luzes fortes e brilhantes ainda ofuscavam seus olhos, e a
faziam querer fechá-los. O som dos instrumentos, a conversa entre o médico e o
anestesista, a enfermeira ao seu lado, o gosto amargo na boca, a mistura de
cheiros no ar, e a falta de sentidos da cintura para baixo. Tudo parecia tão
vivo dentro de si, mas não era mais. De repente um silêncio se instalou, as
vozes foram sumindo, as luzes se apagando e quando ela voltou a abrir os olhos,
o cenário era outro, não muito diferente, pois ela percebera que tudo aquilo
era real, muito real, não havia sido um pesadelo, embora tivesse todos os
requintes de um.