quinta-feira, 28 de abril de 2011

Uma Vez Por Outra Ninguém Nota Nada!

De quando em quando, tendo a terra, entretanto, girado mais um bom par de vezes, somos todos presenteados com novo e belo casamento real. De retro com as noivas de Santo António, que à britânica é outro sabor e classe já que, não desfazendo, tem muito mais a ver connosco. Na minha perspectiva é tudo muito bom, relaxante e indolor. Nada como constatarmos que, mais uma vez, a Walt Disney, afinal, até tinha razão; esquecida a parte dos anões, das abóboras, das bruxas más e das maçãs envenenadas.

Sim, os contos de fadas existem e as historias de príncipes e de gatas borralheiras plebeias que, por mérito próprio, ascendem à realeza, também. Petrifico com os treinos, os ensaios em tempo real, o vestido do qual ninguém consegue adivinhar a cor, a análise aos gestos, aos olhares, aos sorrisos, e às respostas na ponta da língua às perguntas estúpidas. Ou seja, está tudo milimetricamente planeado, para que nada seja normal em dia de surrealidades.

Valham-nos as habituais revistas, tablóides e comentadores masculinos com voz de balão de hélio. Proféticos! A boda é amanhã e a palavra mais sonante já é a palavra traição. Ora que até nem é uma palavra pesada por aí além, se o tema de conversa for o pacto de não agressão entre o Luís Filipe Vieira e o Pinto da Costa. Tratando-se, neste caso, de um casamento em perspectiva, e ainda para mais de sangue azul, ficaremos à espera das cenas dos próximos capítulos que, a fiar nos prognósticos, poderão rapidamente deixar a fantasia da Walt Disney, tomar um pouco da inspiração de um Perry Mason Regressa, culminando num A Culpa é do Mordomo. A ver vamos.

domingo, 24 de abril de 2011

Não É Por Matarmos As Moscas Que Os Pudins Se Conservam!

Eu até já sabia que agora é que caminhamos, mesmo, numa auto-estrada de sentido único, sem ramais de ligação à vista, com quilómetros e quilómetros de negrume, sem riscas, para desbravar, mas… Então andam os países lá pelo Médio Oriente a tentarem desfazer-se de décadas de ditadura, para nós por aqui, no bem bom, andarmos a ter sonhos e visões de expansionismo totalitário futebolístico de estilo maoista/stalinista???

A bem da verdade desportiva devo dizer que, infelizmente, aquece-me muito pouco a vitória do Benfica, de ontem à noite, em Coimbra. Não que me deixe indiferente - o meu sangue é vermelho -, porém, dada a importância do encontro, ando a guardar-me para voos mais altos e bem mais gratificantes. Não posso, todavia, deixar de comentar aquele objecto abjecto e deprimente a que, com simpatia, todos se foram referindo como “A taça”. Eu só pergunto: mas de onde veio a ideia? De que sonho (ou pesadelo)? Qual a corrente de inspiração? Quais as referências?

Sim, onde estão os troféus cor de prata, tipo caneco, para a malta dar beijinhos, correr a volta de consagração e tirar fotografias em barda? Uma assim de traço simples e que exija tratamento cuidado com Duraglite. Ora chamar àquela coisa Taça é pior que acreditar que aquele pedaço preto pode ser o tal monólito extra-terrestre imaginado por Arthur C. Clark, algo que até não teria nada de mal, não fosse o contexto. Aquilo, nem o Kim Jong Il queria, em versão gigante, para ornamentar uma praça de Pyongyang.

sábado, 23 de abril de 2011

Quando Fumo Os Pulmões Arfam de Alegria!

Mas afinal de contas, deveria ou não ter havido tolerância de ponto, na passada quinta-feira? Pois bem, eu cá, na minha resiliente opinião, acho que sim. Sim, mas é claro que devia! E ainda bem que houve! Os detractores do costume, esses é que nem sequer se aperceberam do bem que aquela tardinha fez à crise. Passou-lhes tudo ao lado. Já o governo, uma vez mais, esteve brilhante nesta jogada estratégica, sinal absoluto de uma mestria sem igual, visionária e inteligente. Pois a táctica é simples e não demora assim tanto a perceber:

Basta ser-se português de gema (o que não implica, necessariamente, saber cantar o fado do desgraçadinho ou andar com um pente no bolso das calças), ter-se vivido em Portugal desde pequenino e, importante, ser-se benfiquista, acreditar que o Eusébio ainda tem vinte e cinco anos e que vai ser contratado para a próxima época. É que isto foi de uma inspiração fora de série, ó ai se foi. Com esta tolerância de ponto voltámos a tomar a rédea à situação. O segredo chama-se aculturação, foi praticado há séculos, com perícia, pela altura dos Descobrimentos e, em véspera de sexta-feira santa, voltou a mostrar os seus efeitos imparáveis. Não lhe chamem emboscada. Não lhe chamem ardil. Não lhe chamem estratagema.

Em última instância sim, queremos que os membros da troika fiquem iguais a nós. Que pensem como nós. Que levem isto da vida como nós. O resultado está à vista de todos e nem duas semanas passaram e já está a dar frutos. Ontem ninguém lhes colocou a vista em cima. Onde é que estiveram? Por onde andaram? Ah, pois é. Ficaram mas foi na caminha, no bem bom, na sorna, no choco. O objectivo é simples, daqui a três semanas, quando o tempo da praia chegar, já ninguém vai estar a falar de resgate financeiro, são eles é que vão estar a pedir de joelhos para nos darem dinheiro. E às carradas. Os senhores da troika são inteligentes, mas vou adorar vê-los a desfilar na Avenida da Liberdade, por altura dos santos populares, agarrados a um manjerico, de sardinha na boca e com uma mini na mão.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Andam À Procura Dos Pregos Com Que Crucificaram Jesus!

Era para ter escrito isto há uns dias! Na altura, deu-me uma vontade arrebatadora, todavia, por qualquer motivo que não importa agora apurar, o momento lá passou, e fiz como que ouvidos de mercador à situação; orelhas moucas, vista grossa, tudo junto. Acontece que isto no nosso país, primeiro que se mate um piolho ou uma carraça é assunto para levar uns bons dias. Por isso, não há Quitoso que se aproveite na hora de exterminar um afaníptero, nem lixívia suficientemente tóxica capaz de tirar a gordura mais entranhada.

Passou uma semana e continuam a falar da pseudo combustão induzida do vestido da Lili Caneças. O perigo que foi, a vida vista por um canudo, a tamanha da sorte que a fez escapar por um triz, o vento que nessa noite soprava fraco, o pânico do Marco Paulo, os bombeiros que já vinham a caminho e que até pediram reforços, a mancha de fumo que chegou a ser captada pelos satélites da NASA, as chamas que se viam de Badajoz, enfim, em comparação, o incêndio do Chiado foi coisa para ter derretido dois marshmallows.

Deste acontecimento pirotécnico, faz-me imensa pena imaginar que o vestido da senhora tenha desaparecido em três tempos, totalmente levado pelas labaredas de dois metros. Valeu-lhe a lingerie, com certeza feita de material de boa qualidade, para se ter aguentado e resistido às altas temperaturas. Depois de tanto aparato e entrevistas, acredito, hoje, que morrer imolado pelo fogo deve ser uma diversão do caraças, bem melhor do que queimar os olhos com um maçarico industrial e infinitamente mais estupendo do que dormir a sesta num forno crematório ligado.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Queremos Um Milagre Que Faça Esquecer A Solução!

Ainda agora a procissão vai no adro e já a onda do FMI anda a afogar-nos o pensamento lógico. Ontem, finalmente, dia 17 de Abril, foi inaugurado à circulação automóvel o último troço da CRIL. Ora esta bela obra pública, escondida por detrás de uma sigla, felizmente curta e que até se diz bem, amiga de gagos e de fanhosos, levou, em oposição de grandeza relativa, a módica quantia de 20 longos anos até ficar concluída. Intervalo de tempo que, por certo, o próprio FMI não levará para nos meter na ordem. Queiramos nós que isso aconteça a bem ou mal.

Mas na inauguração, aquilo que mais me espantou não foram nem os rails metálicos a luzir, e muito menos o cheiro tóxico do alcatrão acabadinho de aplicar. Brilhante, mais uma vez, esteve o sentido de oportunidade português de estar no local certo, à hora certa. Porque perder pitada da inauguração de uma estrada é uma falha grave na formação de qualquer cidadão, e arriscar, mesmo que só daqui a vinte anos, quando já nem dinheiro houver para a gasolina, a impossibilidade de poder dizer “eu estive lá”, é pior que ceder voluntariamente ao martírio das insónias de quem está desempregado, não tem dinheiro para pagar as contas, está prestes a entregar a casa ao banco ou, um pouco melhor, sabe que o subsídio de desemprego não é eterno e já acabou no mês passado.

Claro que eu estou feliz com a CRIL. Aliás, muito feliz, até. Tenho pena é que a inauguração de ontem não tivesse ocorrido há dez ou quinze anos pois, isso sim, teria sido digno de registo. Já de toda a cerimónia, custa-me a engolir a forma aportuguesada com que milhares de pessoas picaram o ponto, de pé no acelerador, à espera que a fita vermelha fosse cortada; gramando de forma abnegada com uma fila de trânsito compacta (contra a qual reclamam todos os dias), depois de terem acordado cedo, numa bela manhã de domingo. Se calhar, sou eu que ando a ver tudo ao contrário. Para mim, a CRIL corresponde apenas a um conjunto de coisas simples: acordar o mais tarde possível, chegar a horas ao destino, circular com desafogo e segurança e sem a menor sombra de trânsito.

domingo, 3 de abril de 2011

Inventem Casas De Banho Que Se Limpem Sozinhas!

No meio é que está a virtude, pois claro. Sabe-se que os extremos nem sempre revelam a verdade, muitas vezes contradizem-se e tantas vezes chegam mesmo a anular-se. Felizmente, ontem, o avião da TAP que aterrou de emergência no Brasil não se espatifou no solo. Pois não teria sido bonito de se ver. Mais ou menos dentro da normalidade, a aeronave lá voltou a colar as rodas à pista onde, inicialmente, sempre esteve programado que aterrasse. E ainda bem que assim aconteceu.

As televisões, claro, logo montaram arraiais, em directo, no aeroporto. Testemunhos em primeira mão precisavam-se e agradecia-se a quem os tivesse para partilhar. À primeira tentativa, logo assim a frio, o anti-clímax televisivo: “Não dei por nada e só me apercebi depois de aterrar, quando me contaram”. Fogo, mas de onde foram descobrir este palhaço? Depois, o enredo lá foi melhorando: “Foi o pânico total, o maior susto da vida, um milagre, com toda a tripulação a correr de um lado para o outro”. Ah, assim já está melhor! Prémio para este senhor (passagem aérea grátis, na TAP, para o Rio de Janeiro)!

É óbvio que todos temos maneiras peculiares de ver as coisas, e as mesmas coisas. Chama-se a isso ver à nossa maneira. O que para um é preto para outro pode ser branco. O que para um é maravilhoso para outro pode ser execrável. Eu, que já me baralho sobejamente a fazer zapping entre a TVI e a RTP, nisto do oito e do oitenta, fiquei sem perceber, ao certo, o que verdadeiramente se terá passado naquele avião; se um cataclismo, se uma massagem tailandesa.

sábado, 2 de abril de 2011

O Meu Juízo Está Onde Eu Sempre Quis Que Estivesse!

Falta-nos a todos, como portugueses, uma cultura de exemplo, algo que vá mais do que a simples e tantas vezes apregoada consciência cívica, ética ou social. Cuspir para o chão é feio, e escarrar para a calçada é bem pior, triplamente mais ofensivo e inestético. Todavia, mesmo assim, conhecedores, não satisfeitos com a asneira, há ainda quem faça questão de não contribuir com o exemplo certo. Que não é o de cuspir na vez de escarrar, entenda-se.

Isto do dar o exemplo é uma coisa complicada, mexe por dentro e faz concorrência às primeiras alergias da Primavera e à mais irritante forma de erupção cutânea. Espanta-me pouco a indisciplina nas escolas, a falta de autoridade dos professores e o desrespeito pela orientação parental. Pois se logo na Primária, os nossos queridos alunos aprendem que o primeiro Rei de Portugal correu a mãe ao bico e ao pontapé, algo que não é assim um exemplo por aí além, para miúdos que chegam a casa e são obrigados a comer sopa ao jantar ou a irem para a cama logo depois da telenovela, estávamos à espera do quê?

A Carris vai trocar a frota de automóveis de todo o seu corpo de gestores de topo. Mas não é a Carris, porque a Carris não pensa, não tem cabeça, não tem dois olhinhos, dois bracinhos nem duas perninhas. Os gestores da Carris, esses sim, reuniram-se e decidiram que estava na altura de mudarem os seus Mercedes, Audi, Volvo e outros do mesmo género. Mais uma vez, aqui, neste caso concreto, o conceito de dar o exemplo não contou para nada, foi esquecido ou simplesmente obliterado, fazendo um trocadilho com esta malta que não sabe, sequer, o que é ter de pagar um bilhete. Em caso extremo, eu diria que até concordo que troquem as viaturas de luxo; e todas. Mais, proponho que passem a utilizar o último grito das viaturas vistosas, com espaço a perder de vista, conforto e ar condicionado incluído. Se não conhecem, vão estudar. Destacam-se na rua pela cor amarelo vivo e dão pelo nome de autocarro.