Mostrando postagens com marcador Poesia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Poesia. Mostrar todas as postagens

domingo, 25 de setembro de 2011

Travaille "cansa"!



Cada casa, uma porta, onde é inútil entrar.
Sem cantar, o homem bêbado segue uma rua...
onde o único obstáculo é o vento. Por sorte
não há mar adiante, porque o homem bêbado
caminhando tranquilo entraria no mar
e, sumindo, faria no fundo esse mesmo caminho.
Ao ar livre estaria as luzes de sempre.

Poema:  Indisciplina (1933) de  Cesare Pavese... Poeta que mais ando lendo nos últimos tempos!
Imagem: Cena do filme Farrapo Humano (1945)... Um dos melhores filmes que já assisti.

terça-feira, 8 de março de 2011

...é suave o desejo. E mesmo na ausência seu brilho sempre "nos" acompanha...!


"A criancice é típica do homen. A mulher nunca foi criança, nunca será criança. Ela vem preparada para ser algo especial no mundo, que, no caso, é uma coisa irreversível, não há nada que possa evitar isso que é o gerar filhos. Ela é mais preparada em uma série de coisas.
O filho do homem é a bomba atômica, é o plástico..." (HENFIL)



Allen Ginsberg - 1926 - 1997
Canção

O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da insatisfação


o peso
o peso que carregamos
é o amor.


Quem poderia negá-lo?
Em sonhos
nos toca
o corpo,
em pensamentos
constrói
um milagre,
na imaginação
aflige-se
até tornar-se
humano -


sai para fora do coração
ardendo de pureza -


pois o fardo da vida
é o amor,


mas nós carregamos o peso
cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
finalmente
temos que descansar nos braços
do amor.


Nenhum descanso
sem amor,
nenhum sono
sem sonhos
de amor -
quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
ou por máquinas,
o último desejo
é o amor
- não pode ser amargo
não pode ser negado
não pode ser contigo
quando negado:


o peso é demasiado
- deve dar-se
sem nada de volta
assim como o pensamento
é dado
na solidão
em toda a excelência
do seu excesso.


Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
a mão se move
para o centro
da carne,
a pele treme
na felicidade
e a alma sobe
feliz até o olho -


sim, sim,
é isso que
eu queria,
eu sempre quis,
eu sempre quis
voltar
ao corpo
em que nasci.

Textos: Fragmento de uma entrevista de  Henfil e um poema (Canção) de Allen Ginsberg.
Imagem: Tela de  (Frida Kahlo)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Nada se interpõe em seu caminho no sentido material da coisa....





Tudo é maravilhoso para o poeta,

tudo é dívino para o santo,
tudo é grande para o herói;...


tudo é desagraçado, miserável, feio e mau
para a alma vil e sórdida.
(Amiel)

Texto: Amiel
Imagem: Cena de um belíssimo filme... (Cinema Paradiso)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Seu perfume...


"Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto passaria sobre meu corpo...

Vou subir a ladeira lenta em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao princípio do drama e da flora.

Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? Na noite escassa
Com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo nós gritamos: sim! Ao eterno."

(Soneto da perdida esperança), em Brejo das almas de Carlos Drummond de Andrade

"O ser busca o outro ser, e ao conhecê-lo
acha a razão de ser, já dividido.
São dois em um: Amor, sublime selo
que à vida imrpime cor, graça e sentido.
'Amor' - eu disse
E floriu uma rosa
embalsamando a tarde melodiosa
no canto mais oculto do jardim,
mas seu perfume não chegou a mim."

("Amor") de Carlos Drummond de Andrade

Imagem: Cena do filme Crimes e Pecados de Woody Allen

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Envelopes lacrados

"Eu não sei exatamente onde estou indo
Mas vou tentar ir ao Paraíso, se eu puder
Porque isto faz me sentir como um homem
Quando eu enfiar a agulha na minha veia
E direi a você que as coisas não são mais as mesmas
Quando estou apressado em minha corrida
E sinto como se fosse filho de Jesus
E acho que eu simplesmente não sei
E acho que eu simplesmente não sei...
Eu fiz a grande escolha
Vou tentar destruir minha vida
Porque quando o sangue começar a jorrar
Quando isto passar pelo meu pescoço
Quando eu estiver chegando perto da morte

E vocês não podem me ajudar, não vocês, caras
Nem vocês doces meninas com suas doces conversas
Você todos podem ir catar coquinhos
E acho que eu simplesmente não sei
E acho que eu simplesmente não sei

Eu queria ter nascido há mil anos atrás
Queria ter navegado pelos mares mais escuros
Em um grande barco à vela
Indo desta terra aqui para aquela
Em uma roupa de marinheiro e chapéu

Longe da metrópole
Onde um homem não pode se livrar
De todo o mal da cidade
E dele proprio, e daqueles a sua volta
Ah, e acho que eu simplesmente não sei
Ah, e acho que eu simplesmente não sei

Heroína, seja a minha morte
Heroína é minha esposa e minha vida
Porque um caminho na minha veia
Leva ao centro do meu cérebro
E então estarei melhor e morto

Porque, quando a heroína começa a se espalhar
Eu realmente não me preocupo
Com todos os babacas desta cidade
Nem com todos os políticos fazendo sons malucos
Nem com todo mundo maltratando todo mundo
Nem com todos os corpos mortos empilhados em montes

Porque, quando a heroína começa a correr
Eu realmente não me preocupo com mais nada

Ah, quando a heroína está no meu sangue
E este sangue está na minha cabeça
Cara, graças a Deus estou bem e morto
E graças ao seu Deus eu nem sei disso
E graças a Deus eu simplesmente nem me importo
E acho que eu simplesmente não sei
Oh, e acho que eu simplesmente não sei"

Não é tempo de escrever sobre rosas, teatro é uma lente de aumento, comigo a anotomia ficou louca, coração gigante grávido de suicídio, cinema é uma concepção do mundo, o pôster para à comunicação de massas. Uma bofetada no gosto do público. Depois de morto falarei como um vivo. (Maiakóvski) 



Texto:Canção de uma das bandas que mais curto Velvet Underground - Heroína e escrito do poeta russo Maiakóvski.
Imagem: Cena do filmes Trainspotting e Laranja Mecânica

sábado, 5 de junho de 2010

O brilho de certo olhar...

"Ganhaste meu coração

Com um só de teus olhares...

Com um só pingente
dos teus colares

Como tuas doçuras são belas."

Texto: Haroldo de Campos (1929-2003), poeta brasileiro.
Imagem: Cena de Pulp Fiction (Tempo de Violência), de Quentin Tarantino

quinta-feira, 20 de maio de 2010

"Cicatrizes não se transferem"

- Happy end

O meu amor e eu
nascemos um para o outro

agora só falta quem nos apresente...

- Quem de dentro de si não sai
Vai morrer sem amar ninguém

A parte perguntou para a parte qual delas
é menos parte da parte que se descarte.
Pois pasmem: a parte respondeu para a parte
que a parte que é mais — ou menos — parte
é aquela que se reparte.

- Estilos trocados

Meu futuro amor passeia — literalmente — nos
píncaros daquela nuvem.

Mas na hora de levar o tombo adivinha quem cai.


- Passeio no bosque

o canivete na mão não deixa
marcas no tronco da goiabeira

cicatrizes não se transferem

Texto: Poemas de um dos poetas que mais admiro e me identifico (Cacaso)

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Ai se sesse!

Se um dia nós se gosta-se
Se um dia nós se quere-se
Se nós dois se emparea-se
Se jutim nós dois vive-se
Se jutim nós dois mora-se
Se jutim nós dois drumi-se
Se jutim nós dois morre-se...
Se pro céu nós assubi-se
Mas porém se acontece-se de São Pedro não abri-se
A porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arrimina-se
E tu com eu insinti-se
Prá que eu me arresouve-se
E a minha faca puxa-se
E o bucho do céu fura-se
Távez que nós dois fica-se
Távez que nós dois cai-se
E o céu furado arria-se
E as virgem todas fugir-se

Poema (Ai Se Sesse) do poeta Zé da luz, o grupo Cordel do fogo encantando musicou o mesmo.

sábado, 17 de abril de 2010

Moinho...

Eles te fodem, teus queridos paizinhos,
Eles não fazem por mal, mas fazem assim mesmo.
Te enchem com os defeitos deles,...
E acrescentam ainda alguns, só pra você.
Mas eles também foram fodidos,
Por idiotas, vestidos com antigos chapéus e casacos,
Que ora estavam contritamente sendo severos,
Ora estavam aborrecendo os demais.
O homem passa a miséria para o homem,
Ela cresce como uma plataforma litorânea.
Assim, fuja o quanto antes,
E não tenha filhos.

Poema: This be the verse (Que seja esse o verso), do grande poeta inglês Philip Larkin


OBS: Traduzido por Sérgio

Foto de Marvin Gaye

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Pesadelos de Diane Di Prima

Tire seu pescoço cortado da minha faca


(Pesadelo 6), da poeta beat Diane Di Prima.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Garcia Lorca, o que fazia lá, no meio das melancias?...

UM SUPERMERCADO NA CALIFÓRNIA

Como estive pensando em você esta noite, Walt Whitman,
enquanto caminhava pelas ruas sob as árvores, com dor de
cabeça, autoconsciente, olhando a lua cheia.
No meu cansaço faminto, fazendo o Shopping das imagens, entrei no supermercado das frutas de néon sonhando com tuas enumerações!
Que pêssegos e que penumbras! Famílias inteiras fazendo
suas compras a noite! Corredores cheios de maridos!
Esposas entre os abacates, bebês nos tomates! - e você,
Garcia Lorca, o que fazia lá, no meio das melancias?...

Eu o vi Walt Whitman, sem filhos, velho vagabundo solitário, remexendo nas carnes do refrigerador e lançando olhares para os garotos da mercearia.
Ouvi-o fazer perguntas a cada um deles; Quem matou as
costeletas de porco? Qual o preço das bananas? Será você meu
Anjo?
Caminhei entre as brilhantes pilhas de latarias, seguindo-o
e sendo seguido na minha imaginação pelo detetive da loja.
Perambulamos juntos pelos amplos corredores com nosso
passo solitário, provando alcachofras, pegando cada um dos
petiscos gelados e nunca passando pelo caixa.
Aonde vamos, Walt Whitman? As portas fecharão em uma
hora. Para quais caminhos aponta tua barba esta noite?
(Toco teu livro e sonho com nossa odisséia no supermercado e sinto-me absurdo)
Caminharemos a noite toda por solitárias ruas? As árvores
somam sombras às sombras, luzes apagam-se nas casas,
ficaremos ambos sós.
Vaguearemos sonhando com a América perdida do amor,
passando pelos automóveis azuis nas vias expressas, voltando
para nosso silencioso chalé?
Ah, pai querido, barba grisalha, velho e solitário professor
de coragem, qual América era a sua quando Caronte parou
de impelir sua balsa e Você na margem nevoenta, olhando a barca desaparecer nas negras águas do Letes?

Um supermercado na Califórnia de Allen Ginsberg em Uivo: Kaddish e outros poemas (1953-1960). Prefácio, seleção, tradução e notas de Cláudio Willer.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Deserto...

"...Aqui, com um Pão debaixo dos Ramos,
    Um frasco de Vinho, Um Livro de Versos -  e Vós
    A meu lado cantando no Deserto
    E o Deserto é o Paraíso para nós.

    Ah, meu Amor, encha a taça que redime
    O hoje das lágrimas passadas e futuros Temores -
    Amanhã? -  Bem, Amanhã eu posso ser
    Eu mesmo com os Sete Mil Anos de Outrora...


    Ah, Amor! Poderíamos conspirar com as Moiras
    Para agarrar inteiro este lamentável Esquema das
coisas,
    Não iríamos estilhaçá-lo em pedaços -  e então
    Remoldá-lo mais próximo do Desejo do Coração?..."

                   (Omar Fitzgerald)
   
      
   

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A piedade

Eu urrava nos poliedros da Justiça meu momento
abatido na extrema paliçada
os professores falavam da vontade de dominar e da
luta pela vida
as senhoras católicas são piedosas
os comunistas são piedosos
os comerciantes são piedosos
só eu não sou piedoso...

se eu fosse piedoso meu sexo seria dócil e só se ergueria
aos sábados à noite
eu seria um bom filho meus colegas me chamariam
cu-de-ferro e me fariam perguntas: por que navio
bóia? por que prego afunda?
eu deixaria proliferar uma úlcera e admiraria as
estátuas de fortes dentaduras
iria a bailes onde eu não poderia levar meus amigos
pederastas ou barbudos
eu me universalizaria no senso comum e eles diriam
que tenho todas as virtudes
eu não sou piedoso
eu nunca poderei ser piedoso
meus olhos retinem e tingem-se de verde
Os arranha-céus de carniça se decompõem nos
pavimentos
os adolescentes nas escolas bufam como cadelas
asfixiadas
arcanjos de enxofre bombardeiam o horizonte através
dos meus sonhos


A piedade de Roberto Piva

terça-feira, 30 de março de 2010

A luva

Pensa na glória! Arfa-lhe o peito, opresso.
- O pensamento é uma locomotiva -
Tem a grandeza duma força viva
Correndo sem cessar para o Progresso.

Que importa que, contra ele, horrendo e preto
O áspide abjeto do Pesar se mova!...
E só, no quadrilátero da alcova,
Vem-lhe á imaginação este soneto:

"A princípio escrevia simplesmente
Para entreter o espírito... Escrevia
Mais por impulso de idiosincrasia
Do que por uma propulsão consciente.

Entendi, depois disso, que devia,
Como Vulcano, sobre a forja ardente
Da ilha de Lemnos, trabalhar contente,
Durante as vinte e quatro horas do dia!...
...

Riam de mim, os monstros zombeteiros,
Trabalharei assim dias inteiros,
Sem ter uma alma só que me idolatre...


Tenha a sorte de Cícero proscrito
Ou morra embora, trágico e maldito,
Como Camões morrendo sobre um catre!"


Nisto, abre, em ânsias, a tumbal janela
E diz, olhando o céu que além se expande:
"- A maldade do mundo é muito grande,
Mas meu orgulho ainda é maior do que ela!


Ruja a boca danada da profana
Coorte dos homens, com o seu grande grito,
Que meu orgulho do alto do Infinito
Suplantará a própria espécie humana!


Quebro montanhas e aos tutões resisto
Numa absolta impassibilidade",
E como um desafio à eternidade
Atira a luva para o próprio Cristo!


Chove. Sobre a cidade geme a chuva,
Batem-lhe os nervos, sacudindo-o todo,
E na suprema convulsão o doudo
Parece aos astros atirar a luva!



Poema (A luva) de Augusto dos Anjos

domingo, 28 de março de 2010

Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Versos Íntimos de Augusto dos Anjos (1884-1914)




sábado, 20 de fevereiro de 2010

Toda inteira

O teu corpo,


 Hei de cuidá-lo e amá-lo,


 Como um soldado mutilado na guerra,


 Inútil, sem ninguém,


 Cuida de sua única perna.


(Maiakóvski)

Fotografia de Brassai: Vintage Silver Gelatin Print 23 x 18 cm (1932)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Janelas do meu quarto...

Álvaro de Campos - (Fernando Pessoa)
TABACARIA

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres
Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens.
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas! Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo. Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente? 0 mundo é para quem nasce para o conquistar E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
0 seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível. Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida, Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -, Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem, E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri, E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube, E o que podia fazer de mim não o fiz. 0 dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido. Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis, Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos. A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos. Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu. Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas, Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra , Sempre o impossível tão estúpido como o real, Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície, Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra. Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.) Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou á janela.
0 homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(0 Dono da Tabacaria chegou á porta.) Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Fim de tarde...

NAO QUERO
Não quero alguém que morra de amor por mim... Só preciso de alguém que
viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando.
Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.
Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim... Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível... E que esse momento será inesquecível... Só quero que meu sentimento seja valorizado.
Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre...E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.
Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém... e poder ter a absoluta certeza
de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto.
Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho...
Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento... e não brinque com ele.
E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesmo...
Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe... Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz.
Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos,talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.
Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas...
Que a esperança nunca me pareça um "não" que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como "sim".
Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto é especial e importante pra mim, sem ter de me preocupar com terceiros... Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento. Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão... que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim... e que valeu a pena!
Poema de Mário Quintana

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Festas?!...

I. "As origens" e as "farsas" e os "medos"

As gaiolas foram abertas e animais de estimação são soltos acompanhados de suas mutilações em uma reunião familiar.

As taças cheias são levantadas em comemoração na ceia de origem pagã! Discursos são ouvidos em uma mesa em outro cômodo onde sentinelas a serviço do grande irmão trocam confidências com os agentes da ordem de cristo contemporânea.
Cristo este que antropologicamente está fatiado na mesa sendo servido aos presentes.

As risadas ouvidas são de Voltaire e não de Rebelais muito menos de Marquês de Sade, são alimentadas pelo vazio e pela certeza de que suas únicas certezas estão fincadas no vazio e no nada, existentes no âmbito de cada um.

A presença mesmo na ausência do cadáver celebrado e fatiado todos os anos!

... No inicio festa pagã... Hoje uma comemoração a uma celebridade guardada em palanques de mentiras regidos por figuras do barroco.

A noite chega perto do fim

As virgens não correm mais o risco de receber à visita do arcanjo Gabriel... Pois de acordo com os noticiários já se sabe que o amigo íntimo de Maria e João está a par das novidades depois de uma conversa com La Rochelle.
Segundo as mesmas fontes Rochelle teria dito as seguintes palavras a Gabriel: “Que adianta a virgindade do corpo se já não existe a virgindade do espírito. Que adianta o amor do espírito se não existir o amor da carne”.

Agora que na noite gasta pelo tempo o eclipse se aproxima e com ele o vôo dos pássaros mudos e mutilados, as gaiolas são mais uma vez fechadas, aos que não tiveram chance de sair desta vez no próximo ano haverá outra chance.

Em troca de mutilações e de cantos censurados é claro!


Juan Moravagine Carneiro


Este poema já têm um tempo, mas sempre me recordo dele nesta época!

O tempo...

O Tempo



A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
que, infelizmente, nunca mais voltará.


Poema de Mario Quintana

Related Posts with Thumbnails