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segunda-feira, 17 de maio de 2010

"Sem desejo, não há nada"

"...Nós, humanos, somos o único animal que sabe que vai morrer. E a nossa vida é atraveassada pela morte - física ou espiritual. Morrem-nos pessoas queridas, relações afetivas, e em cada uma dessas mortes morremos um pouco e transformamo-nos. Quanto mais conseguimos prolongar a vida, mais mortes experimentamos. Somos todos tocados por um sentido de orfandade cada vez mais presente. Por outro lado, procuramos desesperadamente esquecer a morte, que se tornou também uma banalidade - todos os dias recebemos notícias de milhares de mortos desconhecidos pelo mundo...

"...Penso que se um escritor não conseguir encarnar cada uma das diferentes verdade de suas personagens não é um escritor. Mas tenho um carinho especial pela Jenny de (Nas tudas mãos) escrevi esse livro porque Jenny começou a asombrar-me os sonhos e a sussurrar-me sua história..."

"...Não; um escritor é, por definição, um ser hemafrodita...Virginia Woolf escreve que a mudança de sexo alterava-lhe o futuro mas não a identidade. Espero ainda haver o dia em que o sexo não determine o futuro..."

"...Desequilíbrio, ainda. O discurso vai muito à frente da prática. Por isso é que existir dentro das palavras é habitar um futuro radioso..."

"...Talvez o lirismo, a poesia - há muito mais poetas homens do que mulheres, talvez porque o sentimento é muito mais censurado nos homens do que nas mulheres. as mulhres são educadas para o concreto, a atenção aos outros, o detalhe existencial. Claro que tudo isso é cultural e, espero, passageiro..."


"...Apesar de tudo - as loucuras anoréxicas da moda, a obsessão com a cirurgião plástica e a juventude eterna, a pressão publicitária -, o corpo da mulher nunca foi tão livre quanto hoje. Já não há espartilhos obrigatórios, nem destinos biológicos inescapáveis...."

"Se eu soubesse, deixava de escrever. Talvez "quero-te". Sem desejo, não há nada"

Texto: Fragmentos de uma entrevista de Inês Pedrosa para revista Entre Livros, Ed. Duetto. Por Luciana Araujo (Todos direitos reservados a mesma).
Imagens: Tela de toulouse-lautrec e Foto de Inês Pedrosa.

Obs: Confesso que não conheço toda obra de Inês Pedrosa, para falar a verdade meu primeiro contato com o trabalho da mesma foi através de Vanessa e por citações em outros espaços como...reino das palavras..., sendo assim o presente post basicamente é mais para os leitores que necessariamente para mim.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

"Continuo a ser um camponês" (Luto)


"Estamos falando da infância e tudo é muito ingênuo. Nunca se consumou nada, era pura curiosidade...Olhe, por mais que pareça um exagero, continuo sendo um camponês. Claro que nõa pelas roupas que visto ou pelo modo de falar, mas a lembrança da minha infância é tão intensa que tenho de reconhecer que a pessoa que sou, nõa o escritor, mas a pessoa, tem suas raízes ali, naquele lugar, naqueles anos e naquele lar"...

"...São traços que subsistiram por toda a minha vida. E eu mesmo não entendo por que me acontecem certas coisas, como ficar triste durante festas. Não que a alegria dos demais me incomode. É só que, quando as pessoas ao meu redor se divertem, eu me pergunto: o que estou fazendo aqui? E, acredite, nõa é por nenhum sentimento de superioridade, tem a ver com a minha incapacidade de me integrar...Até jantando entre amigos há ocasiões em que preciso me isolar. Não posso evitar..."

"Minha família era muito humilde . O fato do meu pai ser funcionário público não significa que recebesse um bom salário...Até meus 14 anos não pudemos ter sequer um pequeno apartamento para nós três...Não tive um quarto próprio até me casar, aos 22 anos. É verdadeiro esse episódio das baratas. E eu não conto para dar pena..."


"...Quando você viveu coisas como essa, ou ver que seus avós colocavam na cama os porcos para ajudá-los a sobreviver com o calor do seu corpo, é lógico que tudo isso venha a influir em você. E não me refiro ao escritor, ao Prêmio Nobel de Literatura; falo da pessoa, do modo de entender o mundo..."

"...Nunca fui um desses meninos precoces que escrevem um romance aos 6 anos. Já contei que comprei meus primeiros livros aos 19 anos, e que até então lia na biblioteca...No entando, lembro que aos 18 ou 19, conversando com meus amigos, me ocorreu dizer que seria escritor...Trabalhei como mecânico, como funcionário público, e publiquei Memorial do Convento aos 60 anos, uma idade em que muitos autores já têm sua carreira feita. Não fui ambicioso, vivi dia a dia. Disse isto na Feira de Frankfurt quando me comunicaram que havia ganho o Prêmio Nobel de Literatura: "Não nasci para isto, mas isto foi-me dado" Tive a sorte de ter uma vida longa, já que me permitiu fazer em poucos anos o que não pude ou não soube fazer antes. E não deixo de me perguntar porque acontenceu assim..."

Texto: Fragmento de uma entrevista de José Saramago para revista Entre Livros, Ed. Duetto, por Óscar López. (Todos direitos reservados). Reeditado

Imagem: Dois velhos comendo, tela de Franscisco de Goya, 1820-1823 e Foto de José Saramago

OBS: Um pedaço de mim se foi com a notítica da morte de Saramago.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

É preciso desaprender a escrever

"É a maneira que tenho de pensar a vida com mais profundidade. Quando a vida me agarra, me força a refletir sobre ela, é então que nasce o poema. Li vários filósofos, tenho uma porão de idéias, minhas e alheias, mas tem um momento EM QUE ISSO NÃO VALE NADA. Defronto-me com o mundo indecifrável e aí começo esse pensar que resulta no poema. Trata-se de uma questão de vida ou morte"...


"Antes, amadurecia bastantea idéia, ficava pensando o poema na cabeça. Quando me sentava para escrever, já tinha mais ou menos um rumo de por onde o poema ia e ele quase que saía de um jato. Depois modificava apenas uma coisa ou outro.
Atualmente, minha técnica de criação é diferente, eu escrevo dez, quinze vezes o poema. Quando sou motivado, comçeo um primeiro borrão ainda sem um rumo. Em seguida, incorporo outras idéias, em um processo bastante indeterminado. Me agrada nõa saber onde vou chegar. Na verdade, estou desaprendendo a escrever. Hoje, tenho meno domínio técnico. Quando a poesia se restringe à pura técnica, o poema nõa vai além da superficie. Na arte, em greal, quando a técnica se torna hábito e domina a realização, dificulta-se o surgimento do novo"


"Nunca penso assim: é preciso adotar providências. Embora eu seja bastante lúcido em relação a outras coisas, nunca teorizo sobre minha poesia. Apenas observo o que vai acontecendo e procuro me comportar dentro disso. Aliás, acho que minha poesia tem uma tendência para a desordem.
O poema não possui uma forma fatal. Tanto pode sair uma coisa, como outra. A idéia da obra-prima insubstituível, feita exatamente como tinha de ser, não é verdadeira. Se você for escrever o mesmo poema seis meses depois, sai outro. O tema, as idéias permanecem, mas a realização é diferente.
A vida não é determinada, ela é uma invenção. O prrincípio da incerteza da física quântica nõa impera só na dimensão infra-atômica. Na vida normal, é evidente que procuro, tanto quanto possível, pôr ordem nas coisas. No entanto, quando estou fazendo poemas, sou mais livre, mais indeterminado do que quando vou ao mercado"


Texto: Fragmento de uma entrevista de Ferreira Gullar para a revista Entre Livros, por Ricardo Musse, Ed. Duetto (Direitos reservados)

Imagens: Foto de Ferreira Gullar e cenas do maravilho filme (PI), de 1998. Dirigido por Darren Aronofsky

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