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quarta-feira, 11 de março de 2015

A cidade da minha televisão



O som da comédia

Permitam-me começar, a sair. Vou ser breve. É uma história de cinema. Vão ver que faz sentido. Begin Again, a mais recente obra de John Carney (Once), oferece Nova Iorque ao som da canção. Utiliza esta para transformar a outra. A cidade como personagem, construída aos olhos de quem a ouve. Somos nós, nossos leitores, nossas playlists, nossos passos e encontrões que a redesenham num contínuo que nunca fecha. Nunca dorme. Os dois protagonistas andam perdidos pelas ruas, partilhando o som, através de um adaptador, e dividindo pela primeira vez a experiência. No final, sentam-se no passeio e ele desabafa: como a música tem o poder de transformar qualquer cena banal numa pérola. É a arte a roubar descaradamente os espaços e a dar-lhe novos contornos. Furtar à vista de todos Nova Iorque, erguê-la à sua medida. Assim a música, e nossos dias. Assim a comédia, e os mesmos nossos e os mesmos dias. Em concreto a grande maçã no pequeno ecrã. A rimar e a concluir com esperado sucesso este raciocínio, que sim reconhece uma enorme variedade de abordagens, mas que não, não encontra outra casa como o riso.

O mar é infindável quando procuramos séries televisivas ambientadas em Nova Iorque, de cabeça ou de teclado. A lista é gorda a cada década que passa. E são claras as sirenes. O policial que aproveita o cinzento para dele descobrir seus casos. Usando nalguns casos, descaradamente o N e o Y como bandeira. NYPD Blue (1993) e CSI: NY (2004) por exemplo. A primeira correu durante doze anos e terminou pouco depois da segunda arrancar. Que por sua vez lá se esticou em nove temporadas. Não existiam nelas dúvidas da sua presença. É ali, gritavam no genérico, nas cores e no tempo, para que fosse impossível pensar na fuga. Movimentos rápidos da pistola à procura do suspeito rimavam com os acelerados desvios da câmara. As sequências aéreas de magnitude que depois se fechavam nos apertados becos chuvosos. Castle, Rescue Me, Law & Order, Elementary, Person of Interest, Without a Trace, Blue Bloods. É difícil descolar com tamanha imposição azul, com a força de intervenção, mas estamos em última instância a falar mais na forma. Não tanto nos vasos sanguíneos. Na incorporação das ruas nas veias, do metro nas artérias. Isso galopamos num único sentido, o da comédia.

Quem és tu miúda?

Broad City foi uma das grandes revelações de 2014, presente em qualquer top que se preze, armando ou não os cucos. Revelação, pequena maravilha, hilariante, os adjetivos seguiam em fila indiana, servindo pois para alertar os mais despistados. A série criada e protagonizada por Ilana Glazer e Abbi Jacobson, e produzida por Amy Poehler, estreou no início desse ano no Comedy Central, e dá continuidade à websérie de mesmo nome que arrancou em 2009. Duas amigas, nos seus vinte e tais, em Nova Iorque. É esta a premissa. Minto, é um bocadinho mais citadina: comédia estranha sobre um casal de gajas (broads), melhores amigas, que passeiam os seus vinte anos em Nova Iorque. Falidas e falhadas, não dizem não às situações complicadas que a cidade lhes impõe. Cidade de gaja, cidade das gajas, é por aí, resume bem a situação. E a especificidade necessária para que exista de facto tudo dentro deste enorme nada, natural e realista. O cenário passa a motor essencial, não só na sinopse e título mas na verdadeira orgânica narrativa. É o terceiro elemento, tão vivo e esperto como todos os outros, a colidir incessantemente nas peças que se deslocam baralhadas, e azaradas. Tão ou mais importante que a carne e osso. É que feitas as contas é a sua magnitude e diversidade que tornam possíveis as situações, relações, e consequentemente as características das personagens. Um lugar de tudo e de todos cria usualmente os habitantes insensíveis, sarcásticos, cáusticos, perdidos e sem horizontes. Exatamente o oposto do sonho americano, de lá tudo ser possível. Exatamente o oposto da abordagem trinto-quarentona de Sex and the City. Onde as quatro amigas passeiam os seus sapatos de salto alto e o seu sucesso, pelas ruas bem mais ficcionadas e coloridas. Saímos do realismo para o consumismo, porém sem nunca sair de lá. É outra vertente, bem mais apelativa a um estilo de vida, ou só ao estilo. À emancipação feminina na forma de notas, carreiras e encontros amorosos. Muitos encontros amorosos. Nova Iorque possibilita o acaso, o anonimato, e as relações em catadupa. A libertação e liberalização do sexo, girl power, como gritavam as Spice Girls. A série da HBO e sua febre já todos nós provámos: seis temporadas, dois filmes e uma série prequela (The Carrie Diaries). Também todos nos lembramos das ousadas cenas de sexo do quarteto, umas com mais sexo que outras, mas todas a despir e a marcar uma época. À imagem da mais recente aventura feminina do mesmo canal Girls, que viu recentemente um dos seus episódios causar pesada polémica. O número um da quarta temporada ofereceu uma arrojada cena de sexo anal/oral que deixou todos a falar. Longe demais ou na mouche (sem segundas intenções) foram as ondas que se seguiram caindo na areia, sobre o momento protagonizado por Allison Williams e Ebon Moss-Bachrach. A série de Lena Dunham sempre foi desenvergonhada no que toca à nudez, sexo, linguagem. Como a casa a mãe, alvo de um delicioso vídeo satírico que terminava com a frase “it´s not porn, it´s HBO”. Quatro amigas, a tentar a sorte na cidade grande. Parecido no número a Sex and the City e idêntico nos dilemas geracionais a Broad City, Girls acrescenta algo mais à interface rapariga-cidade. Sai do assumido campo da comédia e mistura-o com o dissimulado campo do drama. A comédia da vida, que às vezes não tem piada nenhuma, atirando para o fundo uma série de ambições e vontades. Passeando mesmo na lama. Constatando demasiado cedo os falhanços e a reação ausente aos mesmos, deixar andar, no dia-a-dia. Egoísmo do grande anonimato mas também os sonhos, a dicotomia campo-cidade, deixar tudo para amadurecer. Como uma velha canção, é a bofetada mais acertada, não apenas sobre raparigas, mas sobre todo um conjunto de seres humanos procurando desesperadamente algum significado.

Amigos (da onça)

Friends será sempre rotina. Por muito que não se queira, onze anos depois a série continua presente. Nos espaços, nas conversas, nas deixas, nas televisões e eternas repetições. Até aqui, ou não tivesse a última Take dedicado acentuado parágrafo aos seis amigos. A propósito da longevidade da mesma, dez aninhos. Agora voltamos à carga, ou não fosse esta uma peripécia nova-iorquina. Muitos cenários, muito estúdio, mas os pequenos separadores levavam-nos automaticamente para a rua. Contexto, como o Washington Square Arch que lá nos indicava mudança de cena. Foi o início do rastilho. Uma abordagem mais ingénua e facilitista, que serviu de percursor aos murros que atualmente levamos. Evoluindo, para o real, como a própria comédia. Não deixa porém de ser o caótico vendaval que permite depois a figura do reencontro, naquele famoso apartamento ou café. Ou no bar, se saltarmos sem misericórdia para How I Met Your Mother, série que se despediu do público em 2014. Isto depois de uma promessa que demorou nove anos a ser cumprida. Uma resposta que foi sendo adiada, adiada, adiada, adiada, para bem da indústria, para mal dos fãs. É difícil manter frescura, mesmo com a cidade na mão. Apesar disso o gangue dos cinco criou momentos lendários, com as histórias dentro das histórias, sendo a aleatoriedade do movimento a funcionar como motor. É o coração do país, e da identidade cultural. Inúmeras as piadas a respeito da personagem canadiana (Robin) ou inúmeros locais icónicos a servir por sua vez de piada (a famosa manobra de Barney no topo do Empire State Building onde se aproximava de uma rapariga sozinha e com ar desesperado e proferia a frase: ele não vem). Uma estirpe de comédia que unificava cada uma das personagens, nas suas idiossincrasias e peculiaridades, que divertia mas que nunca aleijava. O lado melhor, mais ficcionado e artificial. Cheirava mais a cartão que a verdadeira, única e ácida. O grupo nova-iorquino que terá para sempre a estátua, o pódio, o prémio. Seinfeld, claro está. Não é por acaso que o canto do cisne os retira aos quatro da cidade grande e os coloca na cidade pequena. Numa vila, aldeia, noutro lugar, fora do aquário. E também não é por acaso que é lá que eles são presos e julgados, não apenas por não terem ajudado uma pessoa mas por tudo o que fizeram no passado. A lei do bom samaritano, foi essa que eles não respeitaram, que eles nem sabiam que existia. Porque as suas leis são outras: nova-iorquinas. Só a metrópole para produzir tamanho egoísmo, ou melhor, só a metrópole para trazer à tona tamanho umbigo. Porque para além de produzir, há o incomparável fator espelho que nos seduz, que nos envergonha e sinaliza. Somos assim de facto: pobres de espírito, mesquinhos, sovinas, maldizentes, ruins, podres. Mordazes, irónicos, críticos, críticos, críticos e críticos. Era essa a genialidade deste nada: recorrer ao enorme para concretizar o muito pequeno. Os locais, as peripécias, o saltitante sonoro, são conjunto que definiu não apenas uma década mas uma forma de ver e sentir a cidade. Cada um por sim, prenúncio do fim. No fundo o que Louie já percebeu há algum tempo: que a vida é uma cidade solitária, onde de vez em quando tentamos ter piada. 

Texto publicado na Take New York.

terça-feira, 10 de março de 2015

Take New York

It´s up to you. Cidade viagem, dos sonhos deste bom cinéfilo. Cenário de tanta coisa, de tanto imaginário que merece esta vénia, para que não se dissipe no infinito. New York, New York.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Longa vida à série! (Parte 2)

10 – Friends



Enquanto uns são esquecidos, outros são constantemente recordados. Nunca saem realmente de moda, quer nas reposições, referências ou visibilidade dos protagonistas. Terminaram há 20 anos, mas todos os anos lá temos novas listas, novos momentos, novos rumores de reunião e, claro, nova maratona dos episódios todos de seguida, que usualmente termina em desidratação e urgências. Mas não deixa de ser muito engraçado. Não é, mas prosseguindo, de todas as celebrações dos 20 anos esta é capaz de ter sido a mais notada, falada e comentada. Para onde quer que se olhasse lá estavam eles, citações, abraços, choradinhos e aquele fado de que nunca mais uma comédia voltará a ter aquele impacto. Até abriram um Central Perk de verdade, onde uma horda de saudosistas se podem sentar no sofá laranja, tirar fotografias e beber café, como os verdadeiros fictícios faziam. Loucura. As filas são de facto extensas para se poder compreender tamanho impacto. “So no one told you life was gonna be this way” alertavam logo os Rembrandts, no seu I´ll Be There For You, como antevendo a surpresa do seu gigantismo. Quando se começa a escrever, nos inícios da grafite, quando a série ainda se chamava Insomnia Cafe – sim tinha esse nome – David Crane e Marta Kauffman não deviam sonhar ou projectar dez temporadas, dez anos, 236 episódios e mais de 60 nomeações aos Emmys. Certo é que aqui estamos, com as caixas na prateleira e com constantes reposições televisivas. Até tivemos direito à versão dobrada em português, ainda nos anos 90, que era tão boa ou melhor que a versão original. Obviamente, que analisar 10 anos de vida- muita moda correu - não é traçar uma curva exponencial ou outra recta, anos de muita saúde e depois a idade, inevitável perda de fulgor. Mas o conjunto é algo que neste caso sempre falará mais alto, muito devido, em parte a esse sentido colectivo de união, sempre cultivado quer pela ficção quer pelos actores, mas também pelo modo como acertaram nos 6 protagonistas. Uniformidade colectiva presente numa individualidade que se espelhava nesta ou noutra forma em cada espectador. Memorável.

 15 – E.R.



Ai os dramas médicos. Eternos corrupios de doenças, de portas que abrem e fecham, apressadas no bip bip dos ritmos cardíacos, do sangue e da entrega. Máscaras e toucas que escondem bonitões solteiros, com problemas emocionais e um problema maior: deixar de ser solteiro. Orgânica que tem sempre grandes hipóteses de aguentar a maratona. Diferenciar dentro de um ambiente comum, pouco conhecido mas familiar a todos. É o passar a linha e espreitar, não só as vidas mas os casos, fonte inesgotável de inspiração. Não há fim à vista quando falamos de doença, o House que o diga. Mas voltemos a 1994 e à estreia de E.R., série da NBC criada por Michael Crichton e pensada inicialmente, por este e Steven Spielberg, para o formato cinema. Desse conceito saltaram para um piloto televisivo, inicialmente condenado por muitos velhos: não resulta, demasiado filme, demasiado movimento, demasiado tenso. O resultado foi o oposto e as longas sequências por diversas salas, personagens e acontecimentos marcaram o universo televisivo dos anos 90 e prenderam ao sofá um número incontável e interminável de fãs. Escrever história é isso: depois de retirar os prémios (mais de 100), os episódios (mais de 300), as temporadas (15), as estrelas formadas (George Clooney, Juliana Marguiles, Anthony Edwards, Noah Wyle, etc) e os recordes alcançados (drama médico mais tempo no ar, entre outros) ficar a ideia de uma era, de uma marca. Pensar nos anos 90 do pequeno écran é, inevitavelmente, pensar em E.R.

20 - Kommissar Rex



Parece-me importante referir neste começo que existe uma border collie que consegue identificar cerca de 1000 palavras. É só uma dica, para quem quiser fazer nova aventura canina não tão quadrada, com os pastores alemães. Depois tenho de escrever algumas linhas que no seu conjunto poderão ser tidas como “enorme aborrecimento” mas que servem para contextualizar e justificar o porquê do glorioso número 20. Desde lá até cá, sem parar. Vinte anos? Não pode ser! Pois lá está, o que aconteceu foi o seguinte: originalmente a série era feita na Áustria e tal aconteceu desde 1994 até 2004. Depois, em 2008, a série regressou mas agora com roupagem italiana e existe até aos dias de hoje. Isso não vale, pensam. Então não vale, se os Trovante podem comemorar 35 anos de carreira já não existindo, também o Rex pode saltar este hiato e assumir-se na vintena. Número bonito e impressionante para este melhor amigo do homem, que ladrou na SIC alcançando um enorme (e inesperado) sucesso. De tal forma que, como regressou lá, também regressou cá e em 2013 à estação de Carnaxide, com as suas novas temporadas e agora com a apetecível dobragem. Dava de manhã, para a pequenada. Até hoje, Rex teve 6 parceiros, 1 spin-off (Stockinger), uma versão polaca (Komisarz Alex) e uma versão portuguesa que se chamava Inspector Max, da TVI. Também esta com 20 temporadas. Brincadeirinha, foram só duas.


Não deixa de ser interessante, com todas as suas limitações, estabelecer um padrão de tempo de vida com base nos géneros e espécies. O íntimo, pessoal e polémico acaba por ser o primeiro condenado, seguindo-se o género mal-amado, depois o drama familiar, que acaba por se consumir nele próprio passados 5 ou 6 anos. A comédia elástica, estica, estica, estica, e por fim os casos da semana, médicos e policiais, eterno duelo que ainda hoje está para as curvas. Com a rapaziada dos crachás a levar alguma vantagem. Será assim para sempre? Será a maioria voraz por muitas e não grandes histórias? Será um episódio sozinho, repetidas vezes, o santo graal da televisão? Eu penso que sim, mas começaram este ano tantas outras ficções, vamos ver onde elas chegam e daqui a 20 anos confirmamos.

domingo, 23 de novembro de 2014

Longa vida à série! (Parte 1)

Unidade, tamanho pesadelo de qualquer história. Nenhuma série, no seu perfeito juízo, pretende durar apenas um. Um episódio, uma temporada, um sopro. A continuidade, por mais ilógica que seja é sempre um caminho apetitoso. Temos mais ideias, ideais, interesses, para contar a outrem. Criança nossa, com a vida toda lá à frente. E com os crescentes aumento e acesso à ficção televisiva, a crueldade do machado parece-nos descomunal. Não é, trata-se somente do ecossistema a responder a um fluxo diferente de informação e entretenimento, criando de novo um equilíbrio. Voltando à estabilidade. Mas o que faz uma série prevalecer em detrimento de outra? Darwin és tu? Ou apenas um conjunto diverso e único de factores que determinam os anos, naqueles anos? Difícil a resposta, cheia de complexas teias e argumentos, fórmulas e feitiços. No meio de tanta, ou tão pouca, vida, recuámos até 1994 e a algumas séries emblemáticas que aí nasceram, esticando a régua do tempo e contando até onde foram. No final voltamos às questões.

1 – My So-Called Life

É contraditório, mas também é um facto, que baixa longevidade contribui para o aumento do culto. Quanto mais pequenas e injustiçadas, mais amadas ad aeternum. Produtos muito especiais, dentro mas fora da caixa, têm sempre corridas e tarefas complicadas, podendo, muitas vezes, serem interrompidos ao fim da primeira volta. Também há os detestáveis e o amável favor que nos fazem. Mas nestes casos não, não houve o tempo nem para melhorar nem para piorar. Ficou aquele bloco, para ser viso e revisto, ouvido e debatido, quem nem pequena arca do tesouro. Assim My So-Called Life, drama adolescente que fugia ao estereótipo da idade e que se apresentava adulto e cru. Para a adolescência. Como o título original tão bem exemplificava (cá em Portugal era o pacóvio Que Vida Esta!) contava-se a história daquelas idades, de uma coisa a que os adolescentes chamam de vida, perante as indecisões, confusões, a violência de mutar. Claire Danes, antes das carantonhas de Homeland, antes de ser estrela ou Julieta, era Angela Chase, uma adolescente numa série de círculos, à procura da identidade. Valeu-lhe, com 15 anos, o Globo de Ouro para Melhor Actriz. Apesar de amplamente elogiada pela crítica, a série da ABC teve vida e concorrência difícil, sobrevivendo apenas 19 episódios. Para a posterioridade fica gravada em dezenas de textos, imagens, tops, desde a melhor de sempre até à cancelada cedo de mais, e recordes, como aquela que teve a primeira campanha online de salvação por parte dos fãs. Em 1999 foi lançado um livro, intitulado My So-Called Life Goes On, que dava seguimento à vida, deixada em aberto. Porém é certo, que o futuro será sempre aquele presente na mente e nos fóruns dos que não esquecem.

4 – Babylon 5

Estrelas, tão quietas no nosso céu, tão fugazes no televisor. Qualquer noite estrelada nos sossega a pressa, refastelados em longas cadeiras, Verão talvez. Mas quando voltamos para dentro e volvemos ao repouso, a corda sobe ao pescoço. O aperto começa e se queremos viajar para longe, Grupo Local ou ainda mais para lá, onde de nada sabemos e a imaginação é razão, então temos de estar preparados para a dor. Sufoco. Amar uma série de ficção científica pura e dura é puro e duro. Objectos não muito comuns, caros e carregados de mitologia, de novos apontamentos que tentam desesperadamente um dia ser livro. E nós leitores assíduos. Hoje séries como Defiance mantêm a (pequena) chama acesa, e outras como Extant e The 100 mostram-se como sobreviventes variações do género. Pouco mais resiste aos vampiros, zombies e apocalipses. Vida curta ao espaço. Porém há excepções, sagas que vivem exactamente o que devem viver e, para além de Battlestar Galactica (de 2004) e Star Trek, Babylon 5 foi a única série de ficção científica americana a conseguir cumprir o seu calendário sem ser cancelada. Teve as previstas 5 temporadas que correram durante 4 anos, mas a estação espacial, que dava nome à série e tentava assegurar a paz e diplomacia, estendeu-se para o spin-off (Crusade), para os telefilmes, para o culto, para o infinito. E agora, como as outras duas comparsas de género, vai ter versão cinematográfica. J. Michael Straczynski anunciou recentemente que não desistiu, e que os fracassos passados resultaram em conquista: o guião estará pronto para um lançamento do filme em 2016, reboot da série original.

6 – Party of Five 

Entre nós e o instantâneo, existia normalmente, um intervalo. Uma série nova e fresquinha na TVI, era uma série que já lutava por alguma coisa no seu país de origem. Longamente indeferido mas também amplamente na ignorância. Não existia outra forma, de tal modo que uma novidade era em mim um bicho novo, ponto. Uma televisão independente e jovem, dona dos também jovens X-Files (estrearam em 1993 e por cá no ano seguinte), apostava então (1996) em Party of Five. Era um mundo diferente e eu de mochila, VHS e horas marcadas. Sofá e Suchard Express. O drama pretendia ir do adolescente ao adulto, enquanto nos era contada a história de cinco irmãos, os Salinger, que de um momento para o outro perdem os pais num acidente automóvel. Têm a partir desse momento de enfrentar o lá fora, completamente sozinhos, daí a tal festa dos cinco, cá entre nós eram Adultos à Força. Com o arranque difícil, a série da FOX andou com os nervos em franja, a audiência baixa assustava e ditava um possível cancelamento. Porém, em 1996, durante a sua segunda temporada, ganha o improvável Globo de Ouro para Melhor Série Dramática. Aguentou-se durante 142 episódios, 6 temporadas, 6 anos, cancelada em 2000. Foi porta de lançamento para um conjunto de jovens atores, como Neve Campbell (Scream), Mathew Fox (Lost), Scott Wolf (V) e Jennifer Love Hewitt (Ghost Whisperer) que chegou mesmo a ter um spin-off intitulado Time of Your Life, onde a personagem que interpretava, Sarah, ia para Nova Iorque à procura do seu pai biológico. Foi cancelada a meio da sua primeira temporada. Quanto a Party of Five, ainda hoje é lembrado como o “grande drama esquecido dos anos 90” e um modo de interpretar o género que morreu ali.

Texto publicado na Take 1994

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Take 1994

Já aí está. Ou já aí estava, desde esse ano. Bilhetes à espera de um DeLorean, que os picasse e cuspisse de novo na tela. Sentem-se na Take saudosistas, a viagem, para além de gratuita, é memorável.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Take MGM 90 Anos

O rugir do leão, a assinalar as 36 badaladas. Chegaremos claro às 90, mas agora é parar para saborear.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Take Futebol

Crítica no pé, artigo na cabeça. É a data, é a hora. Bem a tempo do apito, dentro destas e das outras quatro linhas a Take 35 a dar o pontapé de cinema. Vamos lá.

www.take.com.pt

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O gângster de chapéu e comando (3)

Estávamos em 1999 e não era de todo expectável que uma família pudesse alterar as regras do jogo e transformar para sempre a ficção. Considerada por muitos como a melhor série de todos os tempos – e merecedora de um especial nesta edição - “The Sopranos” contava a história de Tony Soprano (soberbo James Gandolfini), um pai de família e chefe de máfia, que tenta conciliar estes dois quotidianos com a ajuda de uma psiquiatra. Este foi o pontapé de saída, da mente de David Chase, que o tricotou durante 6 temporadas, conquistando tudo o que havia para conquistar. Ainda hoje se fala e comenta, entre uma imperial e outra. O tal final a negro é a prova de que uma mente sem amarras pode ser dona do mundo. De todo o mundo. E a andar mundo fora passamos do apelido mas ficamos na família. Homo sapiens do mesmo sangue, com a união maior e séria que o vermelho implica. "Brotherhood" conta a história dos irmãos irlandeses Caffe, Tommy (Jason Clarke) político e Michael (Jason Isaacs) bandido. O primeiro a tentar o desespero da reeleição enquanto o segundo tenta reconquistar o seu papel nos negócios escuros que deixou sete anos atrás. Quando teve de fugir. De novo juntos, a colidir e com o resto da esfera familiar a girar e a implicar. Causa, efeito. A cidade de Providence às suas mãos, por veias e estradas distintas. A série da Showtime, criada por Blake Masters, recebeu o sim da crítica, com comparações aos grandes pesos pesados do género, mas nunca conseguiu singrar no resto, audiência. Melhor sorte pedimos para “Peaky Blinders”, série da BBC Two que estreou este ano. Vamos até Birmingham, voltamos aos anos 20. Baseada em factos verídicos esta é a história do gangue que empresta o nome ao título e que tinha a peculiar característica – para além de todas as outras piratarias – de costurar lâminas de barbear nos seus bonés. Cillian Murphy é Tommy Shelby, o líder e cérebro da família, que tenta depois da Primeira Guerra Mundial restabelecer o domínio e hegemonia nas ruas. Ao ver a primeira cena, com ele no cavalo, nas ruas desertas rumo à sua sina, percebemos que não é apenas mais uma saga de crime e de época. É o detalhe e o fabrico artesanal da narração, imagem e interpretação. É para não deixar escapar os curtos 6 episódios da primeira temporada que já tem sucessora assegurada em 2014. Até lá podemos aguardar, ainda este ano, pela estreia de “Mob City” a série que Frank Darabont criou para a TNT e que tem nomes como Edward Burns, Milo Ventimiglia, Simon Pegg, Neal McDonough e Jon Bernthal. Mais uma vez sentados em factos verídicos, seguimos as décadas de conflito entre a polícia de Los Angeles, chefiada por William Parker, e o o grupo criminoso de Mickey Cohen. 1947, assim nos situam num trailer negro, sangrento e de algum modo saudosista. Prometendo voltar a todas as outras cidades que fomos deixando para trás, ao noir que quase já não aparece. Acender o cigarro, pôr o chapéu e esperar.
Texto publicado na Take 33.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O gângster de chapéu e comando (2)

Pouca sorte de uns, muita audácia de outros, mestres, que regressam a casa. Onde foram felizes. Um ano antes Martin Scorsese voltava a ser um bom rapaz. Descia até Atlantic City dos anos 20 e realizava o episódio piloto de “Boardwalk Empire”. Um acontecimento, que marcou e disparou sobre as expectativas. Luxuriante, não só a nível visual como a nível de elenco trazendo na bagagem nomes como Steve Buscemi, Michael Pitt, Michael Shannon e Kelly Macdonald. As grandes luzes e festas, com o mar ali ao lado. Nos passeios no longo passeio. Cristalino e pronto para assistir a um império. Lei seca. O detalhe e o pormenor histórico davam outro requinte à história, à arte que imita a vida: Enoch L. Johnson um político que ascendeu nas décadas de 20 e 30 em Atlantic City, New Jersey. Na série Enoch “Nucky” Thompson (Buscemi) colide com todos, desde os plurais dos comuns até aos singulares dos mafiosos, criminosos, polícias e políticos. Conhece inclusive o Al Capone, protagonista da história e também de outras duas séries, adaptações televisivas do livro de Eliot Ness, “The Untouchables”, situadas antes (1959) e depois (1993) do épico cinematográfico de Brian De Palma (1987). Reconhecida com inúmeros galardões ao longo destes últimos anos, incluindo o Globo de Ouro para Melhor Série Dramática em 2011, continua atualmente a ser um refúgio certo de um género e de um estilo únicos. Já com a confirmação de uma quinta temporada agendada para o Outono de 2014, esta será uma epopeia com página garantida em qualquer manual televisivo. Terence Winter, o seu criador, já vinha com alguma experiência de argumentista e produtor executivo na mesma casa, HBO. Recuamos assim até ao último fôlego da década de noventa.

Texto publicado na Take 33.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O gângster de chapéu e comando (1)

Vamos aquecer o lugar. O trono, dos que mandam e governam de forma menos clara. Os outros lados, aqueles mais escuros e chuvosos que precisam de balas, sangue e fumo. Sacrifício, imponência e por vezes, estilo. Chapéu. Na rua ou no seio da família, a real ou então a outra, de volta às ruas. Para contar e disparar vamos então viajar para trás e para a frente, atrasando ou adiantando os ponteiros, desde Chigago até ao deserto do Nevada. As cidades, sempre elas. Aqui e ali, com associações sabichonas que deixarão qualquer um com a pulga atrás da orelha. Ou com a bala dentro do tambor. E prometo que não falarei de “The Mob Doctor”. 


Era já tarde e quando se boceja não se pensa. Episódio piloto de “Vegas”. Grande erro. Mas a culpa não foi minha, a série da CBS de 2012 tinha realmente tudo para me manter desperto: Dennis Quaid , um rancheiro que se vê forçado a assumir o papel de xerife na Las Vegas dos anos 60, controlada por um gângster de Chicago interpretado, por o não menos incrível, Michael Chiklis. Sem grande risco, rasgo ou ritmo a série acabou cancelada ao fim de uma temporada e eu adormeci. Lá para os lados do deserto. Como aquele que passei, antes da internet. Períodos secos e longos. As pequenas memórias lá se guardavam, em pequenas peças, em pequenos cofres. Martelando noite e dia, regressando nas alturas mais improváveis. Eu sabia, que em miúdo tinha visto uma série de polícias, com um senhor de bigode e que um dos episódios terminava com uma queda de avião. Foi neste cluedo que andei metido anos a fio até que, com um ou dois cliques, cheguei a “Crime Story”. “Runaway”, de Del Shannon, rasgava uma abertura chuvosa na Chicago dos anos 60. Rodas, carros, néones. O nevoeiro e a noite, numa imagética tão própria que recordar é um violento soco, que arrasta de volta todos os sentidos. No meio da estrada, alcatrão, um sobretudo comprido e um cigarro. O tal bigode, Dennis Farina no papel de Mike Torello, chefe da unidade de combate ao crime da polícia que se vê na perseguição de Ray Luca (Anthony Denison), um perigoso mafioso em ascensão. A série girava então em torno do conflito entre estes dois homens, pólos opostos que se perseguiam até ao final. Um frente a frente, como a primeira aparição de Hannibal Lecter, em “Manhunter”, filme realizado na mesma altura que o piloto de “Crime Story” foi produzido. E pelo mesmo senhor, claro está, Michael Mann que, em plena terceira temporada de “Miami Vice” e com um filme para montar, ainda se mete a brincar aos gângsters. Apesar da qualidade inegável do produto a série correu apenas por duas temporadas na NBC, de 1986 a 1988. Razões financeiras ditaram o fim que é o tal desastre de avião. Deixando tudo em aberto, para todo o sempre. Michael Mann lá continuaria, a sua vida cinematográfica e voltaria mesmo a tentar a sorte, de novo no pequeno ecrã, mas infelizmente apostaria no cavalo errado. A sua série “Luck” teve problemas com os equídeos protagonistas e seria precocemente cancelada em 2011. 

Texto publicado na Take 33.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Take Máfia

E já vão 33. Desta vez. Viram como se rima? Fazemos então a tal proposta que não podem recusar. Tudo, tudinho sobre a máfia cinematográfica e televisiva em mais uma apetrechada edição da Take Cinema Magazine. Toca a disparar!

domingo, 15 de setembro de 2013

Take Motores

O verão caiu mas o alcatrão continua a borbulhar. Edição que não engana: é para acelerar. Este vosso aqui teve a presunção de escolher popós televisivos, para nunca mais esquecer:

Vamos parar de respirar. As personagens trocam os glóbulos vermelhos pelos hidrocarbonetos e aceleram quando gritam. Ao longo da história da televisão muitos foram aqueles que encheram de pó os cérebros falantes e os atiraram sem misericórdia para segundo plano. Ganharam plano, luz e lugar. É por eles que as memórias palpitam e pedem regressos. Justiceiros, pães de forma e generais. Sejam bem vindos ao stand automóvel dos 10 carros mais famosos do pequeno écran. 

O resto do artigo e muito mais na bomba do costume!

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Take Apocalipse

Idris Elba diz que hoje vamos cancelar o apocalipse. Não foi hoje - atrasado eu estou - mas ainda a tempo de dizer que a vontade é o oposto: oferecer a destruição. Mais uma edição da Take dedicada exclusivamente ao fim do mundo. Nela, entre muitas outras coisas, encontram um mimoso ABC televisivo dedicado ao tema e escrito pelo Ferreirinha. Aqui ficam as três primeiras letras, o resto no sítio do costume.


A – Alienígenas


Uma das apostas da ABC para a temporada televisiva 2012/2013 foi uma série intitulada “The Neighbors”. Nela, uma família de humanos muda-se para uma nova casa, num bairro povoado de alienígenas. É uma espécie de “Third Rock from the Sun” mas em mau. Houve mesmo quem desmaiasse a tentar encontrar uma deixa engraçada. Porém, o apocalipse do espaço longínquo não vem normalmente nesta forma, até porque boas almas que se tentam integrar – como o “ALF” – não fazem mal a ninguém. Na maior parte dos casos a destruição chega porque lá em casa já não há nada para partir ou então escasseiam recursos. Seja como for o nosso planeta tem de ser rebentado, ou pelo menos limpo, e quando digo limpo é mandar o Homo sapiens para perto do Diogo Morgado (Jesus Cristo).

B – Battlestar Galactica

Sei bem que todos, todos, queriam nesta letra um fundo da Tricia Helfer como veio ao mundo mas por questões editoriais tenho mesmo de vos oferecer um pequeno texto sobre a série. Pode ser? “Battlestar Galactica” tem muitas histórias dentro da história ao longo da história. Versões originais nas décadas de 70 e 80 que deram origem a uma magnífica reinvenção no novo milénio. Séries, minisséries, telefilmes e até a miragem de uma aventura cinematográfica juntam-se na mesma ideia: numa galáxia longínqua os seres humanos dividem-se por doze planetas, dozes colónias e vivem em aparente paz com seres cibernéticos, os cylons, outrora criados por eles. É, então, que a criação se vira contra o criador, destruindo todas as colónias. Os únicos sobreviventes deste apocalipse fogem numa velha nave chamada Battlestar Galactica e têm agora de tentar encontrar a décima terceira colónia, um sítio a que chamam Terra.

C – Cleopatra 2525

Gina Torres, eu perdoo-te. Não só por “Serenity” mas porque “Cleopatra 2525” (2000) tem talvez a melhor premissa de ficção erótico-científica de sempre: Cleopatra, uma bailarina exótica, é congelada criogenicamente durante uma cirurgia de aumento mamário e acorda 500 anos depois. Ano 2525 e como seria de esperar está tudo de pantanas. A superfície da Terra é controlada por umas terríveis criaturas robóticas voadores intituladas Baileys que escorraçaram a humanidade para o subterrâneo. Apesar de muitas pessoas já terem perdido a esperança, algumas, em especial jeitosas com pouca roupa, continuam a luta: Hel e Sarge que juntamente com Cleopatra vão formar um trio de guerreiras e tentar reconquistar o seu lugar no planeta. Sugiro vivamente que procurem a canção do genérico, é contagiante.

sexta-feira, 11 de março de 2011

2 é bom, 3 é melhor (III)

Se em 2010 o estatuto de grande evento foi disputado entre “The Walking Dead” e “Boardwalk Empire”, em 2011 parece não existir grande margem para dúvidas: “Game of Thrones” é o acontecimento televisivo do ano. A adaptação da obra de George R. R. Martin está a criar enorme expectativa. A euforia é quase tão elevada como a que assistimos na conversão cinematográfica dos livros de Tolkien. Aliás, se agarrarmos no livro “A Guerra dos Tronos” lemos no seu verso que “é a mais importante obra de fantasia desde que Bilbo encontrou o Anel.” A referência da capa também não deixa a coisa a meio: “a melhor fantasia dos últimos 50 anos.”
São “As Crónicas de Gelo e Fogo” (“A Song of Ice and Fire”), saga com quatro volumes editados na sua língua materna e com outros três por editar - em Portugal cada um destes volumes divide-se em dois. O primeiro livro remonta a 1996 e é aquele que dá então o nome à série da HBO. O autor da obra acompanhou todo o processo e é co-produtor executivo. Nas primeiras imagens, é o próprio que nos põe a par da história: uma luta pelo Trono de Ferro no longínquo reino de Westeros. O conflito estende-se desde o sul, onde o calor incendeia intrigas, enredos e luxúria, até às vastas e selvagens terras orientais, terminando no norte gelado, onde uma enorme muralha de gelo protege o reino das forças negras que atrás dela se escondem.
D. B. Weiss, produtor executivo e argumentista, garante que esta não é uma história de boas pessoas. É sim um conto onde cada um persegue os seus próprios interesses, o seu próprio código, e sobre o modo como estes entram em conflito. Algo muito mais interessante do que o simples bem contra o mal, a escuridão contra a luz. Uma estrada sinuosa e complexa, que apaixonou fãs por esse mundo fora e agora, que ganha nova vida, promete fazer muitos mais. E as primeiras imagens são um primeiro suspiro de alívio: belíssimas paisagens, tricotadas por cenários incríveis, condimentados com um elenco promissor. Nomes como Sean Bean (“O Senhor dos Anéis - A Irmandade do Anel”), Mark Addy (“Ou Tudo ou Nada”), Lena Headey (“300”) ou Peter Dinklage (“A Estação”) compõe a vasta lista de rostos que irá dar vida à trama. A HBO é um selo quase infalível de qualidade. Produtos como “Sete Palmos de Terra”, “Os Sopranos” ou “A Escuta” são a prova de que esta é uma casa onde se faz história. Se juntarmos a isto uma das fantasias mais aclamadas dos últimos anos, obtemos sem dúvida um caso sério, de expectativa e de inevitável sucesso. O trailer diz que o Inverno está a chegar. Mas agora só se pensa é na Primavera. “Game of Thrones” tem estreia americana agendada para 17 de Abril.
[Terceira parte do artigo publicado na Take 26]

sábado, 5 de março de 2011

2 é bom, 3 é melhor (II)

Todos conhecemos Neil Jordan, o realizador irlandês de filmes como “Jogo de Lágrimas” ou “Entrevista com o Vampiro”. E, todos conhecemos Mario Puzo, o escritor americano autor de grandes ficções sobre a máfia siciliana. O que une então o cineasta ao artesão das letras? Uma única família: os Borgia. Para além de uma obra inteiramente dedicada a ela (“A Família”), Jordan garante ainda que Puzo baseou o seu “O Padrinho” neste apelido. É um regresso a casa, remata.
Regressamos assim a Roma, mais precisamente a 1492, e ao momento em que o patriarca da família, Rodrigo Borgia (Jeremy Irons) se torna Papa, mais concretamente Alexandre IV. Esta ascensão faz com que ele, juntamente com os seus dois filhos, Cesare(François Arnaud) e Juan(David Oaks), e a sua bonita filha Lucrezia(Holly Grainger), se tornem na família mais poderosa e influente da Itália renascentista. Os Borgia ficaram conhecidos como a primeira grande família de crime e já foram retratados inúmeras vezes em séries, filmes e livros. Pois bem, agora é a vez do canal de televisão Showtime nos contar a sua versão da história. Para isso faz-se valer de dois veteranos: o galardoado Neil Jordan, criador, produtor executivo e realizador dos dois primeiros episódios, e Michael Hirst, produtor executivo e argumentista de “Os Tudors”, que aqui assume as mesma funções.
A série pretende ser um substituto natural do reinado de Henrique VIII, que chegou ao fim em 2010. Desta forma promete seguir a mesma linha do seu antecessor: sexo, traição e morte. E com o nome da Igreja Católica lá no meio podemos muito acrescentar a palavra “polémica” a esta explosiva mistura. O trailer não desilude, mostra uma incrível reconstituição histórica – guarda-roupa e cenários – perfurada por interpretações aguerridas. A liderar o elenco temos o incontornável Jeremy Irons, que promete fazer deste seu Rodrigo Borgia um pedaço de história televisiva. A acompanhá-lo está um conjunto de jovens promissores que depressa passarão a talentos confirmados.
Sem data marcada de estreia, “The Borgias” é uma das séries mais aguardadas do ano e tem todos os ingredientes para vingar. Foi criado por um canal de televisão audaz, está assente em bases históricas e promete conjugar o aroma mafioso no seio da Igreja Católica. Para além disto tem o chamado protagonista de luxo. Impossível pedir melhor.

[2ª parte do artigo publicado na Take 26]

terça-feira, 1 de março de 2011

2 é bom, 3 é melhor (I)

Todos os anos estreiam. Todos os anos acabam. É a ordem natural das coisas, fecham-se ciclos terminam-se viagens. Aqueles rostos, que nos acompanhavam há anos, decidem dizer adeus, de forma mais ou menos planeada, de dor mais ou menos preparada. E se todos os anos a história é a mesma, 2010 presenteou-nos com tudo, desde despedidas históricas, como “Perdidos” ou “24”, até desaparecimentos precoces, como “Lone Star”, passando por sentenças mal amadas, como “Rubicon” e “Terriers”. Tudo para todos os gostos e tristezas. Mas está na hora de enxaguar as lágrimas e, como dito no início, se há uns que findam outros começam! 2011 é pródigo em começos promissores e, como é este o número de ordem, a Take decidiu reunir as três estreias televisivas mais interessantes da primeira metade deste novo ano. Peguem nas vossas espadas ou nos vossos terços. Batalhem ou rezem. Decidam ou conspirem. De uma forma ou de outra o mundo vai ser outro, para trás na história ou para lá na fantasia.

Não vamos enumerar todos os filmes e séries de televisão que contaram a lenda do Rei Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda. São dezenas, das mais variadas formas, das mais distantes décadas e com os mais distintos nomes. Personagens como Merlin, Guinevere ou Lancelot foram presença constante ao longo da nossa história, das nossas próprias guerras e aventuras. E quando pensamos que acabou, que não há mais, que fechou, alguém volta ao caldeirão e tira de lá um novo olhar. Foi isso que a canal americano de televisão Starz fez, ao pegar na obra de Thomas Malory, “Le Morte d’Arthur”, e transformá-la livremente em “Camelot”, a série medieval que promete fazer as delícias dos fãs, da lenda e do género. Esquece tudo o que pensas que sabes, dizem eles, garantindo logo de seguida que esta história de Camelot nunca foi antes contada.

E ela, a história, inicia-se com a morte do Rei Uther e o consequente caos de um reino sem líder. Merlin, o feiticeiro, ao ter visões de um futuro negro decide declarar o jovem Artur, filho ilegítimo de Uther, como rei. Porém a sua maléfica meia-irmã não aceita de ânimo leve esta tomada de posse e, utilizando forças sobrenaturais, inicia uma batalha épica pelo controlo absoluto. No meio de toda esta escuridão, Guinevere surge como a única luz no mundo Artur, que se irá ver confrontado com difíceis decisões morais e o desafio maior de unir um reino partido.

No primeiro olhar, já disponível, podemos constatar que o assunto é sério. Jamie Campbell Bower (Artur) diz que uma nova lenda foi criada e Tasmin Egerton (Guinevere) assenta todos os pontos fortes da série: sexo, violência, humor. Amor, luxúria. Claire Forlani (Rainha Igraine) acrescenta mais, afirmando que é escuro e brutal. Real, as personagens não são apenas figuras míticas, são verdadeiros seres humanos com emoções conflituosas e paixões, remata Eva Green (Morgana). Chris Chibnall, criador e produtor executivo, promete que vamos ver a espada na rocha, mas que não é nenhuma rocha que tenhamos visto antes, promete que vamos ver a Senhora do Lago, mas que não é nenhum lago que tenhamos visto antes, promete que vamos ver Artur e os seus Cavaleiros e por fim promete que iremos ver o início da Távola Redonda.

A produção executiva está a cargo de nomes como Michael Hirst, James Flynn ou Morgan O'Sullivan, responsáveis por séries como “Os Tudors” e o muito aguardado “The Borgias” (já lá vamos!). Estão pedidos dez episódios para esta primeira temporada, que irá ter o seu arranque americano a 1 de Abril. Porém, para aguçar o apetite, o canal transmitiu o episódio piloto dia 25 de Fevereiro.

[1ª parte do artigo publicado na Take 26]

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Take 26

Já venho atrasado eu sei, mas é sempre preciso tempo para se pensar/gritar/escrever aquilo que se gosta. Muito. E a Take é um crónico caso de amor. Uma tempestade de paixão e dedicação que invadiu este pequeno amante, deu-lhe voz e ofereceu-lhe a oportunidade de ir mais além. Três anos já passaram e não deixa de ser surpreendente a vontade, a força sempre crescente. A sinceridade de um grupo que faz aquilo que mais gosta, que abre o coração e mês após mês oferece os seus melhores e mais esforçados frames. A todos eles, e com especial destaque para os incansáveis Miguel Reis e José Soares, o meu sincero obrigado. É com enorme orgulho que faço parte desta tripulação. E que venham mais três!