quarta-feira, janeiro 30, 2013

A luta continua, a escola não é tua. O amianto mata, esta escola é muito chata



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A cartilha comunista não brinca em serviço. Foi feita numa base científica e sabe perfeitamente até que ponto levar o estrugido. E uma das linhas mestras da esquadria de formação do povo é a colectivização das manifestações públicas ou de cada qual. Só assim se entende a uniformização do traje em muitas sociedades comunistas, a extraordinária mecanização das paradas militares, as votações de braço no ar e que ai daquele que se atrase um segundo em levantar a mão ou, ainda, as conhecidas palmas organizadas. Um aplauso coordenado, uniformemente acelerado e que se estabiliza uns segundos depois numa cadência militarizada, em que toda a gente bate as palmas ao mesmo tempo, com os braços numa rigorosa manifestação estética e pelo tempo julgado necessário e espartilhado pelos líderes da função. É a colectivização em pleno. A «bovinização» (perdoe-se-me o termo) das massas, a manutenção da grei no redil e a formação una, indivisível, uniforme, milimétrica, da vontade dos homens, que deixou de ser vontade, foi esmagada e expulsa do individualismo da espécie, aquilo que de mais maravilhoso tem o homem e que decorre exactamente da suprema fruição da liberdade e do génio criativo de cada um.

Este arrazoado vem a propósito da influência repugnante que os comunistas conseguem manter na juventude escolar portuguesa, não hesitando em inculcar, logo à adolescência, o primado do colectivo, mesmo nas coisas mais comezinhas. A manifestação destes miúdos sobre uma coisa que muito provavelmente muitos não saberão sequer o que é, representa um claro exemplo do que digo. As rimas revolucionárias, a cantata idiota do socialismo, solidariedade e rejeição do «sistema», a linguagem corporal, tudo incorpora um posicionamento que não surge por acaso. É uma prática repugnante que nada fica a dever às crianças a cozer sapatos a partir dos 7 anos ou a plantar arroz desde os 10. Chega até a ser, na minha opinião, uma versão revisitada dos «pioneiros» uma forma decalcada da antiga «mocidade portuguesa».

Ver este miúdos a cantar desta forma e com esta linguagem corporal faz-me recear o pior. Por um lado a de que os comunistas não desarmam. Por outro, a formação de jovens com uma visão distorcida da vida, e a noção de que, ainda pequeninos, lhes começam a torcer os pepinos.

É um evidente sinal de uma sociedade atrasada. Esta. A nossa. E a que, ao que parece, os nossos intelectuais acham imensa graça.
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segunda-feira, outubro 01, 2012

A liberdade de não a merecer

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Bendito o regime que nos permite a todos expressar o pensamento e usar a palavra à medida do propósito. Mas dessa liberdade decorrem, frequentemente, acções insensatas e pouco abonatórias, quando um jovem quase imberbe se arroga o direito de insultar uma instituição do Estado de direito, como um primeiro-ministro, mesmo se esse insulto releva de alguma estimável convicção. Há, ainda e também, a distinta possibilidade de muitas vezes estas atitudes terem a ver com uma insuportável vanidade, tolice e ausência de cultura e espírito de cidadania. Ou, simplesmente, falta de berço. Não sei se é o caso do jovem em apreço mas se não é, acho que ele representou muito bem aquele papel.


A liberdade é um bem precioso. Quero muito que ela se mantenha por todo o sempre. Até porque, ao contrário do jovem insultador, já vivi sem ela e lembro-me bem como era. Pena é que muitos de nós não saibamos conviver com ela com o respeito que ela nos devia merecer.
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segunda-feira, julho 02, 2012

Uma galderice

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Cerca de trinta galdérios e galdérias foram para a galderice. Desfilaram entre o Camões e o Martim Moniz com protestos contra as violações, o machismo e a intolerância. Para além, claro, de reivindicarem o direito de cada um vestir o que lhe der na gana.

Por mim, fiquei esclarecido e prometo não chatear ninguém se vir alguém mal vestido. Ou roto. Ou por vestir. E tenho a certeza que depois da manifestação destes 30 galdérios as violações vão diminuir, vamos todos ser muito menos machistas e muito, mas muito, mais tolerantes.

Há, mesmo, um défice enorme de causas para esta juventude que, na verdade, tem tudo e pode mesmo fazer o que lhe der na gana. Resta-lhes ser galdérios. Nem que seja em grupos de trinta!
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sexta-feira, agosto 27, 2010

Bond, James Bond. Djeibi Double O Seven!


Sean Connery este ano, num evento em Nova Iorque


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Surpreendo-me por perceber que à medida que vamos «crescendo», vamos alargando os parâmetros que definem a fronteira entre um homem maduro e um homem de idade. Acho que há bem poucos anos atrás eu jamais me atreveria a achar um homem de oitenta anos com alguma carga de sedução, ténue que fosse. Mais facilmente o associaria a um ser geronte, engelhado, rico em proteínas de vacas loucas, mais ou menos senil e lançando piropos a mulheres com idade para serem suas netas, e cheios de mazelas precisando de constantes cuidados, nos intervalos da medicação para a hipertensão, gota e diabetes. Hoje, tenho de me render à evidência de reparar que nem sempre é assim. Sean Connery mantém viva a auréola de um dos homens mais «charmosos» do mundo. Eu sei que uma personagem iconográfica parte com uma certa vantagem para este tipo de coisas. Também sei que a fase do «ser charmoso» é aquela que as mulheres descobriram para, paulatina e cruelmente, usarem como forma polida de explicar a um homem que passou de atraente a charmoso... uma designação mais ou menos caritativa e compreensiva, sempre que se quer animar o ego dos homens que vão ostentando rugas a mais e cabelo a menos. Mas chegar aos oitenta anos (Sean Connery completou oitenta anos anteontem) e continuar «breaking hearts» é obra. E faz-nos acreditar, àqueles que ainda estão longe dos oitenta mas vão decididamente entrando na «fase condor», que há sempre uma luz de juventude a brilhar na vida de um homem. Assim ele a saiba manter bem acesa, alimentando-a com tanta coisa boa e bonita que a vida nos dá.

Sean Connery em 1967. A receita?

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sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Todos pela liberdade


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Fui a S. Bento. Porque tenho um blogue, porque assinei a petição e porque me sinto cada vez mais embaraçado por ter o primeiro-ministro que tenho, com todos os episódios adjacentes, mantidos e adubados por boys a ganharem €2,5 M/ano. Fui.

Sabia que não veria massas vociferantes nem carradas de manifestantes frenéticos, camisas do Che, bandeiras vermelhas, nem punhos erguidos. Mas esperava, isso esperava, ver “rapaziada” da minha idade. Tinha mesmo lido, algures que o João Gonçalves, um rapaz da minha idade, lá estaria. Não estava. E é assim que me vejo submerso por uma onda de juventude, de fato, sim, e com ar de quem tinha um cliente para visitar às 15:00, mas com ar escovado, de conversa interessante, num cenário reconfortante de jovens determinados. Aquela que amanhã irá tomar conta dos destinos deste país cansado de relíquias de Abril. Poetas, pensadores, lutadores da liberdade, exilados, honoráveis desertores, internacionalistas, intervencionistas, amigos das esquinas, igualitários, distribuidores da riqueza (dos ricos, pois, que se saiba, não se produziu muita mais para além da que já havia), intelectuais, artistas, gente, enfim, cheia de reserva moral e intelectual mas que, tudo junto e somado, não ajudou muito a que Portugal enveredasse pela via da convergência em relação aos seus parceiros europeus. Porque nos últimos cerca de 30 anos, os nossos líderes pensaram muito, lutaram pela liberdade, acabaram com a tropa e já não precisam de desertar, internacionalizaram a revolução, intervencionaram, nacionalizaram, foram encontrando os amigos das esquinas, igualizaram e distribuíram riqueza enquanto houve alguma, perderam-se em supremas tertúlias intelectuais e artísticas mas, lá está, tudo junto e somado, conduziram-nos a uma divergência profunda em relação aos índices de desenvolvimento e progresso da Europa a que pertencemos.

Neste momento, uma clique de novos-ricos da política ignoram os meios, saltam por cima da ética (à “vara” se preciso for), afastam os pruridos, perdem-se em conluios, tramam, entrelaçam cumplicidades e conspiram para manter um status que lhes garanta a subsistência (a maior parte deles não sabe fazer mais nada e tem muito pouco mundo…). Nessa óptica, “atiraram-se” à comunicação social, que pretenderam controlar, fazendo tábua rasa de quaisquer valores éticos e mesmo sem respeito pelo dinheiro de todos nós, usando-o em episódios tão imorais como o aluguer de jatinhos expressos para “ir a Madrid e já venho “, assinar um contrato para pôr” um gajo na rua”.

Voltando a S. Bento, foi essa onda de juventude que vi. De fato para cliente das 3:00, como disse a Felipa (não desmerecendo das calças dela que não deslustrariam numa reunião de conselho de administração, so to speak…) mas senti que há ali substrato para dar a volta a “isto”. Depois de extirpadas as relíquias do regime, como é óbvio. E dos oportunistas de percurso, como é o caso flagrante do nosso primeiro-ministro em exercício. E olhar aquela juventude alegre e determinada fez-me bem. Mesmo que um pouco nostálgico e desesperadamente procurando o João Gonçalves que ia, mas não foi, como faixa etária de inserção.

Portugal ainda “cumprirá o seu ideal”, lá dizia o Chico Buarque. Mesmo que o ideal cantado pelo Chico não tenha nada a ver com o que a realidade de hoje exige.

P.S. Aconteceu-me uma aparição profusa na SIC Notícias, uma entrevista que veio três ou quatro vezes para o ar. Se algum dos meus confrades conseguir o link, antecipadamente agradeço que mo envie para a caixa de comentários ou por mail.

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