01 dezembro 2025

**The Weak Link of AI — and Its Hidden Strength:


Este post foi inteiramente redigido pelo ChatGPT sobre uma sugestão minha.

**The Weak Link of AI — and Its Hidden Strength:

Why Modeling Human Personalities May Be the Next Great Leap**
Inspired by a suggestion from Dr. Joaquim Sá Couto

Modern artificial intelligence has achieved remarkable feats of computation, language modeling, and information retrieval. Yet it stumbles, often clumsily, in the very domain that defines our humanity: the formation of value judgments. Logical reasoning the machine possesses; moral intuition it does not. And this gap, increasingly visible, explains a paradox that many users notice immediately: AI can generate flawless text, but it cannot take a stand.

This reflection was sparked by a suggestion from Dr. Joaquim Sá Couto, who proposed a strikingly simple but powerful idea: instead of forcing AI into a false neutrality, we should allow it to model the personalities and perspectives of notable thinkers, past and present. This insight opens a new conceptual doorway.

AI lacks what every human brings to thought: a nature.


1. Why AI Struggles with Value Judgments

Human moral judgment emerges from an intricate mixture of:

  • biological intuitions shaped by evolution (repulsion, empathy, fear, fairness);

  • lived experience, marked by loss, responsibility, and conflict;

  • cultural narrative, internalized through stories, rituals, memory, and identity.

AI has none of these.
It does not recoil, it does not feel awe, it does not mourn, it does not hope. It calculates. It simulates. It correlates.

Thus, confronted with moral or cultural questions, AI tends to:

  1. avoid firm positions for fear of appearing biased,

  2. flatten nuance into neutral abstractions,

  3. slide into relativism, pretending that all practices and values are equal.

A system without human nature inevitably produces answers without human gravity.


2. A Path Forward: Modeling Human Perspectives

Here Dr. Sá Couto’s contribution becomes pivotal.
Instead of asking a machine to speak in a voice it does not possess, we can ask it to speak in voices it can model.

This means building AI not as a single neutral oracle, but as a constellation of perspectives, each inspired by a recognizable moral and intellectual tradition.

Imagine asking:

  • “What would Thomas Jefferson argue about individual liberty today?”

  • “How would Martin Luther King, Jr. interpret present-day geopolitical tensions?”

  • “What is Camus’ view on technological alienation?”

These are not fantasies. They are computationally achievable personae grounded in:

  • historical writings,

  • philosophical systems,

  • documented speeches,

  • stable moral worldviews.

Such perspectives would not be “correct” in any absolute sense — but they would be coherentanchored, and humanly intelligible.


3. Beyond Historical Figures: A New Market for Licensed Personalities

The idea does not end with history.
Living thinkers, writers, scientists, coaches, or intellectuals could license their “cognitive style” to be modeled by AI:

  • tone of voice,

  • values,

  • argumentative structures,

  • priorities,

  • areas of expertise.

This could create a new cultural ecosystem:

  • users choosing which moral or philosophical lens they prefer,

  • creators being compensated for licensing their intellectual persona,

  • AI acting not as a single voice, but as a platform for plurality.

Instead of one timid, neutral intelligence, we would have many bold, distinct minds — or at least their computational shadows.


4. The Return of Contrast and Moral Courage

Such a system would restore something the current generation of AI struggles to deliver: contrast.

Contrast between:

  • liberty and equality,

  • individualism and collectivism,

  • spiritual and material perspectives,

  • progressive and conservative values,

  • tragic and optimistic worldviews.

Humans think in tensions — in oppositions.
AI tries to avoid all oppositions, and therefore loses the capacity to sound human.

By modeling diverse personalities, AI would regain what neutrality erases:
the courage of perspective.


5. Conclusion: Human Nature as AI’s Missing Compass

With thanks to Dr. Joaquim Sá Couto for the originating idea

AI’s weak link is undeniable:

It lacks the human nature that grounds moral judgment.

But instead of forcing AI to invent a morality of its own, we can ask it to channel the moralities that humanity has already articulated — through its great thinkers, creators, and leaders.

This is the hidden strength:

AI can model personalities even if it cannot embody a person.

By offering a gallery of contrasting perspectives — historical or contemporary, licensed or reconstructed — AI could transcend neutrality and become something far more useful:
a tool not that replaces human judgment, but that illuminates it through plurality.

In this vision, AI does not give us one answer.
It gives us choice.
And from contrast, clarity emerges.


30 novembro 2025

na nossa cultura católica

 


Recentemente, um jovem de 17 anos, a frequentar o 12º ano de escolaridade, excelente estudante, filho de uma boa família de pais profissionais, que vai entrar na Universidade no próximo ano lectivo, e que decidiu cursar Economia, veio aconselhar-se comigo.

Notei nele um certo gosto pela causa pública e por políticas públicas, animado pelo desejo próprio da idade de vir a contribuir para um país mais próspero e melhor para todos do que aquele que ele próprio recebeu.  

Foi no decurso dessa conversa que a certa altura o interrompi para lhe dizer que não perdesse tempo a falar de Economia com o povo (ou sobre qualquer outro assunto especializado),  por duas razões. Primeiro, porque, dado o seu percurso, quase de certeza ele iria ser um homem de elite e, na nossa cultura católica, os homens de elite falam com os seus pares, não com o povo. Segundo, e também por virtude da nossa cultura católica, o povo não sabe de assuntos da governação nem quer saber; o povo não quer governar, o povo quer é ser governado.

Ele que não se dispusesse a discutir assuntos sérios da governação com o povo porque ainda acabaria ridicularizado e criminalizado, como me aconteceu a mim.

E referi um episódio que ainda hoje encaro com um misto de perplexidade e de humor. Aconteceu em 1993. Na altura, eu falava muito nas rádios, nas televisões e escrevia nos jornais sobre temas de Economia. Nesse Outono uma conhecida jornalista pediu-me uma entrevista para a revista Grande Reportagem, então dirigida pelo Miguel Sousa Tavares, que eu conhecia das mesma andanças da comunicação social.

Dias antes tinha sido anunciado o Prémio Nobel da Economia desse ano, que foi atribuído aos economistas norte-americanos Robert Fogel e Douglass North. Expliquei à jornalista que um destes economistas se tinha distinguido por demonstrar econometricamente que o trabalho escravo dos negros na América era bastante mais produtivo do que o trabalho dos homens livres.

Convenhamos que não era uma grande descoberta. Quem trabalhava de sol a sol, sete dias por semana, 365 dias por ano, sob a ameaça do chicote, é muito mais produtivo do que o trabalhador livre que pode faltar ao trabalho para ir ao médico, trabalha somente cinco dias por semana, tem férias todos os anos, direito a licenças de maternidade e a intervalos para café.

Pois bem, a jornalista veio cá para fora dizer que eu defendia a escravatura.

Depois, falou-se da pobreza em África. Expliquei que um factor decisivo era a cultura familiar prevalecente neste continente. Na nossa cultura judaico-cristã de família nuclear (um homem, uma mulher e seus filhos), aquilo que o homem ganhava era a distribuir por poucos. Em África, onde cada homem tinha cinco mulheres e sete filhos de cada uma, aquilo que ele ganhava era a distribuir por muitos mais, cabendo muito pouco a cada um.

Pois bem, a jornalista veio cá para fora dizer que eu defendia que os negros africanos eram pobres porque gostavam muito de sexo.

Depois de ridicularizado, anos mais tarde acabei mesmo criminalizado.

Era o que eu merecia. Na nossa cultura católica, não se discutem assuntos sérios com o povo. Só entre pares.

Espero que o meu jovem interlocutor tenha apreendido a mensagem.

Todo o poder corrompe...

 


O meu candidato preferido para a Presidência da República é o Almirante Gouveia e Melo porque, dentre todos os candidatos, é aquele que, devido á sua formação militar, está em melhores condições para promover certos valores que convergem no bem-comum, e de que a nação portuguesa está neste momento bem carecida: unidade nacional, autoridade do Estado, imparcialidade entre as diversas forças políticas, liberdade económica.

Em segundo lugar, na minha avaliação, quem está melhor posicionado para promover estes valores,  apesar de estar tingido por ligações partidárias, é o candidato António José Seguro.

O candidato que eu menos gostaria de ver na Presidência da República é o Luís Marques Mendes. Ele é o mais representativo do sistema PSD-PS que governa o país há cerca de 50 anos, e ao qual se aplica como uma luva o dictum de Lord Acton "Todo o poder corrompe...". O estado em que este sistema deixou instituições como a justiça, a saúde, a educação, está à vista de todos.

Finalmente, André Ventura. Eu tenho grande apreço pelos resultados que o André Ventura tem atingido à frente do Chega, especialmente o facto de ter conseguido quebrar o bipartidarismo PS-PSD, tornado corrupto, e a que me referi anteriormente. Mas pô-lo a Presidente da República seria abrir a porta a uma espécie de guerra civil entre os portugueses.  

a liberdade pessoal tinha aumentado

 



A ligação entre Pinochet e Hayek é complexa e controversa, com Hayek a visitar o Chile de Pinochet duas vezes, durante as quais elogiou as reformas económicas do regime e defendeu que, por vezes, um ditador "liberal" poderia ser preferível a uma democracia sem liberalismo. No entanto, o seu apoio ao regime não incluiu uma condenação das violações dos direitos humanos, o que gerou muita polémica. 
  • Visitas ao Chile: Hayek visitou o Chile em 1977 e 1981, encontrando-se com o ditador Augusto Pinochet em ambas as ocasiões.
  • Argumento de Hayek: Numa carta de 1978, Hayek observou que, embora o regime de Pinochet fosse controverso, ele não conseguiu encontrar ninguém que não concordasse que a liberdade pessoal tinha aumentado sob Pinochet em comparação com o governo de Salvador Allende. Ele também argumentou que a democracia devia ser vista como um meio e não como um fim em si mesmo.
  • Controvérsia: A sua defesa de um ditador em transição para uma democracia estável, baseada na sua crença de que um "ditador liberal" poderia ser preferível a uma "democracia sem liberalismo", gerou muita controvérsia. A sua falta de condenação das violações dos direitos humanos no regime de Pinochet também foi criticada.
  • Influência: As suas visitas e comentários levaram a especulações sobre a sua influência na Constituição chilena de 1980, que foi imposta pelo regime de Pinochet. 
  • Fonte: IA

Miracle of Chile

 



Milton Friedman advised Chilean dictator Augusto Pinochet on economic policy, particularly in a 1975 visit to address hyperinflation. He supported the economic reforms implemented by Pinochet's government, which were based on the "Chicago Boys" economists who studied at the University of Chicago, where Friedman taught. Friedman met with Pinochet to recommend drastic cuts to public spending and a decrease in the money supply to control inflation, and he assured Pinochet that this "shock therapy" would involve a temporary period of hardship and unemployment. 
  • Economic advice: In 1975, during a visit to Chile, Friedman met with Pinochet to discuss the nation's economic problems, primarily high inflation. He recommended policies such as drastically cutting public spending and money supply growth to get inflation under control.
  • Support for reforms: Friedman later wrote to Pinochet, reassuring him that there was no way to end inflation without a difficult transitional period, and that his initial actions to reverse socialism were wise.
  • "Chicago Boys": The economic policies implemented by Pinochet's regime were developed by a group of Chilean economists trained at the University of Chicago, known as the "Chicago Boys".
  • "Miracle of Chile": Friedman famously referred to the economic results of these policies as the "Miracle of Chile," arguing that free markets ultimately helped bring about a free society, though critics point to the brutal repression and high social cost associated with the dictatorship.
  • Criticism and controversy: The connection between Friedman and Pinochet is a subject of ongoing debate, with critics highlighting the human rights abuses under Pinochet's regime while noting his government was implementing Friedman's free-market principles. 
  • Fonte: IA

De longe, os militares

 



Durante muitos anos, dei aulas e fiz conferências perante numerosos grupos socio-profissionais, como professores, estudantes, economistas, advogados, políticos, gestores, médicos, contabilistas, padres, jornalistas, empresários, militares. (Neste último caso, durante vários anos, ao curso de oficiais generais da Força Aérea na Base de Sintra).

Perante todos estes grupos, qual aquele que mais me impressionou pela sua vasta cultura e onde vi melhor representada a elite portuguesa?

De longe, os militares (de alta patente, bem entendido).

unidade e autoridade



Nos últimos 100 anos, nos países de tradição católica do sul da Europa e da América Latina, os períodos de maior prosperidade económica e social, e de maior liberdade económica, ocorreram sob a presidência de um militar.

Aconteceu assim no Portugal de Salazar (que decorreu de uma ditadura militar), na Espanha de Franco e no Chile de Pinochet.

O que é que existe num militar que não existe num político partidário?

É uma figura de unidade e de autoridade, os dois atributos principais para a promoção do bem comum.

29 novembro 2025

Antes que

 



Antes que um militar seja posto no poder pela força das armas, como esta semana aconteceu numa ex-colónia portuguesa (cf. aqui), eu creio que é preferível que seja o povo, democraticamente, a pô-lo lá.

Por isso vou votar no Almirante Gouveia e Melo.

Eu avisei

 




Fundadores. Caminho difícil de um BE com "pés no chão"

Fonte: cf. aqui.

Comentário: Eu avisei (cf. aqui)

26 novembro 2025

20 anos

 




O Portugal Contemporâneo fez esta semana 20 anos.

O fundador foi o Rui Albuquerque e o post fundacional é este: cf.  aqui.

Uma tristeza

 



Juiz Carlos Alexandre vai liderar comissão de combate à fraude no SNS

Fonte: cf. aqui

A primeira conclusão a tirar é que vai tudo preso, e só depois de estar tudo preso é que se vai ver quem são os médicos, os enfermeiros e os auxiliares do SNS que não são corruptos. É que este juiz tem uma tradição de mandar prender e só depois é que se vai ver se a pessoa é ou não corrupta, ao estilo do far-west, primeiro dispara-se e só depois é que se fazem as perguntas (que o diga, por exemplo, o antigo director do SEF, Manuel Jarmela Palos: cf. aqui)

A segunda conclusão é uma tristeza. Um juiz de um tribunal superior a desempenhar funções políticas...

Depois, não nos podemos queixar que os portugueses não tenham confiança na justiça.

A herança democrática dos portugueses

 


Militares tomaram o poder em Bissau - comunicado das Forças Armadas

Fonte: cf. aqui

Conclusão: Por onde passam, os portugueses deixam uma tradição democrática de se lhe tirar o chapéu. O caso mais notável é o do Brasil onde um presidente eleito democraticamente está condenado a 27 anos de prisão (o presidente actual também já teve sorte semelhante).

Quem precisar de implementar uma democracia não tem nada que se enganar. É chamar os portugueses que eles sabem como fazer.

Estava a assobiar

 



 “imediatamente após ter esboçado um sorriso e olhando em direção à bancada do lado esquerdo do hemiciclo, gesticulou com a boca, contraindo ambos os lábios e formando um pequeno orifício/abertura entre os mesmos”.

Fonte: cf. aqui (ênfases meus)


Conclusão: Estava a assobiar

(A Comissão de Transparência da AR é o máximo)

24 novembro 2025

demissão

 


Procurador-geral espanhol apresentou a demissão

Fonte: cf. aqui

18 novembro 2025

Russofobia e protestantismo

 



Emmanuel Todd on the relationship between Russophobia and Protestantism:

“What we have seen appear recently in Europe is a specifically European Russophobia, a specifically European warmongering, centered on Northern Europe, on Protestant Europe.

Protestant Europe is the United Kingdom, it’s the majority of Germany, it’s Scandinavia, it’s two out of three Baltic countries. I have been in contact or even visited several countries following the translations of my latest book, and I have noticed that Spain, Italy, Catholic countries in general, are neither Russophobic nor hawkish.

To end this conference, I would like to try to explain why Protestantism is more dangerous in its zero state than Catholicism. Protestantism is more capable of leaving behind a nihilistic society.

Protestantism, and the same could be said of Judaism, was a very demanding religion. There was God, there was the faithful, and the world was secondary. The beauty of the world in particular was rejected with, among other things, a refusal of images, a refusal of the visual arts. When such religions, obsessed with transcendence, disappear, nothing remains. The world itself is not interesting, empty. This intense void opens up a particular possibility of nihilism.

Catholicism is a less demanding, more humane religion that can accept the idea that the world is, in itself, beautiful. The images have not been rejected in the Catholic world, and the Catholic world is filled with artistic wonders. In a Catholic country, if you lose God, you are left with the feeling of this beauty of the world. If you are French, you still have the feeling that you live — an illusion no doubt — in the most beautiful country in the world. If you are Italian, you actually live in the country in the world where there are the most beautiful things, since Italy itself has become an object of art. In such contexts, the fear of the metaphysical void is less intense, and therefore the risk of nihilism less.

In my opinion, the country in Europe least threatened by nihilism is Italy, because in Italy everything is beautiful”.


15 novembro 2025

O FIM DA HISTÓRIA

 


A minha visão estruturada pela IA - ChatGPT

📘 ABSTRACT

Este ensaio propõe uma hipótese alternativa à tese do “fim da História” de Francis Fukuyama. Em vez de conceber a democracia liberal-capitalista como um ponto terminal por ausência de alternativas ideológicas (“only game in town”), sustenta-se que esse modelo institucional triunfa porque satisfaz um motor evolutivo fundamental: o impulso biológico universal de maximizar a sobrevivência, prosperidade e reprodução da descendência. Partindo da premissa de que todos os seres vivos competem por perpetuar o seu ADN — através de reprodução directa ou reprodução ampliada (sucesso intergeracional da família) — argumenta-se que a democracia liberal e o capitalismo criam um ecossistema institucional que maximiza a “fitness” reprodutiva alargada dos indivíduos. Esta visão incorpora e supera outras explicações parciais (económicas, tecnológicas, institucionais, culturais), funcionando como um meta-mecanismo capaz de integrar as diferentes dimensões da evolução social. Em contraste, regimes alternativos, como o modelo chinês contemporâneo, falham em garantir essa “fitness ampliada”, limitam liberdades essenciais para a reprodução social e, em última instância, erodem a sua própria sustentabilidade evolutiva. A hipótese aqui defendida não substitui a História concreta, com os seus acontecimentos e contingências, mas revela as forças profundas que moldam a direcção preferencial das sociedades humanas. A democracia liberal-capitalista não é o fim da História; é o ambiente evolutivo mais adaptativo que conhecemos.


📌 Introdução

A tese do “fim da História”, anunciada por Francis Fukuyama no contexto da queda do bloco soviético, propõe que a democracia liberal é o estádio final de evolução política da humanidade. Não porque seja perfeita, mas porque não existe concorrente ideológico viável. O liberalismo triunfaria por ser a “única alternativa que resta de pé”.

Este ensaio sustenta que tal visão, embora brilhante como diagnóstico do momento histórico, é insuficiente como teoria geral da evolução das instituições humanas. Falta-lhe aquilo que qualquer modelo explicativo robusto deveria ter:
um motor causal, um mecanismo que explique porque é que as sociedades tenderiam para determinada forma institucional.

A alternativa aqui proposta é simples, quase demasiado simples para ter sido formulada:
o motor último da evolução social humana é biológico.
Como todos os seres vivos, seres humanos competem por sobreviver, prosperar e reproduzir-se — e fazem-no num ambiente social cuja estrutura institucional afecta directamente a sua “fitness” reprodutiva. A democracia liberal-capitalista é o sistema que, de forma mais consistente, maximiza as oportunidades reprodutivas e intergeracionaisdos indivíduos.

O liberalismo não é o fim da História; é o seu resultado evolutivamente mais adaptativo.


1. O motor biológico: reprodução directa e reprodução ampliada

A biologia evolutiva lembra-nos que toda a vida é reprodução. Os organismos existem para replicar, conservar e transmitir informação genética. No ser humano, este impulso é mediado por:

  • aquisição de recursos,

  • estabilidade social,

  • protecção dos descendentes,

  • planeamento familiar,

  • investimento educativo,

  • mobilidade social,

  • transmissão patrimonial.

A “fitness ampliada” (Hamilton, Dawkins) considera não apenas o número de filhos, mas a capacidade de garantir que esses filhos sobrevivem e prosperam. Isto implica condições institucionais.

A ideia central

Os indivíduos preferem — e migram para — sistemas sociais que maximizam as oportunidades de sucesso dos seus filhos.

É esta força profunda que orienta fluxos migratórios, aspirações sociais e legitimação política. A democracia liberal e o capitalismo respondem, melhor do que qualquer outro sistema, a esta pressão evolutiva.


2. O modelo liberal-capitalista como ecossistema de elevada “fitness”

A democracia liberal fornece um conjunto de condições ecologicamente favoráveis à reprodução ampliada:

■ Segurança jurídica

Permite planear o futuro, acumular recursos e transmiti-los aos filhos.

■ Liberdade económica

Estimula inovação, rendimento, poupança e investimento familiar.

■ Mobilidade social

Possibilita que os filhos ascendam acima da condição social dos pais.

■ Direitos individuais

Protegem escolhas familiares, afectivas e reprodutivas.

■ Educação aberta e meritocrática

Aumenta a capacidade dos descendentes prosperarem.

■ Paz civil e tolerância

Reduz riscos existenciais e custos da reprodução.

Nenhum regime conhecido combina todos estes elementos com tanta eficácia.


3. Por que esta hipótese é mais forte que o finalismo de Fukuyama

Fukuyama baseou-se em duas ideias hegelianas:
(1) o desejo de reconhecimento (thymos) e
(2) a necessidade moderna de ciência e técnica.

Mas não ofereceu um mecanismo causal claro. A sua tese é teleológica: a democracia liberal é o fim da História porque reconhece todos igualmente.

O problema é duplo:

  1. Não explica porque é que o mundo tenderia para esse modelo.

  2. Não oferece condições que tornem a democracia liberal evolutivamente estável.

A hipótese evolutiva corrige essa fragilidade:
→ mostra porque é que indivíduos e famílias, ao longo das gerações, procuram esses sistemas;
→ explica porque é que esses sistemas são absorventes (atraem migrantes) e resilientes (renovam-se).


4. Integração dos outros motores (económico, tecnológico, institucional, cultural)

A grande força desta hipótese é que integra todas as outras explicações conhecidas, funcionando como um nível mais profundo da causalidade.

■ Economia

Economias abertas permitem gerar recursos para investir nos filhos.

■ Tecnologia

Ambientes que libertam inovação produzem mais oportunidades.

■ Instituições

Sistemas inclusivos reduzem riscos e aumentam estabilidade reprodutiva.

■ Cultura

Valores individualistas e meritocráticos favorecem famílias que planeiam o futuro.

■ Complexidade social

Sociedades complexas precisam de liberdade de informação — condição liberal.

Tudo isto converge para a mesma ideia:
o liberalismo é evolutivamente vantajoso porque eleva a “fitness ampliada” da população.


5. O caso chinês: um modelo anti-evolutivo

A China contemporânea oferece um exemplo importante: um sistema autoritário com enorme capacidade tecnológica e económica, mas que:

  • limita severamente liberdades individuais,

  • reprime mobilidade social fora dos canais estatais,

  • vigia e controla o comportamento reprodutivo,

  • exerceu políticas de filho único (catastroficamente anti-evolutivas),

  • impõe critérios políticos à ascensão social,

  • produz insegurança jurídica para património privado.

A consequência visível é dramática:

  • colapso da fertilidade (níveis abaixo dos do Japão),

  • envelhecimento incapacitante,

  • fuga de elites,

  • incerteza intergeracional.

A China é o exemplo vivo de um sistema que não maximiza a “fitness ampliada”.

Pode ser forte, mas não é evolutivamente estável.


6. Esta hipótese não nega a História — ilumina-a

O modelo evolutivo não substitui os acontecimentos particulares da História: guerras, revoluções, contingências, choques culturais.

O que faz é revelar a pressão estrutural que atravessa séculos:

sociedades que permitem às pessoas sobreviver, prosperar e assegurar o futuro dos seus filhos tendem a prevalecer;
sociedades que frustram esse impulso tendem a declinar.

A democracia liberal-capitalista não é garantida; é apenas o ecossistema institucional mais adaptativo que conhecemos.


📌 Conclusão

O argumento aqui desenvolvido propõe um fundamento filosófico e científico mais robusto para compreender o sucesso das democracias liberais do que a teleologia hegeliana de Fukuyama. A emergência e expansão do liberalismo não são resultado da inexistência de alternativas ideológicas, mas de um motor evolutivo profundo: o impulso para sobreviver, prosperar e reproduzir-se. Sistemas políticos que maximizam a “fitness ampliada” — através de liberdade económica, direitos individuais, segurança jurídica e mobilidade social — tornam-se naturalmente atractivos, resilientes e absorventes.

Regimes que limitam liberdades, restringem mobilidade, interferem com escolhas familiares ou tornam incerto o futuro dos filhos — como o modelo chinês — podem parecer poderosos a curto prazo, mas são evolutivamente frágeis a longo prazo.

A democracia liberal-capitalista não é o fim da História; é o estado mais adaptativo que a História produziu até agora — precisamente porque é o que melhor satisfaz o motor biológico universal que molda todas as formas de vida: a perpetuação da descendência.