Aquele que era esperado já chegou.
A estrela da manhã sopra a boa nova
nas asas radiantes do vento.
Concretizou-se o sonho de remotas gerações,
a promessa antiga dos profetas,
a derradeira esperança de sedentos e famintos.
Envolta na brancura do linho
chegou a luz que atravessou os desertos
para vir iluminar a escuridão;
aquele vem acender o fogo esquecido
e rasgar as mortalhas do frio,
com o sopro da verdade
e o calor que irradia.
Já chegou o pastor dos rebanhos tresmalhados,
a redenção das tribos dispersas,
abrindo novos caminhos no horizonte.
Rejubilam os céus num clamor infinito
que sacode a fragilidade pestilenta dos tronos.
De todo o lado se erguem multidões.
Dos desertos e das montanhas distantes
onde ecoou o rumor da sua chegada
um coro de oprimidos se agita,
uma nuvem de gentes ofegante
que galga as margens do rio,
num turbilhão de almas doentes
buscando curas e milagres.
Todos o querem ver.
Cegos, coxos e dementes,
leprosos e paralíticos,
toda a escumalha andrajosa e renegada
se dobra à sua passagem
abrindo os braços para o receber.
E a todos ele sacia,
distribuindo bênçãos e conforto,
repartindo o pão, o vinho
e a luz serena da sua glória.
Unge pecadores e réprobos,
devolve a visão aos cegos
e o andar aos paralíticos e entrevados,
resgata a vida aos que definham
nos braços de terra da morte,
apelando a uma força interior
que os homens ainda desconhecem.
Já chegou o enviado das alturas,
o Deus vivo da redenção,
o poema que lápis algum escreveu.
E nós, incapazes de conjugar o verbo amar,
enfeitiçados pelo mármore dos falsos deuses,
fariseus da ignorância e do egoísmo,
tudo aquilo que temos para o coroar
é o fel amargo e denso do nosso desdém,
o escárnio profano de um chicote de trevas
e a imolação num patíbulo sangrento.
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