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terça-feira, 12 de julho de 2011

Talvez se me guardarem no frigorífico

Está-se a tornar difícil não me transformar num poeta azedo. O ano vai ficando mais desabrigado. Passou certamente o tempo da viola. Não cantarei as Índias mentirosas. Vou fazendo planos para nascer outra vez.  
Talvez sigam cartas explicando como a guerra começa.  

Animais de fogo


Um dia
o homem é posto à prova, interrogado
pelas areias moventes;
desaba sobre ele a tempestade
que o quer afogar.
Cautela com os animais de fogo!


Passou o tempo da viola.
Também não aceito cantar as Índias
mentirosas. Segue carta
explicando como a paz começa.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Mais ou menos vivos

O segredo é mantê-los mais ou menos vivos.

Construir postos de abastecimento distribuir
sossegos para o estômago uns cobertores lenços
de papel vê-se nos filmes quando alguém chora
papel de parede assim florido para o céu
da boca isto são outras metereologias
que ninguém percebe bem as estações do humano
e estamos em época de muitos desastres
naturais naturalmente. Não esquecer
em particular de manter os braços vivos em redor
da emergência social que olha emerge emerge olha
azar juntem-se aqui é mais quentinho aqui
no social estamos em família como te chamas
que olhos lindos tem o miúdo vê-se a alma
a ver se não estoura é ir fazendo as rezas
e seguindo as setas tragam os mantimentos
e a voz cantem os males espantem os maus
pensamentos. Deixem-se estar por aqui.

Isto vai tudo ao sítio vão ver.

É aguentar que isto passa olha toma
umas roupinhas e um naco de alma.
Cheira muito mal mas faz falta
é o que é enfim é assim como o mundo.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Mas os dias são cinzentos a cara é azul e a dinamite vermelha e amarela






Estarei na próxima edição de VERDES SÃO OS CANTOS no Bar A Barraca, já este SÁBADO, dia 9, a partir das 10h30. Entrada livre e vagabunda. A ler uns poemas e outras coisas da vida e não só. A dar dois dedos com quem por lá aparecer. Quem sabe a atear fogo à palha podre do colchão e dançar de alegria no meio das labaredas enquanto os ouço crack crack como castanhas ao lume.

Com concerto d'O Quarto Fantasma.

Eis a presentação oficial do Ciclo:  
Verdes são os Cantos é um ciclo mensal, organizado por Catarina Nunes de Almeida. Tem como objectivo reunir novos nomes da poesia e da música portuguesa. As sessões dividem-se em dois momentos – um recital poético e um concerto. Porque o mote destas sessões é a poesia, os poetas e os músicos trazem algumas escolhas de “autores da sua vida” que são lidos e comentados juntamente com o público.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

É assim a modos que uma alegoriazinha

This way to Portugal


"habituas-te vais ver
nos primeiros tempos dói
dá vontade de vomitar
depois percebe-se que
no Luna Parque que é
um sítio triste
pode não se ser triste
sai muito caro
mas poder pode-se"

(Adília Lopes, "O Luna Parque")

(Brought to you by FNAT, Federação Nacional para a Alegoria no Trabalho)

terça-feira, 5 de julho de 2011

Poesia xispêteó





 
Os meus amigos e camaradas palhaços Nuno Moura e Paulo Condessa – que juntos perfazem O COPO - vão andar pela Culturona – Feira da Arte do Desenrasca por estes dias. A “fazer leituras esquisito-corporais”.

Como diz o Assis Pacheco, vão pedir a grandiloquência a outros.

Eis o programa:

O COPO – Poesia de entretenimento científico


A Culturona – Feira da Arte do Desenrasca - Palácio de Laguares - Rua Prof. Sousa Câmara 156 (Campolide, às Amoreiras)

Duas pessoas quase normais a fazer leituras esquisito-corporais, isto é, abocanhando com braços e pernas algumas transcriações de poemas xispêtêós em 3 performances poéticas ridiculamente diferentes. Espantosamente inclassificáveis tipo nunca-visto.

Quarta, 6 (19H30) : *****Dittos Mall Dittos*****
(mix internacional superlativo de Kandinsky a Herberto Helder)

Quinta, 7 (19H00) : *****O´Neill, Tás Bué Baril ? *****
(poemitas acústicos de Alexandre O Grande)

Sexta, 8 (19H00): *****Os Virgens Negras*****
(transcriações puristas, escandalosamente mais subreais
que as do Virgem Negra original, Mário Cesariny

segunda-feira, 27 de junho de 2011

AAVV


Um sinal óbvio de que a época tola chegou é o facto de já ter sido desafiado por três vezes - e sempre por pessoal do 5 Dias - para responder a esta espécie de inquérito aos hábitos literários. O Miguel e outros unipoppers, aliás, também não escaparam ao desafio.

1. Existe um livro que lerias e relerias várias vezes?
Assim de repente, nem por isso. Quer dizer, por vontade própria e "várias vezes" não. Mas há livros em que já peguei mais do que uma vez, geralmente com alguns anos pelo meio, por puro prazer, curiosidade e interesse. Sinceramente, e não sei se pela minha tenra idade (pausa para as gargalhadas), não estou bem a ver o interesse de ler um livro mais do que três vezes numa vida inteira. A não ser, naturalmente, para quem tem problemas de memória.
 É provável que os únicos livros que li e releria várias vezes sejam todos de BD. Li várias vezes o volume Toda a Mafalda, mas já não lhe pego há uns bons anos. Como o Youri, regresso várias vezes ao Astérix, mas cada vez menos. Descobri tardiamente o Corto Maltese, o que talvez explique a razão pela qual continue a encontrar-lhe bastante interesse. Mas sinceramente, e quanto mais penso nisso, não li nenhum destes livros ou colecções mais do que três vezes.
Tenho voltado várias vezes a Operários e capital, de Mário Tronti. Mas é um livro que se "estuda" mais do que se "lê". Tal como a Sociedade do Espectáculo, de Guy Debord.
Tudo isto  para regressar à formulação inicial. Assim de repente, nem por isso.

2. Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e nunca conseguiste ler até ao fim?
Sim, claro. O Anti-Édipo, de Deleuze e Guattari, é um óbvio. Não percebo nada daquilo. Suponho que isso  faça de mim um esquizofrénico iletrado, mas é o que há. 
A Montanha mágica, de Thomas Mann, é outro que tal. Costumo ficar pela página 123. É o momento em que o autor partilha com o leitor a ementa do almoço e eu perco automaticamente a paciência. Ao fim e ao cabo, o que me interessa o que comia Hans Castorp no sanatório de Davos? Para ilustrar o ponto, uma citação: 
O resto do Domingo não ofereceu nada de excepcional, a não ser as refeições que, embora não pudessem ser mais fartas do que de costume, se distinguiam pelo menos pelo requinte dos pratos. No menu do almoço figurava um chaud-froid de galinhas, guarnecido de caranguejos e meias cerejas; os gelados vieram acompanhados de bolos, em cestinhos feitos de fio de açúcar. E por fim, fatias de ananás fresco. À noite, depois de ter tomado a sua cerveja, Hans Castorp sentiu os membros ainda mais trémulos e pesados do que nos dias anteriores e às nove horas disse «Boa noite» ao primo, cobriu-se com o acolchoado de penas até ao queixo e adormeceu, como fulminado.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Nós: os que com aspirinas esfareladas

Antes de regressar a coisas sérias, uma antevisão de hoje à noite. Ou seja, um dos poemas do meu próximo livro: 


Nós: os que com aspirinas esfareladas
nos bolsos, umas quantas gravações
piratas de urros de amores antigos
em trampolins, com novelos de atrito
em torno de cantos suaves de gravilha
e eco e pedaços e lixa e fita-cola . Nós
dos papéis dispersos e das canções
interrompidas, do cansaço, das mãos
ao alto, das fotocópias encardidas,
das bocas feridas por palavras de línguas
impuras e frases tardias, tão suaves,
caducas. Dos inventários de usos vulgares,
futuros, escorregadios, aguçados por delírios
de extensos quintais muito misturados,
com arames e bichos, algum sentido prático
no que toca a pôr um pé em frente ao outro
e necessidades dispensáveis na presente
conjuntura, e canções desnecessárias e claro
fiéis aos poucos a trajectórias obscuras

Voo rasante: hoje à noite

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A coragem é o melhor afrodisíaco


Ela trincou o rissol
e não olhou para o interior.


Fiquei a gostar dela por causa disso.


Daniel Maia-Pinto Rodrigues

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Dois poemas de amor, pés e revoluções

(e de amigos, com uma década exacta entre eles):

Eu queria uma mulher que
estivesse numa companhia de dança e
fosse um golpe comunista dos antigos.


o que eu queria mesmo era trabalhar
numa sapataria cumprimentar as senhoras
apertar-lhes o pé
puxar-lhes o fecho da bota
deixar a mão sobre as canjas.


o que era bom era uma multidão
e tu a plenos pulmões
e nós por todo o lado no meio daquilo tudo
e nós num dia destes.


o que era mesmo bom era levar
o meu amor a casa.


e de volta
sintonizá-lo numa canção de rádio.


Nuno Moura

(Nova Asmática Portuguesa, Mariposa Azual, 2008)

O PREC EM 2008

o deus Silêncio ostenta as Inumeráveis
águas nesta apertada livraria de Lisboa
também ainda o primeiro título (poesia) de Manuel
António Pina em ano de revolução que


nesse tempo eram mesmo
a sério as revoluções e podíamos acrescentar-lhes pela rua
o nosso carme as madrugadas flores


agora um amigo diz-me: “esta
revolução não dá um passo!”


concedo, mas não desisto

incorro em certos delicados actos de guerrilha
por exemplo deixo poemas em cafés ou em pequenas
livrarias que ainda apoiam em segredo esta causa


revolucionária
depois mando as coordenadas sigilosas à amada
que no dia seguinte quase sempre
pela tarde os vai buscar


Miguel-Manso

(Quando escreve descalça-se, Trama, 2008)

terça-feira, 14 de junho de 2011

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Voo rasante - Alteração de data


Tinha anunciado aqui a primeira edição do Voo Rasante para este Sábado, mas afinal teve que ser mudado para sexta-feira 24.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Imperativos não categóricos

Não te candidates nem te demitas. Assiste.
Mas não penses que vais rir impunemente a sessão inteira.
Em todo o caso fica o mais perto possível da coxia.

Alexandre O'Neill

(de "Sentenças delirantes dum poeta para si próprio em tempo de cabeças pensantes")

Voo rasante com paisagem desolada ao fundo


A Livraria Sá da Costa, no Chiado, vai fechar portas. Ao que parece até já foi posta a leilão pelas Finanças. Antes de ir de vez para a cidade dos pés juntos, vai esticar desenfreadamente o pernil, bater desalmadamente a bota, queimar cartuchos à maluca e dar um último urro em verso. A bang, not a whimper. E assim se enredam fins e começos: é a primeira edição do Voo Rasante, pela mão do Nuno Moura (Mia Soave) e Helena Vieira (Mariposa Azual), a repetir tantas vezes quanto possível. Este próximo Sábado, às 21h30. Eu estou lá a ler umas coisitas, com amigos.