Mostrar mensagens com a etiqueta Proletariado. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Proletariado. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 26 de junho de 2012

Da invenção do proletariado


"Religados e reanimados no monstro estão os membros daqueles – os 'pobres' – que a quebra das relações feudais empurrou para a vagabundagem, a pobreza e a morte. Apenas a ciência moderna (…) lhes pode oferecer um futuro. Cose-os de novo, molda-os de acordo com a sua vontade e, por fim, dá-lhes vida. Mas, no instante em que o monstro abre os olhos, o seu criador encolhe-se, horrorizado.” (Franco Moretti, aqui ) Deu vida a algo que tem 'vida própria', por mais preso que esteja na relação com o seu 'dono'. E tanto mais será o horror quando, como observou o meu amigo Ben Dawson, a quem devo esta referência, o monstro começa a vaguear, porque está sem trabalho.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Quem não teme o mar não teme os patrões


O abastecimento de Lisboa e de grande parte do país está hoje nas mãos de um poderoso grupo, em que se entrelaça, por meio de participações mútuas no capital, a Companhia Portuguesa de Pesca, a SNAPA, a Doca Pesca e a GELMAR. Possuem em conjunto frotas de dezenas de navios, estaleiros, fábricas de gelo, frigoríficos e uma grande rede de venda de peixe. O negócio é tão bom ou tão mau que o capital das empresas do Grupo tem estado a ser elevado sucessivamente e orça hoje pelos 750 mil contos. A Companhia Portuguesa de Pesca queixa-se de ter tido só dois mil contos de lucros no ano passado; mas distribuiu pelos administradores, em ordenados e gratificações, 2364 contos.
E quem está à testa do monopólio? O tubarão das pescas não era só Tenreiro, legionário. Esse foi preso e bem preso, mas os outros que não caíram na asneira de se fazerem legionários continuam a encher-se à custa dos pescadores e dos consumidores...
Controla do alto este negócio a família dos Quinas, através do Banco Borges & Irmão. O sector das pescas, como quase toda a economia nacional, está dominado pelo capital monopolista. A sua determinação cega em arranjar a máxima taxa de lucro, o seu poderio financeiro, as suas ligações e influências junto do Estado – tudo isso lhes permite manter uma férrea ditadura sobre os trabalhadores, mesmo depois de ter caído o fascismo. O fascismo são eles. [...] Mantendo a sua greve, os pescadores e tripulantes do arrasto não estão só a conquistar melhores condições de vida; estão a golpear o maior inimigo da classe operária – o capital monopolista.
A Voz do Povo, 13/08/1974

segunda-feira, 27 de junho de 2011

I Won't Work

 Como oportunamente relembra a Raquel, os Wobblies foram fundados há 106 anos. Aqui fica um excerto de um texto em inglês, escrito originalmente em italiano por Sergio Bologna, que sugere um exercício comparativo entre a tradição das lutas operárias norte-americanas e a das suas congéneres europeias :
In 1905, at the peak of the struggle, while the Soviets were coming into being in Russia, in the USA the International Workers of the World (IWW) was formed; the most radical proletarian organisation ever in the USA, the only revolutionary class organisation before the rise of the Afro-American movement. Today there is much to be said and learned from the IWW. Although many of its militants were anarchists and anarcho-syndicalists who had migrated to the US from Eastern and Western Europe, the IWW cannot merely be written off as the American equivalent of French anarcho-syndicalism.
What was there in the IWW that is so extraordinarily modern? Although it was based on an old class nucleus, the Western Federation of Miners, the merit of the IWW was that it attempted to organise the American proletariat in terms of its intrinsic characteristics. It was primarily an immigrant proletariat, and therefore a mixture of ethnic groups which could only be organised in a certain way. Secondly, it was a mobile proletariat, a fact which very much militated against identification with any particular job or skill, and which also militated against workers developing ties to individual factories (even if only to take them over).
 The IWW made the notion of the social factory a concrete reality, and it built on the extraordinary level of communication and coordination possible within the struggles of a mobile workforce. The IWW succeeded in creating an absolutely original type of agitator: not the mole digging for decades within the single factory or proletarian neighbourhood, but the type of agitator who swims within the stream of proletarian struggles, who moves from one end to the other of the enormous American continent and who rides the seismic wave of the struggle, overcoming national boundaries and sailing the oceans before organising conventions to found sister organisations. The Wobblies' concern with transportation workers and longshoremen, their constant determination to strike at capital as an international market, their intuitive understanding of the mobile proletariat - employed today, unemployed tomorrow - as a virus of social insubordination, as the agent of the "social wildcat": all these things make the IWW a class organisation which anticipated present-day forms of struggle, and was completely independent of the tradition of the Second and the Third Internationals. The IWW is the direct link from Marx's First International to the post-communist era.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Anda cá, que é para eu te inflamar

Vou meter-me onde não fui chamado. O que até calha bem, pois (com a devida contextualização) não é uma má definição de política. Dizem-nos frequentemente para nos metermos mas é na nossa vidinha, de vez em quando na guerra e, mais recentemente, parece que é na agricultura. Na vidinha já estou até aos joelhos, muito obrigado, a guerra é uma canseira e morre-se muito, e a agricultura faz mal às costas (que me perdoem os amigos mais dados à horticultura). Em vez disso, vou dar umas achegas às trocas de impressões entre o Renato Teixeira, o Zé Neves e o Ricardo Noronha.
A minha incursão nesta longa discussão é feita no quentinho do meu laboratório de palavras, com bata, óculos e pinças de sofista. Vou deixar de lado considerações mais directas sobre a acampada do Rossio (partilho muito do que foi escrito aqui, tanto o entusiasmo como as reservas, das mais epidérmicas às de fundo). Acho que é importante escrafunchar um bocado nos termos da discussão e em algumas das oposições que rapidamente se cristalizaram: sobretudo a divisão entre organização e espontaneidade, ou a relação entre meios e fins. Por isso, vou cingir-me sobretudo a este post do Renato e às passagens de “Moral e Revolução” (Trotsky), que o Renato usou para atacar (questionar, se quisermos ser simpáticos) aqueles que, segundo ele, defendem o “movimento pelo movimento”. Acho que a sua linha de argumento assenta num conjunto de equívocos, a começar por esta caracterização (i.e., “movimento para o movimento, sem táctica nem projecto estratégico”), bem como na atribuição àqueles que a ele se têm contraposto de uma espécie de purismo dos “meios”, como se estes fossem coisas virginais que importaria defender da corrupção dos “fins”. Lá chegaremos. Leiam o post do Renato por inteiro, bem como as várias trocas que o precederam, mas vale a pena citar aqui uma parte do texto de Trostsky que ele lançou para a discussão: