Mostrando postagens com marcador Courbet. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Courbet. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, novembro 15, 2023

PAULA EINÖDER, AIMÉ CÉSAIRE, SARAH BAKEWELL, INCONFISSÕES & ENIGMA VITAL

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som do álbum Territórios (Rocinante, 2023), da violonista clássica Gabriele Leite, musicista, que figurou na lista Under 30 da Forbes, em 2020.

 

PALÍNDROMO OUROBOROS & SISIFISMO GLOCAL... – Piso errâncias da solidão pelo Vazio de Boötes, prófugo sonheiro pela constelação Ofícuo, ou sei lá: talvez aqui esteja mais respirável que as intoxicadas calçadas e ruas da minha cidade. Juro, talvez possa escapulir – sim, alívio pra quem sempre se viu enredado nas tramas da trilogia de Samuel Beckett, diante do Lamentável Expediente da Guerra. Absurdo é não haver mais lugar seguro, o inferno por toda parte. Confesso, meu coração Molloy, miseravelmente solitário: não é nem nunca será nada; apenas teimoso, como se buscasse o ventre materno a todo instante. Só sei e sinto o desperdício de todos os solilóquios: é tudo desconfortavelmente incomunicável, inevitavelmente falhamos e muito feio. Quase nada mais adianta, resta o inopinado. Pelas ruas as mulheres me pediam uma das pedras dos bolsos e, em troca, ofertavam o limiar da porteira do mundo, a origem de Courbet. Surpreso, não fazia outra coisa senão entregá-las a todas elas, sem que precisassem gratificar. Elas insistiam e mais persistiam, não sabiam que não tinha onde cair morto nem sequer mais sabia meu próprio nome, assombrado com as escaramuças das valias e o tiroteio da indiferença nas ondas do anonimato. O momento é quase uma amputação, não entendo seus gestos e falares, se festejam ou descontentes. Não as entendo, muito menos o que dissera Astrid Lindgreen: Eu era jovem, pobre e me sentia muito sozinha. Eu vim de uma cidade pequena e em Estocolmo não conhecia ninguém. De segunda a sexta trabalhava em escritório, mas os finais de semana eram tristes e chatos. Passei o tempo lendo livros... Se me chegara por penhora, não sabia. Eis-me aqui de volta, disse-lhe. Tal Malone, asseguro: a gente só sabe que vai morrer! E me apontou pelas esquinas as ocorrências – outras delas que desfiavam nas garras de homicidas impunes, nem quero ver e não perdoo ninguém, pro inferno todos! Não, não quis dizer isto! Longe de mim. Reconheço: gente envolvida em fanáticas irrelevâncias, pelo ódio aguça o risco e a fealdade dos interesses chovem bombas torrenciais na incógnita esperança dos olhos infantis daqui e das palestinas na Faixa de Gaza, das israelitas cativas, russas e ucranianas, desumanidade demais sob um Sol furioso e calor de 50 graus - cada vez mais difícil sobreviver. Quem asfixiado não escapole da clausura, quem oprimido não abre o peito à indignação, quem à porta não dá o milésimo passo. Já tenho muito no que pensar e fazer, buscar o asilo com as dificuldades de locomoção, a quase mendicidade, a claustrofobia sufocante, as sobras e os restos, tudo se esvai: apesar de tudo, muito em breve estarei morto. Preciso ficar calado, aprender o silêncio. Ela insiste e me recrimina Selma Lagerlöf: Ninguém pode salvar as honras do Senhor, mas abençoado será aquele que restaurar a coragem para suportar... Não consigo entendê-la: onde agora, quem e quando, a impossibilidade, aporias e coisas, outros silêncios. Toda religião é uma ofensa, como os noticiários: incapazes de perceberem todo dia a criação do universo - o círculo e a linha ondulada se faz reta rasgando limites, os erros e a minha vida, uma sucessão de hábitos. Quase nem há como ir adiante, a jaula é um labirinto em que se confundem começos e fins, decessos e ressurgências, saídentradas... O portão emperra e nem ouço direito agora Margarida Rebelo Pinto solícita: Acredita que o tempo em que estamos com aqueles que nos querem bem é sempre um tempo ganho, como quem acumula pontos de felicidade para o futuro... Não sobrou ninguém além da gentileza dela a me sorrir como se fosse um fantasma renitente a me exigir uma atitude que não sei qual nem onde estou. Sei que sou inominável no meio do silêncio e ouso o primeiro passo a cada dia e de novo, meus pedaços não vão tão longe, penetram a menor profundidade, como se tecessem invisiveis limites na dor do aniquilamento numa suposta cova mais rasa. Vou continuar, preciso ir, vou adiante mesmo assim: pra onde, como, quando... Não há razão pra desistir, nem pra desespero. O que sou e tudo passará. Ah, até mais ver.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

LADY TITANIC - Eu tenho a maldição do Titanic e um iceberg na garganta \ Eu afundo no gelo do inferno \ o fogo nunca esteve tão frio \ Eu te empresto meu barco em pedaços \ ou eu te dou um pedaço do meu sorvete \ ser juiz e parte da viagem que não volta na jornada mais triste \ do navio mais louco \ Eu sou a Senhora Titanic \ aquele que nunca iria afundar em seus ferros majestosos \ agora eu tenho tudo acertado \ o tédio roxo do náufrago entre minhas sobrancelhas de inseto cleptomaníaco \ Eu nunca voltarei navegar pelos mares \ Eu estarei para sempre afogado no espelho que me cruzou \ Eu tenho a tragédia do Titanic e um iceberg nos olhos \ Eu afundo no inferno do iceberg \ O gelo nunca esteve tão quente.

MALES DE LA ENFERMEDAD (CONFESIONES) - o mal das flores envolve meu crânio \ como uma coroa de espinhos duros \ todo mundo me tem disse o mesmo \ que não há cura por esses males da alma \ o mal das flores rodeia meu cérebro \ como um corolário muito espinhoso \ todo mundo me tem disse igual que não há cura por tão grande e um mal doloroso.

Poemas da escritora e professora uruguaia Paula Einöder.

 

CAFÉ EXISTENCIALISTA – [...] A ansiedade é a vertigem da liberdade [...] É perfeitamente verdade, como dizem os filósofos, que a vida deve ser entendida de trás para frente. Mas esquecem a outra proposição, que deve ser vivida para frente. E se pensarmos sobre esta proposição, torna-se cada vez mais evidente que a vida nunca pode ser realmente compreendida no tempo, porque em nenhum momento particular posso encontrar o local de descanso necessário para compreendê-la. [...] As ideias são interessantes, mas as pessoas o são muito mais. [...] Você deveria fazer suas escolhas como se estivesse escolhendo em nome de toda a humanidade [...] Penso com tristeza em todos os livros que li, em todos os lugares que vi, em todo o conhecimento que acumulei e que não existirá mais. Toda a música, todas as pinturas, toda a cultura, tantos lugares: e de repente nada. Eles não fizeram mel, essas coisas, eles não podem fornecer nenhum alimento para ninguém. No máximo, se meus livros ainda forem lidos, o leitor pensará: Não houve muita coisa que ela não tenha visto! Mas aquela soma única de coisas, a experiência que vivi, com toda a sua ordem e a sua aleatoriedade - a Ópera de Pequim, a arena de Huelva, o candomblé na Bahia, as dunas de El-Oued, a Avenida Wabansia, as madrugadas na Provença , Tirinto, Castro conversando com quinhentos mil cubanos, um céu sulfuroso sobre um mar de nuvens, o azevinho roxo, as noites brancas de Leningrado, os sinos da Libertação, uma lua laranja sobre o Pireu, um sol vermelho nascendo sobre o deserto , Torcello, Roma, todas as coisas de que falei, outras que deixei por dizer — não há lugar onde tudo isso possa voltar a viver. […] De agora em diante, escreveu ele, devemos sempre levar em conta o nosso conhecimento de que podemos destruir-nos à vontade, com toda a nossa história e talvez com a própria vida na Terra. Nada nos impede, a não ser a nossa livre escolha. Se quisermos sobreviver, temos que decidir viver. Assim, ele ofereceu uma filosofia projetada para uma espécie que havia acabado de se assustar, mas que finalmente se sentia pronta para crescer e assumir responsabilidades. [...] poucas pessoas arriscarão a vida por uma coisa tão pequena como levantar um braço – mas é assim que os poderes de resistência de alguém são desgastados e, eventualmente, a responsabilidade e a integridade de alguém vão com eles [...]. Trechos extraídos da obra At the Existentialist Café: Freedom, Being, and Apricot Cocktails (Random House, 2017), da premiada escritora e professora britânica Sarah Bakewell, fornecendo um relato dos existencialistas modernos que vieram por conta própria antes e durante a Segunda Guerra Mundial, discutindo as ideias da fenomenologia e como influenciou a ascensão do existencialismo.

 

DISCURSO DO COLONIALISMO – [...] A maldição mais comum neste assunto é ser a vítima de boa-fé de uma hipocrisia coletiva, hábil em colocar mal os problemas para legitimar melhor as odiosas soluções que lhes são oferecidas [...] O que estou querendo dizer? Nesta ideia: que ninguém coloniza inocentemente, que ninguém coloniza impunemente; que uma nação que coloniza, que uma civilização que justifica a colonização – e portanto a força – já é uma civilização doente, uma civilização moralmente doente, que irresistivelmente, progredindo de uma consequência a outra, de uma negação a outra, clama pelo seu Hitler, Quero dizer, sua punição. [...] As pessoas ficam surpresas, ficam indignadas. Eles dizem: “Que estranho! Mas não importa – é o nazismo, vai passar!” E eles esperam e esperam; e escondem de si mesmos a verdade de que isso é barbárie, mas a barbárie suprema, a barbárie culminante que resume todas as barbáries cotidianas; que é o nazismo, sim, mas que antes de serem suas vítimas, foram seus cúmplices; que toleraram aquele nazismo antes que ele lhes fosse infligido, que o absolveram, lhe fecharam os olhos, o legitimaram, porque, até então, só tinha sido aplicado a povos não europeus; que cultivaram esse nazismo, que são responsáveis por ele, e que antes de engolir toda a civilização ocidental e cristã nas suas águas avermelhadas, ela escorre, escorre e escorre por todas as fendas. [...]. Trechos extraídos da obra Discurso sobre el colonialismo (Akal, 2006), do poeta francês Aimé Césaire (1913-2008), que em sua obra Notebook of a Return to the Native Land (Wesleyan Poetry Series -  Wesleyan University Press, 2001), expressa que: […] Cuidado, meu corpo e minha alma, cuidado sobretudo em cruzar os braços e assumir a atitude estéril do espectador, pois a vida não é um espetáculo, um mar de tristezas não é um proscênio, e um homem que chora não é um urso dançarino. [...] Um homem gritando não é um urso dançante. A vida não é um espetáculo. [...]. É dele a frase: Uma civilização que se revela incapaz de resolver os problemas que cria é uma civilização decadente. Uma civilização que escolhe fechar os olhos aos seus problemas mais cruciais é uma civilização atingida. Uma civilização que usa seus princípios para trapaças e enganos é uma civilização moribunda. Veja mais aqui.

 

... Em cada verso o abismo aberto. \ O limbo como um hímen (não comestível).

Versos de Cinco poemas (2012), extraído da obra Inconfissões (CriaArt, 2023), do poeta Vital Corrêa de Araújo, organizado pelo poeta e professor Admmauro Gommes, autor da também recém lançada obra O enigma vital – aspectos da obra poética de Vital Corrêa de Araújo (CriaArt, 2023). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 


 


 


quinta-feira, setembro 23, 2021

CORDEL REPENTEANDO, LUA, UNGARETTI, BRÁULIO TAVARES & SALLIE NICHOLS

 

 

TRÍPTICO DQP – Popoesialar... - Ao som da vinheta Tataritaritatá. - Poesia Popular? Eita! Ah, era quando ia com mãe ou vó pra feira e lá dava de cara com dois repentistas com seu trabalho feito e descascando cada qual a honra e a feiúra um do outro, morria de rir, a ponto de ser arrastado pra casa, de nem poder vê-los rapar a viola. Coisa boa de ver, visse? Ou quando via aquela figura gigantesca do Ascenso cantando das suas, umas e outras, para lá e para cá, chega dava gosto! Lá em casa era pai achegado no meio das suas estantes. Ele até cometia uns sonetos bissextos, enrolado com as lições do Bilac, sapecando uns solos ao violão e a me falar noutras horas do romanceiro dos cordelistas, do cancioneiro popular. Eu que já era de ficar entretido com os trava-línguas, parlendas, pastoris e quadrinhas, ouvia dele coisas de Leandro Gomes de Barros, do Pavão Mysterioso, de Zé da Luz e doutros causos e graças das Literaturas ditas de Cordel. Era galope, martelo, oitava e mourão; era décima, ligeira, sextilha, parcela e quadrão. Era gabinete, toada, gemedeira e rojão pernambucano, quando uma dupla com bandeiro no coco da embolada, quando não outros com dez de adivinhação. Olhos grandes e todo espalhado. Se aprendia? Só Deus sabe o que eu não sei. Até que um dia, no meio da itinerância, lá fui eu noutras voltas, cheio de nó pelas costas a recitar outras Severinas do João Cabral.

 


Lunário perpétuo... – Ao som de Abusão. - De primeira foi assim: inadvertidamente dei de cara com um livrão, sabia lá o que era o Non plus ultra do lunário e prognostico perpetuo, geral e particular para todos os reinos e províncias. Vôte! Nunca tinha visto, apareceu assim do nada sobre a mesa. Estava lá, misterioso. Cá comigo: Que droga é nove? Não era só um livro. Bastou abri-lo assim do nada, logo dele, isso mesmo, das páginas dele uma coisa assim que meio evaporou e fez volume esfumaçado no ar. Só depois de muito tempo é que pude ver que era Vivagina – explico: era como se fosse aquela cabeluda de Bráulio Tavares e a da porteira de Courbet, entende? Pois é. Não demorou muito e a coisa foi ficando mais perturbadora. Logo ouvi a voz de Sallie Nichols: Todas as noites, a Senhora Lua reúne todas as lembranças jogadas fora e todos os sonhos esquecidos da humanidade, guardando-os em sua taça de prata até o despontar da aurora. A seguir, aos primeiros albores, continua a história, todos os sonhos esquecidos e todas as lembranças desprezadas são devolvidas à Terra como seiva da Lua ou orvalho. Misturado às lacrimae lunae, o orvalho nutre e retempera toda a vida sobre a Terra. Graças ao desvelo compassivo da deusa, nada de valor se perde para o homem. Além de precavido, estava cada vez mais curioso. Foi, então, que uma voz de um vulto que emergia do ventre, agigantando-se. E começou a falar de Plutarco: É a morada dos homens bons de sua morte. Levam aí uma vida que não é nem divina, nem feliz, mas, contudo, isenta de preocupação, até a sua segunda morte. Porque o homem deve morrer duas vezes. Danou-se! Procurava entender quando ouvi um poema de Giuseppe Ungaretti: Que estás fazendo, Terra, no / céu? / Diz-me, que estás fazendo, silenciosa / Terra? Entendia patavina! Pensei comigo: melhor fugir. Não deu, algo me trancava naquilo e ouvi do poeta árabe Ibn al-Mottaz (861-908): Olha a beleza do crescente que, acabando de aparecer, rasga as trevas com seus raios de luz. Como uma foice de prata que, entre as flores brilhando na obscuridade, colhe narcisos. A primeira lembrança que ocorre, quando se deseja descrever algo excessivamente belo e mostrar sua extrema perfeição, é dizer: uma face semelhante à Lua. Quanta doidice duma vez só! Era como se a imagem me dissesse tudo isso lido das páginas daquele volume misterioso. De repente a imagem foi ficando mais nítida, a ponto de identificar duas torres, um lago azul e nada mais que conseguisse distinguir no meio da névoa onírica que imperava no ambiente. E era Tales mencionando o corpo sem luz própria que apenas refletia a luz solar. Era Demócrito dizendo que ali era um mundo de montanhas e vales. Era Aristóteles falando das fases lunares. Eram Arisparco de Alexandria e Hiparco medindo a distância entre a Terra e a Lua. Era Newton descobrindo a relação gravitacional. Era Galileu com seu Siderius Nuncius, confirmando Demócrito. E tudo me assustava, nada entendia, impedido de retroceder. Cada vez mais visíveis as duas torres de ouro sedutoras, havia um caminho escuro, não sei se antes alguém já havia passado por isso, acho que sim. O caminho dava numa encruzilhada e eu precisei domar a besta fera que havia em mim – um lobo uivador, nada encoleirado -, e percebia que de um lado estava o dia claro e, do outro, o umbral das horas feiticeiras da noite. Uma imagem de mulher se insinuou mais nítida: em silêncio ela me contemplava – não alcancei suas fases, mas quando a vi, parecia ser a deusa da Lua na Noite Terrível, a me dar sonhos de mistérios ocultos. Só podia ser. Duma feita, ela era Ixchel, a deusa com seus quatrocentos coelhos astecas, a filha de Tialoc. Doutra, uma desconhecida irreconhecível que me mostrava a festa de Heng-Ugo, enquanto me falava que a noite era uma rocha que escondia a história patética dos ritmos da vida e que eu havia de descobrir a iluminação das profundezas, no Mapa da Jornada. Foi neste exato momento que me apareceram os tártaros de Altay, para me contar que ali se escondia um velho canibal que foi raptado da Terra pelos deuses, para poupar a humanidade: eu estaria na boca do lobo. Onde estou? Nem se deram ao trabalho de me responder. Um deles disse: O vir-a-ser - as águas, a chuva, a fertilidade, a vegetação, a fecundidade, os destinos humanos sob a lei da variação periódica. No meio disso, emergiu a raposa Yurugu dos dogons, que me trouxe a primeira palavra divina num sonho iniciático. Foi quando de uma das torres apareceu Ártemis, envolvida por um colar de arco-íris a me apontar o escaravelho e era como se ela dissesse que ele iria me devorar para regeneração moral. Na verdade, pelo que pude adivinhar, ela queria mesmo era me castigar com sua virgindade, a me fazer Hipólito destemido diante de seus cães devoradores, para depois me supliciar. Pensei no seu intento e me surpreendeu ao se tornar Selênia: mostrou-se ciumenta e dominadora, e que eu tinha que pagar pelo que fiz à rainha Artemisa. Eu? Ela tão pálida e fria quanto inconstante, com todo recato virginal, vingava-se sem que eu sentisse por alguma coisa que não sei nem jamais saberia. E ao perceber meu amedrontamento, tomou bruscamente a minha mão e voamos numa revolução elíptica por vinte e sete dias. E me contou da rotação de Domenico Casini, da órbita kepleriana, da carta de Riccioli, da selenografia de Ibn Al-Haytham e Leonardo da Vinci, até a alunissagem, quando me levou pela face oculta até me mostrar os onze mares dali. E me apontou para a outra torre que resplandecia. Sim, eu vi, estava cada vez mais viva e brilhante. Ao me voltar para ela, desaparecia como se morresse na passagem da vida pra noite e vice-versa. O que me esperava, sequer imaginava. Da outra torre, veio-me Hécate: era a Noite Negra da Alma – a Jornada Noturna do Mar. A deusa poderosa sobre o céu e a terra, pareceu-me mais amigável. Não era, engano meu: uma tocha em cada mão e acompanhada de fantasmas e sortilégios, o inferno vivo. Quando olhei pros lados buscando saída, ela mais se agitou e me sequestrou por vinte e oito dias e, ao final, me deu o Nirvana, para que os brâmanes me levassem pelos vinte e oito estados paradisíacos. Ao retornar, ela me abraçou, beijou-me e nos possuímos longa e demoradamente: ela estava insaciável. No horizonte a claridade dava sinal de que eu não havia morrido, prestes ao próximo dia. Foi quando ela me concedeu a propriedade material, o dom da eloquência, e a vitória no jogo e nas batalhas. Presenteou-me com tudo isso, um beijo demorado e voou. Vi-me sozinho, fechei o livro. Tudo desapareceu. Sabia lá que aquilo estava entre Los libros malditos (Edaf Antilhas, 2005), da historiadora Mar Rey Bueno, que, aproveitou o ensejo, e me mostrou o Malleus Maleficarum, o Necronomicon de Abdul Alhazred por Lovecraft de Cthulhu, o Código de Voynich da Lei de Zipf que ninguém conseguiu ler, e eu lá queria saber, dissimulando feliz pela exposição daquelas publicações. Ofereceu-me todos e mais outros volumes que nem tive tempo de sacar quais eram e se foi com um adeus para sempre.

 


Repenteando... – Ao som do cordel Tataritaritatá - Foi aí que tomei pé da situação, depois das muitas e tantas leituras e revivescências, me danei a afinar a viola sem saber direito se cebolinha, cebolão, quatro pontos ou oitavado, qual? Dei aperto na canotilha, ajustei a toeira, dei um grau na turina, já comparando com a requinta, para chegar na prima e me ajeitar pro melhor dedilhado. E fui logo de Manuel Bandeira: Como qualquer violeiro / bom cantador do sertão, / a todos os quais, humilde, / mando minha saudação. E saí repenteando até com um olho só! Isso no embalo da vida, embolando solto, mandando ver na enrolação. Pudesse vir quem quisesse e de qualquer jeito sapecando mote preu glosar de leixa-prem: Não sei se fico ou se corro. Se corro ou se fico. Não sei se fico aqui ou se corro prali. Assim começava, recomeçava e nada de findar. Tudo só para ganhar a simpatia de Iaravi, com coisas impossíveis de Sol e de Lua, presenteando um repente da mulher. Só queria era ver o sorrido dela, coisa mais linda! Afinal, o que é um peido para quem está cagado, hem? Por isso, vou de repente qualquer jeito para ver como é que fica. E feito xexéu: no ano passado eu morri, mas este ano eu não morro. Solto na buraqueira, Cantador no desnorteio & tatataritaritatá! Aí vou contando desde menino que tomou água de chocalho na beira do rio, do que viu da Mãe da Lua e do Urutau, do Lunário Perpétuo e da sua autoria, do que vi e não vi, do que fiz e não fiz, só de uma coisa eu sei: só a poesia torna a vida suportável. Até mais ver.

 

Neste sábado, dia 25, às 16hs, estarei no Ciclo de Poesia Brasileira do Bacellartes, comandado pela Renata Barcellos, contando ainda com a presença da professora e poeta Marcia Ruth Kanitz, do Severino Honorato da Caravana Tin Tin Alves, da pesquisadora Arusha Kelly Carvalho e da doutora Lia Testa.

 

E mais:

CANTARAU & OUTRAS POETADAS

POEMAGENS & OUTRAS VERSAGENS

FAÇA SEU TCC SEM TRAUMAS – CURSO & CONTULTAS

 


Vem aí o Programa Tataritaritatá. Enquanto isso, veja mais aqui.

 


quarta-feira, junho 10, 2020

UMBERTO ECO, ELLEN LANGER, MARIEMMA & KAMILA CIDRIM



DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: DE APEGOS & INSIGNIFICÂNCIAS – Para quem não tem nada, qualquer potoca vale muito: do nulo ao inútil, as carências falam mais alto e até demais. Basta o trivial para ficar apegado logo de primeira, maior xodó, na cola, agarrado. Bote tempo até perder a graça e cair no esquecimento. Afora o arrependimento depois de ter perdido tempo com aquilo. Bem que Saul Bellow falou: A banalidade é o disfarce de uma poderosa vontade de abolir a consciência. Viva ou morra, mas não envenene tudo. O pior é que o mais tímido ato ou mínimo que seja o gesto de afeição, as consequências são irreversíveis. Há quem diga que só não tem jeito pra morte, destá. Com essa vou pra outra. DUAS: SÓ O MESMO O TEMPO PARA QUEM NA CAUSA – Quem já passou por um bocado de coisas que jamais pensei que um dia fosse me ver enrolado, de fila de espera e Justiça tardia que muita vezes falha feito um traque peba, mesmo assim, a cada dia, de 2015 para cá, é cada uma de arrombar com todos os precedentes. Chega fico imaginando como é que certas coisas acontecem de tão de absurdas, quando não inapropriadas. Tinha que viver para ver tudo isso desmoronando para boiar pelas ruínas. Agora é tarde, já foi. Tinha comigo os sábios versos de Camões: Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / Muda-se o ser, muda-se a confiança; / Todo o mundo é composto de mudança, / Tomando sempre novas qualidades. Sim, na vida estamos todos em processo. Só que eu não contava jamais com a evolução dos tempos de volta para a barbárie. É tudo tão desumano, de doer. Ah, vou pra outra. TRÊS: A SAIDEIRA DA SOLIDÃO – Hoje estou assim que nem sei. Vou e volto dia a dia e tudo descendo a ladeira. De qualquer situação só se espera o pior, ô Brasilzão complicado, meu. Tinha que ser do jeito mais difícil, não sei. O traumatizante sai na urina do carnaval, do futebol, da cachaçada ou sei lá que mais. Só sendo mesmo. Não fosse isso, o que seria da alegria extravasada desse meu povo tão misturado e com a cara para a pregada do desacerto, hem? Leva tudo nos peitos e no jeitinho, quando pode, senão já viu o buruçu. Por alento, um afago de Courbet: O belo, como a verdade, está ligado ao tempo em que se vive e ao indivíduo que está pronto para compreendê-lo. Sei não, de tanto enterro voltando vou é cair na vida. E vamos aprumar a conversa, né gente! Até mais ver que vou ali e volta já pra outras lorotas, tá? © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: A falta de atenção não é estupidez. Você aprende algo e começa a pensar só daquela forma. Todos estamos sofrendo com a desatenção. Às vezes não vemos o que está na nossa frente, porque achamos que já sabemos das coisas, mas não sabemos. Independentemente do que esteja fazendo, fazer com consciência plena é muito melhor. Atenção plena não é preocupação o tempo todo. É a energia gerada, não consumida. A plena consciência é a essência do carisma. O seu corpo está onde está a sua mente.
Pensamento da psicóloga e professora estadunidense Ellen Langer, autora da obra Atenção plena (Benvirá, 2018), na qual trata sobre a mindfullnes, uma técnica destinada à simples arte de perceber coisas novas. Para ela, a rotina e a visão viciada são os inimigos do estado de consciência plena: Quando você acha que sabe e conhece as coisas, você deixa de prestar atenção, com isso perde oportunidades, porque tudo está mudando o tempo inteiro. Para tanto, a atenção plena pode ser um beneficio para a saúde, o trabalho e até mesmo ajudar no combate ao preconceito e a injustiça social. Neste livro, ela propõe deixar de lado as categorias habituais e a ver o mundo de uma nova perspectiva, utilizando-se de estudos de campo apresentando que a atenção plena na prática fornece valiosos insights que podem ser aplicados no dia a dia. Ao abordar sobre a ilusão da teoria de controle, tomada de decisão, envelhecimento e atenção plena, ela faz referências às religiões orientais e discute como o comprometimento cognitivo precoce afeta as ações cotidianas e as escolhas ao buscar saídas para determinadas situações, que determinam a aceitação de limites que muitas vezes não existem: Meu trabalho sobre Mindfulness foi conduzido inteiramente dentro da perspectiva científica ocidental. Inicialmente, meu foco estava centrado na falta de atenção (mindlessness) e sua prevalência na vida cotidiana. A noção de Mindfulness se desenvolveu gradualmente ao olhar os aspectos da falta de atenção e depois no outro lado da moeda. Apenas após uma série de experimentos demonstrando os cursos de uma mentalidade rígida e uma perspectiva unilateral que eu comecei a explorar o enorme potencial da atitude de atenção plena na saúde, criatividade, e no trabalho. Com isso, entende-se que Mindfulness é um conjunto de práticas que combina regulação da atenção e meditação com o objetivo de desenvolver a capacidade de estar plenamente presente, proporcionado uma autoconsciência emocional, consciência do ambiente, e do corpo, o que leva a acalmar os sentidos e diminuir o nível de agitação mental. Embasada na Quarta Verdade do budismo, que é a realidade do caminho para a cessão do sofrimento, ligando-se a três dos oito ensinamentos: esforço correto, atenção plena correta e concentração correta, e desvincular-se da religião para se ligar à ciência. Por consequência, tais estudos possibilitaram técnicas de psicoterapia de terceira geração altamente eficazes, tais como Terapia Cognitiva Comportamental baseada em Mindfulness; Terapia de Aceitação e Compromisso, Terapia Dialética Comportamental e Terapia de Redução do Estresse baseada em Mindfulness. Ela ainda assinala que: Um erro em um contexto pode ser sucesso em outro, basta você conseguir olhá-lo dessa forma. Toda pessoa tem a capacidade da atenção plena, mas ela acaba enterrada pela correria da vida. Tais abordagens podem ser também observadas na publicação Atenção plena – Mindfulness: como encontrar a paz em um mundo frenético (Sextante, 2015), de Mark William e Danny Pennan.

A BIBLIOTECA DA ABADIA DA ROSA
[...] A mais notável de todas as construções da abadia era a biblioteca, situada dentro do edifício. Sua entrada era possível pelo próprio edifício, cujas portas eram ciosamente guardadas pelo bibliotecário-chefe, ou por uma passagem secreta através do ossário. A arquitetura da biblioteca era a de um labirinto, cheio de escadas que não levavam a lugar nenhum e salas que refletiam outras salas; espelhos, corredores sem saída e portas secretas ajudavam a aumentar a confusão. Afirmou-se que seus arquitetos anônimos buscaram inspiração nos planos da biblioteca de Babel. Entre todos os tesouros que a biblioteca abrigava, o maior deles era o longo tratado de Aristóteles sobre comédia. Foi para preservar o mundo do conhecimento dessa obra – considerada um estimulo ao esquecimento de Deus – que um monge idoso teria cometido uma série de homicídios atrozes que culminaram com a destruição da própria abadia.
A BIBLIOTECA DA ABADIA DA ROSA - Trecho extraído da premiada obra O nome da rosa (Nova Fronteira, 1983), do escritor, filósofo e bibliófilo italiano Umberto Eco (1932-2016), adaptada para o cinema com direção de Jean-Jacques Annaud, cujo título era uma expressão usada na Idade Média para denotar o infinito poder das palavras. A narrativa é repleta de mistérios com símbolos secretos e manuscritos codificados, retratando um episodio ocorrido durante a Idade Média, no qual o riso era considerado um pecado pela igreja, levando ao enredo em torno das investigações de uma série de crimes misteriosos, cometidos dentro de uma abadia medieval. Veja mais aqui & aqui.

A ARTE DE MARIEMMA
Eu tiro meu chapéu, / ajoelhar-se a seus pés, / dançarina como Mariemma / eles nunca mais se verão, / permanecerá na história / como um dos grandes / que a Espanha teve, / para o melhor século / de todos os séculos.
MARIEMMA – A arte da bailarina e coreógrafa espanhola Guillermina Teodosia Martínez Cabrejas (1917-2008), mais conhecida como Mariemma. Ela foi descoberta por um pintor enquanto dançava numa rua de Paris aos 9 anos de idade. Ela foi enviada a um conhecido professor e, três anos depois, tornou-se solista no Olympia Theatre, realizando a sua primeira coreografia. A partir daí construiu uma trajetória de sucesso e renome internacional. Veja mais aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
A arte da bailarina, professora e coreógrafa Kamila Cidrim, que estuou dança em Cuba, no Ballet de Camaguey, na Royal Academy of Dance e residência na Broadway Dance Center em Nova York. Ela é graduada em Designe pela UFPE e pós-graduação em Dança pela Faculdade Angel Viana. É professora de ballet na Escola Internacional de Aldeia e no Espaço e Grupo Endança.
&
A música do músico, maestro, violonista e compositor Antônio Madureira aqui.
O premiado filme Azougue Nazaré, de Thiago Melo aqui.
A arte da artista plástica Christina Machado aqui.
A poesia do poeta e professor Admmauro Gommes aqui & aqui.
A obra do professor, escritor e pesquisador na área de linguagem, Arantes Gomes do Nascimento aqui.
&
Agrestina aqui & aqui.


segunda-feira, julho 22, 2013

ÁGNES HELLER, LUGONES, MASEFIELD, MORLEY. MAXIMILIEN DE WALDECK, LITERATURA DE CORDEL & LITERÓTICA


OS VENTOS DO VENTRE DESNUDADO – Lá estava ela: a franja sobre os olhos possessivos, as pálpebras da luxúria no batom da boca Madonna entreaberta a expor o decote da Monika de Bergman com a sua empolgação contagiante. Ajeitou os óculos na bolsa e entrelaçou sua mão à minha, enquanto as pernas se enroscavam entre joelhos, ósculos e amplexos, os seios acesos e estufados sob a blusa decotada. Delicadamente desabotou minha camisa e deslizou mansamente a mão por meu omoplata e sentiu o meu peito ofegante para ousar afago sobre meus músculos embaixo da camisa. Beijei-lhe timidamente enquanto se livrava do sutien e expunha seu magistral desejo tímido. Fitei-lhe fundo os olhos e na minha Íris ela era Mira, a Omicron Ceti, a estrela maravilhosa a me levar pela constelação de Cetus, como se fosse um passeio por Hegra na Nabateia da Al-Hirj. Beijos e toques logo ela se fez desnuda estrela vermelha Betelgeuse, a Alpha Orionis, como se fosse Ericto de Ferri lindamente exposta para minha gula de sátiro grego, o manequim que a fez bacante na odisseia dos meus desejos mais incendiados. Com perícia sucumbi sob suas saias, mãos atrevidas a demover sua calcinha úmida e todas as águas jorraram de suas entranhas para me lavar a alma e o sexo. Recostou-se nua como se fosse a indefesa La Cigale de Lefebvre e alisou a glande do meu sexo como se fosse João Batista na cena da Salomé de Bonnard. Reclinou-se a beijar meu morango e pude atravessar galáxias inteiras no céu da sua boca. Inquieta incendiária me ofertou os ventos do seu ventre desnudado: o seu sexo era o Campi Flegrei pronto para entrar em ebulição com a Origem do Mundo de Courbet inflamada para minha excitante penetração profunda, investindo firme até que o seu gozo era a erupção do Hunga Tonga-Hunga Ha'apai. A nossa orgia parecia mais o Jardim das Delícias de Bosch, com todas as poses de Maximilien de Waldeck, as esculturas eróticas do Kajuraho e dos amantes das ilustrações nas paredes de Pompeia. No ápice do prazer vivi nela a Eterna Primavera de Rodin. Veja mais aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Não se converte um homem quando o reduzimos ao silêncio. Existe no coração de todos os homens um nervo secreto que reage às vibrações da beleza. Só existe um êxito: a capacidade de levar a vida que se quer. Pensamento do escritor estadunidense Christopher Morley (1890-1957). Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU - Não se resiste sozinha à colonialidade do gênero. Resiste-se a ela desde dentro, de uma forma de compreender o mundo e de viver nele que é compartilhada e que pode compreender os atos de alguém, permitindo assim o reconhecimento. Quando penso em mim mesma como uma teórica da resistência, não é porque penso na resistência como o fim ou a meta da luta política, mas sim como seu começo, sua possibilidade. Pensamento da da filósofa, ativista e professora argentina Maria Lugones. Veja mais aqui.

 

VIDA COTIDIANA - [...] ninguém consegue identificar-se com sua atividade humano-genérica a ponto de desligar-se inteiramente da cotidianidade. [...] o homem participa na vida cotidiana com todos os aspectos de sua individualidade, de sua personalidade. Nela, colocam-se “em funcionamento todos os seus sentidos, todas as suas capacidades intelectuais, suas habilidades manipulativas, seus sentimentos, paixões, ideias, ideologias. O fato de que todas as suas capacidades se coloquem em funcionamento determina também, naturalmente, que nenhuma delas possa realizar-se, nem de longe, em toda sua intensidade. O homem da cotidianidade é atuante e fruidor, ativo e receptivo, mas não tem nem tempo nem possibilidade de se absorver inteiramente em nenhum desses aspectos; por isso, não pode aguça-los em toda a sua intensidade. [...]. Trecho extraído da obra Estrutura da vida cotidiana (Paz e Terra, 2004), da filósofa húngara Ágnes Heller (1929-2019), que em outra de suas obras, Sociología de la vida cotidiana (Península, 1977), expressa que: [...] A arte é a autoconsciência da humanidade: suas criações são sempre veículos da genericidade para-si e em múltiplos sentidos. A obra de arte é sempre imanente: representa o mundo como um mundo do homem, como um mundo feito pelo homem. Sua hierarquia de valores reflete o desenvolvimento da humanidade; no topo dessa hierarquia encontram-se sempre aqueles indivíduos (sentimentos, comportamentos individuais) que influenciam ao máximo o processo de desenvolvimento da essência genérica. Dito com mais precisão: o critério de “duração” de uma obra de arte é a elaboração de uma hierarquia desse tipo; se ela não consegue isso, desaparece no poço da história. Em consequência, a obra de arte constitui também a memória da humanidade. As obras suscitadas por conflitos de épocas hoje remotas podem ser gozadas porque o homem atual reconhece naqueles conflitos a pré-história de sua própria vida, de seu próprio conflito: através deles desperta-se a recordação da infância e da juventude da humanidade. [...]. Veja mais aqui,

 

A CAIXA DAS DELÍCIAS – [...] O Natal tem que ser atualizado”, disse Maria. “Deveria ter bandidos, aviões e muitas pistolas automáticas.” [...] Trecho extraídos da obra The Box of Delights (Egmort, 2007), do poeta inglês John Masefield (1878-1967), autor de frases como: Os dias que nos fazem felizes nos tornam sábios. A alma distante pode abalar a alma do amigo distante e fazer sentir a saudade, por incontáveis milhas. Só a estrada e a madrugada, o sol, o vento e a chuva, E o relógio dispara sob as estrelas, e dorme, e a estrada novamente. Veja mais aqui.

 


MAXILIMILIEN DE WALDECK – Imagem recolhida da obra I Modi: The Sixteen Pleasures : An Erotic Album of the Italian Renaissance: The Sixteen Pleasures : an Erotic Album of the Italian Renaissance: Giulio... and Count Jean-Frederic-Maximilien De Waldeck (Northwestern Univ Pr, 1989), reunindo a obra do artista, antiquário, cartógrafo francês Jean-Frédéric Maximilien de Waldeck (1766-1875), tornando-se famoso pela publicação de suas gravuras I Modi. Morreu aos 109 anos de ataque cardíaco ao visualizar uma bela mulher perto da Champs-Élysées, em Paris.

 



Ilustração: J. Lanzelotti

MELANCIA E COCO MOLE

Havia um homem que gostava muito de uma moça e queria casar com ela.

Um dia ele foi chamado pras guerras e disse à moça que não casasse com outro, que quando ele voltasse casaria com ela.

Para ninguém desconfiar o rapaz tratava a moça por Melancia e a moça o tratava por Coco Mole.

Um dia se despediram muito chorosos e ele partiu para as guerras.

Todo dia aparecia casamento para esta moça, porém ela não queria, com sentido no seu querido.

Passados alguns anos e, aparecendo um dia um casamento, o pai da moça decidiu que ela havia de aceitar. Ela fez o gosto do pai, e, quando foi no dia do casamento, o seu namorado chegou das guerras, indagou logo pela moça e soube que ela se casava naquele mesmo dia.

O rapaz ficou muito triste e não quis comer.

Um caboclo, que era pajem dele, perguntou-lhe por que estava tão triste. Sabendo da história, disse-lhe: "Não tem nada, meu amo. Deixe estar que eu arranjo tudo!!"

Havia uma árvore no fundo do quintal da casa da moça, onde ela costumava ir conversar com o antigo namorado. O caboclo ensinou ao amo que fosse para debaixo da árvore, que lhe garantia que a moça iria lá ter. Ele fez o que o caboclo recomendou, e este se dirigiu para casa da noiva. Chegando lá encontrou já todos os convidados, o noivo e a noiva já preparados, só faltando o padre para os casar. O caboclo pediu licença para fazer uma saúde à noiva, chegou-se para junto dela e disse:

"Eu venho lá de tão longe
Corrido de tanta guerra
Melancia, Coco Mole
É chegado nesta terra"

Todos bateram palma e disseram: "Bravo! Caboclo, faça outra saúde".

O caboclo retrucou:

"Não há bebida tão boa
Como seja o aluá
Melancia, Coco Mole
Vos espera no lugar”

Todos bradaram: "Muito bem! Caboclo!… faça outra saúde!"

O caboclo entusiasmado continuou:

"Moça, que estais tão bonita
Não vos lembrais do passado
Melancia, Como Mole
Vos manda muito recado"

Aí a moça levantou-se e disse que ia beber água. Saiu caladinha pela porta do quintal e foi direitinho à árvore onde ela costumava ir conversar com seu antigo namorado, que era o do peito. Chegando aí, encontrou-o e ao mesmo tempo a um padre que já ali se achava apalavrado para os casar. Veja mais aqui.

FONTES:
BRANDÃO, Theo. Um conto popular brasileiro. Revista Brasileira de Folclore, ano VI, n. 14, pp. 5-52, jan-abril, 1966.
CASCUDO, Luís da Câmara. A literatura oral no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EdUSP, 1988.
DANTAS, Paulo. Antologia ilustrada do folclore brasileiro: estórias e lendas do norte e nordeste. São Paulo: Edigraf, s/d.
LOPES NETO, João Simões. Contos gauchescos. Porto Alegre : Martins Livreiro, 1998.
RESENDE, José Camelo de Melo. Coco Verde e Melancia – ou Armando e Rosa. São Paulo: Luzeiro, s/d.
ROMERO, Silvio. Contos populares. Rio de Janeiro: José Olympio, 1954.



Veja mais sobre:
Folia Caeté na Folia Tataritaritatá, Ascenso Ferreira, Chiquinha Gonzaga, Nelson Ferreira, Adolphe William Bouguereau, José Ramos Tinhorão, Agostino Carracci, Frevo, Maracatu, Teatro & Carnaval, Dias de Momo As Puaras, Peró Batista Andrade, Baco & Ariadne aqui.

E mais:
Fevereiro, carnaval & frevo, Galo da Madrugada, Roberto DaMatta, Mauro Mota, Capiba, Orquestra Contemporânea de Olinda, Mário Souto Maior, Valdemar de Oliveira, Zsa Zsa Gabor, Helena Isabel Correia Ribeiro, Rollandry Silvério & Márcio Melo aqui.
A troça do Fabo aqui.
William Burroughs, Henfil, Ernest Chausson, Liliana Cavani, Hans Rudolf Giger, Charlotte Rampling, Religi]ão & Saúde Mental, A multa do fim do mundo & Auber Fioravante Junior aqui.
Quanto te vi, Christopher Marlowe, Duofel, Haim G. Ginott, Mary Leakey, François Truffaut, Dona Zica, Natalie Portman, Ewa Kienko Gawlik, Pais & filhos aqui.
A magia do ritual do amor aqui.
A psicologia de Alfred Adler & Abaixo a injustiça aqui.
Origem das espécies de Darwim & Chega de injustiça aqui.
Três poemetos de amor pra ela aqui.
Slavoj Žižek & Direito do Consumidor aqui.
E a dança revelou o amor aqui.
Pas de deux: todo dia é dia de dançar o amor aqui.
Três poemas & a dança revelou o amor... aqui.
Quando ela dança tangará no céu azul do amor aqui.
A dançarina aqui.
Poetas do Brasil aqui, aqui e aqui.
Todo dia é dia da mulher aqui.
A croniqueta de antemão aqui.
Fecamepa aqui e aqui.
Palestras: Psicologia, Direito & Educação aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA;
Leitora Tataritaritatá!
Veja mais aquiaqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra:
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja os vídeos aqui & mais aqui e aqui.



ROSA MECHIÇO, ČHIRANAN PITPREECHA, ALYSON NOEL, INDÍGENAS & DITADURA MILITAR

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som de Uma Antologia do Violão Feminino Brasileiro (Sesc Consolação, 2025), da violonista, cantora, compos...