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quarta-feira, outubro 31, 2018

ANA CRISTINA CÉSAR, NATALIE MERCHANT, HELMUT NEWTON, RURAL E URBANO


É ASSIM QUE É OU NÃO – Imagem: Phiplip Treacy, do fotógrafo alemão Helmut Newton (1920-2004). - A dona de casa se esmera para arrumar cantarolando a casa emburrecida de tantos pisos espelhados de cera e tetos arranjados de luzes com todas as ordens nas paredes e cantos da organização mais intacta e desumana, a conferir nenhuma imundície nem poeira a difamar sua elegância atapetada de vaidade. Ela vai de sala em vãos aos quartos, copas e cozinhas, delicadas ornamentações de varandas, escadas e corredores, tudo na mais perfeita arquitetura, dela não dispensar o menor dos detalhes de dobras, cortinas e adereços. É que ali só ela mora consigo e mais ninguém para desmanchar seu penteado ou tirar o brilho dos olhos ou o sorriso dos lábios, só o capricho da dona para ufaná-la além das amigas e comadres, quando nem ela sabe o sepulcro das poupanças abarrotadas de numerários para orgulho de quem esbanja o inabitável na imobilidade dos desejos. Ah, quanta habitação do fausto, é ali que se mata um saci presepeiro por acordar as crianças e ali não podem brincar em nome de todas as etiquetas da ostentação, tudo nos conformes da abundância de nunca brincar de pobre de marré no jogo daqui que veio dacolá: Je suis pauvre dans ce jeu d’ici. É de lá que o reino dos homens se faz ortodoxia imperativa do moralismo falso e inclemente dos dentes nas orelhas, com tudo previsível no aluguel de vinco das casas dos botões dos palitós com broches na gola, lenço no bolso e abotoadura nos punhos, e que faz tudo muito opaco para amanhã, porque a verdade possível foi varrida pra debaixo dos tapetes pra que tudo soe limpo e intocável. A sala está um brinco e pronta para receber os achegados com suas risadas de dólares embotidos no coldre e armas empunhads pela burrice gozam da impunidade para que cada vez mais sangue lave a honra imaculada dos estúpidos e fique por isso mesmo porque aos amigos tudo e aos inimigos as barras da lei de conveniência e camaradagens da leniência para dar de ombros e mãos apertadas no código de sátiros energúmenos de colarinho a se baquetear nas assembleias da miséria alheia e pelos púlpitos dos templos das mentiras deslavadas, com suas ladainhas de prosélitos do poder a furar o céu com breguices idiotas pros que perderam a memória na digital diplomada, na ganância dos que querem mais que os outros e nada mais. Ainda ousam sorrir da dor na alma do meu povo. Ainda anteontem havia alguma esperança, agora não mais porque a morte ronda anunciando a tragédia do apocalipse anunciado, não há como se salvar. Nada demais por isso, a salvação não existe e poderia sorrir mais que sou: as nuvens são mordaças ao Sol e os rios apodrecidos e o ar contaminado e a terra deserta, saídas bloqueadas por dentes que rangem seu ódio e infelicidade. É preciso estar adiante e inventar destinos pra seguir. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
Tu queres sono: despe-te dos ruídos,
e dos restos do dia, tira da tua boca
o punhal e o trânsito, sombras de
teus gritos, e roupas, choros, cordas e
também as faces que assomam sobre a
tua sonora forma de dar, e os outros corpos
que se deitam e se pisam, e as moscas
que sobrevoam o cadáver do teu pai, e a dor (não ouças)
que se prepara para carpir tua vigília, e os cantos que
esqueceram teus braços e tantos movimentos
que perdem teus silêncios, e os ventos altos
que não dormem, que te olham da janela
e em tua porta penetram como loucos
pois nada te abandona nem tu ao sono.
Poema extraído da obra A Teus Pés (Ática, 1998), da escritora e tradutora Ana Cristina César – Ana C. (1952-1983). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

A ARTE DE HELMUT NEWTON
A arte do fotógrafo alemão Helmut Newton (1920-2004). Veja mais aqui.

AGENDA:
III Ciclo de Debates o Rural e o Urbano – 12/14 novembro, na UFRPE & muiro mais na Agenda aqui.
&
Contando história, John Keats, Canhotinho & Costa Porto, Eliane Potiguara, Pintando na Praça & Resistência dos versos, Elisa Fukuda, Duo Fênix – dos pianistas Cláudio Dauelsberg & Délia Fischer. Leo Brouwer & Jane Monheit aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje curta na Rádio Tataritaritatá a música da cantora e pianista estadunidense Natalie Merchant: Live Concert KBCO Rock Fest, Leave Your Sleep & com 10000 Maniacs Live & Unplegged MTV Live & muito mais nos mais de 2 milhões & 800 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui.
 

terça-feira, janeiro 23, 2018

HILDA HILST, VITAL FARIAS, FRITJOF CAPRA, ENRIQUE LEFF, MARIA TERESA MADEIRA, LUIS FERNANDO VERÍSSIMO, FRANCIS PICABIA & HELMUT NEWTON

AMARRADO EM NOME DE JESUSIS, CRUIZES! – Imagem: Our Heads Are Round so Our Thoughts Can Change (1930), do pintor e poeta francês Francis Picabia (1879-1953). - Tomé é um ineivado: cinquentão que não parecia ter mais de quarenta e nove, católico batizado, crismado e casado, de fazer parte do Terço dos Homens e de comungar regularmente quando não todo dia, se for preciso. Afora ser boca de ponche, não bebe, não fuma, nem achegado a nenhuma excentricidade: tudo metido e contado nos miúdos, metodicamente planejado e conferido. Casado – muito bem casado, segundo ele -, como são as coisas: dizem que o casal botou catinga em bosta. Até onde eu sei, nem fedem, nem cheiram. Pois bem. Acontece que Vitalina, a senhora madame dele, um dia desse, arrastando um tamanco com um chambre cor de rosa bufento do tempo do ronca e armada dum penteado carregado de bobe, chamou na grande: queria ser evangélica. Ih! Antes porém, balançou-se pras banda da Universal – aquilo é um bando de loucos, dizia ela revoltada com a experiência -, depois pela Graça do Sílvio Santos Soares, refugou. Tanto sassaricou que findou numa dessas evangélicas e, ao assistir o primeiro culto, foi logo reclamando pro pastor: Deus não é surdo! E fez campanha, armando o maior desconforto pra arrancar os altofalantes da rua. Nessa hora o marido, sobretudo porque ele não é de negar fogo pra patroa, queria era se atirar da janela. Sem saída, resolveu buscar a dádiva da providência, mantendo-se inconsolável até o milagre acontecer dela tirar aquilo da quizilia, virando-se pras bandas do halterofilismo. Danou-se! Agora deu! Essa mulher tem cada pantim! E ela: alguém tem que fazer, ora! E meteu-se com ginásticas e fisioterapias de conferir o muque todo dia nas ventas dele: Tais vendo só, tá crescendo, logo a gente vai pra quebra de braço pra ver quem é quem manda aqui em casa. E ele: Não esquente, sempre disse que aqui quem manda é você mesmo. Com muito tato Tomé conseguiu demovê-la da arenga, mantendo-se em paz com os irmãos, dízimo em dia, e ele como saco de pancadas, tanto pros murros, como pra ser culpado por tudo que ocorresse ou desse errado. Aí, um dia lá que andava de férias das broncas, virou-se pra mim com um convite: Jesuisis tá lhe chamando! Eu? Escute a voz dele no seu coração, sou o intermediário! Você? Eu sou a voz de Jesuisis. Vamos ao culto hoje? Ah, tá. Expliquei pra ele que já havia passado do nível religioso, dedicando-me à espiritualidade. Vai ou não vai, rapaz? Tenho outros compromissos, Tomé, fica pra próxima. Aí, ele virou-se pra mim e sapecou: A-rá! Cruz-credo! Você é ateu descarado e está amarrado em nome de Jesuisis. Vade retro, satanás! Fez um trejeito qualquer e danou-se rua afora, caí na gargalhada. Esse Tomé vem com cada uma, veja mais abaixo o desdito amor desse casal. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com a música do cantor e compositor Vital Farias: Sagas brasileiras, Taperoá & solo; a pianista Maria Teresa Madeira interpretando Ary Barroso & Recital; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Vivemos hoje um mundo de complexidade, no qual se amalgamam a natureza, a tecnologia e a textualidade. Tempos de hibridização do mundo – a tecnologização da vida e a economização da natureza -, de mestiçagem de culturas, de diálogos de saberes, de dispersão de subjetividades. Tempos em que emergem novos valores e racionalidades que reorientam a construção do mundo. [...] Extraído da obra Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder (Vozes, 2008), do economista e sociólogo ambientalista mexicano, Enrique Leff. Veja mais aqui, aqui & aqui.

A SOCIEDADE ATUAL - A sociedade [...] é totalmente voltada para o trabalho, os lucros e o consumo de bens materiais. O objetivo principal das pessoas é ganhar o máximo de dinheiro possível para comprarem toda essa parafernália que associam a um padrão de vida elevado. Ao mesmo tempo, sentem-se bons cidadãos porque estão contribuindo para a expansão da economia nacional. Não percebem, porém, que a maximização dos lucros leva à constante deterioriação dos bens que adquirem. Por exemplo, a aparência visual dos produtos alimentares é considerada importante para incrementar os lucros, ao passo que a qualidade dos alimentos continua se deteriorando devido a todos os tipos de manipulação [...] efeitos parecidos poder ser observados nas roupas, nas casas, nos carros e em várias mercadorias. Embora ganhem cada vez mais dinheiro, eles não estão enriquecendo; pelo contrário, tornam-se cada vez mais pobres. A expansão da economia destrói a beleza das paisagens naturais com edifícios medonhos, polui o ar, envenena os rios e os lagos. Mediante um condicionamento psicológico implacável, ela rouba das pessoas o seu senso de beleza, enquanto gradualmente destrói aqui que há de belo em seu meio ambiente. [...]. Trechos de Futuros alternativos, extraído da obra Sabedoria incomum: conversa com pessoas notáveis (Cultrix, 1995) do físico e escritor Fritjof Capra. Veja mais aqui, aqui & aqui.

PAIXÕES - [...] Como o amor acaba é outro mistério. A Joyce e o Paquette, por exemplo. Namoram anos, noivaram, casaram e tudo acabou numa noite. Acabou numa frase. Os dois estavam numa discoteca, sentados lado a lado, vendo os mais jovens se contorcendo na pista de dança, e o Paquette gritou: - Viu a música que está tocando? E a Joyce: - O quê? – A música. Estão tocando a nossa música. Lembra? – Hein? – Estão tocando a nossa música! – O quê? – A música. Do nosso noivado. Lembra? – Eu não consigo ouvir nada com essa porcaria de música! – Esquece. Extraído da obra O melhor das comédias da vida privada (Objetiva, 2004), do escritor, cartunista, tradutor, roteirista e autor teatral Luis Fernando Veríssimo. Veja mais aqui.

DO AMORXLIX: Costuro o infinito sobre o peito. / E no entanto sou água fugidia e amarga. / E sou crível e antiga como aquilo que vês: / Pedras, frontões no Todo inamovível. / Terrena, me adivinho montanha algumas vezes. / Recente, inumana, inexpremivel / costuro o infinito sobre o peito / como aqueles que amam. Extraído da obra Do amor (Massao Ohno, 1999), da poeta, dramaturga e ficcionista Hilda Hilst (1930-2004). Veja mais aqui.

ARTE DE FRANCIS PICABIA
A arte do pintor e poeta francês Francis Picabia (1879-1953).

Veja mais:
O desditoso amor de Tomé & Vitalina aqui, aqui, aqui  aqui e aqui.
Para quem quer, basta ser!, o pensamento de John Masefield, Gilvanícila, a música de Karin Fernandes & a pintura de Berthe Morisot aqui.
A mulher na antiguidade, Max Planc, Edgar Allan Poe, Louise Glück, Daniel Goleman, a música de Shirley Horn, Mark Twain, a pintura de Edouard Manet, a gravura de Johann Theodor de Bry, Ana Paula Arósio, Demi Moore & Alessandra Cavagna aqui.
Mário Quintana, François Truffaut, Voltaire, a comunicação de Juan Diaz Bordenave, o folclore de Luís da Câmara Cascudo, a música de Daniela Spielmann, o teatro de Sérgio Roveri & Tuna Dwek, a arte de Jeanne Moreau, a pintura de Hans Temple & Anita Malfatti, Gerusa Leal & Todo dia é dia da mulher aqui.
Helena Blavatsky, João Ubaldo Ribeiro, Stendhal, a pintura de Édouard Manet, a música de Vital Farias, Cacá Diégues & Jeanne Moreau aqui.
Proezas do Biritoaldo: quando risca fogo, o rabo inflamável sofre que só sovaco de aleijado aqui.
Invasão da América aos sistemas penais de hoje, Joan Nieuhof, Décio Freitas & Palmares, Pesquisa em História, Guerra dos Cabanos, Luta Camponesa & História do Brasil aqui.
Hannah Arendt, Eric Hobsbawm, Fundamentos da História do Direito, Fernand Braudel & a História, Abraham Kaplan & A Conduta na Pesquisa aqui.
Das quedas, perdas & danos aqui.
Violência contra a mulher, Heleieth Saffioti, Marta Nascimento & Poetas do Brasil aqui.
O Feminismo & a História da Mulher, Masculino & Feminino, Psicologia Escolar & Educacional, Pluralidade de Família & União Estável aqui.
Jacques Lacan, Direito de Família, Alimentos Gravídicos & Realacionamentos Pós-Modernos aqui.
A aprendizagem observacional de Albert Bandura & Direito Autoral aqui.
Pierre Lévy, Cibercultura, Capitalismo Global, Linguagens Líquidas & Narrativas Midiáticas Contemporâneas aqui.
Poetas do Brasil: Ari Lins Pedrosa, Ana Paula Fumian, Frederico Spencer & Suzana Za’za Jardim aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
Faça seu TCC sem Traumas: livro, curso & consultas aqui.
&
Agenda de Eventos 35 anos de arte cidadã aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do fotógrafo alemão Helmut Newton (1920-2004). 
Veja mais aquiaqui.

sábado, outubro 31, 2015

PAULO FREIRE, DRUMMOND, KEATS, RAPHAEL RABELLO, LELOUCH, LARISSA, AROSA, PSICOLOGIA COMUNITÁRIA & SÓ PORQUE HOJE É SÁBADO!

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? SÓ PORQUE HOJE É SÁBADO - Só porque hoje é sábado é um dia de comemoração. U-hu! É o dia que Vinícius fez o Dia da Criação só pra gente saber que ontem foi sexta de uma semana corrida e desalmada, e que amanhã é domingo, o dia em que o descanso nem sempre ou quase sempre nunca é de verdade. Mas só porque hoje é sábado, há de haver motivo suficiente para a felicidade, é ou não é? Eu mesmo não sei bem quê comemorar, mas se assim o é, podia ser, digamos, o dia em que uma dona de casa abriu os olhos pro seu cotidiano, como sempre bem cedinho quando a madrugada se vai despedindo pro reino do Sol, e foi invadida por umas ideias que lhe pareciam toscas e nada valiosas para si, no seu modesto modo de ver. Ela sentiu no corpo o peso da idade e da labuta, e ao se levantar ajeitando as vestes mal dormidas, nem imaginou que podia ser um sábado diferente enquanto atravessava o corredor e um monte de coisas lhe agitava o quengo sem que pudesse concatenar nada entre um bocejo e outro com os desafios da rotina no meio. De repente, viu-se encorajada a dizer asneiras: - Basta! Vida de pinica já era. E valeu-se, como sempre, da força da sua munheca para sobreviver! – Por que não tenho uma vida como a da novela da TV com final feliz e tudo o mais? -, indagou-se, sentindo-se estranha lá meio grogue, revestida de um poder nunca antes sentido. Aí disse não ao fogão, depôs o avental, deu baixa na cozinha, até sair aturdida no centro da sala e diante da televisão: - Lá vem você com esse papo só pra botar merda na minha cabeça! Meio zonza com tudo aquilo e sem saber o que fazer, olhou pros lados e ainda viu tudo limpinho e fruto do seu trabalho árduo de três cargas horárias, noitedia e de domingo a domingo, de dar-lhe um paroxismo a ponto da revolta incendiar tudo e ela não ver-se mais que um sapato velho jogado na lama. Ah, hoje é sábado, ora! E por isso ela podia pensar se apenas um dia e uma lei bastavam. E sentia na pele o que os maleducados cospem no cúmulo do desrespeito! Quanta gente maleducada! Gente escolada, granfina, metida a besta, parece mais que a escola fabrica débeis que pisam e chutam quem não é da turma pra ser jogado pra escanteio e a universidade diploma todo dia histéricos felizes, psicóticos simpáticos, perversos sorridentes, esquizofrênicos paranoides. Ué e eu? Onde ela nisso tudo? Só porque é sábado ela se deu ao luxo de mudar de vida e se recordar do dia em que nasceu Deus sabe onde, por certo num bolsão de carência e da lei do morro que ela nem se lembra mais, com todas as incertezas e interrogações que mais privam da razão do que mostram qualquer sinal de que algum dia tudo pode dar certo. E viu-se na quimera dos seus sonhos de uma infância feliz e repleta de sacis que cultuavam a Cumadre Fulôsinha porque só ela podia enfrentar o Boitatá – o bicho-papão – que tomavam meninas malcriadas pra comer-lhe o fígado em noite sinistra. Ela que nunca viu Papai Noel, não sabia se era melhor ser uma menina bonita e obediente do tipo anjinha do céu no reino da deusa Felicitas, ou se arretando de vez de corpalma numa deusa Morrígan, cultuando o mais patético fervor da crueldade da pobreza, das competições raivosas e das deteriorações ambientais, a catar de cada sujeito o que é de mais desumano e insignificante pro seu orgulho e autossatisfação. Feliz, até sorriu com tudo isso vingando no peito. Afinal, hoje é sábado! E ela podia até pensar no trocado que sobrou da passagem do ônibus virando uma bolada da loteria para abrir uma caderneta de poupança e acumular até o dia em pudesse ficar rica comprando uma casa própia na beira-mar, com um carro novinho em folha na garagem e a peidar contra o vento porque agora não fazia a menor diferença pensar no que sofreu na vida, nem o que apanhou de tudo quanto fosse adversidade, mangando daqueles que não conseguiram vencer na vida como derrotados migrantes da desgraça. Agora ela estava do outro lado e por isso podia mangar à bessa! Podia até estudar pra fazer um concurso pruma repartição pública e viver no bem-bom, salário certo no fim do mês, roupa da moda, festinhas nos finais de semana, conversa mole e não ter que fazer mais nada que manter o emprego e fazer a sua parte que era a de ser feliz e o resto que se dane! Tudo isso lhe passou à cabeça só porque hoje é sábado, o dia e a lei sumiram – bastaram? E ela teve de esfregar os olhos e ver qual sonho ou pesadela lhe atormentara àquela hora da manhã, vez que era mais um dia de branco como outro qualquer e ela foi tomar pé nos afazeres senão podia acabar embaixo da ponte sem ter com quem conversar nem o que fazer. E vamos aprumar a conversa aqui.


Imagem: Baigneuse, da pintora francesa Marguerite Arosa (1854-1903).


Curtindo o álbum póstumo Cry, my guitar (GSP, 1994-2005), do violonista brasileiro Raphael Rabello (1962-1995).

PENSANDO A ATENÇÃO À SAÚDE SISTEMICAMENTE – No livro Psicologia na comunidade: uma proposta de intervenção (Casa do Psicólogo, 2006), organizado por Carmen Leontina Ojeda Ocampo Moré e Rosa Maria Stefanini Macedo, encontro a introdução intitulada Pensando a atenção à saúde sistemicamente, assinada por Rosa Maria Stefanini Macedo, da qual destaco os trechos a seguir: Aos ricos, suavemente chamados descompensados, estressados, ou surtados, as clínicas psiquiátricas e psicológicas de primeira linha e tratamentos com as mais moderns técnicas psicoterápics e medicamentosas; aos pobres, loucos, doido varridos, os hospícios ou as enfermarias de saúde mental nos hospitais públicos e tratamentos com os remédios tradicionais (“mansa-leão”) ou participação em grupos de pesquisa com novas drogas: essa é a situação mais comum na política de saúde mental entre nós. [...] Para lidar com tal situação é necessário que o profissional tenha uma visão global das relações pessoas-contexto, seja psicólogo, psiquiatra, enfermeiro ou assistente social, para poder contribuir efetivamente para a mudança da sensação de desamparo, ajudando a fortalecer a autoestima e a crença em si mesmo dos consultantes. A pessoa do profissional é peça chave dessa relação “empoderadora” e, para isso, ele deve ser introduzido, antes de qualquer coisa, aos demais funcionários do serviço, seja hospital, posto de saúde, repartição pública onde vai atender, para que aí deIxem de predominar preconceitos comuns em relação a ele, sobretudo se for psicólogo, ao qual em geral, são encaminhados todos aqueles que chegam aflitos, descontrolados, nervosos, sem uma queixa clara e/ou orgânica. [...] Os cursos de formação também precisam alargar sua visão, procurando modificar o currículo mais baseado em testes psicológicos e técnicas psicoterapêuticas voltadas para os aspectos intrapsíquicos do individuo. As mudanças políticas, sociais e econômicas urgem por atualização nas teorias e práticas que valorizem cada vez mais a pessoa como cidadão participante na construção da sociedade, na qual não pode ser ignorado, sob pena de causar grandes prejuízos aos cofres públicos. Saúde e educação são primordiais além de moradia e saneamento básico e a falta de investimento nesses setores volta como gastos para o governo em proporção geométrica, como tem sido fartamente demonstrado pelos estudos econômicos do desenvolvimento. Para as dores da alma não há elixir que cure, mas apoio que consola e modos de ver o mundo que constRoem esperança. [...] Termino essa introdução com as palavras de Paulo Freire, o melhor companheiro para esta útil e maravilhosa empreitada: “O utópico não é o irrealizável. A utopia não é o idealismo, é a dialetização dos atos de denunciar e anunciar, o ato de denunciar a estrutura desumanizante e a de anunciar a estrutura humanizante. Por esta razão a utopia também im compromisso histórico”. Veja mais aqui, aqui e aqui.

A DOIDA – No livro Contos de aprendiz (José Olympio, 1973), do poeta, contista e cronista Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), destaco o conto A doida: A doida habitava um chalé no centro do jardim maltratado.  E a rua descia para o córrego, onde os meninos costumavam banhar-se. Era só aquele chalezinho, à esquerda, entre o barranco e um chão abandonado; à direita, o muro de um grande quintal. E na rua, tornada maior pelo silêncio, o burro pastava. Rua cheia de capim, pedras soltas, num declive áspero. Onde estava o fiscal, que não mandava capiná-la? Os três garotos desceram manhã cedo, para o banho e a pega de passarinho. Só com essa intenção. Mas era bom passar pela casa da doida e provocá-la. As mães diziam o contrário: que era horroroso, poucos pecados seriam maiores. Dos doidos devemos ter piedade, porque eles não gozam dos benefícios com que nós, os sãos, fomos aquinhoados. Não explicavam bem quais fossem esses benefícios, ou explicavam demais, e restava a impressão de que eram todos privilégios de gente adulta, como fazer visitas, receber cartas, entrar para irmandade. E isso não comovia ninguém. A loucura parecia antes erro do que miséria. E os três sentiam-se inclinados a lapidar a doida, isolada e agreste no seu jardim. Como era mesmo a cara da doida, poucos poderiam dizê-lo. Não aparecia de frente e de corpo inteiro, como as outras pessoas, conversando na calma. Só o busto, recortado, numa das janelas da frente, as mãos magras, ameaçando. Os cabelos, brancos e desgrenhados. E a boca inflamada, soltando xingamentos, pragas, numa voz rouca. Eram palavras da Bíblia misturadas a termos populares, dos quais alguns pareciam escabrosos, e todos fortíssimos na sua cólera. Sabia-se confusamente que a doida tinha sido moça igual às outras no seu tempo remoto (contava mais de 60 anos, e loucura e idade, juntas, lhe lavravam o corpo). Corria, com variantes, a história de que fora noiva de um fazendeiro, e o casamento, uma festa estrondosa; mas na própria noite de núpcias o homem a repudiara, Deus sabe por que razão. O marido ergueu-se terrível e empurrou-a, no calor do bate-boca; ela rolou escada abaixo, foi quebrando ossos, arrebentando-se. Os dois nunca mais se viram. Já outros contavam que o pai, não o marido, a expulsara, e esclareciam que certa manhã o velho sentira um amargo diferente no café, ele que tinha dinheiro grosso e estava custando a morrer – mas nos racontos antigos abusava-se de veneno. De qualquer modo, as pessoas grandes não contavam a história direito, e os meninos deformavam o conto. Repudiada por todos, ela se fechou naquele chalé do caminho do córrego, e acabou perdendo o juízo. Perdera antes todas as relações. Ninguém tinha ânimo de visitá-la. O padeiro mal jogava o pão na caixa de madeira, à entrada, e eclipsava-se. Diziam que nessa caixa uns primos generosos mandavam pôr, à noite, provisões e roupas, embora oficialmente a ruptura com a família se mantivesse inalterável. Às vezes uma preta velha arriscava-se a entrar, com seu cachimbo e sua paciência educada no cativeiro, e lá ficava dois ou três meses, cozinhando. Por fim a doida enxotava-a. E, afinal, empregada nenhuma queria servi-la. Ir viver com a doida, pedir a bênção à doida, jantar em casa da doida, passou a ser, na cidade, expressões de castigo e símbolos de irrisão. Vinte anos de tal existência, e a legenda está feita. Quarenta, e não há mudá-la. O sentimento de que a doida carregava uma culpa, que sua própria doidice era uma falta grave, uma coisa aberrante, instalou-se no espírito das crianças. E assim, gerações sucessivas de moleques passavam pela porta, fixavam cuidadosamente a vidraça e lascavam uma pedra. A princípio, como justa penalidade. Depois, por prazer. Finalmente, e já havia muito tempo, por hábito. Como a doida respondesse sempre furiosa, criara-se na mente infantil a idéia de um equilíbrio por compensação, que afogava o remorso. Em vão os pais censuravam tal procedimento. Quando meninos, os pais daqueles três tinham feito o mesmo, com relação à mesma doida, ou a outras. Pessoas sensíveis lamentavam o fato, sugeriam que se desse um jeito para internar a doida. Mas como? O hospício era longe, os parentes não se interessavam. E daí – explicava-se ao forasteiro que porventura estranhasse a situação – toda cidade tem seus doidos; quase que toda família os tem. Quando se tornam ferozes, são trancados no sótão; fora disto, circulam pacificamente pelas ruas, se querem fazê-lo, ou não, se preferem ficar em casa. E doido é quem Deus quis que ficasse doido... Respeitemos sua vontade. Não há remédio para loucura; nunca nenhum doido se curou, que a cidade soubesse; e a cidade sabe bastante, ao passo que livros mentem. Os três verificaram que quase não dava mais gosto apedrejar a casa. As vidraças partidas não se recompunham mais. A pedra batia no caixilho ou ia aninhar-se lá dentro, para voltar com palavras iradas. Ainda haveria louça por destruir, espelho, vaso intato? Em todo caso, o mais velho comandou, e os outros obedeceram na forma do sagrado costume. Pegaram calhaus lisos, de ferro, tomaram posição. Cada um jogaria por sua vez, com intervalos para observar o resultado. O chefe reservou-se um objetivo ambicioso: a chaminé. O projétil bateu no canudo de folha-de-flandres enegrecido – blem – e veio espatifar uma telha, com estrondo. Um bem-te-vi assustado fugiu da mangueira próxima. A doida, porém, parecia não ter percebido a agressão, a casa não reagia. Então o do meio vibrou um golpe na primeira janela. Bam! Tinha atingido uma lata, e a onda de som propagou-se lá dentro; o menino sentiu-se recompensado. Esperaram um pouco, para ouvir os gritos. As paredes descascadas, sob as trepadeiras e a hera da grade, as janelas abertas e vazias, o jardim de cravo e mato, era tudo a mesma paz. Aí o terceiro do grupo, em seus 11 anos, sentiu-se cheio de coragem e resolveu invadir o jardim. Não só podia atirar mais de perto na outra janela, como até, praticar outras e maiores façanhas. Os companheiros, desapontados com a falta do espetáculo cotidiano, não, queriam segui-lo. E o chefe, fazendo valer sua autoridade, tinha pressa em chegar ao campo. O garoto empurrou o portão: abriu-se. Então, não vivia trancado? ...E ninguém ainda fizera a experiência. Era o primeiro a penetrar no jardim, e pisava firme, posto que cauteloso. Os amigos chamavam-no, impacientes. Mas entrar em terreno proibido é tão excitante que o apelo perdia toda a significação. Pisar um chão pela primeira vez; e chão inimigo. Curioso como o jardim se parecia com qualquer um; apenas era mais selvagem, e o melão-de-são-caetano se enredava entre as violetas, as roseiras pediam poda, o canteiro de cravinas afogava-se em erva. Lá estava, quentando sol, a mesma lagartixa de todos os jardins, cabecinha móbil e suspicaz. O menino pensou primeiro em matar a lagartixa e depois em atacar a janela. Chegou perto do animal, que correu. Na perseguição, foi parar rente do chalé, junto à cancelinha azul (tinha sido azul) que fechava a varanda da frente. Era um ponto que não se via da rua, coberto como estava pela massa de folha gemo A cancela apodrecera, o soalho da varanda tinha buracos, a parede, outrora pintada de rosa e azul, abria-se em reboco, e no chão uma farinha de caliça denunciava o estrago das pedras, que a louca desistira de reparar. A lagartixa salvara-se, metida em recantos só dela sabidos, e o garoto galgou os dois degraus, empurrou cancela, entrou. Tinha a pedra na mão, mas já não era necessária; jogou-a fora. Tudo tão fácil, que até ia perdendo o senso da precaução. Recuou um pouco e olhou para a rua: os companheiros tinham sumido. Ou estavam mesmo com muita pressa, ou queriam ver até aonde iria a coragem dele, sozinho em casa da doida. Tomar café com a doida. Jantar em casa da doida. Mas estaria a doida? A princípio não distinguiu bem, debruçado à janela, a matéria confusa do interior. Os olhos estavam cheios de claridade, mas afinal se acomodaram, e viu a sala, completamente vazia e esburacada, com um corredorzinho no fundo, e no fundo do corredorzinho uma caçarola no chão, e a pedra que o companheiro jogará. Passou a outra janela e viu o mesmo abandono, a mesma nudez. Mas aquele quarto dava para outro cômodo, com a porta cerrada. Atrás da porta devia estar a doida, que inexplicavelmente não se mexia, para enfrentar o inimigo. E o menino saltou o peitoril, pisou indagador no soalho gretado, que cedia. A porta dos fundos cedeu igualmente à pressão leve, entreabrindo-se numa faixa estreita que mal dava passagem a um corpo magro. No outro cômodo a penumbra era mais espessa parecia muito povoada. Difícil identificar imediatamente as formas que ali se acumulavam. O tato descobriu uma coisa redonda e lisa, a curva de uma cantoneira. O fio de luz coado do jardim acusou a presença de vidros e espelhos. Seguramente cadeiras. Sobre uma mesa grande pairavam um amplo guarda-comida, uma mesinha de toalete mais algumas cadeiras empilhadas, um abajur de renda e várias caixas de papelão. Encostado à mesa, um piano também soterrado sob a pilha de embrulhos e caixas. Seguia-se um guarda-roupa de proporções majestosas, tendo ao alto dois quadros virados para a parede, um baú e mais pacotes. Junto à única janela, olhando para o morro, e tapando pela metade a cortina que a obscurecia, outro armário. Os móveis enganchavam-se uns nos outros, subiam ao teto. A casa tinha se espremido ali, fugindo à perseguição de 40 anos. O menino foi abrindo caminho entre pernas e braços de móveis, contorna aqui, esbarra mais adiante. O quarto era pequeno e cabia tanta coisa. Atrás da massa do piano, encurralada a um canto, estava a cama. E nela, busto soerguido, a doida esticava o rosto para a frente, na investigação do rumor insólito. Não adiantava ao menino querer fugir ou esconder-se. E ele estava determinado a conhecer tudo daquela casa. De resto, a doida não deu nenhum sinal de guerra. Apenas levantou as mãos à altura dos olhos, como para protegê-los de uma pedrada. Ele encarava-a, com interesse. Era simplesmente uma velha, jogada num catre preto de solteiro, atrás de uma barricada de móveis. E que pequenininha! O corpo sob a coberta formava uma elevação minúscula. Miúda, escura, desse sujo que o tempo deposita na pele, manchando-a. E parecia ter medo. Mas os dedos desceram um pouco, e os pequenos olhos amarelados encararam por sua vez o intruso com atenção voraz, desceram às suas mãos vazias, tornaram a subir ao rosto infantil. A criança sorriu, de desaponto, sem saber o que fizesse. Então a doida ergueu-se um pouco mais, firmando-se nos cotovelos. A boca remexeu, deixou passar um som vago e tímido. Como a criança não se movesse, o som indistinto se esboçou outra vez. Ele teve a impressão de que não era xingamento, parecia antes um chamado. Sentiu-se atraído para a doida, e todo desejo de maltratá-la se dissipou. Era um apelo, sim, e os dedos, movendo-se canhestramente, o confirmavam. O menino aproximou-se, e o mesmo jeito da boca insistia em soltar a mesma palavra curta, que entretanto não tomava forma. Ou seria um bater automático de queixo, produzindo um som sem qualquer significação? Talvez pedisse água. A moringa estava no criado - mudo, entre vidros e papéis. Ele encheu o copo pela metade, estendeu-o. A doida parecia aprovar com a cabeça, e suas mãos queriam segurar sozinhas, mas foi preciso que o menino a ajudasse a beber. Fazia tudo naturalmente, e nem se lembrava mais por que entrara ali, nem conservava qualquer espécie de aversão pela doida. A própria idéia de doida desaparecera. Havia no quarto uma velha com sede, e que talvez estivesse morrendo. Nunca vira ninguém morrer, os pais o afastavam se havia em casa um agonizante. Mas deve ser assim que as pessoas morrem. Um sentimento de responsabilidade apoderou-se dele. Desajeitadamente, procurou fazer com que a cabeça repousasse sobre o travesseiro. Os músculos rígidos da mulher não o ajudavam. Teve que abraçar-lhe os ombros – com repugnância – e conseguiu, afinal, deitá-la em posição suave. Mas a boca deixava passar ainda o mesmo ruído obscuro, que fazia crescer as veias do pescoço, inutilmente. Água não podia ser, talvez remédio... Passou-lhe um a um, diante dos olhos, os frasquinhos do criado-mudo. Sem receber qualquer sinal de aquiescência. Ficou perplexo, irresoluto. Seria caso talvez de chamar alguém, avisar o farmacêutico mais próximo, ou ir à procura do médico, que morava longe. Mas hesitava em deixar a mulher sozinha na casa aberta e exposta a pedradas. E tinha medo de que ela morresse em completo abandono, como ninguém no mundo deve morrer, e isso ele sabia que não apenas porque sua mãe o repetisse sempre, senão também porque muitas vezes, acordando no escuro, ficara gelado por não sentir o calor do corpo do irmão e seu bafo protetor. Foi tropeçando nos móveis, arrastou com esforço o pesado armário da janela, desembaraçou a cortina, e a luz invadiu o depósito onde a mulher morria. Com o ar fino veio uma decisão. Não deixaria a mulher para chamar ninguém. Sabia que não poderia fazer nada para ajudá-la, a não ser sentar-se à beira da cama, pegar-lhe nas mãos e esperar o que ia acontecer. Veja mais aqui, aqui e aqui.

LA BELLE DAME SANS MERCI & OUTROS POEMAS - Na obra poeta do Romantismo inglês John Keats (1795-1821), começo por destacar a tradução do poema La belle dame sans merci (1819), do estudo O feminino erótico encontrado na obra do poeta romântico John Keats, de Antonio Fernandes Lima Sobrinho, Diane Savier de Sousa e Fernanda Cardoso Nunes, do qual destaco os trechos: IV - Uma dama nos prados encontrei, / Todo-formosa, filha de uma fada: / A cabeleira longa, os pés ligeiros, / A vista descuidada. V - Tomei-a em meu corcel de passo lento, / E o dia inteiro nada mais vi, não; / Pois pendida de lado ela cantava / De fada uma canção. VI - Eu fiz-lhe uma grinalda para a fronte, / E pulseiras e um cinto redolente; / Ela me olhou com ar de quem amasse, / Gemendo suavemente. VII - Procurou para mim raízes doces, / Orvalho de maná e mel do mato; / E numa língua estranha murmurou: "Eu amo-te de fato" X - Guerreiros, e reis pálidos, e príncipes, / Todos, de morte pálidos, eu vi, / E me diziam: - "Pôs-te em cativeiro La belle Dame sans merci". XI - Com o negro aviso, seus famintos lábios / Vi escancarar-se à sombra vespertina; / E despertando me encontrei aqui, / No frio da colina. XII - E este é o motivo pelo qual eu me acho / Aqui, vagando pálido e sozinho, / Malgrado, seco o junco à beira-lago, / Não cante um passarinho. Também o poema Esta mão viva: Esta mão viva, agora quente e pronta / Para um sincero aperto, se estivesse fria / E no silêncio gélido da tumba, / Viria de tal forma te obsedar os dias / E esfriar-te as noites sonhadoras / Que quererias esgotar o sangue de teu coração / Para que em minhas veias - / Pudesse inda uma vez correr a vida rubra / E tranquila tivesses a consciência: / - Vê-a, aqui está, estendendo-a para ti. Mais o poema Mulheres, vinho e rapé: Dê-me mulheres, vinho e rapé / Até que grite “Chega!” / Pode fazê-lo sem objeção / Até o dia da ressureição; / Abençoe minha barba pois esta é / Minha adorada Trindade. Por fim um dos seus poemas Sem título: Repousando sobre os belos seios do meu amor / Sentir para sempre seu suave enrijecer / E abrandar para sempre acordado em um doce despertar / Imóvel, imóvel para ouvir o seu delicado respirar / Brilho da minha paixão, / Fosse eu imóvel como tu, astro fulgente / Não suspenso da noite com uma luz deserta. Veja mais aqui e aqui.

DE O DEFUNTO AO QUINTA DAS JANELAS – A trajetória da jovem e bela atriz Larissa Maciel começou quando ela tinha apenas nove anos de idade, atuando nas mini-peçs de teatro do seu colégio, fato que a levou a se apresentar no espetáculo Um conto de inverno (1996). Neste mesmo ano ela atua na peça O defunto. No ano seguinte foi estudar Artes Cênicas na UFRGS, o que a levou a atuar em diversos curtas e séries para a televisão gaúcha. Seguiram-se então a sua participação nas peças Barão das árvores (1998), Um gosto de mel (1999), Zona contaminada (1999), O menino maluquinho (1999), Não culpem ninguém (2000), Todos que caem (2004), Os sobreviventes (2005), Hotel Rosa Flor (2006), Aquelas mulheres (2010), A Eva futura (2011) e a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém (2012). Em 2006 ela estreia no cinema no filme A festa de Margarete, seguindo-se Vazio Coração (2012) e Quinta das Janelas (2012). Ao mesmo tempo ela atuou em comerciais, minisséries e em novelas na televisão. Esse um nome promissor da arte cênica brasileira. Veja mais aqui.

UM HOMME ET UNE FEMME – O filme Un homme et une femme (Um Homem, uma Mulher, 1966), dirigiro pelo cineasta, argumentista, produtor e realizador francês Claude Lelouch, conta a história de um piloto de corridas que está viúvo e encontra-se por acaso com uma bela mulher também viúva, ao visitarem seus filhos num colégio interno e isso se repete todos os finais de semana. Eis que num desses inesperados encontros no colégio de seus filhos, ela perde o trem e ele oferece uma carona de volta a Paris. Por causa disso, tornam-se amigos muitos chegados e, nesse vai e vem, finalmente se apaixonam um pelo outro, mas percebem que as lembranças dos seus cônjuges falecidos são ainda muito fortes entre eles. O destaque do filme vai para a sempre bela e premiadíssima atriz francesa Anouk Aimée. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte do fotógrafo alemão Helmut Newton (1920-2004).

 Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Noite Romântica, a partir das 21hs (horário de verão), com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui .

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Veja mais aqui.


ROSA MECHIÇO, ČHIRANAN PITPREECHA, ALYSON NOEL, INDÍGENAS & DITADURA MILITAR

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som de Uma Antologia do Violão Feminino Brasileiro (Sesc Consolação, 2025), da violonista, cantora, compos...