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segunda-feira, dezembro 26, 2022

ELENA FERRANTE, JULIA KRISTEVA, NOELLE-NEUMANN & HIDEKA TONOMURA

 

 

Ao som Concert Classical Guitar at Siccas Guitars, da violonista inglesa Alexandra Whittingham.

 

TRÍPTICO DQP: - O legado & o abismo me vê ali... - A rua está deserta e as lembranças saltam pelas frestas do guarda-roupa como uma batucada de Naná Vasconcelos e dão conta de como tudo se tornou tão cruel agora, assombro e sombrio... Ouvi e vivo incerteza, a pupila dilatada pelo volátil e o ameaçador, quantos lobos nem sei mais. Para conversar restavam apenas o Gato de Schrödinger que brincava com minhas ideias desarrumadas. Do outro lado os besouros da caixa de Wittgenstein insistiam que a vida é só pra viver, que deixasse de lado todo viés da confirmação, pronto! Mais nada porque não adiantava eu me defender de todas as tribos, nunca pertenci a nenhuma delas e fui alijado até da família: ou luto ou fujo para a galáxia espiral NGC7469 lá na constelação de Pegasus. Eu me ajudo o mais que posso. Como os outros, a culpa é geral e lá estou eu exposto ao oganessônio – ou é polônio, sei lá! As galáxias se diluem e a existência é o que importa: sou o verdadeiro desconhecido. Sei que não é o desejável, nem nunca será: o arrependimento virá de qualquer jeito, mesmo que aprenda de cor as metamorfoses do espírito que Nietzsche me fez do camelo ao leão e a criança, ao amor fati. O bom foi que no meio da doidice pura pude ouvir Elena Ferrante: A vida era assim e ponto final, crescíamos com a obrigação de torná-la difícil aos outros antes que os outros a tornassem difícil para nós... Em todas as investidas eu ia com punho fechado pro inopinado e me desarmei, fui em frente: nunca esperei por milagre ciente de que jamais sairia impune. Ninguém é sábio para ser imune aos infortúnios. Duvidava do mero acaso porque o mundo se dilatava sem que tivesse de constranger caminhos. Aturdido, sabia: o que tenho apenas é vida, nada mais...

 


Pacto: o caos sou eu... – Escrevi o poema e não tinha a quem dedicá-lo porque não é nada: nem ele, nem dedicatória alguma, como se os ditirambos hesitassem dos meus umbrais, enquanto eu me fartasse da carne da estátua, do uivo da pedra, das dores dos insetos. Estou tão cansado como se o chão cansasse das pisadas, a casa dos seus moradores, o crepúsculo do dia, deste a madrugada, e esta da noite, do mesmo modo que ela de tarde, o cansaço geral... Consegui me desvencilhar das alegorias da caverna e dos metais, da mentira nobre de Platão, das qualias, Post hoc, e me afastei ao máximo do zoadeiro, porque não havia como me conformar com a navalha de Hitchens: O que pode ser afirmado sem provas pode ser rejeitado sem provas - Quod gratis asseritur, gratis negatur. Cá comigo, os filósofos não sabem nada, mas nos dão a lição: precisamos aprender, ora! Estamos todos neuróticos e confusos como o diário de Neil Young, não há significado e isto soa como uma bomba no meu juízo! Parafraseando Montaigne: Escrever é aprender a morrer. Posso ser excêntrico e me viro, mas não divido a cena com essa realidade paralela do doidismo escroque, porque não tenho nenhuma preocupação com o que acontecerá depois da morte, o agora é que o problema, o que será não mais importa entre o suficiente e o desejado, suportar a finitude enquanto a cabeça segue infinitas ideias... Tudo passará, não adianta.

 


Coração de areia… – Imagem: arte da fotógrafa japonesa Hideka Tonomura. - Sou coração ao vento arrancando as vestes aos varais e a vida desnuda das flâmulas e bandeiras tremulantes. É só vento... E ela aparece Olga de Kiev depois que subjugou os Drevilianos e agora era a minha vez e pregou uma peça com seu bote de tigresa, trazendo o saco da noite de Valpurgis: Vamos comemorar com Julia Kristeva: O amor é a hora e o espaço onde "eu" me entrego o direito de ser extraordinária. E me levou qual musa da elegia de Donne para, depois de tudo, se insinuar Elizabeth Noelle-Neumann: Solta-se o verbo quando se sente que está em harmonia com o espírito de seu tempo... E depois da agonia dormimos na rede de pernas pro ar, graças! Ainda bem que normalmente tudo acaba em sexo, u-hu! A festa é dela quando sou vento de maio entre as pernas da moça, saia esvoaçante e o cheiro da vida... Quando sou vento forte agito as páginas, parafraseando Heine: Quem indiferente aos livros, também às pessoas... Faço o rascunho da vida, escarafunchei o que passou... Sobrevivi pra contar... Até mais ver.

 


Vem aí o PGM TTTTT. Veja mais aqui e aqui.

 


quinta-feira, junho 24, 2021

YVES BONNEFOY, ZELDA MISHKOVSKY, KAFŪ NAGAI, PLÍNIO MARCOS & CARLOS VASCONCELOS


  

TRÍPTICO DQP –- Tantos sangram na indiferença... - Ao som do concerto Espelho no espelho (2021), da Orquestra do Theatro São Pedro - No travesseiro o meu país é Stultifera Navis no desgovernado Fecamepa Coisonário, onde será que vai parar, ninguém sabe, já estamos no fundo do precipício. De lá ouço Mary McCarthy: Na violência, esquecemos quem somos. Na ciência, todos os fatos, por mais triviais ou banais que sejam, gozam de igualdade democrática. Isto meu país ignora, meu povo olvida. De repente, assim do nada, me aparece aquele filósofo austríaco suicida, o Otto Weininger (1880-1903), a me censurar pelo culto recorrente às mulheres, jogando-me na cara o seu polêmico Geschlecht und CharakterEine prinzipiellen Untersuchung (Severus, 2014): Nenhum homem que pense profundamente sobre as mulheres mantém uma opinião elevada sobre elas. Ou os homens desprezam as mulheres ou nunca pensaram seriamente a respeito delas. Hem? Ela se afasta, contorna a minha cama e fica um pouco distante, de um lado da porta do quarto. Fita-me com severidade e divido olhar entre ambos. Penso comigo: ora, como um próspero jovem judeu, no auge dos seus 23 anos, recebe seu doutoramento, torna-se cristão e publica um estudo científico-filosófico, em que distingue entre todas as coisas vivas a combinação de proporções variáveis de elementos masculinos e femininos, com denúncias que o levam a se matar, como é que pode? Ele mantém o olhar sisudo sobre mim. Neste mesmo instante vejo Wittgenstein atravessar a entrada da sala e, cabisbaixo, encosta-se à parede. Com meu olhar indago o que está havendo e ele dá de ombros: Com meu escrito não pretendo poupar aos outros o pensar. Porém, se for possível, incitar alguém aos seus próprios pensamentos. Olho para um e outro, ela está inquieta e mais quando sou surpreendido com a aproximação do dramaturgo e escritor japonês Kafū Nagai (1879-1959) que me entrega autografado o seu Histórias da Outra Margem (Estação Liberdade, 2013), a me dizer: Eu não tinha mais aonde ir. As pessoas que eu queria rever estavam todas mortas. Ele tomou pé da situação, saudou a todos com um gesto na cabeça e ancorou nela o seu olhar. Entreolhamo-nos uns aos outros e éramos então todos lídimos solitários, dividindo cada qual e ao mesmo tempo, a solidão.

 


A noite escura no espelho... - Imagens do fotógrafo Carlos Vasconcelos - Não sei quem era ao espelho, apenas seu olhar firme em mim e não era eu, isto eu sabia. Ficamos assim por um bom bocado de tempo, interrompidos pela chegada da poeta israelense Zelda Schneurson Mishkovsky (1914-1984): Eu pensei que era uma alma livre como um homem morto... E abraçou-me desamparada, deitando sua cabeça ao meu ombro. Nada mais disse e assim ficamos a desconhecer tudo ao redor. Até que se assustou com a chegada de alguém. Imediatamente, afastou-se como se me perguntasse quem era com um gesto aturdido e mãos espalmadas. Sei lá. Seguiu até a porta e cruzou olhar com a poeta Marceline Desbordes-Valmore, que a viu com ar desconfiado, mas ao me ver, apressou os passos e me abraçou apaixonadamente com um verso de sua lavra: Esta noite minhas roupas ainda estão perfumadas ... Venha e inspire em mim sua fragrância chamada. E me puxou com um beijo na escuridão.

 


Ela & Homens de papel - Ao abrir os olhos, despertando do profundo beijo, ela era outra, a Maria-Vai: Nós, todas as noites, enchemos a cara de cachaça. É o jeito. A vida é uma merda mesmo. Só com cachaça a gente escora... Era como se dividíssemos a cena de Dois perdidos numa noite suja, mas não era e ela retomava o seu texto: Ninguém está com a ganância pega. Nós sabe das coisas. Com trabalho ninguém se ajeita nessa merda de vida. Pra que dar duro? Pro Berrão ficar mais rico? Aqui, ó! Na verdade estávamos realmente perdidos e me beijou avidamente, enquanto se desnudava. Aí me largou, afastou-se desabotoando o sutiã para deixar seus seios rijos à mostra, acendeu o Abajur Lilás e a cobiça no meu sexo, enquanto me falava da Navalha na Carne que era a sua vida e me perguntou se eu soube a respeito do Assassinato do anão do caralho grande. Que coisa! E com um puxão me deitou sobre o seu corpo para que amássemos a noite madrugada afora, sem culpa nem fim. Deu-me a sua carne suculenta e misturamos nossas peles, lábios e sexos. Ao despertarmos fomos surpreendidos com a presença do Plínio Marcos, o repórter de um tempo mau, a nos dizer: Se eu não for sincero, estou para sempre perdido. O que foi? E ele debulhou Os dez mandamentos! Ele sabia que eu sabia há muitos anos atrás, quando eu pesquisava sobre o Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP) e as peças teatrais de Hermilo Borba Filho, e o vi bem próximo do absurdo e da miséria. Foi na mesma época que o poeta francês Yves Bonnefoy (1923-2016) me disse em um verso de crepúsculo estival: Tudo isso eu vi acontecer quando minha alma explodiu em mistério e inspiração. Era tudo como se fosse num redemoinho de eventos e eu quase esqueci que esperava Pinheiros no Largo da Paz. Até mais ver.

 

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sexta-feira, abril 26, 2019

WITTGENSTEIN, PEDRO NAVA, MICHELINY VERUNSCHK, ANA PAULA HOPPE & REVELAÇÃO ANAGRAMÁTICA.


REVELAÇÃO ANAGRAMÁTICA - Na cidade vizinha de Malrepas descobriram um livro que tomaram por mágico e que estava enterrado nos fundos do cemitério. Nada demais, evidentemente. Foi mão-de-obra para transportar a coisa, sem saber o que fazer com ela. Livro, nem deram bolas; antes fosse uma botija com muito ouro, isso sim, valeria. Mas livro, nenhuma serventia. Como parecia uma Bíblia, deram de início certa atenção, porém, como não era, caiu no desdém. Afinal, era só uma dessas coisas que aparecem do inopinado e, depois de matar a curiosidade, tornam-se banal. E tudo voltaria ao normal, não fosse o fato de, repentinamente, alguém enlouquecer. Como? Foi, birutou. Ninguém sabia o motivo. Como é que pode? É normal. Logo outro endoideceu assim do nada. De novo? Mais outro e outros tantos, muitos. Peraí, o que é que está havendo? Quem sabe! Ué, deram de desassisar, foi? Pois é. Por que será? Não se tinha a menor ideia. Investigações foram diligenciadas. Todos queriam saber por que, de um tempo para cá, as pessoas deram de amalucar sem qualquer motivo aparente. E foram juntando as pedras, montaram o quebra-cabeça e só deu uma por resultado: o tal do livro desenterrado. Vamos ver! O mistério se mantinha. Ué, mas fulano num foi com beltrano ver isso? Foram, endoidaram juntos. Como é que pode? E sicrano e outro mano também foram e piraram, outranos também. Vixe! Um a um na fila, encangados. O título, em letras de ouro: Revelação Anagramática. Com a ponta dos dedos, de um lado a outro, de cabeça pra baixo, a lombada, nada mais, só o título gravado em caligrafia artística numa capa dura de camurça escura, dumas mil páginas, 40x60 centímetros, difícil de apalpar e segurar de tão pesado e grosso. Quem abrisse em qualquer página, findava ruim da bola! Atenção redobrada. Receio, precaução. Ah, tem coisa. Tem. Que danado de livro é esse? Só vendo. Uma comitiva topou desvendar o mistério. Abriram. O primeiro: Oxe, isso sou eu? Como? Eita! Que foi? A minha vida! Como assim? O que estava lendo, fechou de repente e saiu sem falar. O que estava do lado, curioso, abriu: Ave, Maria! Depois de pregar as vistas na leitura, também saiu todo desequilibrado. Até alguém dizer: Ninguém abre, esse livro, é amaldiçoado. Já havia mais de duas centenas de hospedados no manicômio. Estava líquido e certo: quem abriu, acabou no hospício. E agora? O que havia de gente bisbilhoteira para saber detalhes do caso, não findava de chegar. Logo a notícia chegou à Alagoinhanduba, justo para saber do doutor Zé Gulu, o único que parou para pensar a respeito e deu uma resposta razoável para os incrédulos: Ah, deve de ser o fabuloso Livro de Areia que encontraram! O quê? Um livro diabólico que foi narrado por um escritor argentino chamado Borges. Hem? É um livro estranho, sem começo nem fim, carregado de fábulas! Mas fica pinel quem lê-lo? Sei não. Então, vamos lá! Ah, eu já li. E o que tem de tão apavorante de desaprumar a cachola do leitor? Só narrativas fabulosas. E por que quem bota o olho nele funde a cuca? Ué, eu li e não fiquei louco, vou lá saber por que estão perdendo a sanidade mental, ora! Ah, então vamos lá! Nada demais. Vamos, homem! Nada. Fizeram tudo para ele ir, não teve jeito. Ele amuou-se e não cedeu nem a rogos da população. Então, tá. Quem correu para saber detalhes de tudo foi o bispo que, aos cochichos, quis saber o que se sucedia. Padre Quiba que tinha visto o piripaque do padre novato, ficou na dele, nem chegou perto da suposta danação e narrou tintim por tintim ao superior. Pois, então, vamos abri-lo! Deus me livre! É uma ordem! Nem amarrado. Vamos os dois! Vou nada! Que é que tem no livro? Não sei, só sei que tem um monte de gente aí que abilolou só de ler a primeira página. Hummmmm. Só está salvo desse estrupício quem não leu, quem não abriu uma página sequer daquilo, só dizendo quem lia que era ele que estava lá escrito, a vida dele e saía todo desgovernado fazendo bilu-bilu. Ah, quero ver esse livro. Arrepara. Ao chegarem diante daquele volume ainda todo empoeirado, logo deram de cara com os juízes e delegados das duas cidades e doutras, confabulavam. Quem é maluco de abrir uma praga dessa? Procuraram voluntários, nenhuma iniciativa. Convocaram a polícia e elegeram um condenado a abrir na marra e dizer o que tinha escrito. Assim feito, amarrado, o sujeito dizia: Eita, sou eu! Vixe! E o cara abria um boticão de quase os olhos pularem fora. Fale! Ficou hipnotizado. Fale! Ele não tirava as vistas daquela página. O que está vendo, responda, é uma ordem! Nem batia as pálpebras, de boca aberta. Pronto, já era. O sujeito começou a gritar, espernear, tiveram de levá-lo pro sanatório. Logo estavam todos os prefeitos da região, deputados, senadores, pais de santo, fuxiqueiros, autoridades de todo tipo arrodeando a obra esquisita, sacudindo um pro outro a responsabilidade de abri-la e dizer o que é que tem nessa maldita publicação. Depois de muito puxa-encolhe, resolveram colocá-la numa redoma indestrutível e transparente, colocaram num altar para exploração turística, rendendo altas receitas até hoje. Pronto, resolvido. O que não querem saber é de leitura, tem feitiço no livro, dito e feito: quem lê perde o juízo. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Abolida a escravidão e não se podendo mais comprar negro, as senhoras de Minas tomavam para criar negrinhas e mulatinhas sem pai e sem mãe ou dadas pelos pais e pelas mães. Começava para as desgraçadas o dormir vestidas em esteiras postas em qualquer canto da casa, as noites de frio, a roupa velha, o nenhum direito, o pixaim rapado, o pé descalço, o tapa na boca, o bolo, a férula, o correão, a vara, a solidão. Apesar disso, íntimas das sinhás, ajudando nos fuxicos, nas intrigas – servis, bajuladoras, vendo tudo, alcovitando namoros, sabendo dos podres e integradas em cheio nos complexos sexuais dos meninos da família. Em casa de minha avó materna, funcionava o sistema. Ela era mesmo tida como grande disciplinadora de negrinhas, disputando a palma dessa primazia, em Juiz de Fora, com D. Guilhermina do Dr. Rosa da Costa e a D. Clementina do Dr. Feliciano Pena. Para o arbítrio de Inhá Luisa, nem o batismo tinha barreiras. Ela revogava o sacramento quando a graça das negrinhas parecia de moça branca. O quê? Evangelina Berta? Absolutamente. Fica sendo Catita, que isto que é nome de negro! [...]
Trecho extraído da premiada obra Baú de Ossos (José Olympio, 1978), do escritor e médico brasileiro Pedro Nava (1903-1984), primeiro volume das memórias do autor. Veja mais aqui e aqui.

A POESIA DE MICHELINY VERUNSCHK
PROPÓSITO: ela se abre / pétala a pétala / e branca é a sua carne / ela se abre / pétala a pétala / e exala a doce abacaxi. / ele duro e brilhante / mal sabe o que o traz aqui / mal sabe do pólen / que traz nas patas / no abdome / ele só sabe do que sente / do que o consome / a noite vem e ela se fecha / de novo / pétala por pétala / ele guardado dentro dela / ele luz e calor / quando ao dia mais uma vez chegar / ela será vermelha / ela será ele / ela será amor.
O CORPO AMOROSO DO DESERTO: Teu corpo / branco e morno / (que eu deveria dizer sereno) / é para mim / suave e doloroso / como as areias cortantes / dos desertos. / Que importa / que ignores minha sede / se tua miragem / é água cristalina. / E a miragem eu firo com mil línguas / e cada uma é um pássaro / a bebê-la. / Ferroam a minha pele / escorpiões de fogo e sol / com seu veneno / e vejo, / magoada de desejo, / os grãos tão leves / indo embora ao vento.
RÁPIDO MONÓLOGO DO CAÇADOR COM SUA CAÇA: Trago / Pardos / Os olhos / De cobiça / Que atiro / Sobre ti, / Teu verbo/teu sexo: / Tua presa / de / marfim.
Poemas da poeta e historiadora Micheliny Verunschk, autora dos livros Geografia Íntima do Deserto (Landy 2003), O Observador e o Nada (Bagaço, 2003), A Cartografia da Noite (Lumme, 2010), Nossa Teresa - vida e morte de uma santa suicida (Patuá/Petrobras Cultural, 2014) e b de bruxa (Mariposa Cartonera, 2014). Ela é mestre em Literatura e Crítica Literária, doutora em Comunicação e Semiótica e doutoranda em Letras pela PUC-SP. Veja mais aqui.

A ARTE DE ANA PAULA HOPPE
A arte da escritora e artista visual Ana Paula Hoppe, co-autora da obra interativa Baleia Rosa: você está espalhando o bem? (Buzz,2017), em parceria com Rafael Tiltscher, construído com desafios lúdicos e práticos a partir de frases como: Seja você a mudança que deseja ver no mundo ou Não faça aos outros o que não gostaria que fizessem para você, direcionadas para a alegria de viver, a autoestima e o sentimento de pertencimento. Veja mais aqui.
&
A OBRA DE LUDWIG WITTGENSTEIN
Os problemas filosóficos surgem quando a linguagem sai de férias.
A obra do filósofo austríaco naturalizado britânico Ludwig Wittgenstein (1889-1951) aqui, aqui e aqui.


terça-feira, fevereiro 27, 2018

NÉLIDA PIÑON, HEINE, WITTGENSTEIN, CAMBADA MINEIRA, MAGDA SOARES, JULIA CRYSTAL, ONIANS, DOMINGOS SILVA & PAISÀ

UMA & OUTRA DE COISAS & COISAS – Imagem: Sensibilidade da natureza (2016), arte do pintor português Domingos Silva. UMA: EU TE AMAREI ETERNAMENTE E AINDA DEPOIS – Desde os desencontros com a Princesa de Bambuluá, insistentemente eu recitava de forma inconsciente o verso de Heine: “Eu te amarei eternamente e ainda depois”. Havia em mim uma esperança animadora que me dizia que um dia ela voltaria esclarecendo o sucedido. Sei que ano após ano, sempre no aniversário da data por ela marcada, eu caía no sono por dias e ao acordar perguntava por ela, a velha professora sempre me respondia: Você ainda espera que ela venha pra você? Desista, ele não lhe quer, nunca quis. Quanto mais ela repetia isso, ano após ano, meu coração tinha certeza que essa não era a verdade, coração bobo de enamorado. Até o Soneto de Vinicius era o meu consolo: “Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure”. Mergulhado nos meus pensamentos só pra ela, a professora idosa me fez uma surpresa, apresentando as suas lindas filhas e que eu escolhesse qual delas queria para casar. Elas eram lindíssimas, mas havia entregado meu coração à Princesa, era dela e mais ninguém. Resolvi arrumar minhas coisas e sair dalí, andando sem rumo e só muito depois é que soube que a princesa me visitava todo ano e sem poder falar comigo porque dormia a sono solto, retornava tristonha desconfiando que eu não estudei como ela desejava e que eu vivia apenas para as festas. Assim caminhei até deparar uma casa solitária, na qual um velhinho de voz macia mandou-me entrar. Fui até a cozinha e lá conversamos e contei minha história. Ele me disse ser o Príncipe dos Pássaros e convocou seus soldados para saber qual deles sabia do reinado de Bambuluá. Assim que me viram, julgaram-me inimigo e resolveram me atacar. Ele aplacou a fúria de todos e indagou acerca do reinado, nenhum deles sabia. Pediu-me então que dormisse aquela noite e no dia seguinte me mandou para procurar o pai dele, o Rei dos Pássaros. Assim fui por três dias e três noites até chegar a uma casa na enconsta de um morro distante. Lá um ancião ainda mais velho me recepcionou ouvindo atentamente a minha história. Então ele chamou todos os seus soldados e perguntou quem sabia onde ficava o reino de Bambuluá, nenhum entre eles sabia. Com isso, me aconselhou a dormir no seu regaço e na manhã seguinte eu fosse até o seu pai, o Imperador dos Pássaros, e assim se fez. Andei, andei, andei, quatro dias depois, uma casinha lá no alto da serra abrigava quem eu procurava. Lá chegando, estava ele escondido dentro de uma cabaça, suspenso em cima do fogo. Pra ele contei minha história e ao ouvi-la pegou uma gaita de pena de ema e soprou demoradamente no instrumento. Os seus soldados apareceram aos milhares e ao serem indagado onde o reino de Bambuluá, ninguém sabia. Então ele virou-se e se dirigiu para um velho urubu que estava dormindo num canto. Cochichou ao ouvido da ave que logo estirou asas enormes dizendo: O reino de Bambuluá era o meu pasto. Fica depois do Inferno. É um lugar que nenhum olho mal consegue ver, pois lá tudo é muito bonito, também povoada por uma gente simpática e agradável. O velho então mandou que eu comprasse um boi bem grande para que fosse cortado em pequenos pedaços e todos os ossos quebrados para ser dado pro urubu velho comer. Assim fiz e três dias depois o urubu estava pronto para a viagem. Fui orientado a montar no urubu segurando nos cotos de penas e com os pés cruzados embaixo das asas, olhos fechados, só os devendo abrir quando ele parasse o voo. Assim feito, entre ventos quentes, muitas voltas, o calor imenso, voando muito alto, bruscamente uma descida rápida até a terra. Abri os olhos: uma campina verde, água corrente e no cimo do morro o palácio. O urubu despediu-se e voou. Aí segui pro palácio, encontrando uma casa em que uma senhora simpática indagou o meu destino, aí contei uma parte do plano, escondi outras, ela mandou-me entrar, dizendo-me ser uma antiga criada do palácio e que eu aguardasse até ao meio dia, quando chegaria a comida vinda da cozinha real. Enquanto isso, saquei a minha rabeca e troquei as cordas pelas que a princesa me dera e comecei a tocar, todos dançavam, a velha da casa, os passantes e até os que chegaram com a comida. E mais vinham e mais dançavam, até o Rei e a Rainha, os fidalgos e suas comitivas. Aí parei de tocar e o Rei me saudou: Amanhã você fará uma festa no meu palácio! Se você não for, corto-lhe a cabeça! Todos se foram e fui descansar. Ao cochilar, dei pela presença de uma criada que me fez muitas perguntas e foi embora sem se despedir. Daí depois ela voltou e me disse que a princesa estava feliz com a minha chegada e que anunciaria amanhã na festa o seu casamento comigo. Fiquei feliz. No dia seguinte, fui para o palácio conforme o combinado e ao chegar lá muita gente me esperava para a festa. Assim que cheguei a princesa surgiu descendo a escada real do palácio mais linda que nunca e foi logo anunciando: Rei meu pai, Rainha minha mãe, todos os presentes. Se eu perdesse um presente que muito gostava e quisesse outro, e antes desse outro chegar eu encontrasse o velho presente, que deveria fazer? Todos responderam: Nenhum presente novo substituiria o velho que tanto gostava. Pois bem, aqui está meu noivo antigo que sofreu bastante por mim, me desencantou e estudou para ocupar o digno posto, vindo aqui só para me ver. Disse isso e veio em minha direção: Este é o meu noivo, o meu presente de sempre. O Rei e a Rainha felicitaram e marcaram o casamento para o dia seguinte. A partir de então dei de sonhar e nesse sonho eu e a princesa fomos felizes para sempre. (Historieta apresentadas nas minhas atividades de contação de história, releitura das lendas do folclore, baseadas em material recolhido por folcloristas brasileiros) OUTRA DE PROFESSOR & ALUNO: Na sala de aula o professor notara a presença de um aluno estranhíssimo e tão esquisito que um dia levantou-se da banca e dirigiu-se à mesa dizendo: Professor! Diga! O senhor poderia fazer a fineza de me dizer se sou ou não um completo idiota? Não, não posso. Mas qual a razão da pergunta? Bem, caso eu seja um completo idiota, me dedicarei à aeronáutica; caso contrário, quero ser um filósofo. Pois bem, para que eu possa avaliar, escreva uns artigos filosóficos sobre qualquer assunto. Dias ou meses depois, não sei, o aluno entregou um calhamaço ao professor. Ele leu a primeira página, releu e retornou ao aluno e disse: Não, você não deve se tornar um aeronauta! Pois, tinha certeza que estava diante um gênio que, segundo o próprio professor, o mais autêntico que já conhecera. O professor era o filósofo e matemático inglês Bertrand Russell (1872-1970), o aluno, o filósofo austríaco naturalizado britânico Ludwig Wittgenstein (1889-1951). O aluno na época desse encontro era judeu, muito bem dotado e rico. Era desde então atormentado por dúvidas existenciais, porém, a relação entre ambos não demoraria muito: o professor era ateu convicto, o aluno carregado de arroubos místicos. Desfeita a possível amizade entre ambos, o jovem se desfez da sua fortuna criando um fundo de ajuda aos poetas e, o restante, doou tudo para suas duas irmãs. Empregou-se como professor primário, lecionando para crianças de 9 a 10 anos de idade, o que o levou a elaborar um dicionário para ser usado pelas escolas das aldeias austríacas. Abandonando o magistério, trabalhou como ajudante de jardineiro e, depois, elaborou um projeto de uma casa para uma de suas irmãs, dedicando-se à escultura. Muito depois é que retornou à Filosofia para fazer seu doutoramento com o Tractatus Logico-Philosophicus e, depois, publicar um breve ensaio Algumas observações sobre forma lógica e, em seguida, as suas Investigações filosóficas. Depois da guerra de 1943, desempenhou a função de porteiro em um hospital, sendo posteriormente transferido para ajudante de laboratório de análises clínicas. Renunciou sua cátedra de filosofia, buscou o isolamento e quando descobriu que estava doente gravemente, não se abalou, pois não queria continuar vivendo. Quando o médico anunciou que chegara o seu fim, ele disse: Ótimo! Diga-lhes que eu tive uma vida maravilhosa. E morreu dois dias depois. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com a música do grupo Cambada Mineira, formado pelos músicos João Francisco, Amarildo Silva & Flávia Ventura: Saudades de Minas, Fragmentos de uma noite de chuva & Tempo Certo; da cantora e compositora Julia Crystal: A journey to Shamballa, Time to care & Stalit mermaids call; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIAMinha vida está cheia dos mais odiosos e mesquinhos pensamentos (isso não é exagero). Talvez você pense que seja uma perda de tempo, para mim, pensar acerca de mim mesmo; mas como posso tornar-me um lógico se não sou sequer um homem? Pensamento do filósofo austríaco naturalizado britânico Ludwig Wittgenstein (1889-1951), autor de frases célebres como: Não posso subjugar os acontecimentos do mundo à minha vontade: sou completamente impotente. Também expressou: No mundo, tudo é como é e acontece como acontece: nele não há valor. Veja mais aqui.

LINGUAGEM & EDUCAÇÃO – [...] em diferentes campos – Linguistica e Sociolinguistica, Sociologia e Sociologia da Linguagem, Psicologia e Psicolinguistica -, que se deve fundamentar um ensino da língua materna que se incorpore ao processo de transformações sociais, em direção a uma sociedade mais justa. Entretanto, para que esses conhecimentos venham a transformar, realmente, o ensino da língua, é fundamental que a escola e os professores compreendam que ensinar por meio da língua e, principalmente, ensinar a língua são tarefas não só técnicas, mas também políticas. Quando teorias sobre as relações entre linguagem e classe social são escolhidas para fundamentar e orientar a prática pedagógica, a opção que se está fazendo não é, apenas, uma opção técnica, em busca de uma competência que lute contra o fracasso na escola, que, na verdade, é o fracasso da escola, mas é, sobretudo, uma opção política, que expressa um compromisso com a luta contra as discriminações e as desigualdades sociais. Trecho extraído da obra Linguagem e escola: uma perspectiva social (Ática, 1992), de Magda Soares, abordando o facrasso da/na escola, deficiência lingüística, diferença não é deficiência, o que pode fazer a escola e vocabulário crítico.

AS MULHERES - [...] As mulheres eram motivo de guerra explícito e um prêmio aprovado da guerra. Os homens lutavam para salvar suas esposas. Quando uma cidade era tomada, os homens eram mortos, as crianças eram golpeadas até a morte ou escravizadas, as mulheres, arrastadas violentamente para servir aos conquistadores, casados ou não, como escravas e concubinas [...]. Trecho extraído de The Origins of European Thinkought: Sobre o corpo, a mente, a alma, o mundo, o tempo e o destino (Cambridge UP, 1951), do professor estadunidense Richard Onians (1899-1986).

O REVOLVER DA PAIXÃOEu sei que errei, mas não me deixe agora. Eu protestei contra o que me parecia sua culpa. Você me olhou afiando os olhos no meu rosto. Me senti retalhada, diferente das vezes em que me cortou e não sofri. Bem ao contrário, a carne me sorria, eu deixava que você me tivesse, porque a carne era a minha alma [...] Como podes pensar que aguento vê-lo tragando vida com chope, sem que eu passe pela tua boca, te beije, te lamba, e você sorrialigado à terra, porque sou o teu húmus, o teu esperma, eu sou o teu membro, eu sou você. Não, não reclame, você me quer assim mesmo, ainda que selvagem eu te cause medo, ameace a tua liberdade. Ou me querias selvagem só na cama? [...] Não te autorizo a deixar-me. Ouviu o que eu disse? Não te dou licença de passear pela terra, de ter um futuro em que eu não esteja inteira. Ah, meu corpo amado, eu te desejo. E te desejo mais do que perdermo-nos no leito que vem sendo osso há dois anos. Uma agonia que recolho com a minha boca e mastigo com os meus dentes. Eu te mastigo, eu tecomo, eu te rasgo como você me rasga, me grita, me ama. [...] Não, erga-te, amor, e me cubra toda, quero você me soçobrando, eu sou uma mina africana, há que ir ao fundo, apalpar no escuro a sua riqueza, coçar a sua aflição, sentir medo. Medo das minhas trevas, pavor dos meus pelos, temor do meu suor e da minha fragrância. Vamos, seu covarde, volte depressa. Não quero mais perder o espetáculo desse amor que diariamente me derruba, porque é desse jeito que mastigo da sua comida. [...] Meu corpo identifica o teu cheiro, acre-doce pela manhã. Quantas vezes te lavei o sexo e você se deixou acariciar como se fosse meu dever rejuvenescer=te a cada dia, quem melhor que as minhas sagradas mãos conhecem o teu segredo, as palpitações da tua carne, o modo firme e cego com que se ergue e vem a mim. Não te creias livre, a vida não é tua. A tua vida é minha porque me perdi em ti, em cada palavra que disseste e me conquistou. [...] E te jogarás sobre o leito, e nu, esplendido, me atrairás dizendo, não queres novamente ser minha, acaso sobreviverás sem o gozo que é a única viagem atrlatica que se vive e nos naufraga? Esquecendo, porém, de que você sim é o barco carecendo das águas, e que sou a água em que mergulharás sem rota, sem mapa, pois não há mapa para o amor, amor. [...] Por favor, ceda-me o teu tempo. Ceda-me o teu corpo novamente. No leito, ou na natureza crua. Ou no bar em que estiveres agora. Onde eu chegando logo faríamos amor com o meu olhar de espinho. Amor se faz na esquina, a multidão dispersa em torno. Eu não te amo só com o ímpeto da carne. Também te quero com a minha boca distante, falando, te enunciando, pronunciando o teu nome. Teu nome é meu ato de amor. Teu nome é o orgasmo de que padece o meu sexo. [...]. Se me negas o pedido eu me vingo, abro minhas pernas para o teu inimigo, convidarei o desafeto a comer minhas carnes com garfo e faca e que divulgue entre amigos, e perto da tua consciência, o sabor de sal da minha pele e como o meu suor arrasta ainda o teu cheiro. Não me julgueis louca, julgues-me apenas capaz de lutar pela tua volta. [...] Se é assim, tome-me como sou. Transija com a minha volúpia. Aceite viver com uma mulher perdida no pecado de amar. Ah, hás de dizer, até você fala em pecado? Sim, falo, cometo, vivo, devoro, e quero. O que tem você com isso? Pecado é a tua boca, o teu sexo, o teu peito, os teus pelos, a testa franzida quando vais gritar de gozo. O que queria, que jamais tivesse enxergado o teu rosto quando me amas, só porque, perdida de amor, devia estar ocupada com o próprio prazer? [...] pois ainda assim sigo ao teu lado te amando, te fazendo recordar com minúcias o arrebato que ambos provamos, o sal jogado sobre nossos corpos para exalarem aquela essência que nos volatizava mas também nos prendia à terra, para vivermos com a carne um ritual iluminado, nossas peles cobertas de folhas, musgos e aranhas. Ah, amado, volte depressa, antes que outras cartes te persiga, e fique a vida difícil para nós. [...]. Extraído da obra O calor das coisas – contos (Record, 2009), da premiadíssima escritora e imortal da Academia Brasileira de Letras, Nélida Piñon. Veja mais aqui.

TRÊS POEMAS - LEGADO - A minha vida chega ao fim, / Escrevo pois meu testamento; / Cristão, eu lego aos inimigos / Dádivas de agradecimento. / Aos meus fiéis opositores / Eu deixo as pragas e doenças, / A minha coleção de dores, / Moléstias e deficiências. / Recebam ainda aquela cólica, / Mordendo feito uma torquês, / Pedras no rim e as hemorroidas, / Que inflamam no final do mês. / As minhas cãimbras e gastrite, / Hérnias de disco e convulsões – / Darei de herança tudo aquilo / Que usufruí em diversões. / Adendo à última vontade: / Que Deus caído em esquecimento / Lembre de vós e vos apague / Toda a memória e sentimento. ESPEREM SÓ: Só porque arraso quando arrojo / Raios, acham que não sei troar. / Ora, meus senhores, ao contrário: / Na arte do trovão não sou pior! / No devido dia, eu ponho à prova, / Quem duvida agora é só esperar; / O meu peito então vai trovejar, / E trincar os céus, a minha voz! / No fragor daquele furacão, / Os carvalhos secos vão rachar, / Os castelos vão desmoronar, / Velhas catedrais, ruir ao chão! MORFINA: É grande a semelhança desses dois / jovens e belos vultos, muito embora / um pareça mais pálido e severo / ou, posso até dizer, bem mais distinto / do que o outro, o que, terno, me abraçava. / Havia em seu sorriso tanto afeto, / carinho e, nos seus olhos,tanta paz! / Ornada de papoulas, sua fronte / tocava a minha, às vezes – e seu raro / odor me dissipava a dor do espírito. / Tal alívio, porém , não dura. Eu só / hei de curar-me inteiramente quando / o irmão severo e pálido abaixar / a sua tocha. – O sono é bom; o sono / eterno, ainda melhor; mas certamente / o ideal seria nunca ter nascido. Poemas extraídos de Heine, hein? – Poeta dos contrários (Perspectiva, 2011), do poeta romântico alemão Heinrich Heine (1797 – 1856). Veja mais aqui.

PAISÀ
O premiado drama Paisà (1946), do cineasta italiano Roberto Rossellini (1906-1977), é integrante da trilogia de guerra do diretor, iniciada com Roma, Città Aperta e segudia de Germania Anno Zero, dividido em seis episódios que tratam das relações entre os italianos recém-libertados e os libertadores estadunidenses. Os episódios são nomeados como Sicília, Nápoles, Roma, Florença, Apeninos Emilianos e Porto Tolle.

Veja mais:
A folia do Biritoaldo desandou no carnaval, Ela baila no meu coração, Frevo do Mundo & a poesia de Mário Hélio aqui.
Proezas do Bitiroaldo aqui, aqui, aqui e aqui.
Psicologia Social & Educação, Pablo Neruda, Amedeo Modigliani, Yasushi Akutagawa, Regina Espósito & Jú Mota aqui.
Paul Ricoeur, Li Tai Po, Millôr Fernandes, Carlos Saura, Mônica Salmaso, Aída Gomez Ralph Gibson & Ronaldo Urgel Nogueira aqui.
Tolinho & Bestinha: quando Bestinha se vê enrolado num namorico de virar idílio estopolongado aqui.
Arthur Rimbaud, Anti-Édipo de Deleuze & Guattari, Infância & Literatura & Balanço da Copa aqui.
Descartes, Gustav Klimt, Ingmar Bergman, Denise Stoklos, João Bosco, Danny Calixto, Bernadethe Ribeiro & Sandra Regina Alves Moura aqui.
Apollinaire, Rembrandt, Walter Benjamim, Paulo Moura, Efigência Coutinho & Programa Tataritaritatá aqui.
Jacques Lacan, Alexander Luria, Elizeth Cardoso, Aníbal Bragança & Clevane Lopes aqui.
Paul Verlaine, Denise Levertov, Delaroche, Wojcieck Kilar, Lourdes Limeira & Marcoliva aqui.
Yevgeny Yevtushenko, Leila Assumpção, Segueira Costa, Sigmund Freud, Hyacinthe Rigaud & Ailson Campos aqui.
A nuvem de calças de Vladimir Mayakovsky aqui.
Cultura afrodescendente, carnaval & Célia Labanca aqui.
Oração da cabra preta & Turismo religioso aqui.
Biritoaldo: a vingança no formigueiro aqui.
Cidinha Madeiro aqui.
A troça do Fabo aqui.
Folia Tataritaritatá & o Recife do Galo da Madrugada aqui.
Caboclinhos aqui.
O Frevo aqui.
Auto Maracatu aqui.
Baile de Carnaval aqui.
Bacalhau do Batata aqui.
Os assassinos do Frevo aqui.
A folia do prazer na ginofagia aqui.
Padre Bidião, o retiro & o séquito das vestais aqui.
Aijuna, o mural dos desejos florescidos aqui.
Todo dia é dia da mulher aqui.

ARTE DE DOMINGOS SILVA
A arte do pintor português Domingos Silva.

 

quinta-feira, outubro 27, 2016

WITTGENSTEIN, ALAN WATTS, D’ESPAGNET, MARIANA IANELLI, MOZART & LARROCHA, CUNNINGHAM, DON ROSS, COCO CHANEL, SHARON SIEBEN, BOSSCHART, ANA STARLING, MAILLOL, VALQUIRIA LINS, LUIZ CUNHA, RODRIGO BRANCO, TEATRO & PADRE BIDIÃO


INEDITORIAL: TUDO TEM SEU LADO BOM & RUIM & VICE-VERSA! – Tudo não só tem um lado bom! Inevitavelmente tem outro ruim. Posto que tanto pode o malfazejo agora ser benéfico depois, como o péssimo do passado ser relativamente tido por excelente amanhã. Sim. Não? Talvez. Fica claro, então, que em tudo não há só um lado como querem os sectários, muito menos apenas dualista como defendem os maniqueístas. Além do mais, não só depende de quem olha, mas até de onde e como se dá o olhar. Admito que exista quem não enxergue lá um palmo além do nariz, ou nada além do que professe suas convicções, ou mesmo até o que possa caber a sua compreensão. Não obstante, tudo vai além de tridimensional e pode ter diversas expressões, múltiplos sentidos, infinitos olhares e interpretações, gnosiológica ou epistemologicamente falando. Cada qual, cada qual. Respeito todas as diferenças e me completo com o contradito: não sou, nunca fui e nem tenho o propósito de ser o dono da verdade – todos temos muito que aprender na vida! O que possa eu defender hoje, posso não achar mais graça nenhuma daqui a pouco, malgrado os conservadores que temem o novo; nem sou de apagar o passado com a primeira veleidade do presente, como teima vanguardista. A gente se equivoca até com o que é tido por inequívoco! Já me enganei muitas e tantas vezes, nunca perdi o aprendizado. Muitas vezes me vi sensato quando incoerente, ou congruente na parvulez: rio de mim mesmo, tenho cá meus pantins e, vez por outra, removo meus paradoxos dos ombros. Sei, tudo tem sua razão de ser: uma semente plantada que desabrochou e tomou corpo até desaparecer; um dia lá, do esquecido, volta e recomeça o ciclo e, assim, sucessivamente, de geração em geração. Assim é a vida. E vamos aprumar a conversa pras novidades do dia:  na edição de hoje destaque para a filosofia de Hermes Trismegistos, a linguagem de Ludwig Wittgenstein, o pensamento de Alan Watts, a música de Alicia Del Larrocha, a poesia de Mariana Ianelli, a coreografia de Merce Cunningham, o teatro de Maria Adelaide Amaral e Marília Pêra, o cinema de Don Ross & Christina Ricci, o Congresso Internacional de Pedagogia, a escultura de Aristide Maillol, a pintura de Vanessa Bell, Johfra Bosschart & Sharon Sieben; a fotografia de Luiz Cunha, a ilustração de Ana Starling, a Flor do Una de Juarez Carlos, a entrevista de Valquíria Lins, Brincar para Aprender com a Criança, Vygotsky & o Teatro, a arte de Rodrigo Branco & O evangelho segundo Padre Bidião. Veja mais aqui.

Veja mais sobre:
Ingresia dum chato de galocha, Graciliano Ramos, Dylan Thomas, Vanessa-Mae, Piero della Francesca, Maria Della Costa, Antonio Carlos Fontoura, Maria Zilda Bethlem, Zizi Smail & Humor e alegria na educação aqui.

E mais:
Propriedade industrial no Código Civil aqui.
A poesia de Suzana Mafra aqui.
Erich Fromm, Teste da Goma & outras loas aqui.
A graviola do Padre Bidião aqui.
A poesia de Manoel Benetvi aqui.

DESTAQUE: O TRÍPLICE FOGO HERMÉTICO
Imagem: Esoteric, do pintor holandês Johfra Bosschart (1919-1998).
Aquele que ignorar os graus e os pontos no sistema do fogo externo, que não se decida pela obra filosófica. Porque jamais irá tirar a luz das trevas, se não souber conduzir tão bem os calores, a fim de que não passem inicialmente pelos do meio, conforme se dá com os elementos, cujos extremos não se convertem senão quando passam pelos do meio.
Trecho extraído de A obra secretada da filosofia de Hermes Trismegistos (L. Oren, 1976), do polímata da renascença francesa Jean D’Espagnet(1564-1637). Veja mais aqui e aqui.

O EVANGELHO SEGUNDO PADRE BIDIÃO: E JESUS VOLTOU!! – Naquela manhã o Padre Bidião invadiu minha casa exultante e aos gritos: Sim, Jesus voltou! Ele voltou! Eu tive um sonho em que ele me dizia que havia voltado. E quando acordo, veja, recebi esse bilhete que botaram por baixo da minha porta: Voltei. Assinado: Jesus. PS: Enviei esse com cópia para o papa. Não é só coincidência, eu sei que é verdade, ele falou comigo no meu sonho! Você acredita? Acredite, é verdade. É verdade mesmo! E saiu para caçar o paradeiro do seu mestre. Ele fez tanto alarde nos quatro cantos do mundo, que todos, ao saberem da notícia, já festejavam com salvas e vivas a sua chegada. E cadê ele? Nada do padre dar sinal da presença dele. Oxe, foi aí que ele rodou o mundo todo como a praga na sua nave e nada de localizar o paradeiro do seu idolatrado. De norte a sul, de leste a oeste, nos quatro cantos do planeta não teve um só pedaço de chão que ele não procurasse o seu salvador. Já estava desanimando, quando começou a me contar tintim por tintim: já estava triste e desenganado da busca, abandonando já de vez a causa, justo quando chegaram notícias de que numa favela lá nos cafundós do fim do mundo, havia nascido uma criança iluminada. Era ele, tinha certeza. Era mais um sinal e zarpou com mais de mil pro tal lugar e, lá chegando, soube que não havia sido numa manjedoura, nem uma estrela havia brilhado mostrando o caminho. Não havia reis magos, nem incenso, nem mirra, nem ouro. Apenas, era um dia chuvoso numa rua bastante emporcalhada no meio da miséria, dentro de uma lata de lixo revirada por um guenzo faminto, uma criança com ar angelical, choramingou. Era ele, sabia, outro sinal. Sim, sim. Um desabrigado da rua que ia passando embaixo do maior toró, viu quando o cachorro sarnento começou a ronronar lambendo a pele da criança. Ainda embriagado, afastou o animal e sumiu com a criança nos braços. Pra onde? Ninguém sabe. Deduz-se apenas que o pai dessa criança, José, um pedreiro que fora assassinado ao ser confundido nunca guerra de bandos, com o traficante Zé Pedreiro que se encontra foragido e que, por represália, os inimigos haviam aprisionado a mulher dele, Maria lavadeira, grávida de nove meses e que, ao dar a luz, o bebê fora jogado no lixo, mantendo-a refém para forçar o reaparecimento do fugido. Onde está ela? Pra onde levaram a criança? Ninguém sabe, nem quer saber. Apenas sabiam agora que Jesus voltou. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui e aqui.

 Curtindo o álbum Mozart (London Records, 1983), da pianista Alicia De Larrocha com a Wiener Symphoniker, regência de Uri Segal.

LINGUAGEM & VIDA  – [...] Ser-nos-á frequentemente útil se dissermos quando filosofamos: denominar algo é semelhante a colocar uma etiqueta numa coisa. [...] Pode-se representar facilmente uma linguagem que consiste apenas de comandos e informações durante uma batalha. – Ou uma linguagem que consiste apenas de perguntas e de uma expressão de afirmação e de negação. E muitas outras. – E representar uma linguagem significa representar-se uma forma de vida. [...]. Trechos extraídos da obra Investigações filosóficas (Abril, 1979), do filósofo austríaco naturalizado britânico Ludwig Wittgenstein (1889-1951). Veja mais aqui.

 Imagem: Na ponta verde, arte do fotógrafo, professor e jornalista Luiz Cunha.

PENSAMENTO DO DIA: O HOMEM CRIADOR E SENSATO - [...] O homem para ser criador e sensato precisa de ter, ou pelo menos sentir, um relacionamento e união significativos com a vida, com a própria realidade. Não basta que se relacione com um grupo humano ou um ideal humano, pois sabe que homens e povos morrem e que, além deles, há uma realidade mais permanente – a realidade do Universo natural, e que, além desta, há ainda deuses ou Deus. [...]. Trecho extraído da obra A vida contemplativa: um estudo sobre a necessidade da religião mística, pelo guia espiritual da juventude moderna (Record, 1971), do filósofo e escritor inglês Alan Wilson Watts (1915-1973). Veja mais aqui, aqui e aqui.


Imagem: a arte da ilustradora, designer & artista multimídia Ana Starling.

TREVA ALVORADA - Absurda leveza que te faz afundar / E não é a morte. / Cumpres tua descida calado / (Uma palavra por descuido / Seria amputar a verdade). / Náufrago do tempo, / Tuas horas transbordam. / Dentro da lágrima, / Imensidão, já não choras. / Estrelas e estrelas, / Copulam a sede e o engenho / De que te alimentas / Como nunca te alimentou / O gosto da carne. / Tua face atônita / Se existisse uma face, / Tuas costas nuas, / Se a nudez fosse do corpo. / Um sorvedouro / Onde a paz dos contrários, / Treva alvorada. / ecundado, flutuas. / É a lei da graça. Poema extraído do livro Treva alvorada (Iluminuras, 2010), da poeta, ensaísta, cronista e crítica literária Mariana Ianelli.


Imagem: do espetáculo de dança RainForest, do bailarino e coreóografo estadunidense Merce Cunningham (1919-2009) - (Foto: Tony Dougherty).. Veja mais aqui.

MADEMOISELLE CHANEL - A peça teatral Mademoiselle Chanel, da dramaturga luso-brasileira Maria Adelaide Amaral, conta a história da notável estilista francesa Gabrielle Coco Chanel, que ensinou elegância simples à alta burguesia do mundo e ainda criou um mito em torno de si. A montagem que assisti em 2004, no Teatro Faap, em São Paulo, foi com a saudosa Marília Pêra, dirigida por Jorge Takla. Veja mais aqui e aqui.


THE OPPOSITE OF SEX – A comédia romântica The Opposite of Sex (1998), escrita e dirigida por Don Ross, conta a história das sórdidas aventuras de uma jovem determinada a ter um caso com o namorado de seu irmão gay, envolvendo uma campanha contra ela promovida pela melhor amiga dele. O filme satiriza as idéias erradas a respeito da vida homo e heterossexual, com um dialogo hilariante. O destaque fica por conta da atuação da atriz estadunidense Christina Ricci. Veja mais aqui.


AGENDA: CONGRESSO INTERNACIONAL DE PEDAGOGIA – Acontecerá entre os dias 30 de janeiro e 03 de fevereiro de 2017, em Havana – Cuba, o Congresso Internacional de Pedagogia, organizado pelo Ministério da Educação de Cuba, UNESCO, UNICEF, Organização dos Estados Ibero Americanos e Associação de Educadores da América Latina e Caribe, sobre os temas que envolvem a formação em valores e educação para a cidadania, o professor e seu desempenho profissional, formação inicial e contínua de educadores, educação científica através dos desafios atuais, educação ambiental, arte e saúde; atenção integral à infância, conduta no processo de ensino e aprendizagem; formação profissional de acordo com a demanda social, entre outros. Informações http://www.lionstours.com.br/pedagogia_cuba_332.html. Veja mais aqui e aqui.


ENTREVISTA: VALQUÍRIA LINS – A poeta paraibana Valquiria Lins é licenciada em Letras pela UFPB e autora dos livros Outono (1997), Húmus (1998) e Velas de Abril (2006). Ela foi destacada entre os Poetas da Paraíba no meu blog Varejo Sortido. Agora, nessa primeira parte conheça mais da poesia da autora. A autora agora faz sua incursa na ficção, lançando o livro Acais. Por conta disso, ela concedeu uma entrevista exclusiva pra gente, contando sobre a sua trajetória, o lançamento de seu mais recente livro e de duas perspectivas e projetos artísticos. Confira a entrevista aqui e mais aqui.


Imagens: a arte do escultor e pintor francês Aristide Maillol (1861-1944).

REGISTRO: A CRIANÇA, VYGOTSKY & O TEATRO
Em 2014, durante as atividades desenvolvidas na disciplina Psicologia do Desenvolvimento, ministrada pela professora Msc Fátima Pereira, apresentei o trabalho acadêmico Contribuição do teatro no desenvolvimento da linguagem infantil: uma abordagem acerca da teoria de Vygotsky, que, por consequência, foi apresentado no IV Congresso Brasileiro de Psicologia – Ciência e Profissão, na Uninove, em São Paulo, oriundo dos trabalhos efetuados com crianças dos mais diversos educandários alagoanos da Educação Infantil e 1º Ciclo do Ensino Fundamental, que corroboraram os resultados da pesquisa no artigo que escrevi A criança, Vygotsky e o Teatro. Foi desses trabalhos que comecei a realizar palestras sobre a temática Brincar para Aprender. Veja mais aqui, aqui e aqui.  

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: Reclining nude, by Sharon Sieben.
Veja mais aquiaqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: arte de Rodrigo Branco.
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.


ROSA MECHIÇO, ČHIRANAN PITPREECHA, ALYSON NOEL, INDÍGENAS & DITADURA MILITAR

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som de Uma Antologia do Violão Feminino Brasileiro (Sesc Consolação, 2025), da violonista, cantora, compos...