Metereologia 24 h

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terça-feira, 3 de maio de 2022

Que nem pássaros estúpidos

 

Já repararam que os pombos sempre se atrapalham quando vais a passar? Ao invés de se afastarem acabam por se meter ainda mais no teu caminho. Parecendo tontos, perdidos, desorientados. Acabam por levantar vôo mas, insistindo na exibida estupidez em terra, uma vez no ar continuam a meter-se no teu caminho. 

Não parecem aves particularmente inteligentes. Aliás, pergunto-me porquê nenhuma ave é, já que todas com que me cruzo, em particular gaivotas, exibem o mesmo comportamento. Ao invés de se desviarem para longe, se estão à esquerda metem-se na frente, se estão à direita, metem-se na frente, começam a caminhar freneticamente mas sempre se metendo na linha da tua direcção. Quando finalmente levantam vôo, cruzam acima da tua cabeça, constituindo uma ameaça imediata mas continuam a seguir na mesma direcção que tu segues. Parece-me burro, idiota. Não é suposto fugir-se na direcção oposta ao invés de seguir na mesma do objecto de que se pretende distância? Será algo no instinto primário delas que as fazem agir assim? 

Isto é particularmente irritante quando estou na scooter. As malditas das aves parecem que querem cometer suicídio. Quase que se metem debaixo da roda.  


Mas agora vem o pior: E quando são pessoas?


Desde que passei a usar um veículo de duas rodas, sou muito mais cuidadosa e respeitosa. No entanto surpreendo-me com o comportamento das pessoas. Agem como animais encadeados com a luz dos faróis dos carros. 

Tontas e sem noção de espaço.

Noutro dia vou a passar por um espaço amplo. Uma rapariga caminha pelo meu lado esquerdo. Vou ultrapassá-la pelo direito mas quero que saiba que me aproximo, para que não decida mudar de direcção exatamente à minha passagem. Toco a campainha para que saiba da minha presença. 

Ela demora mas, subitamente, olha para trás, movimenta-se que nem uma barata tonta, bloqueando o lado direito, voltando para o esquerdo, voltando para o direito...  

Para quê? Se não se mexesse e continuasse num rumo só, não teria causado qualquer problema. 

Vinha a segurar o telemóvel e acho que tinha um cordão de auricular no ouvido. Tenho sempre presente que essa pode ser a realidade de hoje em dia: as pessoas metem música tão alta pelos ouvidos que não ouvem mais nada e se distraem. Por isso além da campainha, reduzo velocidade ao passar pelas pessoas. Além de que tenho a luz acesa para que detectem uma aproximação. 

Há muitas formas de alertar alguém da proximidade de um veículo em movimento, mesmo quando estas se rodeiam de obstáculos para essa percepção, como andarem em frente sempre a olhar para trás, quando conversam com outra, quando escutam música.

Toco a campainha da bicicleta não só quando vejo pessoas mas também quando me aproximo de um ponto no percurso com pouca ou nenhuma visibilidade. Reduzo a velocidade. Olho atentamente antes de fazer uma curva e tenho os ouvidos afinados para qualquer ruído. Só não paro porque é quase como pilotar um avião. Se ficar totalmente parada "caio", perde-se o equilíbrio e tenho novamente de dar ao pé para criar velocidade de arranque na scooter, o que nesta provoca-me uma desagradável dor nas costas com cada movimento de pé. 

Se não fosse cuidadosa, algumas pessoas teriam me colocado em risco. Já fui vítima de rolling Coal, que é quando um carro que vai a passar por ti liberta intencionalmente fumo escuro pelo tubo de escape. E a semana passada, estava a conduzir a scooter pela berma da estrada, sou ultrapassada por um autocarro que tem amplo espaço e nisto ele para mais à frente na DIAGONAL. Ao invés de se estacionar na berma e deixar a via livre. Fiquei pasma. A scooter é minúscula em largura, mas eu não tinha dez centímetros por onde passar com ela. Reduzi a velocidade na hora, a ver se o autocarro arrancava. Mas qual quê. Atrás de mim, saído de um estabelecimento, vinha uma viatura branca, que fez a curva e teve de parar atrás do mesmo autocarro que eu. 

Se o motorista do autocarro fez isso de propósito como forma de "protestar" por me ver a usar uma scooter, esteve mal. Não foi só a mim que ele impediu de circular. Ele impediu o trânsito inteiro e teve uma atitude provocatória e perigosa. Dei prioridade ao carro para passar, embora este estivesse a dá-la a mim. E depois segui atrás, na minha berma, naquele espaçozinho entre o beiral e o risco contínuo, permitindo assim a passagem aos veículos potentes motorizados. 



Ontem vinha a atravessar a linha do comboio na scooter. Uma família no sentido oposto viu-me e fez sinal com o olhar desse entendimento. Vinha encostada à esquerda e eles começaram a separar-se para todos os lados. Ao invés de se desviarem apenas para um. Tive de parar a scooter e ri-me. Parada que estava, a ver onde aquelas pessoas se iam enfiar. Quando percebi que tinham passado por mim é que pude continuar. Mesmo tendo-me visto, dois desviaram-se para a direcção onde eu estava, os outros dos para a oposta. Depois pediram desculpa. 

O que posso esperar é que o peão que vejo a vir pela minha esquerda, se mantenha na sua direita. Mas isso algumas vezes não acontece. O que é alarmante.

Este comportamento observo-o diariamente tanto como peã como ciclista. Acho até que estas atitudes me enervam muito mais como pedestre. 

As pessoas podem estar até a andar em outra linha recta que não a tua, na direcção oposta. Mas assim que se cruzam contigo decidem "entortar" para o teu percurso ou subitamente parar na tua frente. Objectivo: baterem em ti. São ou não são como aves estúpidas?


Isto é particularmente fácil de observar nos centros comerciais. Noutro dia quase que não consegui sair de um sem esbarrar em pessoas que passavam. Estava apenas a uns metros da porta de saída. Linha recta. Nada a enganar. Contudo TRÊS pessoas vieram esbarrar em mim. 

Primeiro uma mulher, vinda de uma diagonal. Corta caminho e mete-se à minha frente. Ela viu-me, eu olhei para ela. Continuou o passo dela. Fui eu que tive de reduzir a passada subitamente para não esbarrar na mulher idiota que se atravessou no meu caminho. Que eu saiba as regras de trânsito aplicam-se também nos pedestres: Perde prioridade aquele que vai para entrar na "via rápida". Não se cruza o caminho de alguém que caminha recto num corredor principal. O que fez ela? Atravessou-se no caminho de todos. Esbarraria em mim se eu não tivesse diminuído a minha passada.

Porquê tive de ser eu, aquela que se compromete, se ela é que veio de uma diagonal? 

Depois desta aparece outra. Vinha a caminhar bem, afastada de mim. Subitamente aproxima-se e bate-me com a mala no ombro. Reviro os olhos e respiro fundo. "A porta da saída está quase a ser alcançada..." Nisto, um rapaz alto aparece. Também ele caminha numa direcção que não vem contra mim. Quando está quase a chegar perto, mete-se no meu caminho. Espontaneamente levanto o braço e aceno-lhe com a mão, dizendo: "Hello? I am here!" (Hei, eu estou aqui!). 

Foi só assim que evitei a terceira "colisão" de centro comercial. 
Os pedestres aqui nesta cidade no UK comportam-se como selvagens. 

Já reparei que o melhor a fazer é NÃO ESTABELECER CONTACTO VISUAL com ninguém no centro comercial. TODOS se desviam. Só assim consegui andar em linha recta. Assim que olhas para a pessoa, ela acha que tu tens de te desviar. Deve ser isso, porque vi todos estes que mencionei aproximarem-se e todos se meteram no meu caminho. Passo a vida a desviar-me dos outros e nenhum deles se desvia de mim. Não acho normal. Se caminho em linha recta, num corredor para esse fim, na direcção certa, porquê isso? As outras pessoas é que não sabem partilhar o espaço e parecem não entender as regras sociais básicas para caminhar em sentidos opostos sem virar um empecilho. Regras de tráfico tão simples. 

Quando não tenho um sítio para ir e estou só a "ver montras", caminhando sem pressa, então desvio-me das pessoas que estão a caminhar em linha recta. Simples, básico. Seria de esperar que todos pautassem seus comportamentos da mesma maneira, só que não.

Quando finalmente saí pela porta, contornei todos os obstáculos que são os que ali ficam parados a conversar ou a fumar e segui rumo directo até o macdonalds. À minha direita, uma mulher com uma criança caminhava no que parecia ser uma direcção direita ao centro da cidade. Vou a passar por eles com o meu ritmo de caminhada,  a mulher muda subitamente para o meu lado, querendo "fechar-me" a passagem. Acelero ainda mais o passo e não me desvio. Outra coisa que reparei é que, quem vem de uma diagonal, gosta de passar na tua frente ao invés de passar por trás. Que é o certo a fazer, para assim não obrigar a pessoa a ter de parar o passo. Aqui a maioria desconhece estas regras que se conhecem acho até que por instinto. 



Isso levou-me a perceber que muitas pessoas são como os pombos que encontro pelos passeios quando passo com a scooter. Burras, que se enfiam na frente ao invés de se desviarem.




domingo, 26 de janeiro de 2020

Footpath Rage - atravessar a estrada


Noutro dia decidi não atravessar a avenida entre um momento sem movimento automóvel, como habitualmente faço. Segui pelo passeio, até chegar aos primeiros semáforos. Acontece que esse cruzamento é TERRÍVEL, porque movimenta três sentidos. Os carros que querem virar à direita, ficam parados. Os que querem virar à esquerda, vêm todos acelerados para apanhar o sinal aberto e depois que este fecha, abre o sinal para os da direcção oposta virarem para ali. O peão... vê os carros parados, vê que os outros ainda não podem virar... tenta atravessar a estrada. Porque sabe-se lá quando o sistema diz que "acabou o tempo para aquele, aquele e aquele, e é a vez do pedestre passar".  

Muitas vezes, é até mais fácil para os próprios automobilistas deixarem o peão passar. Porque assim este não pressiona o botão dos semáforos, o que deixa a circulação automóvel fluída, sem forçar uma paragem. 


Mas aqui no UK isso não é percebido assim e os automobilistas comportam-se como a querer reclamar toda a estrada para si, por terem esse "direito". Se um peão ainda estiver a atravessar a estrada na passadeira quando o semáforo para carros ficar verde, leva com uma buzinadela e os automobilistas não hesitam em por o carro em movimento. Se um peão atravessa a estrada fora da passadeira numa via dupla, ou mesmo tripla, num momento sem carros e surge um automóvel, o mais provável é este ACELERAR e escolher dirigir na faixa perto do passeio, mesmo quando, ao fazer a curva, não era essa a direcção mantida. É intencional. Mal intencionado. Aqui usam este recurso para "reclamar" o "direito total ao espaço". É uma forma de comunicar ao peão que não aprova que atravesse a estrada ali. Isso e buzinar. Adoram buzinar!



Já em Portugal, se a pessoa atravessar a estrada fora da passadeira, o automobilista muitas vezes reduz a velocidade, ou, pelo menos, não a aumenta. Vê o peão à distância e não se põe a acelerar. Há uma espécie de "acordo" mudo, de cortesia e entendimento. 


O caso mais recente que me incomodou, foi nesse cruzamento. Só os carros à minha direita tinham sinal verde. E não vinha nenhum. Acontece que a pressa deles é tanta, que dar três passos sem aparecer um acelerado não pareceu possível. Percebendo isso, recuei até ao passeio e fiquei à espera. Com os dois pés bem assentes no passeio, um automóvel que estava longe quando recuei, DEPOIS de fazer a curva e passar por mim, BUZINA. O que vem atrás, decide fazer o mesmo. Para quê??  Não tinham espaço suficiente na estrada? Eu de pé no passeio incomodei-os? Não têm mais nada com que se preocupar, não têm de se concentrar na condução, querem ver? É mesmo necessário, vital, essencial buzinar aos ouvidos do pedestre??

Perdi logo a paz de espírito que transportava comigo. Qual é a necessidade que um «cu tremido» (que é como defino os não-caminhantes carro-dependentes que confortavelmente viajam sentados) tem de buzinar a um peão que já não está a tentar atravessar a estrada? 


Dá vontade sabem do quê?
De transportar uma buzina e pagar-lhes na mesma moeda para descobrir se gostam. Ia dar-lhes uma valente e sonora BUZINADELA que é para com o susto se espalharem com o carro e saberem como é bom! Teriam de andar a pé ou ainda melhor, de transportes públicos, para sentirem o que é bom para as manias de soberba.


Andar a pé... coisa que muitos desconhecem desde que tiraram a carta na juventude. Apanhar vento, chuva, sentir os pés a bater no asfalto que aqui no UK é tudo menos plano, sentir aquela dorzinha na base da coluna cada vez que se tem de pisar um piso tão cheio de altos e baixos. Sensações únicas.


Logo a seguir às buzinadelas, passa por mim um rapaz agarrado ao telemóvel, e, sem hesitar, atravessa a estrada, seguindo caminho. E eu refilo. Pois refilo! Olho para os carros parados no mesmo semáforo... Onde estão as buzinadelas agora? Eu no passeio e ele atravessou a estrada! Com um telemóvel na mão. Podia estar distraído, já eu, tomei a decisão consciente de recuar para o passeio, por estar até muito atenta às minhas chances de passar para o outro lado. Os carros parados não reclamaram porquê? É descriminação de género? LOL.  Mais uns passos à frente, depois de passar o cruzamento, tive de me desviar desse mesmo rapaz que, continuando a olhar para o telemóvel, tinha virado de direcção e claramente estava a procurar seguir as indicações de localização do Google Maps

Aprender a ter mais consideração pelo lado em maior desvantagem. É só isso que quero ver acontecer. Quero sentir que há pessoas educadas que, mesmo não concordando que o peão atravesse a estrada fora da passadeira, perceba que, por algum motivo, ele tomou essa decisão. E não lhes custa nada abrandar... ou simplesmente, manter o limite de velocidade. Já para o peão, parar consome segundos, mesmo minutos. Que estão contabilizados em passos, em mais ou menos tempo debaixo da chuva, neve ou frio, em vontade de ir ao WC, ou aquecer-se... No meu ver o que é pior, é a quebra do ritmo, que vai realçar o cansaço ou stress. Dali a três segundos, o carro e todas as pessoas que viajam nele já estão a metros de distância. Mas o pedestre continua a atravessar a estrada. 


Footpath Rage


Footpath Rage quer dizer "Raiva no Passeio".

Este é um tema que já quis abordar. Diz respeito ao equivalente do Road Rage (Fúria na Estrada) que descreve um comportamento de certos automobilistas que estão sempre zangados e a mandar vir, mostrando adoptar uma condução agressiva.

Eu sou peão. Peão profissional!
E como tal, tenho já uma certa tarimba. 
Aqui no UK não se diz sidewalk (isso é americano!), diz-se Footpath... então sofro, desde que cá cheguei, de footpath rage.




Enerva-me. Imediatamente. Posso estar super feliz mas basta uma coisinha relacionada com certos comportamentos tanto de outros peões, como de automobilistas, para me azedar o dia. 

Quando estive em Portugal até fiquei a sentir-me MARAVILHADA, porque todas as pessoas no metro posicionavam-se corretamente. E todas estão tão apressadas quanto eu! Mas não perdem a classe, a educação, a etiqueta. E, principalmente, não exibem a arrogância como se fosse um troféu. Sei que podem questionar-se mas, enquanto em Lisboa, todas as pessoas que encontrei no metro, sem excepção, pediram desculpa pelo mais ligeiro encontrão. Todas corriam para as escadas rolantes mas posicionando-se para ceder passagem a quem as quisesse subir... e pedindo desculpa quando não eram rápidas o suficiente! Foi uma lufada de ar fresco e familiar que acolhi com deleite.  
Ver a multidão com estes comportamentos quase que dá vontade de chorar, pela surpresa da falta diária que exemplos destes nos fazem. Nem tinha percepção do quanto em Lisboa as pessoas são bem educadas! 

Nesta parcóvia a algumas horas de Londres... Já vos conto!!

O Reino Unido abriu o seu primeiro supermercado somente depois da 2º GG
(12-01-1948) E vejam nesta imagem, já de início... nenhuma regra de circulação e comportamento!

SUPERMERCADO
Empurrava um carrinho, tenho pessoas paradas à direita a ver coisas numas prateleiras, então vou para o meio, já que quatro passos à esquerda, um casal acabou de se agachar até ao chão para espreitar algo na prateleira mais rasa. Uma mulher sem sacos, sem carrinho, bem vestida, com o cabelo solto e louro platinado, faz a curva e entra no mesmo corredor, atrás do casal agachado. Ao invés de ficar PARADA nesse lugar para me ceder passagem, pois já estou no meio do corredor com o carrinho em frente da barriga, desvia-se do casal, metendo-se à minha frente e pára. Fica ali parada, como se não tivesse acabado de se transformar num empecilho e eu tivesse de lhe ser grata. Há direita tenho pessoas, à esquerda tenho pessoas, ao meio, a bloquear-me a passagem, pôs-se ela. Demasiado "chique" para se desviar.  

Também fico parada. Uns segundos, a tentar perceber como sair dali... porque as pessoas aqui no Reino Unido não funcionam com regras de etiqueta que nós, portugueses, seguimos por instinto! Como por exemplo... não nos tornarmos um empecilho para a circulação dentro dos supermercados ou centros comerciais.

Só consegui sair do súbito cult-de-sac (a expressão usada aqui no UK para "beco sem saída", curiosamente, nada inglesa) quando um deles se moveu. Os da direita. Só então pude manobrar o carro para a direita para me desviar da tipa.

E a reacção dela quando a ultrapasso? 
Com um ar de desdém, como se tivesse razão de queixa, diz:
-"You are welcome!"  (Não tem de quê!)

Ainda queria que lhe agradecesse por se fazer de empecilho e forçar-me a ter de empurrar o carrinho aos zig-zags. 

É o tipo de comportamento estúpido que mexe com a minha tranquilidade interior!

Vocês talvez não saibam, mas aqui no UK os ingleses têm muito o hábito de insultar as pessoas de RUDES. E fazem-no, principalmente, com estas atitudes de desdém, dando a entender que a outra pessoa lhe deve um agradecimento ou pedido de desculpa. Para mim, exibir este tipo de atitude é o a própria definição de uma pessoa RUDE. Mas na cabecinha deles... acham que os outros é que são escumalha e eles estão correctíssimos.

Esta tipa pertencia, sem dúvida, a este grupo de gente.

Respondi-lhe logo: "Queria o quê? Que passasse por cima das pessoas agachadas no chão?".

Ela fingiu não ouvir, com aquele ar superior que os ingleses gostam de meter e provavelmente a desprezar-me pelo meu fraco inglês que, naquele momento, não saiu da melhor maneira. É que me enerva esta arrogância e petulância que a maioria exibe com vaidade e altivez. 

Mostram-se cheios de soberba, mas comportam-se em lugares públicos como se nunca tivessem sido apresentados a regras básicas de boa etiqueta. É que as ignoram totalmente. Nunca foram ensinados. Não tiveram aulas de boas-maneiras! E a culpa deve remeter para o tal Rei que rompeu com a Igreja Católica... porque em países onde o catalocismo durou mais tempo, regras de etiqueta e boa educação foram passadas de geração para geração. Dar prioridade aos mais velhos, ceder passagem à pessoa certa, não caminhar atrapalhando o caminho de outros, seguir numa direcção a direito e desocupar a outra para quem vem na direcção oposta...

Eles não se comportam assim. Não aqui onde moro, vos garanto. Vá lá, sabem conduzir carros e cumprir essas regras, porque o código de estrada está escrito. Como não há nada escrito a ensinar como se comportarem em supermercados, passeios, etc, têm comportamentos que lhes deixa expostos à sua ignorância, como se fossem selvagens que nunca foram apresentados à civilização moderna. 

O post já vai longo, por isso este assunto vai ser por partes. `
Ainda tenho de falar (claro), do que é ser peão no passeio. Ui! Aqui é ainda melhor!!!

Bom Domingo.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

FELIZ ANO NOVO!

Foi desta maneira que me cumprimentaram ontem, dia 2, quando regressei ao trabalho. Estranhei esse cumprimento, porque já não era dia 1 e a tarde estava a terminar.

Mas aparentemente deve ser costume dizer-se isto quando se vê a pessoa pela primeira vez, ainda que já não seja primeiro de Janeiro.


Este ano fiquei surpresa com este momento. Como de costume, não celebro nada. Era para estar a trabalhar, pelo que nem me ocorreu pensar no dia que era nem na importância que tem para certas pessoas. Esqueci que havia fogo de artifício, pessoas a celebrar... 


Foram os colegas da casa que o fizeram sobressair. Um convidou-me para juntar-me a ele e uns amigos que cá vinham para jantar. Quando chegou perto da hora, este teve de ir dormir por ir trabalhar cedo e o outro desejou-me um feliz ano, com um abraço e dois beijos no rosto.




O contraste com o que aconteceu no ano anterior veio à lembrança. Sinto NORMALIDADE a regressar ao quotidiano - embora não queira falar disso para não atrair outro tipo de energias. Gosto dos dois colegas mais recentes que cá entraram, embora ainda tenha receios. 

Só cá estiveram esses, os outros estavam fora. E sem a mais-velha, esta casa tem uma excelente energia. Falando na dita, chegou hoje. Ao contrário do que aconteceu comigo quando regressei das férias de Natal, aparentemente chegou para uma casa vazia. Ninguém cá estava para a acolher. Que foi o oposto do que veio a acontecer comigo. Quando cheguei, surpreendeu-me o calor humano que encontrei. Falaram comigo. Um agradeceu-me de imediato o presente que lhe deixei debaixo da árvore. Estavam dois amigos de um deles cá em casa, que já havia conhecido, todos conversámos entre si tendo como tema em comum umas obras que o senhorio precisou fazer na casa neste período de ausências. Estava tão receosa por temer a hostilidade e frieza habitual e acabou por ser um regresso para uma casa harmoniosa. Também um grande contraste com o ano passado

Na bagagem trouxe, mais uma vez, um bolo-de-rei. Contrastando com o que aconteceu no ano anterior, este foi elogiado, apreciado e «devorado». Não chegou ao novo-ano! Comeram-no com gosto e com gosto voltaram a comer no dia seguinte. Não foi como no ano anterior, em que o bolo-rei ficou intacto, nenhum dos italianos quis prová-lo, tive de o congelar. 

2020 parece vir a ser melhor.
Eu mereço!

Busquem a vossa felicidade e sejam felizes! Feliz 2020!!

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Hostilidade



Deixei um rabisco colorido a um canto no quadro a giz da cozinha. Tem lá estado há semanas. Escrevem-se mensagens, apagam-se, mas o rabisco colorido fica lá. Não faz mal a ninguém, não incomoda. Certo?

Pois hoje passei pelo quadro e vi que alguém riscou o rabisco não com um traço, mas com vários riscos. Talvez com fúria. Talvez não. A questão é: porquê? Porquê haveria alguém de se dar ao trabalho de pegar no pau de giz, transferir pó para os dedos, para riscar um inocente padrão colorido?

No meu íntimo sei que é um sinal de hostilidade. 


A jarra que encontrei no chão quando cheguei de férias - a única peça que me pertence que coloquei na sala, continuou no chão por uma semana. Quis entender se alguém a ia colocar de volta em cima da lareira. Não existiu aparente razão para ser removida. Não colocaram nada no seu lugar. Pareceu-me apenas que tinha sido retirada por malícia. Como se ao removê-la o proprietário pudesse ser afectado. 

Ao limpar a sala, tornei a colocar a jarra no sítio. Uma semana depois uma colega recebeu um cartão postal e decidiu colocá-lo bem ao lado da jarra. Na manhã seguinte remove a jarra para um canto, para colocar o postal no centro. A jarra ficou numa das bermas. Daqui a nada volta para o chão, estou a imaginar. Em sete dias, ela colocou mais três cartões. E estão todos ainda ali, em cima da prateleira, onde os deixou. Porque não existe malícia de parte de terceiros em removê-los do lugar. Penso que cartões de aniversário são artigos pessoais que se querem guardar a nível pessoal, pelo que têm um interesse para uma pessoa só. Não é como se fossem votos de feliz natal, que é algo que, mesmo personalizado, pode ser deixado exposto antes e durante a quadra natalícia. Por norma, numa casa partilhada, é o tipo de coisa que ocupa um lugar comum por pouco tempo, depois deve ser retirada e guardada com carinho. Até mesmo para não se estragar ou desaparecer. 

Mas isso é a minha forma de pensar. Se calhar estou errada. Tendo em conta o historial da casa - as porcarias deixadas por toda a sala por meses, se calhar os cartões de aniversário vão ficar ali até o ano seguinte.

O que eu percebi é que sentiu necessidade de os exibir. Como se para mostrar aos restantes que tem pessoas que a acarinham e gostam de si. Ela contou-me que tem muitos amigos por onde passou, grandes amigos. Vive cá há 12 anos, tem família a viver por perto, pelo que acreditei. E acredito. Contudo, perguntei-lhe se fazia anos quando trouxe do emprego um ramo de flores. Respondeu-me que o aniversário era no dia seguinte. Prontifiquei-me a meter umas velas num bolo que havia comprado e cantar os parabéns, já que também lhe havia perguntado se gostava de festejar os anos. Respondeu que sim, gostava, mas quando quis saber o que pretendia fazer, respondeu "nada". O que me surpreendeu. Então gosta de celebrar, tem tantos amigos, e não faz nada?!? Diz-me que não gosta de ter a casa vazia e liga a televisão para escutar vozes, por não gostar do silêncio, da falta de pessoas. Cada vez que alguém quer fazer uma festa aqui, ela parece-me muito satisfeita. Por estas razões, mais o ter tantos amigos e ser fim-de-semana, estranhei. Ela trabalha apenas durante a semana, tem o sábado e domingo livres. E era o seu aniversário. Podia ir visitar quem quisesse. Podia ir passear, sair, divertir-se. Esteve um sábado espetacular, com sol. Contudo, não o fez. Ficou o dia, a tarde e a noite na sala, sentada no sofá, com a televisão acesa em contínua programação e o telemóvel na mão. Que é o que sempre faz.

Que raio de aniversário escolheu ter! Para quem disse gostar de o celebrar, quero salientar.


Há coisas que não batem certo. Até neste simples facto constatei que, se os italianos estivessem cá naquele dia, o «seu» aniversário tinha sido diferente. Tinha tido festa e convidados. Mas como não estavam, ela não sai da rotina. Disse-me que não queria o bolo que lhe ofereci, que era mau ter um bolo que tinha decoração de halloween... Ora, eu não sabia que ela fazia anos, comprei aquele bolo para partilhar com quem mais o quisesse. Teria improvisado uma deliciosa celebração com gosto e sinceridade. Eramos só nós as duas na casa naquela ocasião, por mim fazia-se algo. Mas ela mostrou-se pouco receptiva e então recuei. Não ia impor a minha presença, se não parece ser essa a sua vontade. Dei-lhe espaço, para gozar o dia como desejasse. E desejou ficar a manhã, tarde e noite a ver televisão na sala. Quase lhe perguntei porquê não ia ao cinema, ou sugeri ir com ela almoçar fora, pelo menos, seria diferente. Mas não me intrometi. Como disse, deixei-a estar. Porém, para quem gostava de celebrar aniversários, teve um muito solitário.

O ramo de flores que os colegas de emprego lhe ofereceram, veio enfiado num saco com água. Assim as recebeu, assim as deixou na beira da mesa da sala de jantar, encostadas à parede. Nada de abrir e tirar as flores do plástico, nada de as compor e escolher um local para embelezar. Estão a murchar, a água nunca foi trocada, as flores parecem ter sido esquecidas naquele canto, onde nem se dá por elas, onde são desperdiçadas. Podia muito bem tê-las composto numa jarra e as colocado no centro da mesinha redonda, ao lado da poltrona, perto da porta que dá para o jardim. Ficariam tão bem! Dá um ar de cuidado, de atenção, até mesmo de apreço para com as flores recebidas Mas não. Ali as deixou, ali ficaram, ali vão ficar até as meter no lixo.

É esquisito. Ou há algo mais nisto, ou é o «sangue italiano» que é muito particular e os faz inclinarem-se mais para o convívio com outros italianos. Afinal, durante a 2ª GG, identificaram-se com os valores narcisistas e separatistas de Hitler. Se calhar não é à toa que gozam de uma reputação excessivamente nacionalista e conta-se que olham com maus olhos quem entrar no seu país e não saber falar a língua. Sei por facto, que olham com repulsa para as pizzas pré-fabricadas. Mesmo que a massa tenha sido feita fresca na loja, para eles, aquilo não é pizza e é sacrilégio levar uma à boca. Pizzas de verdade têm de ser feitas de raiz, com ingredientes específicos italianos de origem italiana e sem variações. Ananás na pizza? Nem fales disso, se queres manter uma relaçao com um deles.



 São todos muito "educados", com os "bons dias" e "olás". Mas é só isso. É frio e distante. Em todas as outras coisas que servem de sinais de aceitação, falham. Já dei exemplos: nunca convidarem para jantar, fazerem festas e trazerem pessoas cá para casa sem estenderem, pelo menos uma vez, um convite a ti ou sequer te comunicarem que vão receber pessoas. Recusarem todas as vezes que lhes ofereci comida ou disponibilizei mantimentos, não mostrarem interesse em ter uma conversa com algum conhecimento pessoal, etc, etc. 

São esses os "sinais" indicadores de que uma pessoa quer estar contigo e está aberta a te conhecer. Por exemplo, a "mais nova" faz isso. Ou melhor, fazemos. Posso ter uma conversa com ela, já trocamos informações pessoais. Aquela cuja presença eu mais temia por a saber amiga de outra na casa ao lado, onde mora a vizinha histérica, acabou por ser a mais normal. É amigável. As coisas fluem naturalmente, as reacções são naturais. Os italianos... não sei se é o "lote" que me calhou, mas... não mostram interesse em ti. Dizem os "bons dias" e pronto. Ficam-se por aí. E unem-se de uma maneira que não é bonita de ver. Uma das italianas nunca limpou a casa. Nem sequer uma vez. Seria de esperar que os próprios amigos a chamassem à atenção e reclamassem. Mas não. Ser italiano nesta casa parece ser um cartão de impunidade, como aquele "livre da prisão" do jogo monopólio.

No Domingo, sem nada dizerem como habitual, a mais velha recebeu na casa a ex-colega, a jovem mal-educada que cá viveu com o namorado. De quem eles não gostavam muito mas, como era o «escolhido» da compatriota, acabou aceite. Mas sempre com «pé atrás». Tanto que quando os dois sairam daqui para irem viver juntos, a mais "velha" vaticinou que a mal-educada ia arrepender-se, que ele ia "fazê-la sofrer". "Tem mais chances de ser o contrário" - pensei.

Dei conta de alguém entrar na sala por volta das 11 da manhã. Mas não fui logo espreitar quem era, não faz o meu género. Dei espaço, tempo, privacidade. Só não contava é que traçassem de imediato uma barreira. Porque o hábito de fecharem a porta da sala regressou assim que a outra se enfiou cá dentro. Até à meia-noite, mantiveram-se na sala, de porta fechada. Quando finalmente desci para me servir de algo na cozinha, cumprimentei-as (foi então que vi quem era) mas não puxei conversa, porque assim que me ouviram aproximar, pararam de conversar. Ficou um silêncio estranho, trocavam olhares mudos, como se a minha presença as incomodasse. Até podiam estar a falar de assuntos particulares, íntimos, desabafos. Tudo bem. Mas cá está: é a atitude como um todo.

Uma pessoa normal - a meu ver - quando é interrompida no meio de uma conversa privada, é capaz de cumprimetar outra, meter conversa de "chacha" e depois sabe que pode retornar ao assunto sério. Não podem esperar estar a dividir uma casa com terceiros e ocupar a sala por 13 horas, sem serem  interrompidas. Não é bonito. Deviam, segundo as minhas normas de boa educação, dizer: "Olha, portuguesinha, fulana X vem cá. Ou está cá em baixo. Vem dizer um olá. Vamos beber um chá, queres um também?".

Coisas assim. Normais.
Vocês não acham que isto é que é um comportamento normal? Educado, ao menos?

Eu tenho um palmo de testa... se percebo que querem ficar sozinhas na sala, não ia ficar ali a empatar. Quem empata são elas, que tomam o espaço para si, fechando a porta, já de si uma forma de fechar a entrada a terceiros. E quando te vêm chegar ficam a olhar para ti como se tivesses interrompido algo e a desejar que vás embora. Depois aparece o desenho no quadro a giz rabiscado...

É desnecessário.

Não existe convívio orgânico, paciência. Não vou morrer por isso, não vou embora daqui nem vou alterar o que tenho de bom. Vou continuar a dizer os bons dias e a perguntar como foram as suas férias (ninguém quis saber das minhas). Porque esse interesse é genuíno em mim. Não pretendo perder o que não está mal para ser perdido. Posso nao lhe dar o uso que esperava, mas não vai secar. Ao contrário: vou mostrar outra forma de reagir a uma situação e talvez esse exemplo seja seguido, talvez não, e prefiram ir rabiscar mais desenhos deixados por mim no quadro.

Porque vão estar rabiscos no quadro, sempre que me der vontade. Não vejo mal algum nisso.

Mas é factual e tem de se aprender a viver com as cartas que nos são dadas.
Podiam ser outras, podiam ser melhores mas também podiam ser bem piores.

Por mais que alguém nos diga que foram criados a convidar outros para partilharem as refeições à mesa, tem de se acreditar é no que se vê, não no que se ouve. Talvez tenham sido educados assim, esqueceram foi de estender o convite a não-italianos. Já os portugueses, foram criados a: " ♪ e se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente  ".

Esse alguém não tem de ser português.

" ♪ fica bem essa franqueza, fica bem. E o povo nunca a desmente ♪  ".
"♫   a alegria da pobreza, está na grande riqueza, de dar e ficar CONTENTE ♪  ".

Palavras tão certas.


terça-feira, 18 de setembro de 2018

A hospitalidade Portuguesa não tem igual


Costumava achar que era um MITO.


Não que achasse que era mentira. Sei que há fundamento para se dizer que o povo português é acolhedor e hospitaleiro. Mas também achava que, se calhar, estavam um pouco a puxar "a brasa à sardinha".

Afinal de contas, o povo português também é desconfiado. E cusco. E gosta de quadrilhar. Mas mesmo não simpatizando com a cara de alguém, mesmo incialmente desconfiado e curioso, o povo não nega ajuda. E sabem que mais? Descobri que somos, de facto, especiais

E se calhar merecemos, com todos os louros, o rótulo de povo "mais acolhedor da europa". O que sempre achei exagero e pouco justo com os muitos que não conheço.


Os que conheço melhor, são os italianos.
Os que partilham casa comigo.

E nesse aspecto posso garantir uma coisa:
Os italianos julgam-se muito correctos. Mas não são.


Uma coisa que o povo português faz é, na hora das refeições, se aparece alguém e há comida, é convidado a partilhar a mesa. Neste instante os três italianos desta casa estão à volta da mesa, a partilhar uma refeição, que não me foi oferecida, nem sequer por cortesia. Nem por cortesia, fui chamada a sentar junto deles, para conviver. Nenhum deles combinou a refeição juntos. Simplesmente quando um vai para a cozinha, os outros seguem e sempre sabem que a comida é comum entre eles. Funcionam como uma matilha de cães. Aqui a diferença entre o português e o italiano é abismal. Antes de um deles começar a preparar o jantar eu já tinha feito um que dava para quatro ou cinco pessoas. E ofereci. Queria partilhar a minha refeição, quem sabe ter companhia à mesa para trocar umas palavras e confraternizar um pouco.

Qual quê. 

Nenhum aceitou a minha oferta - como aliás nunca aceitam e tenho oferecido desde que cheguei à casa. Disseram-me que iam preparar uma sopa mas, depois, tiraram pasta, salsichas e batatas e foi isso que decidiram comer. Eu tinha feito esparguete à carbonara. 
Pasta, carne, molho de tomate, com tomate... algo que os italianos dizem adorar. Mas pelos vistos, adoram se for cozinhado por um italiano, com ingredientes italianos. Parece que tudo o que não é feito por eles é tratado com esnobismo.

E é por isso que digo que eles se julgam muito correctos mas não são. São até um tanto rudes. Mal educados - quando comparados às regras de convívio e boa educação que são transmitidas e praticadas por um português no seu conceito genérico. 

Eu estou sozinha neste país. Não tenho família, não tenho ninguém próximo que seja português como eu e por vezes caia bem poder ter uma conversa com alguém dentro da mesma casa. Tinha isso na outra - embora fossemos todos diferentes e cada um na sua vida, arranjava-se sempre umas horas de cavaqueira. E a conversa saia fluida, natural, sem esforço. Nesta casa não vou encontrar isso porque divido-a com italianos. São um povo muito centrado no próprio universo tricolor de verde, branco e vermelho. 

E vocês?
O que é que acham?
Que experiências tiveram e que opinião querem partilhar sobre o tema?

Sejam felizes!
Portuguesinha

domingo, 3 de junho de 2018

Um dia no trabalho - a da cadeira de rodas



Entre os muitos clientes que atendi hoje (uma média de 1000 por dia, se calhar) lembrei agora da pior de todas: a mulher na cadeira de rodas e o seu (presumido) marido. 

Assim que apareceu a rebolar já tinha ares de ser má peça. Mas não a julguei por isso. Surgiu a ser empurrada por ele. Ambos, sem pararem e sem me olharem. Ao passarem por mim, ela solta como se fosse um grunhido: "Southampton".


É uma das formas de não comunicar com civismo que não gosto. Se se busca informação de outra pessoa EU fui ensinada a abordá-la primeiro com um cumprimento. Usa-se o boa tarde, bom dia, se faz favor, desculpe, olá, e por aí fora. Não FALTAM recursos linguísticos à disposição - tanto em português como em inglês.

Faz-se a questão com um ponto de interrogação, mantendo o contacto visual e, no final, a despedida com o recurso a palavras como "Obrigada, bom dia, muito obrigado, adeus, Ok, excelente, entendido", etc, etc, etc.

Mas as pessoas são um mistério. Devo dizer que muitas limitam-se a grunhir uma palavra, não estabelecem contacto visual, nem sequer param de caminhar e ainda por cima esperam resposta imediata como uma bala, curta, convincente e satisfatória.

Há gente muito mal educada.

Mas também há as educadas. Que valem 1000 vezes mais. Muitos bem jovens. Muitos bem idosos. Uma geração pelo meio que anda ali entre o é e o não é...

Voltando à da cadeira de rodas, uma mulher nos seus 40, loura mal pintada, ar de destratável acompanhada de suposto marido de igual nível, pára por dois segundos a cadeira de rodas quando já tenho outro cliente para atender na minha frente. E fazendo com que eu tenha de girar o corpo para trás e o pescoço, pois já está pelas minhas costas, grunhe outra questão:
"Posso ir p'ra li (para a frente da fila) por 'tar na cadeira de rodas?"
Eu: -"Isso não sei, senhora. Tem..."

-"Não sabe! Pensei que fosse informação" - solta com extrema antipatia e cinismo o suposto marido, já a empurrar a cadeira e sem me deixar terminar.

Sou informação, mas não a que queriam!
Para essa tinham de se dirigir a outros e eu estava a ser cortes ao responder. Pois não pertencia à firma que ela queria. 

Ambos só pararam dois segundos - o tempo para quererem usar a cadeira de rodas para ter prioridade sobre todos os outros. Como se os que aguardam de pé não se cansassem mais que os que estão sentados. Detesto aproveitadores de fragilidades. Reconheço em pessoas que ali passam com verdadeiros problemas de locomoção mais simpatia e sofrimento que aquela mulher, sentada toda inclinada para a frente, como quem se senta numa cadeira que não usa com frequência. Para mim o mal deles estava na má educação e no oportunismo. 

Muito rude.
O comentário do homem foi dito com muito baixo nível. Foram o tempo todo rudes. Em toda a abordagem e linguagem oral e comportamental. Entristece-me que existam pessoas tão simplórias. No fundo estava estampado na presença deles. Outros colegas meus, tarimbados e borrifando-se, tinham fingido nem ver, nem ouvir.  

Resta-me explicar que não me cabia a mim dar resposta nem à primeira nem principalmente à segunda questão. Mas como tanta vez acontece, por trabalhar com informação geral, pensam que sei tudo. Sobre outras empresas inclusive. Só sei das minhas. 

A seguir uma menina muito jovem teve a paciência de lidar com a minha expressão de descontentamento e muito educadamente fez-me uma pergunta e agradeceu a resposta. 


sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Fui um Pulha - final


O homem continuou em pé e eu distraí-me a começar uma conversa com a senhora idosa que se sentou ao meu lado. 

Só tive tempo para perceber que, na fileira atrás, uma outra mulher se preparava para ceder o lugar ao senhor idoso. Ao que este volta a recusar, acrescentando:

- "Deixe-se estar. Eu não mereço. Sou um pulha. Se a menina soubesse o que fiz na vida não ia querer dar-me o lugar. Fui um pulha nesta vida. Não mereço sentar-me.".


A a rapariga, intimidada e surpreendida com aquele desabafo, contraiu-se de volta para o seu lugar, em profundo silêncio. 

NÃO FOI A PRIMEIRA VEZ QUE ESCUTEI ISTO.

Homens de uma certa idade, nos transportes, a recusar um lugar afirmando serem desmerecedores desse gesto de cortesia, por terem levado uma vida «desmerecedora», e se auto intitularem «canalhas» ou «pulhas».

O que acham disto?
O que faz homens assim?
É a educação e valores que receberam?
É o aproximar da hora do juízo final?

Mas é muito interessante, a franqueza e honestidade com que se assumem pecadores. Talvez arrependidos, ou temerosos devido à avançada idade e à aproximação do dia do julgamento. Ou talvez, se fossem jovens cheios de vitalidade, novamente voltariam a cometer acções que hoje, com mais discernimento, os fazem a seus olhos uns pulhas desmerecedores de certas cortesias.


quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Eu escrevo, que mal tem??


Eu sou de comunicar pela escrita. 
Nesta casa já me assumi como uma «escritora» de bilhetes.
Cada vez que precisei comunicar algo aos restantes moradores da casa, como é raro nos vermos, principalmente todos de uma vez, é comum escrever uma nota e deixar na cozinha.

Foi assim desde o início.

Por qualquer coisa que pretendia saber ou comunicar eu escrevia um (por vezes longo) bilhete e afixava na porta do frigorífico.


Foi o que fiz quando precisei avisar que acabou-se a luz e precisávamos colocar dinheiro. Foi o que fiz quando em Fevereiro me ausentei por uma semana - deixei bilhetinho a avisar que ia estar ausente. Foi o que fiz quando desejei FELIZ NATAL a todos, em Dezembro: escrevi email, enviei cartão postal, decorei a casa... Escrevi também bilhetinhos para qualquer coisa: principalmente para disponibilizar comida que de outro modo seria desperdiçada. Um bolo-rei, três pão em baguete, chocolate, iogurte, donuts, legumes e frutas congeladas, café acabado de moer, cerejas acabadas de colher...

ENFIM.

Eu escrevo bilhetes no intuito de comunicar. Não vejo nada de mais nisso. Até já deixei bilhete escrito quando não percebi porquê a máquina de lavar novinha não estava a ligar. E escrevi bilhete quando nos atrasamos nas limpezas da casa e pedi para apanharmos o ritmo porque vinha aí um novo inquilino. 
Há momentos porém, surpreendi-me com um pedaço de conversa que me pareceu escutar. Acontece que ontem, quando num raro momento em que me alimento nesta casa, fui até à cozinha preparar uma salada para comer, fi-lo em frente ao sítio onde há uma semana colocaram o comprovativo em papel de carregamento da eletricidade e gás. Já nem me lembrava disso. Ora, o «novo» inquilino às tantas entrou na cozinha (o que faz amiúde quando escuta pessoas lá) e às tantas ao ver o papel pergunto-lhe se já haviam dito à penúltima sobre o carregamento. É que ela não estava quando precisamos fazer o depósito, por a eletricidade ter chegado ao fim. Estava apenas a 50 centimos de ser cortada! O que significa que ela não entrou com a sua parte. Na altura os dois começaram logo a dizer que depois se pediria a parte dela quando chegasse. Só que ela já chegou faz uns dias e eu ainda não a vi. Já a ouvi, em conversa com ambos os dois. E por isso perguntei ao primeiro que me apareceu à frente se já haviam falado com a penúltima. 

Vai ele, que até foi o que meteu mais entraves e sugeriu que pagássemos menos que o habitual e a seguir cobrássemos pessoalmente 10 libras da penúltima pela parte que lhe competia, responde que «não quer meter-se nisso» e que «deixava para nós» por «não gostar dessas coisas». Ao que eu respondo »mas eu também não gosto!». No sentido de que ninguém gosta de cobrar dinheiro de outra pessoa... Ele sugere que se diga ao outro inquilino - o que está aqui há mais tempo, para o fazer. O que eu não entendo bem... porque não vi necessidade de «designar» uma pessoa em particular para a simples tarefa de dizer a um residente para dar a sua parte. Não é algo extraordinário. É de se esperar ter de se pagar contas, pelo que é uma comunicação esperada. 

Mas não pensei mais nisso e fui à «minha vidinha».
Vai daí decido ir às compras e ao descer para a cozinha, vejo o papel e lembro de deixar um bilhete. A verdade é que lembrei que ainda não sei fazer o carregamento para se ter eletricidade. E por esse motivo quando percebi que apenas se tinha 0.50 centimos, e estava sozinha na casa, pensei em ir imediatamente carregar algum só recorrendo a dinheiro meu. Mas como? Se ninguém me mostrou até hoje (não por falta de o pedir) como se faz??

Corremos o risco de ficar às escuras só porque apenas uma pessoa nesta casa «guarda o segredo» de como se faz o top-up (carregamento) das contas a pagar. Ocorreu-me então que se a penúltima desse a sua parte, como estou no meu dia de folga, era capaz de ser esta a tão aguardada oportunidade para finalmente saber como se faz o top-up. E essa simples e rápida lembrança fez-me escrever um simples e simpático bilhetinho.  


VAI QUE HÁ MOMENTOS oiço o mais novo inquilino abordar o mais velho e só escuto o seguinte: "é para deixar as coisas claras"... "não fui eu...." E o outro responde: "não faz mal, ela não estava em casa. O que importa é que temos eletricidade".

Lol.
Não é preciso muita inteligência para fazer a ligação do raciocínio. O «mais novo», com receio de o interpretarem na sua verdadeira natureza (na realidade está preocupado mas não quer passar essa imagem) tratou de «descartar-se» de qualquer autoria pela presença do bilhetinho.

Como se o bilhete tivesse algum conteúdo ilícito, ofensivo. 
Atribuindo ao mesmo essa conotação!!

E quem o escreveu? Eu...
A quem estava ele então a «passar a responsabilidade» desse «gesto ofensivo»?
A mim.

Fez-me sentir uma pessoa vil por estar a lembrar a uma pessoa que na sua ausência foi preciso pagar as contas da luz e gás! 


Não achei bem.
Não gostei mesmo nada.


(PS: sobre o novo inquilino já estive para vir aqui fazer uma actualização. Mas adiei por preferir dar destaque a outros temas que não estes domésticos. Por isso está em falta uma «actualização» e contextualização. Que agora é necessária para contextualizar o que por aí poder vir). 

sexta-feira, 10 de março de 2017

Uma questão de boa educação e cortesia


Já é a segunda vez que saio do trabalho à mesma hora que dois outros colegas e vamos todos apanhar o mesmo transporte. Acho rude o que acontece depois: os dois esperam um pelo outro para irem juntos e não têm a cortesia de esperar também por mim. 

Não é que faça muita questão das suas companhias, é porque considero o gesto feio. Seria incapaz de agir igual. 

Segundos antes falávamos entre todos, cantarolávamos a música que dava na rádio e trabalhamos juntos. No segundo seguinte não me conhecem.

São jovens. 
Mas isso não é desculpa.