Metereologia 24 h

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domingo, 26 de janeiro de 2020

Footpath Rage - desviando do passeio



Uma das situações que muito me incomoda no comportamento das pessoas aqui na "parcóvia perto de Londres", é a forma como se fazem de empecilhos nas situações mais desnecessárias. É que não tem explicação!!!

Preparem-se... isto vai ser terrível.


Caminho no passeio, em linha recta, não vem ninguém no sentido contrário. Nisto aparece uma pessoa no meu lado direito, o lado da estrada. O que eu faço? Imediatamente posiciono-me do outro lado, o lado de dentro. 

O que vocês esperariam do comportamento do rapaz que desceu do autocarro e começou a caminhar pelo passeio nessa linha de direcção? Eu esperaria que se mantivesse nele. Ainda por cima, tendo-me visto a desviar-me do seu percurso. Pois o que ele fez foi por-se a caminhar na minha direcção! Contra mim! Quando o nosso caminho cruzou-se, EU tive de me desviar. Eu, que até estava a subir e ele, a descer. Eu, que sou mulher e ele homem. Eu, que já lhe tinha desobstruído a passagem e ele é que se meteu na minha frente. 


Lamentando este tipo de comportamentos, fui eu que voltei a mudar de sentido, ultrapassei-o pela direita e voltei a posicionar-me à esquerda. Nisto olho para trás e vejo o rapaz a mudar NOVAMENTE para o lado exterior do passeio! Para atravessar a estrada. 

E eu pergunto: Porquêê?? 
Eu é que tive de o ultrapassar e ele logo a seguir a ser ultrapassado muda de faixa e passa para o lado que eu tinha deixado livre?? Se pretendia seguir por ali desde o início, porquê não foi ELE a ultrapassar-me? Porquê não se manteve nessa direcção que eu havia deixado livre? Poupava-me o incómodo de ter de mudar de faixa, duas vezes!! Ainda por cima vi-o a sair do autocarro...  vinha sentadinho, não estava cansado. Desceu o passeio com as mãos enfiadas nos bolsos das calças, forçando-me a mudar de rumo para com ele não colidir. E para quê? Se já pretendia seguir pelo caminho que lhe desobstruí, porquê, que raio, porquêêê não continuou a seguir por esse caminho que lhe deixei livre, porquêê se meteu no de colisão, porqueêê me obrigou a contorná-lo para imediatamente a seguir a forçar-me a isso, ele mudar de faixa? 

Raios parta esta gente que não tem nenhuma noção de como circular nos passeios e o que é pior: é ingrata. 


quarta-feira, 31 de julho de 2019

Não saber estar num autocarro


Cheguei à conclusão que aqui nesta cidade as pessoas que andam de autocarro são todas burras.
Calma! Não estou a ofender ninguém à toa. Então justifiquem lá isto: quando entram e os lugares sentados estão ocupados, ficam-se pelas portas traseiras. Ninguém sobe para a parte de trás, onde certamente vão vagar mais assentos na paragem seguinte. Eu se poder, fico por ali, porque além da possibilidade de me sentar ser mais elevada, é também o único lugar num autocarro por vezes lotado onde não se viaja apertado.

(estes ingleses são muito burros!)

Todo o cuzinho que entra no autocarro, acumula-se ali na porta traseira, entre o degrau para subir e o piso inferior, com a barriga e as malas enfiadas no sentido onde gostariam de ir, quase a meterem-se no "colo" do passageiro sentado na cadeira perto do degrau. 





Mas o que me enerva todos os dias é um hábito que todos aqui têm. Acho-o repulsivo. Tenho vontade de dar uma lição de civismo nestas pessoas. 

Então não é que assim que alguém desocupa um lugar, os que já viajam sentados correm para o apanhar? Falo, claro, dos lugares à janela... Podem vagar cinco e tu, que acabaste de entrar para sentar, não tens hipótese. Só vês vultos a mexer e subitamente os lugares vazios são todos à coxia. 


Para mim é um comportamento altamente condenável. De bom tom é, se já viajas sentado, deixas-te estar sentado. Ou trocas de lugar sim, mas não quando outros estão para se sentar, não quando estão passageiros a entrar com essa finalidade. Se o teu CU já viaja sentado, que direito pensas ter de especial para poder fazer "upgrade" do trono??


E tem outra... Quando está sol, o comportamento é oposto. Fogem dos lugares à janela e vão para a sombra na coxia. É ou não é repulsivo? Demonstração pura de egoísmo. 

Para não falar dos lugares reservados a idosos e deficientes. Em Lisboa, de vez em vez, ainda se vê o autocarro com gente em pé mas esses lugares continuam vazios. E as pessoas cedem sempre a quem de direito. Aqui sentam-se neles quem quiser. Jovens principalmente. Se aparecer alguém mais idoso, ninguém oferece o lugar. Esperam que o peçam e, na realidade, a menos que a pessoa venha a coxear ou use uma bengala, tornando assim a sua necessidade obvia, ninguém se move. 

Uma vez ofereci o meu lugar a um casal de pessoas enxutas, mas mais velhas, pois percebi que era-lhes difícil segurarem-se e equilibrarem-se com o movimento do veículo. Ela estava a amparar o homem. Ofereci e ela recusou. Logo de seguida duas pessoas ao meu lado largam o lugar e o casal senta-se e relaxa. Bem que podia ter aceite o meu lugar, não os estava a chamar de velhos por causa disso. O alívio e conforto que retornou aos seus rostos quando se sentaram foi obvio. E o casal que se levantou, se ia sair na paragem seguinte, também podia ter demonstrado a mesma atitude que eu. Mas não. Preferiram continuar a viajar sentados até o último minuto. O casal podia ter pedido os lugares reservados, mas também não o fazem. Só pessoas com bengalas ou a coxear são capazes, diante do obvio, solicitar ou esperar que o simples visualizar da sua situação faça com que esses lugares vaguem. Pessoas idosas, sem dificuldade de locomoção visível, parece que são orgulhosas demais para tal.

À entrada do autocarro estão dois lugares individuais isolados, um em cada lado, à semelhança do que acontece em Portugal. Um atrás da cadeira do motorista, outro do outro lado, idêntico. Noutro dia enervei-me em silêncio com o que vi. Viajava atrás e os lugares à minha frente estavam todos vazios. Vejo duas mulheres que conversavam sem parar, a entrar em primeiro lugar e percebo que, mesmo viajando juntas, vão cobiçar os lugares individuais. Dito e feito: A primeira a validade o passe sentou-se na cadeira individual e a outra fez o mesmo. Antes mesmo do terceiro passageiro passar, já o palrrear das duas, mais os movimentos dos braços, atrapalhavam quem queria passar. Cada uma delas virada para o centro, cada qual a falar mais alto para se escutar.

Não era mais civilizado não imporem a conversa privada a todo o autocarro e terem-se sentado uma ao lado da outra, num dos tantos lugares disponíveis? Claro que sim. Mas as pessoas aqui regem-se por um princípio de egoísmo que não entendo.

Outra coisa que aqui não se faz: não existe respeito pela ordem de chegada na paragem. Tanto pode entrar primeiro no veículo a pessoa que chegou naquele instante, como outra qualquer. A que estiver mais perto da porta, entra. Não há cá "direitos" civis não pronunciados mas seguidos, regras de etiqueta, de cortesia, de educação, que ditem que é de bom tom permitir que as pessoas que aguardam a chegada do veículo há mais tempo, entrem primeiro. 

Nada!
Aqui até se surpreendem comigo, quando digo à pessoa que estava à minha frente, para fazer o favor de entrar.


Conclusão: aqui as pessoas não sabem utilizar o autocarro. 
Não digo em toda a inglaterra, porque creio que no centro de Londres é diferente.
Mas nesta cidade da periferia... é como descrevi.



segunda-feira, 29 de abril de 2019

Trailer trash made in UK


Hoje o dia não começou bem.
Foi muito frustrante ir à marcação no Centro de Emprego. Não imaginam como é... como foi. Sentes que és uma nulidade. A preocupação contigo é zero. A ajuda, sub-zero. Sentei-me, disse que tinha perguntas para fazer, recebi como resposta: "nada de perguntas agora. Primeiro temos de seguir os procedimentos".

E os procedimentos foram:
"Diga-me o seu nome completo". 
"Data de Nascimento".
"Morada".
"Número de Contribuinte".

Cada vez que lá vou tenho de "confirmar a minha identidade" desta forma. É só isto que lhes interessa. Rigorosamente mais NADA. Escrevem no computador que compareci na data combinada, querem saber se estou a trabalhar e apressam-se a mandar-me embora. Não há "tempo para perguntas" porque já estão "atrasados para atender o próximo". Disse-me quem me atendeu, que "já tinha passado o meu tempo". Quis saber quanto tempo disponibilizam para o atendimento. Soube que eram 10 minutos por pessoa. Só que o PORMENOR dele me ter atendido 6 minutos depois da hora marcada foi conveniente deixado de lado. Não estava ali há mais de três. Logo fui "educadamente" convidada a sair. "We are finish. You can go".  

Era preciso registar no computador dados vitais sobre o meu part-time mas "o sistema estava em baixo". O que não acreditei. Com tanto apressar, para mim tratou-se de um pretexto para não prejudicar a sua média de atendimento elevado (mas ineficaz). Atirou para o próximo essa responsabilidade. Tive apenas tempo de informar que havia um dia que não podia comparecer à marcação. Perguntei se podia adiá-lo. 
- "Não. Tem de aparecer".
- "Mas não posso. Não vou aparecer. O que acontece se não puder comparecer?".
- "Tem até 5 dias para aparecer ou desaparece do registo. Convém aparecer no dia seguinte".
-"Não posso. Só no quarto dia". 
-"O que é que vocês fazem aqui para realmente ajudar alguém a arranjar emprego?"
-"Fale com o David da próxima vez que vier, ele é que é o seu working coach. Adeus.".
-"Ok. Obrigada".



Senti-me desmotivada. E fiquei com a sensação que os astros não estavam a conjugar as suas energias para que o meu dia corresse melhor. Decidi não ir a mais nenhum lugar e permanecer o resto do dia em casa. Tinha planeado passar por umas lojas mas decidi ir só a uma, pela urgência.  Não encontrei o que pretendia e de certa forma isso não me surpreendeu, tendo em conta a forma como o dia tinha começado. Saí da loja, esgotada, sem energias... precisei de me encostar e sentar no chão. Caminhar pareceu algo penoso e o percurso até casa leva um quarto de hora. Optei por apanhar o autocarro gratuito que ia aparecer dali a três minutos. Fico na fila a aguardar a vez... o autocarro chega, atrás de um outro, que leva o seu tempo a "despejar" passageiros. Quando me preparo para entrar no que estava atrás, verifico que já tinha partido. Habitualmente eles não fazem isso. Só partem após avançarem à frente. Mais uma vez... senti que era a energia dos astros que não estava boa para mim. Era urgente ir logo para casa. E não sair mais de lá.

Chegada, enfiei-me debaixo do chuveiro - algo que estava prestes a fazer antes de ter saído para o Centro de Emprego, quando dei conta que me enganara na hora da marcação e tinha de sair de imediato. 

Tomei o duche e preparei-me para um exílio caseiro. Precisei telefonar para uma instituição governamental a fim de esclarecer o tal "erro" do centro de emprego, e fui instruída a enviar uma carta ainda hoje para um certo endereço. (Vá lá, aqui foram simpáticos, prestativos, não me despacharam e tudo correu pelo melhor). Soube então que tinha de sair novamente de casa. Mas era para um bem maior. De banho tomado e tendo falado telefonicamente com uma pessoa decente, até senti que alguma energia pouco benéfica se tinha esvaído... Planeei na minha mente a forma mais prática e cómoda de fazer o procedimento e lá fui. 

Terminadas as burocracias (sim, porque não foi só enviar uma carta...esse foi o último passo), não fui ao supermercado no qual gosto de ir. Sabia que o correcto era regressar a casa. Pelo caminho entrei no MacDonalds, talvez comprasse um hamburguer. Mal entro, não sei se foi o cheiro, se foi outra coisa, começo a sentir-me indisposta. Meter algo no estômago naquele instante tornou-se inviável. 

Optei por seguir caminho direta a casa. Algures um sino eletrónico bateu palidamente as 17h. Não era o som do sino que gosto de escutar: o da minha igreja. Em frente, há uma igreja antiga - bastante antiga até, já que a parede da estrutura principal data do século XIII. É uma visão e um lugar que me faz sentir bem e me ameniza. Foi ali que fui quando estava a lidar com a tragédia de Pedrogão. Acolheram-me, sorriram, cantou-se, foram simpáticos. Foi um momento espiritual. Ali pedi uma reza pelas almas dos familiares que faleceram. Pouco depois disso e de outras formas de rezar, senti que estavam em paz. Talvez também por este motivo tenha ficado a simpatizar ainda mais com aquele pequeno edifício de uma torre e uma nave. 

Há outra igreja mesmo ao lado e nem dou por ela. Talvez devido a ter um portão, com cancela e sinais de proibição por toda a parte. Muito pouco "cristão".


Estava a rumar para ela. Para a "minha" igreja. Queria, precisava. A igreja fica entre passagens pedonais movimentadas. Enquanto seguia na sua direcção, tentava decidir por quais dos caminhos ia atravessar. Quase segui o mais comum e agradável, rodeado de arbustos e árvores. Mas estava muito movimentado e por isso optei por contornar a igreja pelo exterior, grata por poder apreciar as suas vistas, agora mais visíveis devido à sebe ter sido podada. Decidi tirar fotografias.

De todo o dia, aquele foi o instante que fez o negativo dissipar-se. Até o mal estar ao entrar no MacDonalds um minuto antes já tinha desaparecido. Estava serena, feliz por olhar a arquitectura da igreja. Ia fotografá-la e levá-la comigo para apreciar tranquilamente em casa. 

Sinto muita gente a passar atrás das costas e pensei comigo mesma que desejava que não houvesse tanto movimento. É desconfortável. Não permite ter alguma privacidade para tirar umas rápidas fotografias. Com tanto instante para passar, tinha de aparecer muita gente durante o meu impulso fotográfico?

Mas a linda visão da igreja dissipou este pensamento. Concentrei-me no acto, pois era impossível com a claridade, precisar se estava a enquadrar bem a igreja ou até se a imagem estava focada. Queria ser o mais rápida possível mas ser artística, encontrar um bom ângulo, que fizesse sobressair aquela beleza. Fui por tentativas. A expectativa de chegar a casa e ver como as imagens ficaram toda igual à expectativa daquele instante em que se regressava da loja fotográfica após levantar as revelações de um rolo fotográfico. 

Nisto sinto alguém passar de trás para a minha frente e uma voz feminina com sotaque britânico diz aquilo que mais me repugna escutar no Reino Unido:  
-"That's rude!".

Os britânicos desta terrinha fedorenta gostam muito de virarem-se para desconhecidos e acusarem-nos de terem qualquer comportamento "rude". 

Essa petulância quase me tira do sério. 
Rude é a atitude que acabaram de ter.

Olhei na direcção da voz e vejo uma jovem com ar de Trailer Trash


Foram os americanos que inventaram esta expressão "trailer trash". É um termo pejorativo que faz referência a pessoas de raça branca, pobres e que vivem em caravanas. Tenho percebido que encaixa em algumas pessoas desta cidade na perfeição. Estas jovens podem não viver em caravanas (eram duas, uma estava atrás de mim, e segurava um carrinho de bebé. Se havia uma criança dentro não percebi mas por essa possibilidade a "mãe" devia ter mais juízo). Inicialmente só dei conta da mais-gorda à minha frente. Ambas "encurralando-me" entre si. Sabia que devia ignorar, mas elas estavam a querer provocar. No meu instante de serenidade com o lugar. Acabei apenas por dizer que se tratava de uma linda igreja. "That is rude! Taking pictures!" - repete com altivez a gorducha. Rude, se elas quisessem saber, era tirar selfies de biquinho e postar no facebook - acrescentei, sabendo que o conceito dificilmente ia cair em terra fértil. Fiquei incomodada por não poder tirar rápidas fotografias em paz. E por elas terem conspurcado aquele momento de serenidade.  


A trailer trash mais-gorda, de chinelo, leggings e t-shirt justa, reforça o ataque:
-"Isso é rude! Tirar fotografias às campas! Esta não é a tua gente!".

As igrejas antigas têm campas. Não é nada de extraordinário. Toda a cidade as têm. Não é proibido fotografar nem sequer é proibido entrar e olhar. Muitos cemitérios hoje em dia - principalmente os antigos, disponibilizam visitas guiadas ou permitem que sejam uma via de passagem. Mesmo que fosse indelicado - que não é, existe respeito, pelo menos de minha parte. Estas campas que apareciam no espaço à volta da igreja tinham formas diferentes, letras totalmente esbatidas ou estavam parcialmente destruídas. Tenho muita curiosidade em saber de que ano datam, se contam as suas histórias... mas só uma vez me aproximei, sem ser muito evasiva. E depois, nessas mesmas campas vi eu, por muitos meses, uma tenda de campismo. Alguém estava a dormir no cemitério. 

Os mortos decerto não se incomodaram. E os responsáveis pela igreja pelos vistos permitiram. O que só reforça a boa energia que o lugar me deu. Vemos sem abrigos sentados por todas as ruas da cidade. Está a tornar-se desolador. Quando para cá vim há dois anos não haviam tantos. Essa visão é para mim algo bem rude e difícil de ver. 


Entre outras coisas, mandou-me foder a minha mãe, fez o movimento pélvico para trás e para a frente e mostrou-me o dedo do meio.

A rapariga a empurrar um carro de bebé ria-se, gargalhava. Mal virei as costas, também ela me chamou rude e ambas continuaram caminho mas na direcção oposta à que seguiam quando começaram o ataque verbal. Provavelmente satisfeitas consigo mesmas por terem conseguido provocar uma discussão com uma estranha. Não precisavam mais de ir para outro destino... já tinham despejado a verborreia toda.


Este lugar está cheio delas e deles. Trailer trash à moda do Reino-Unido. São um "cozinhado" onde a maioria é muito jovem, falam com um sotaque afectado, fervem em nenhuma água e cospem asneiras cada vez que abrem a boca. E o país ainda teme a entrada de estrangeiros... Por pior que sejam, ainda não encontrei UM que não viesse atrás de uma vida melhor e, mal ou bem, pronto a trabalhar para isso. 


Já para estes jovens na casa dos 20 anos, aqui nascidos, trabalhar parece uma palavra que os assusta e uma actividade que é para evitar ao máximo. Eles, pelos jardins e bares, envoltos em atividades ocultas, agrupados de forma suspeita. Elas já de bebé a xular os benefícios do governo, para os quais contribuem o salário dos estrangeiros. 

Roubos, crimes com faca, mortes e violações. Não são poucos os casos a acontecer nesta localidade. Isso me espanta, porque há coisa de três meses uma mulher foi violada no jardim local durante a manhã. E têm havido esfaqueamentos - entre este género de indivíduos trailer trash que cada vez mais habitam esta zona.

Não fosse pelos estrangeiros trabalhadores e alguns poucos bem educados e instruídos britânicos que imagino existirem a trabalhar em empresas de pessoas requintadas e por isso inacessíveis ao comum mortal, pouca coisa se aproveita do original que por cá anda.

Se é este o futuro do Reino Unido, tenho de emigrar novamente e rapidamente.

Mas para onde?

Isto tudo para concluir: a sensação estava certa. Hoje não era um dia para sair de casa.



quarta-feira, 6 de março de 2019

Humor e de-humor

O senhorio estava na sala quando desci para apagar o lume. Espantei-me ao vê-lo, porque fazia meses que não aparecia. O rapaz também estava na sala. Excepcionalmente, hoje é o primeiro dia em semanas que a casa não está em pavorosa. Geralmente apanha-se sempre muita fanfarra e muita gente na sala. O senhorio está a perder o sentido de inoportunidade... aparece nos curtos períodos em que nada se passa.


Mas isto tudo para dizer que senti-me feliz por ver alguém que me respondeu como deve de ser e com quem troquei uma curta conversa totalmente natural. Sentia saudades disso. 

Até mudou a minha disposição. Que estava muito em baixo.

Nisto o rapaz sai e eu continuo a lida na cozinha: decidi fazer uma sopa muito rapidamente. Aproveitar a reduzida afluência de pessoal no espaço, para cozinhar algo pela primeira vez em cerca de duas semanas. 

Quando estou a lavar o tacho, oiço a porta da rua abrir e alguém entrar. Por mim até podia ser o rapaz - que saiu se calhar por um curto período de tempo. Não escuto nenhum outro ruído, talvez a pessoa tenha subido. Mas nisto sinto alguém a aproximar-se, a passar atrás das minhas costas e algo é colocado no meu lado esquerdo. É que teve mesmo de "raspar" nas minhas costas. 

É a mais-nova. Entra e não cumprimenta
Estive quase para lhe perguntar:

-"Ouve lá, foi essa a educação que os teus pais te deram? Eu estou aqui, não me vês?? Entras e não cumprimentas quem cá está?" 

Mas não deu tempo, ainda estava com a água a tirar o detergente do tacho e ela pirou-se para o andar de cima. Enquanto estava a pensar nisto e estava de saída, tive um gesto impulsivo e escrevi no quadro "Eu existo". Bem debaixo da frase que ela apropriou de alguém, onde diz que "o dia de amanhã prepara-se hoje".

Pena que não entenda que se não planta cortesia, amanhã não a vai receber. 

Esta juventude que acabou de sair de um curso e começou a trabalhar, já está toda frustrada porque a vida não lhe corre como quer, porque não é rica e porque tem de gastar dinheiro...

Os pais são pastores. Deram liberdade de escolha à filha, mas esperam que ela siga alguns ensinamentos da igreja. Esperam, pelo menos, que ela a frequente aos Domingos. Por isso não quis chamar os pais para a conversa. Decerto que estes valores básicos estes lhe devem ter passado. Ela é que quis rebeliar-se e nisso, a fronteira entre rebelião e falta de educação ou gratidão ficou toda baralhada. 

Os pais nem sonham que a filha é toda de bebedeiras e presentemente anda com três homens ao mesmo tempo. 


terça-feira, 5 de março de 2019

E já está!


E pronto: disse.
Confrontei a situação.
Alguém tinha de mostrar a esta gente como se faz, pelos vistos nunca aprenderam regras básicas de etiqueta. (E ainda criticávamos a bobone... aprender etiqueta faz falta).


Estava na cozinha a lavar louça quando a visita entra. Não oiço nenhum cumprimento. Isto azeda-me de imediato o dia. Estava particularmente feliz por ter estado a banhar-me com o sol matinal antes de meter as mãos à loiça. 


Enquanto lavo olho para o lado vejo-a passar da dispensa para a sala. Quando termino com a louça vejo-a sentada na mesa, a ouvir algo no telemóvel e a tomar o pequeno-almoço.

Não aguentei. Era agora ou nunca.

-"Viste-me na cozinha quando entraste?"
-"Sim".
-"Então da próxima vez cumprimenta-me. Não suporto que não digam os bons-dias".
-"Estavas ali assim... por isso é que..." - diz ela pouco afetada com a situação.
-"Estava a lavar a louça."

O que era suposto fazer numa cozinha para merecer um cumprimento? - fiquei a pensar. 
Ficar ali parada, espetada, a olhar quem aparece?

Continuei caminho. Ia para o quarto. Mas a pesar de ter pedido para ser cumprimentada, ainda sentia um amargor na alma. Não quis parecer brusca mas... já me chega algumas pessoas que moram na casa. Têm esse péssimo hábito também. A falta de educação é algo muito contagioso, que se espalha rápido. Ás tantas nem eu estou tão imune de me tornar igual. E se continuar a engolir estes desaforos, provavelmente eles vão alterar-me como pessoa. Tantos já alteraram. (Fiquei idiota).

Depois de recolher a roupa que ia por a lavar, desci, passei pela rapariga, coloquei a roupa na máquina e voltei a dirigir-me a ela:

-"Outra coisa que devia ter sido feita: (e estendo-lhe o braço num cumprimento). 
-"O meu nome é Portuguesinha, e o teu?"
-"Chamo-me Emma".

Perguntei se estava tudo bem, disse-lhe que era bem vinda e desejei-lhe sorte. 

CUSTAVA muito terem feito isto no início?


PS: surprise, surprise: a miúda vai ficar a morar aqui muito mais que os sete dias que me foram ditos (!!) e ia ser sempre assim. Sem cumprimentar, mas a usufruir de tudo na maior. Conseguem imaginar ao que me estão a sujeitar? Tenho tantos problemas importantes para resolver - a falta de emprego, a busca por um melhor, a minha saúde... e estou a desgastar-me com isto.

Não dá. Decidi ser mais verbal. 

Ao escutar as nossas vozes o rapaz apressou-se a aparecer, com aquele olhar persecutor. Também entrou sem cumprimentar. (argh, nada muda). 

A parte da hóspede ficar cá sem a amiga e durante mais que sete dias foi CONVENIENTEMENTE excluída da conversa que a P teve comigo para me alertar para a chegada da estranha. Ela disse-me que ia receber uma amiga (mas para tal tinha de estar presente, caso contrário não está a receber ninguém) e esta ia cá ficar sete dias. Mencionou que a amiga já tinha encontrado uma casa para morar, só ela e uma outra. (deve ser a tal que daqui a uma hora já cá deve estar para almoçar). A P. não mencionou que ia estar fora, nas ilhas canárias... enquanto a estranha passeia-se pela casa, com uma amiga, sem dar cavaco aos que cá moram. 

Isto é com cada situação...
Interrogo-me se a juventude na casa dos 20 é toda assim. Será?

Não imagino a minha enteada a ficar na casa de uma amiga e não cumprimentar os seus familiares e amigos que lá estejam. Nem me passa pela cabeça. É totalmente inconcebível. 

Mas aqui acontece. Sempre.
Espero que este seja um gene defeituoso exclusivo de italianos!


ADENDA:
Hora do almoço: tal como previsto, as italianas duplicaram-se. Em vez de uma encontro duas na cozinha, em volta do forno e dos bicos do fogão. A minha conversa matinal surtiu efeito. Ao passar, escuto um ténue e tímido "Hei" da parte da convidada-da-convidada. Ao qual dou retorno.

De seguida lavo a caneca que me levou até ali e pergunto:
- "Ès tu a amiga que vai dividir casa com ela?"
- "Sim".

O rapaz, que está presente, subitamente diz-me que ele e a P vão de férias daqui a 10 dias.

Quando eles dizem-me algo voluntariamente, para quem lê o que aqui escrevo, sabe que é porque querem alguma coisa. O que é que ele queria?

Dizer-me que a convidada-da-convidada ia ficar a dormir no quarto dele nesses dias.

Lol!





sábado, 15 de dezembro de 2018

Os britânicos e o Fuck


Não sei se é da zona onde moro, mas quando oiço pessoas que vivem no UK dizer que acham os britânicos um povo muito civilizado... ah, eu não vejo assim.

Nesta cidade onde vivo os brits devem ser originários de uma low class. Classe trabalhadora, na sua maioria. Com pouca educação ou uma em que é OK mostrar irritabilidade e desatar com ofensas pelo mais pequeno motivo. 

Basta-me espreitar à janela que a maioria das situações que presenciei passam-se mesmo à frente da porta. Com tanto passeio ao longo da rua, é sempre frente à porta que se põem a discutir.

Ontem ouvi uns gritos e palavrões e lá fui espreitar. Ao que parece, por causa de um encontrão enquanto se cruzavam no passeio, quatro pessoas começaram a chamar nomes uns aos outros. O mais "animado", um homem mais jovem com ar de quem bebe e consome demais (segurava uma bebida na mão mas aqui é comum ver isso) ameaçou o mais velho - um homem com gorro e de barba longa, mais branca que grisalha que, sem levantar a voz mas usando uma linguagem de rua, ao invés de se afastar caminhou uns três ou quatro metros para confrontar o indivíduo (bad idea). 

A troca de palavras, o esbracejar, tudo continuou em exagero. Muitos, mas muitos FUCK foram pronunciados. Quando se afastaram, continuaram a maldizer-se à distância. O homem barbudo voltou de onde veio e foi aí que vi que estava acompanhado de uma mulher (assim como o mais novo). O rapaz que continuava o seu rol de Fucks virou-se novamente para trás em mais uma das suas queixas (aparentemente o rapaz transportava uma bicicleta e o problema começou aí) e a mulher, que devia estar quietinha, fez-lhe um manguito com os dedos da mão direita. O rapaz ficou mais chateado, começou a gritar "eu vi que me estendeste o dedo! Eu isto, eu aquilo..." O homem barbudo que caminhava, pára, volta-se para trás, e diz:
-"Eu não te mostrei o dedo, está a mentir".

E é assim que uma mulher pode destruir a vida de um homem. Ahahah.

O gesto podia ter causado uma fatalidade. Os dois já estavam a se afastar, o que ela fez foi uma estupidez desnecessária, estúpida e cobarde, foi deitar mais combustível na fogueira. 

Afastaram-se de vez e... durante mais cinco minutos continuou a ser possível escutar à distância os FUCK do rapaz. À vontade, pronunciou-os pelo menos 50 vezes. Vi-o depois a atravessar a rua, a empurrar uma bicicleta, acompanhado de uma mulher mais um outro casal. Ainda se escutavam os fuck.

Tudo gente cheia de classe, ahah!

Da janela do meu quarto já presenciei várias discussões. Não sei se é o espaço aberto para um carro poder aqui estacionar que proporciona-lhes a vontade, mas costumam estar a discutir pela rua inteira, acabam sempre por parar aqui para a parte mais "calorosa".

O que mais me decepciona são as discussões entre casais que têm crianças à volta. Numa ocasião o rapaz gritava com a mulher que empurrava um carrinho e haviam mais duas crianças junto. O rapaz estava a terminar com ela, acusando-a de andar com outro, beijou uma das crianças dizendo que o ia visitar depois e as outras... ou não eram dele ou se alguma era, ficou claro que só se interessava por uma. Tudo isto na frente das crianças, em público. Os gritos, as acusações de infidelidade, de tê-lo enganado para que ficasse com ela... 

Tudo à minha porta.

E hoje, enquanto caminhava sobre a chuva empurrando o meu trolley das compras, uma carrinha branca pára na estrada. Pressinto que espera que passe mas penso que é porque vai virar para uma entrada de parqueamento que estou no momento a passar. 

De imediato oiço buzinas e abafado pelos vidros, gritos assim: "Sai da merda da frente, sua cabra estúpida!".

E é assim...
Para mim os britânicos são isto.
Não vi diferente.

Se existem diferentes, não devem morar por aqui. E devem circular de carro, porque os que andam a pé (e em carrinhas brancas de empresas de construção ou em carros vermelhos, já agora) são uns mal educados do car... valho. Ou do Fuck, para ser britânica :)



sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Necessidades Fisiológicas de Eliminação - são barulhentos ou discretos?


Ok. Vou falar de uma coisa chamada necessidades fisiológicas de eliminação. Ou seja: urinar e defecar. Não se choquem, é algo natural no organismo humano. Nós é que as tornamos um pouco "tabu"...


O que quero saber é COMO se comportam no acto. Isto porque, todos temos de as fazer, mas a forma como as fazemos, pelo que pude perceber, tem variantes. Facto que se deve ao sermos seres racionais com inteligência, somos culturalmente educados para certas cortesias e cuidados. É por isso que, quero fazer este pequeno inquérito.

COMO AGEM QUANDO VÃO AO WC?


A casa-de-banho é um lugar com eco e.. certos sons entram no campo "privacidade". E se há sons do foro privado que não gosto de anunciar aos sete ventos são estes, os das necessidades fisiológicas de eliminação. Quando se usa o WC de casa e estamos sozinhos, provavelmente aí podemos escolher ser mais "selvagens". Mas não se deve ser mais educado quando num espaço público? 

Faço aqui um inquérito. Peço que sejam sinceros a respeito. Explico usando-me como exemplo:


WC Públicos:
Quando estou num WC público, muitas vezes oiço alguém barulhento entrar no cubículo ao lado e praticamente após o "bang" da porta oiço uma enxurrada de líquido barulhento (por vezes acompanhado de um som saído do nº2). Acho aquilo de mau tom. Quer dizer... todos nós estamos aflitos. Mas nem todos chegamos ali e libertamos o líquido dourado de forma selvagem. Dá para ele sair com cuidado, dá para direccionar para que caia na porcelana sem anunciar a sua libertação.




Isto vale para o um, para o dois... Quando a "buzina" é activada antes daquela coisa que não tem travões, a sonoridade também pode ser controlada. Se a controlamos no dia-a-dia quando no escritório, numa reunião, em grupo, nos transportes públicos... muitas vezes nem a deixamos sair, nem baixinho nem muda. Se temos esse controlo, porque alguns se livram dela e libertam-se "à selvagem"?

É que dá muito mau aspecto... desculpem lá.

Mais ainda quando vejo uma rapariga jovem e linda, toda maquilhada, a ir ao espelho verificar se cada fio de cabelo está no lugar, retocar o batom... quando um minuto antes deu um show de sonoridade fisiológica de libertação na retrete.

WC CASEIRO:
Quando não se está sozinho em casa, no meu entender, aplicam-se as mesmas regras. E no final, se necessário, borrifa-se um pouco de ambientador com cheiro ou abre-se uma janela. Que mau gosto fazer o outro cheirar o que anda a ser despejado ali ou escutar o que se passa na "privada". Os brasileiros deram-lhe esse nome por algum motivo. No caso das mulheres que muitas vezes usam pensinhos diários, até esse som do descolar acho que fica bem evitar. Afinal, as outras pessoas não têm de saber o que tens entre as cuecas :)

Aqui em casa oiço uma sinfonia completa quando as raparigas vão à privada. Sou forçada a perceber que "tocam" músicas diferentes das minhas. Fico até a pensar, no caso de uma em particular, se não terá alguma doença... para cada vez que lá vai ser tão sonora e tocar mais que um instrumento.

Estão a ver no que dá? Não manter a coisa no "privado"?
Imaginem que viram aquela miúda gira que vos dá tesão (agora tou toda abrasileirada) e escutam-na no WC numa sinfonia de "expulsão" daquelas... Bom, se calhar iam transferir os ruídos para outra necessidades fisiológicas. Mas a coisa pode não ter correspondência... Acho eu.

Ai, mas que porcaria de conversa esta!
Desculpem lá... quis falar do assunto, mas sem meter merda. :P


terça-feira, 13 de novembro de 2018

Hostilidade



Deixei um rabisco colorido a um canto no quadro a giz da cozinha. Tem lá estado há semanas. Escrevem-se mensagens, apagam-se, mas o rabisco colorido fica lá. Não faz mal a ninguém, não incomoda. Certo?

Pois hoje passei pelo quadro e vi que alguém riscou o rabisco não com um traço, mas com vários riscos. Talvez com fúria. Talvez não. A questão é: porquê? Porquê haveria alguém de se dar ao trabalho de pegar no pau de giz, transferir pó para os dedos, para riscar um inocente padrão colorido?

No meu íntimo sei que é um sinal de hostilidade. 


A jarra que encontrei no chão quando cheguei de férias - a única peça que me pertence que coloquei na sala, continuou no chão por uma semana. Quis entender se alguém a ia colocar de volta em cima da lareira. Não existiu aparente razão para ser removida. Não colocaram nada no seu lugar. Pareceu-me apenas que tinha sido retirada por malícia. Como se ao removê-la o proprietário pudesse ser afectado. 

Ao limpar a sala, tornei a colocar a jarra no sítio. Uma semana depois uma colega recebeu um cartão postal e decidiu colocá-lo bem ao lado da jarra. Na manhã seguinte remove a jarra para um canto, para colocar o postal no centro. A jarra ficou numa das bermas. Daqui a nada volta para o chão, estou a imaginar. Em sete dias, ela colocou mais três cartões. E estão todos ainda ali, em cima da prateleira, onde os deixou. Porque não existe malícia de parte de terceiros em removê-los do lugar. Penso que cartões de aniversário são artigos pessoais que se querem guardar a nível pessoal, pelo que têm um interesse para uma pessoa só. Não é como se fossem votos de feliz natal, que é algo que, mesmo personalizado, pode ser deixado exposto antes e durante a quadra natalícia. Por norma, numa casa partilhada, é o tipo de coisa que ocupa um lugar comum por pouco tempo, depois deve ser retirada e guardada com carinho. Até mesmo para não se estragar ou desaparecer. 

Mas isso é a minha forma de pensar. Se calhar estou errada. Tendo em conta o historial da casa - as porcarias deixadas por toda a sala por meses, se calhar os cartões de aniversário vão ficar ali até o ano seguinte.

O que eu percebi é que sentiu necessidade de os exibir. Como se para mostrar aos restantes que tem pessoas que a acarinham e gostam de si. Ela contou-me que tem muitos amigos por onde passou, grandes amigos. Vive cá há 12 anos, tem família a viver por perto, pelo que acreditei. E acredito. Contudo, perguntei-lhe se fazia anos quando trouxe do emprego um ramo de flores. Respondeu-me que o aniversário era no dia seguinte. Prontifiquei-me a meter umas velas num bolo que havia comprado e cantar os parabéns, já que também lhe havia perguntado se gostava de festejar os anos. Respondeu que sim, gostava, mas quando quis saber o que pretendia fazer, respondeu "nada". O que me surpreendeu. Então gosta de celebrar, tem tantos amigos, e não faz nada?!? Diz-me que não gosta de ter a casa vazia e liga a televisão para escutar vozes, por não gostar do silêncio, da falta de pessoas. Cada vez que alguém quer fazer uma festa aqui, ela parece-me muito satisfeita. Por estas razões, mais o ter tantos amigos e ser fim-de-semana, estranhei. Ela trabalha apenas durante a semana, tem o sábado e domingo livres. E era o seu aniversário. Podia ir visitar quem quisesse. Podia ir passear, sair, divertir-se. Esteve um sábado espetacular, com sol. Contudo, não o fez. Ficou o dia, a tarde e a noite na sala, sentada no sofá, com a televisão acesa em contínua programação e o telemóvel na mão. Que é o que sempre faz.

Que raio de aniversário escolheu ter! Para quem disse gostar de o celebrar, quero salientar.


Há coisas que não batem certo. Até neste simples facto constatei que, se os italianos estivessem cá naquele dia, o «seu» aniversário tinha sido diferente. Tinha tido festa e convidados. Mas como não estavam, ela não sai da rotina. Disse-me que não queria o bolo que lhe ofereci, que era mau ter um bolo que tinha decoração de halloween... Ora, eu não sabia que ela fazia anos, comprei aquele bolo para partilhar com quem mais o quisesse. Teria improvisado uma deliciosa celebração com gosto e sinceridade. Eramos só nós as duas na casa naquela ocasião, por mim fazia-se algo. Mas ela mostrou-se pouco receptiva e então recuei. Não ia impor a minha presença, se não parece ser essa a sua vontade. Dei-lhe espaço, para gozar o dia como desejasse. E desejou ficar a manhã, tarde e noite a ver televisão na sala. Quase lhe perguntei porquê não ia ao cinema, ou sugeri ir com ela almoçar fora, pelo menos, seria diferente. Mas não me intrometi. Como disse, deixei-a estar. Porém, para quem gostava de celebrar aniversários, teve um muito solitário.

O ramo de flores que os colegas de emprego lhe ofereceram, veio enfiado num saco com água. Assim as recebeu, assim as deixou na beira da mesa da sala de jantar, encostadas à parede. Nada de abrir e tirar as flores do plástico, nada de as compor e escolher um local para embelezar. Estão a murchar, a água nunca foi trocada, as flores parecem ter sido esquecidas naquele canto, onde nem se dá por elas, onde são desperdiçadas. Podia muito bem tê-las composto numa jarra e as colocado no centro da mesinha redonda, ao lado da poltrona, perto da porta que dá para o jardim. Ficariam tão bem! Dá um ar de cuidado, de atenção, até mesmo de apreço para com as flores recebidas Mas não. Ali as deixou, ali ficaram, ali vão ficar até as meter no lixo.

É esquisito. Ou há algo mais nisto, ou é o «sangue italiano» que é muito particular e os faz inclinarem-se mais para o convívio com outros italianos. Afinal, durante a 2ª GG, identificaram-se com os valores narcisistas e separatistas de Hitler. Se calhar não é à toa que gozam de uma reputação excessivamente nacionalista e conta-se que olham com maus olhos quem entrar no seu país e não saber falar a língua. Sei por facto, que olham com repulsa para as pizzas pré-fabricadas. Mesmo que a massa tenha sido feita fresca na loja, para eles, aquilo não é pizza e é sacrilégio levar uma à boca. Pizzas de verdade têm de ser feitas de raiz, com ingredientes específicos italianos de origem italiana e sem variações. Ananás na pizza? Nem fales disso, se queres manter uma relaçao com um deles.



 São todos muito "educados", com os "bons dias" e "olás". Mas é só isso. É frio e distante. Em todas as outras coisas que servem de sinais de aceitação, falham. Já dei exemplos: nunca convidarem para jantar, fazerem festas e trazerem pessoas cá para casa sem estenderem, pelo menos uma vez, um convite a ti ou sequer te comunicarem que vão receber pessoas. Recusarem todas as vezes que lhes ofereci comida ou disponibilizei mantimentos, não mostrarem interesse em ter uma conversa com algum conhecimento pessoal, etc, etc. 

São esses os "sinais" indicadores de que uma pessoa quer estar contigo e está aberta a te conhecer. Por exemplo, a "mais nova" faz isso. Ou melhor, fazemos. Posso ter uma conversa com ela, já trocamos informações pessoais. Aquela cuja presença eu mais temia por a saber amiga de outra na casa ao lado, onde mora a vizinha histérica, acabou por ser a mais normal. É amigável. As coisas fluem naturalmente, as reacções são naturais. Os italianos... não sei se é o "lote" que me calhou, mas... não mostram interesse em ti. Dizem os "bons dias" e pronto. Ficam-se por aí. E unem-se de uma maneira que não é bonita de ver. Uma das italianas nunca limpou a casa. Nem sequer uma vez. Seria de esperar que os próprios amigos a chamassem à atenção e reclamassem. Mas não. Ser italiano nesta casa parece ser um cartão de impunidade, como aquele "livre da prisão" do jogo monopólio.

No Domingo, sem nada dizerem como habitual, a mais velha recebeu na casa a ex-colega, a jovem mal-educada que cá viveu com o namorado. De quem eles não gostavam muito mas, como era o «escolhido» da compatriota, acabou aceite. Mas sempre com «pé atrás». Tanto que quando os dois sairam daqui para irem viver juntos, a mais "velha" vaticinou que a mal-educada ia arrepender-se, que ele ia "fazê-la sofrer". "Tem mais chances de ser o contrário" - pensei.

Dei conta de alguém entrar na sala por volta das 11 da manhã. Mas não fui logo espreitar quem era, não faz o meu género. Dei espaço, tempo, privacidade. Só não contava é que traçassem de imediato uma barreira. Porque o hábito de fecharem a porta da sala regressou assim que a outra se enfiou cá dentro. Até à meia-noite, mantiveram-se na sala, de porta fechada. Quando finalmente desci para me servir de algo na cozinha, cumprimentei-as (foi então que vi quem era) mas não puxei conversa, porque assim que me ouviram aproximar, pararam de conversar. Ficou um silêncio estranho, trocavam olhares mudos, como se a minha presença as incomodasse. Até podiam estar a falar de assuntos particulares, íntimos, desabafos. Tudo bem. Mas cá está: é a atitude como um todo.

Uma pessoa normal - a meu ver - quando é interrompida no meio de uma conversa privada, é capaz de cumprimetar outra, meter conversa de "chacha" e depois sabe que pode retornar ao assunto sério. Não podem esperar estar a dividir uma casa com terceiros e ocupar a sala por 13 horas, sem serem  interrompidas. Não é bonito. Deviam, segundo as minhas normas de boa educação, dizer: "Olha, portuguesinha, fulana X vem cá. Ou está cá em baixo. Vem dizer um olá. Vamos beber um chá, queres um também?".

Coisas assim. Normais.
Vocês não acham que isto é que é um comportamento normal? Educado, ao menos?

Eu tenho um palmo de testa... se percebo que querem ficar sozinhas na sala, não ia ficar ali a empatar. Quem empata são elas, que tomam o espaço para si, fechando a porta, já de si uma forma de fechar a entrada a terceiros. E quando te vêm chegar ficam a olhar para ti como se tivesses interrompido algo e a desejar que vás embora. Depois aparece o desenho no quadro a giz rabiscado...

É desnecessário.

Não existe convívio orgânico, paciência. Não vou morrer por isso, não vou embora daqui nem vou alterar o que tenho de bom. Vou continuar a dizer os bons dias e a perguntar como foram as suas férias (ninguém quis saber das minhas). Porque esse interesse é genuíno em mim. Não pretendo perder o que não está mal para ser perdido. Posso nao lhe dar o uso que esperava, mas não vai secar. Ao contrário: vou mostrar outra forma de reagir a uma situação e talvez esse exemplo seja seguido, talvez não, e prefiram ir rabiscar mais desenhos deixados por mim no quadro.

Porque vão estar rabiscos no quadro, sempre que me der vontade. Não vejo mal algum nisso.

Mas é factual e tem de se aprender a viver com as cartas que nos são dadas.
Podiam ser outras, podiam ser melhores mas também podiam ser bem piores.

Por mais que alguém nos diga que foram criados a convidar outros para partilharem as refeições à mesa, tem de se acreditar é no que se vê, não no que se ouve. Talvez tenham sido educados assim, esqueceram foi de estender o convite a não-italianos. Já os portugueses, foram criados a: " ♪ e se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente  ".

Esse alguém não tem de ser português.

" ♪ fica bem essa franqueza, fica bem. E o povo nunca a desmente ♪  ".
"♫   a alegria da pobreza, está na grande riqueza, de dar e ficar CONTENTE ♪  ".

Palavras tão certas.


domingo, 3 de junho de 2018

Um dia no trabalho - a da cadeira de rodas



Entre os muitos clientes que atendi hoje (uma média de 1000 por dia, se calhar) lembrei agora da pior de todas: a mulher na cadeira de rodas e o seu (presumido) marido. 

Assim que apareceu a rebolar já tinha ares de ser má peça. Mas não a julguei por isso. Surgiu a ser empurrada por ele. Ambos, sem pararem e sem me olharem. Ao passarem por mim, ela solta como se fosse um grunhido: "Southampton".


É uma das formas de não comunicar com civismo que não gosto. Se se busca informação de outra pessoa EU fui ensinada a abordá-la primeiro com um cumprimento. Usa-se o boa tarde, bom dia, se faz favor, desculpe, olá, e por aí fora. Não FALTAM recursos linguísticos à disposição - tanto em português como em inglês.

Faz-se a questão com um ponto de interrogação, mantendo o contacto visual e, no final, a despedida com o recurso a palavras como "Obrigada, bom dia, muito obrigado, adeus, Ok, excelente, entendido", etc, etc, etc.

Mas as pessoas são um mistério. Devo dizer que muitas limitam-se a grunhir uma palavra, não estabelecem contacto visual, nem sequer param de caminhar e ainda por cima esperam resposta imediata como uma bala, curta, convincente e satisfatória.

Há gente muito mal educada.

Mas também há as educadas. Que valem 1000 vezes mais. Muitos bem jovens. Muitos bem idosos. Uma geração pelo meio que anda ali entre o é e o não é...

Voltando à da cadeira de rodas, uma mulher nos seus 40, loura mal pintada, ar de destratável acompanhada de suposto marido de igual nível, pára por dois segundos a cadeira de rodas quando já tenho outro cliente para atender na minha frente. E fazendo com que eu tenha de girar o corpo para trás e o pescoço, pois já está pelas minhas costas, grunhe outra questão:
"Posso ir p'ra li (para a frente da fila) por 'tar na cadeira de rodas?"
Eu: -"Isso não sei, senhora. Tem..."

-"Não sabe! Pensei que fosse informação" - solta com extrema antipatia e cinismo o suposto marido, já a empurrar a cadeira e sem me deixar terminar.

Sou informação, mas não a que queriam!
Para essa tinham de se dirigir a outros e eu estava a ser cortes ao responder. Pois não pertencia à firma que ela queria. 

Ambos só pararam dois segundos - o tempo para quererem usar a cadeira de rodas para ter prioridade sobre todos os outros. Como se os que aguardam de pé não se cansassem mais que os que estão sentados. Detesto aproveitadores de fragilidades. Reconheço em pessoas que ali passam com verdadeiros problemas de locomoção mais simpatia e sofrimento que aquela mulher, sentada toda inclinada para a frente, como quem se senta numa cadeira que não usa com frequência. Para mim o mal deles estava na má educação e no oportunismo. 

Muito rude.
O comentário do homem foi dito com muito baixo nível. Foram o tempo todo rudes. Em toda a abordagem e linguagem oral e comportamental. Entristece-me que existam pessoas tão simplórias. No fundo estava estampado na presença deles. Outros colegas meus, tarimbados e borrifando-se, tinham fingido nem ver, nem ouvir.  

Resta-me explicar que não me cabia a mim dar resposta nem à primeira nem principalmente à segunda questão. Mas como tanta vez acontece, por trabalhar com informação geral, pensam que sei tudo. Sobre outras empresas inclusive. Só sei das minhas. 

A seguir uma menina muito jovem teve a paciência de lidar com a minha expressão de descontentamento e muito educadamente fez-me uma pergunta e agradeceu a resposta. 


terça-feira, 21 de novembro de 2017

Fui um pulha - 2

Como contei, tinha acabado de me sentar no transporte público, grata e aliviada por ter conseguido lugar, quando entrou um senhor idoso, que de início nem vi.

A rapariga à minha frente inicia o movimento para se levantar e lhe ceder o lugar. É aí que dou conta da presença do homem, porque este diz-lhe para se deixar estar. Não precisa que lhe ceda o lugar de propósito, só aceitaria se ela fosse sair na próxima. A rapariga deixa-se, então, estar. E eu estou quase para fazer o mesmo que ela, levantar-me e insistir para que o senhor tome o meu lugar, quando dou conta do meu cansaço mas, também, do jovem rapaz que está sentado à minha frente.

Erámos todas mulheres naqueles quatro bancos. Excepto ele. 

Não é a primeira vez, nem a segunda. Provavelmente nem a vigésima mas é recorrente. O simples conceito disto desilude-me mas é uma realidade que consto facilmente nos transportes públicos: quando alguém vai para se levantar do lugar para ceder o espaço a uma pessoa com mais idade, essa pessoa NUNCA É UM HOMEM. 

Está sempre a acontecer: entram pessoas a quem é suposto ceder o lugar por terem prioridade - grávidas, pessoas com crianças, idosos ou pessoas portadoras de bengalas ou deficiência e NADA de um mancebo que está mesmo ali se levantar. 

São quase sempre as mulheres que cedem lugar, mesmo quando sentadas ao lado de jovens rapazes.

Mas o que é que se passa com o «cavalheirismo», morreu de vez?
Se temos noção de que devemos ceder o lugar, então também sabemos como deve funcionar as prioridades. Também se sabe que fica bem a um homem que viaja sentado ceder o lugar a uma senhora que está em pé. Porquê? Pelo mesmo princípio pelo qual o cedemos a idosos, crianças e pessoas de fraca mobilidade! 

Mas já não se faz isso nem com idosos, como deu para perceber. O rapaz ali sentado nem se mexeu. Estar rodeado de três mulheres, uma prestes a ceder o lugar a um homem idoso, não o sensibilizou para o seu «dever». Aceito, um pouco com maus olhos, que um jovem aparentemente saudável na flor da idade e cheio de vitalidade, acabe por não ceder o seu lugar a uma mulher que, aparentemente, não tem nenhum problema. Pode viajar em pé, simplesmente é mulher e provavelmente está mais cansada ou carrega mais sacos e malas... Mas um jovem rapaz, saudável, capaz de sair dali a correr e subir todos os degraus da escadaria aos pulos, saltando dois em dois...

Fica mal. 

Ainda na véspera, fui eu que cedi lugar a uma senhora que entrou no eletrico (daqueles antigos) com uma criança pela mão. Ainda aguardei uns segundos a ver se o homem ao meu lado ia ter esse gesto de cortesia. Ou qualquer outra pessoa ali, realmente. Mas NINGUÉM reagiu e eu não esperei mais tempo e perguntei à senhora se queria sentar a criança no meu lugar. Ela nem me ouve há primeira, distraída que está a tentar certificar-se que paga a viagem e a criança está junto dela. Pelo que tenho de repetir para que me oiça e para que seja ela a ficar com o lugar, e não outro que vem atrás. 

Nestes preciosos segundos, o homem ao meu lado não tomou a iniciativa, nem nenhum outro naquele eletrico. Não cedem o lugar a mulheres, a idosos nem a crianças. De facto a MULHER tem muita mais sensibilidade. Muitos homens parecem ser uns insensíveis. Até que um dia, sejam eles a precisar de lugar.

E quem é que lhos vai ceder?
As mulheres. 

sexta-feira, 31 de março de 2017

cansada dos «foda-se caralho»


O meu espírito está a sentir falta de trabalhar num ambiente mais requintado. 

Não sou nem nunca fui uma pessoa de fazer distinções entre as outras. A prova é que tanto trabalho com uns, quanto com outros, sem me lamentar constantemente e sem me vangloriar para uns e outros dos feitos do passado ou das conquistas de vida. Lá porque sinto falta de um outro tipo de ambiente, isso não me faz pedante - caso alguns já estejam a pressupor esse defeito.

Trabalho rodeada de todo o género de pessoas - o que adoro. Em comum temos o facto de sermos  todos emigrantes e de nos sujeitar-mos aos empregos com mais procura - os não qualificados. 

Mas depois existem, aqui e ali, algumas diferenças. A maioria daqueles que me cercam têm pouca instrução. Ninguém ali estudou até obter um curso superior, muitos nem chegaram a completar o 7º ano. 


Sempre admirei pessoas mais velhas que, não tendo tido a chance de se instruírem, não deixavam por isso de possuir sabedoria de vida, que sabiam usar como ninguém. Mesmo pouco instruídas, auto-instruíram-se da melhor maneira possível. Essa constatação precoce fez com que não desse grande importância à instrução de cada um. 

Portanto, não será, decerto, a falta de instrução que me abala. O que mais me incomoda é quando, aliado a esse detalhe vem uma certa falta de educação e maldade de pessoa que gosta de prejudicar os outros como modo de vida. 

As tais pessoas pouco instruídas que mencionei admirar, podiam não ter frequentado a escola, mas não deixaram de ser criadas com valores. Receberam educação, conceito de boas maneiras, de responsabilidade, de consequências dos seus actos. Noções de ajuda ao próximo, de solidariedade, de luta. 

Mas estas a quem estou a tentar fazer referência não fazem parte da mesma estirpe. É outro tipo de falta de instrução. Diria até que esta é um detalhe que palidamente têm em comum, porque o que mais carenciam é exatamente dos valores, da educação. 


Se antes a escolaridade não estava ao alcance dos pobres, hoje ela está. E tornou-se obrigatória, a pretexto de se combater a desanalfabetização. Mas nunca antes como agora existiram tantos jovens a fazer pouco caso dela. Algo que já me incomodava constatar aquando andava nos bancos de escola. Como tantos se queixavam, se lamentavam, se auto-prejudicavam, repetindo a ladaínha de que os estudos «não serviam para nada», queriam era trabalhar para «ganhar dinheiro» e que estudar era uma «perda de tempo». 

Portanto, muitos daqueles que não têm instrução devem esse facto não tanto às más condições de vida, quanto à própria pouca vontade de se instruírem. Depois crescem, trabalham e lamentam-se. Alguns, os de boa índole, não se tornam vingativos e maliciosos. Aceitam os limões da vida e fazem limonada. Outros, procuram somente atirar os limões para o quintal dos outros. 

Bom, mas tudo isto para desabafar que estou cansada de trabalhar num ambiente onde todas as frases que certas pessoas dizem incluem a expressão «foda-se caralho». Sim, estou no UK mas trabalho com alguns portugueses e até os ingleses, por sua vez, só querem aprender palavrões em Português. Então, quando se reúne uma certa equipa, passam-se os dias de trabalho inteiros a escutar palavrões. Nove horas de trabalho sempre com os «foda-se caralho» a soar nos ouvidos. Quer se goste, quer não. 

E é essa «pobreza» que o meu espírito lamenta. 
Ele sente falta de um contra-balanço. 


Já noutra ocasião no passado, senti a mesma falta. Posso até dizer que estava totalmente deslocada daquele ambiente. Trabalhava em portugal, mas com muitos emigrantes ou descendentes, na sua maioria cabo verdianos ou angolanos. Ou seja, pessoas que, tal como eu, foram para outro país à procura de melhor condições de vida. Porém, pouco instruídas. Mais uma vez, o problema não estava tanto aí tanto quanto estava na má educação. Não de todos porque, felizmente, existem sempre excepções. Mas uma maioria também só sabia estar no ambiente de trabalho a perseguir os outros, a ter como objectivo o confronto, o destrato... enfim. Uma total falta de educação, uma carência de instrução, porque só esta, tanta vez, nos faz perceber a outra...

Quando terminei nesse emprego decidi meter-me noutra coisa totalmente diferente. E de uma «fábrica» passei para um escritório de uma multinacional. Bem, o que dizer? Acabaram-se os palavrões. Se fossem ditos, estavam contextualizados e justificados. Não eram gratuitos. E até hoje recordo com saudade que uma das circunstâncias que mais me agradou - os homens a dar prioridade às senhoras na altura de entrar no elevador. Ver as pessoas a cumprimentarem-se educadamente, os homens a dar prioridade às senhoras ao se aproximarem de portas, o segurarem a dita para que estas pudessem passar. Estes pequenos gestos de cortesia e boa educação. Que eu tenho, mas não recebo. Estava então tão precisada de os ter à minha volta! 



segunda-feira, 13 de março de 2017

A lua com inveja do Sol?


Hoje é noite de lua-cheia.
Reparei nela enquanto caminhava para casa. A lua estava mesmo por cima da habitação, como que a querer incidir a sua magia sobre ela.

Espero que não tenha sido a eminente presença da lua a responsável por a situação desagradável pela qual passei 12 horas antes. Passavam poucos minutos do meio-dia. Saí do quarto, vi a porta do banheiro fechada e decidi que era uma boa ideia abri-la, para que o sol que entra só por aquela janela, pudesse entrar pela casa a dentro e «inundar» o corredor e as divisões abertas da casa com a sua luminosidade natural.


Terá a lua tido inveja do sol?



Porque o que aconteceu no momento exato em que rodei a maçaneta da porta do banheiro, foi escutar do outro lado, até então emergido em silêncio, uma voz masculina dizendo:


-O que é que tu queres? Queres que te foda, não é? Deve ser isso. Tás com vontade de ser fodida!

Qual o meu espanto em perceber que existia alguém... Mas o espanto maior foi o que julguei ter escutado. Teria sido um equívoco dos meus ouvidos??

Não foi. Ao invés de deixar passar em branco, recuei uns passos e perguntei a quem se encontrava do lado de dentro da porta:
-O que foi que disseste?

-Disse se queres que te foda!
- És rude! - GRITEI.

Fiz questão de demonstrar em voz alta o meu descontentamento. Era o mínimo que o indivíduo merecia escutar. 

Quem me lê com mais regularidade já deve adivinhar que o indivíduo é uma referência ao colega de casa que, em Dezembro passado, destratou-me verbalmente e com agressividade só porque lhe pedi educadamente que evitasse ter o som do seu quarto alto durante a madrugada. Pois três meses exatos se passaram e eu não fiz mais nada senão evitar o indivíduo. Eis que na primeiríssima ocasião em que o caminho dos dois volta a cruzar-se, a sua hostilidade não diminuiu. Ao contrário, parece ter aumentado e escalado para a vulgaridade extremamente ofensiva.

Perante isto, acho que não terei outra alternativa senão tentar mudar de casa. O que ainda só não fiz por não ser tão fácil encontrar a situação ideal. Só que agora, terá mesmo de ser! E que tenha muita sorte com o que vier a seguir. Mereço.


sexta-feira, 10 de março de 2017

Uma questão de boa educação e cortesia


Já é a segunda vez que saio do trabalho à mesma hora que dois outros colegas e vamos todos apanhar o mesmo transporte. Acho rude o que acontece depois: os dois esperam um pelo outro para irem juntos e não têm a cortesia de esperar também por mim. 

Não é que faça muita questão das suas companhias, é porque considero o gesto feio. Seria incapaz de agir igual. 

Segundos antes falávamos entre todos, cantarolávamos a música que dava na rádio e trabalhamos juntos. No segundo seguinte não me conhecem.

São jovens. 
Mas isso não é desculpa. 


quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Para reler.

7 outubro 2015

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Inglaterra: Desfazendo Mitos -p3

EDUCAÇÃO DE BERÇO

Observei no mesmo dia, à mesma hora, no mesmo restaurante. Uma criança japonesa com talvez 5 anos, acompanhada dos pais. E uma criança inglesa ainda bebé, talvez de um ano e pouco, também com os pais. Ambas as famílias sentadas à mesa de almoço.

A família japonesa surpreendeu-me. O pai brincava com a criança entusiasticamente ao mesmo tempo que esta comia umas bolachas em miniatura que trouxe de casa. Tinham-nas colocado em cima de um guardanapo em papel e a criança petiscava-as sem fazer sujeira. Pareciam pessoas bem educadas. A mesa em si tinha o normal de se encontrar numa mesa de restaurante... e um smartphone com que a criança e o pai se divertiam num misto de brincadeira, com convívio e aprendizagem. Os pratos, talheres e demais utensílios encontravam-se num estado normal.

A família inglesa também surpreendeu-me. A criança bebé, sentada na sua cadeira alta, diante do seu prato de comida tipicamente inglesa, distraía-se tirando as ervilhas do prato, esmagando-as de seguida com os dedos e colocando-as no tampo da mesa. Já tinha uma pilha considerável de ervilhas esmagadas, aquilo mais parecia puré. Os pais limitavam-se a observá-la, sem fazer nada. Não a repreenderam, não a ensinaram a não brincar com a comida no prato, nem sequer tentaram com que ingerisse alguma coisa. Não se envergonharam com a cena. Nem mesmo quando o empregado chegou e meteu-se com o bebé. Não mostraram qualquer impulso de se desculparem ou de simularem quererem desfazer a sujeira das ervilhas, por exemplo, por pegarem num guardanapo em papel para apanhar o montinho de puré que a criança estava a deixar na mesa para o empregado limpar. 

domingo, 20 de novembro de 2016

Os britânicos são um povo educado


Há coisas que nunca pensamos que vamos ver em Inglaterra. Não na terra dos Lordes, dos cavalheiros. Das boas maneiras. Só nas terras dos «índios», de gente não civilizada, rude, egoísta, vagabunda...

This guy was jamming is music with his hands wile sitting
in two seats for disable people with a bus full of passengers
some standing up. One dirty sole shoe is on the banister.

This lady (left) uses the empty seat to put her bag, wile the bus is full
with people already standing up.
It's actually very common to see.
People also seat most times in the aisle not at the window, 
leaving this seat empty and not moving to facilitate others to have a seat. 
Many that do seat at the window,
will use a bag to keep the seat next to them occupied.
Only when the bus gets to full and people star searching for available
empty seats, that's when some will remove it.
This couple occupied 4 seats, 2 for just one small bag,
wile having their shoes on the the banister and fronts seats
making it possible for other people's clothes to become dirty when they sit down

E tenho de dizer que... tirando o jovem da primeira foto, que parece britânico mas não tive como o confirmar, tanto os dois jovens da foto de baixo quanto a mulher com a mala eram britânicos. Sotaque impecável. O que é remarkable num país onde existe tanta mistura de nacionalidades. Num autocarro entra de tudo: o tipo com rastas no cabelo, os de origem indiana, paquistaneses, roménios... tantas nacionalidades. Mas só vi britânicos a ter estes comportamentos. O que, na «minha casa» (Portugal) seria considerado rude e repreensível.

Provavelmente o «Brexit» faria sentido se, ao invés de querer fechar as portas aos de fora, servisse para limpar o podre por dentro :P
Até agora, os estrangeiros não demonstraram este tipo de falta de educação e civismo.