Saltar para o conteúdo

Hudjefa I

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Hudjefa I
Hudjefa I
Cartucho real do rei Hudjefa I.
Faraó do Egito
Reinado Quiçá dois anos (II dinastia)
Antecessor(a) Nefercasocar
Sucessor(a) Quenerés
Dinastia II dinastia
Religião Politeísmo egípcio
Titularia
Nome Lista Real de Sacará
V10AF18I10I9
G42
V11A
(Ḥw-ḏf3)
Cânone de Turim
V10AV28I10
I9
G1G41
G37
V11AG7
(Ḥw-ḏf3)
Título

Hudjefa I (antigo egípcio para "apagado" ou "desaparecido") é o pseudônimo de um faraó da II dinastia, conforme o Cânone de Turim, uma lista real escrita no reinado de Ramessés II. Entende-se agora que Hudjefa significa que o nome já estava ausente do documento do qual o cânone foi copiado. A duração do reinado associado a Hudjefa no cânone é de 11 anos.[1] Por causa da posição de Hudjefa na lista, às vezes é identificado com um rei Sesócris relatado na Egiptíaca, uma história do Egito escrita pelo sacerdote Manetão no século III a.C.. Manetão credita a esse faraó 48 anos de reinado. Os egiptólogos tentaram relacioná-lo com faraós arqueologicamente atestados do período, em particular Peribessene.

Fontes do nome

[editar | editar código-fonte]

"Hudjefa" aparece apenas na Tabuleta de Sacará e no Cânone de Turim. Ambas as listas descrevem-o como sucessor imediato de Nefercasocar e como o predecessor de Quenerés (aqui chamado Bebti).[2][3][4]

Egiptólogos e historiadores têm tido grande dificuldade em vinculá-lo a qualquer governante arqueologicamente identificado. O problema é que "Hudjefa" não é um nome pessoal no sentido convencional. Significa "apagado" e pode revelar que o nome do faraó original, originalmente listado num documento ou inscrito em algum objeto, era ilegível quando o escriba tentou compilar a lista real. Pensa-se que um escriba simplesmente anotou "apagado", mas depois erroneamente colocou a palavra em uma cartela, fazendo com que parecesse um nome pessoal. Mais tarde, escribas e estudantes da história egípcia interpretaram mal o arranjo e o adotaram em seus documentos como o nome de um faraó.[2][5]

Alguns historiadores acreditam que o historiador grego ptolemaico Manetão provavelmente chamou-o de Sesócris (Sésôchris) e relatou que o corpo desse rei media "cinco côvados de altura e três mãos de largura". Os egiptólogos duvidam da base dessa observação, já que o túmulo de Hudjefa não foi encontrado,[4][6] e mesmo a associação é contestada, com outros preferindo associar Sesócris a Nefercasocar.[7] Egiptólogos como T. Dautzenberg e Wolfgang Helck já consideraram que Hudjefa poderia ser associado a Peribessene. Para apoiar sua teoria, apontaram que um reinado de 11 anos - como observado no Cânone de Turim - seria inconsistente com um faraó cujo nome foi perdido. Na verdade, na opinião deles, faria sentido se o nome do governante não fosse mencionado posteriormente. Já era considerado o caso do rei Peribessene, cujo nome de nascimento foi banido das listas reais raméssidas.[8]

Egiptólogos como Wolfgang Helck, Nicolas Grimal, Hermann Alexander Schlögl e Francesco Tiradritti acreditam que Binótris, o terceiro faraó da II dinastia e predecessor de Peribessene, deixou um reino que sofria de uma administração estatal excessivamente complexa e que Binótris decidiu dividir o Egito e deixá-lo para seus dois filhos (ou, pelo menos, dois sucessores escolhidos) que governariam dois reinos separados, na esperança de que os dois governantes pudessem administrar melhor os Estados.[9][10] Por outro lado, egiptólogos como Barbara Bell acreditam que uma catástrofe econômica, como fome ou seca prolongada, afetou o Egito. Portanto, para resolver melhor o problema de alimentar a população, Binótris dividiu o reino em dois e seus sucessores fundaram dois reinos independentes, até que a fome chegou ao fim. Bell aponta às inscrições da Pedra de Palermo, onde, na sua opinião, os registros das inundações anuais do Nilo mostram níveis constantemente baixos durante o período.[11][12] A teoria de Bell é refutada hoje por egiptólogos como Stephan Seidlmayer, que corrigiram os cálculos de Bell. Seidlmayer mostrou que as inundações anuais do Nilo estavam em níveis usuais no tempo de Binótris até o Reino Antigo (2686–2160 a.C.). Bell havia esquecido que as alturas das inundações do Nilo na inscrição da Pedra de Palermo só levam em conta as medições dos nilômetros em torno de Mênfis, mas não em outros lugares ao longo do rio. Qualquer seca prolongada pode, portanto, ser excluída.[13]

É aceito entre vários egiptólogos que Hudjefa teve que dividir seu trono com outro governante, embora não esteja claro quem seja. Posteriormente, listas reais como a de Sacará e a de Turim listam Neferquerés I e Nefercasocar como seus antecessores e Quenerés como sucessores imediatos. A lista real de Abidos ignora Neferquerés, Nefercasocar e Hudjefa e nomeia Djadjai (idêntico a Quenerés). Se o Egito já estivesse dividido quando Hudjefa ganhou o trono, Sequemibe e Peribessene teriam governado o Alto Egito, enquanto Hudjefa e seus antecessores teriam governado o Baixo Egito. A divisão do Egito foi encerrada por Quenerés.[14]

Referências

  1. Gardiner 1997, p. 15 & Tabela I.
  2. a b Edwards 1971, p. 35.
  3. Beckerath 1984, p. 49.
  4. a b Bartha 1981, p. 12-14.
  5. Schlögl 2006, p. 78.
  6. Emery 1964, p. 19.
  7. Gundacker 2015, p. 160.
  8. Helck 1987, p. 125.
  9. Grimal 1994, p. 55.
  10. Tiradritti 1998, p. 80-85.
  11. Bell 1970.
  12. Goedicke 1980, p. 50.
  13. Seidlmayer 2001, p. 87-89.
  14. Schlögl 2006, p. 77-78 & 415.
  • Bartha, Winfried (1981). «Zeitschrift für Ägyptische Sprache und Altertumskunde (ZAS)». Berlim: Editora da Academia. 108. ISSN 0044-216X 
  • Beckerath, Jürgen von (1984). Handbuch der ägyptischen Königsnamen. Munique e Berlim: Editora de Arte Alemã [Deutscher Kunstverlag] 
  • Bell, Barbara (1970). «Oldest Records of the Nile Floods». Geographical Journal (136): 569–573 
  • Edwards, I. E. S. (1971). «The Early Dynastic Period in Egypt». In: Edwards, I. E. S.; Gadd, C. J.; Hammond, N. G. L. The Cambridge Ancient History Vol. I Part 2. Early History of the Middle East. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia 
  • Emery, Walter Bryan (1964). Ägypten. Geschichte und Kultur der Frühzeit. Munique: Fourier 
  • Gardiner, Alan H. (1997). The royal canon of Turin. Oxônia: Instituto Griffith de Oxônia. ISBN 0-900416-48-3 
  • Goedicke, Hans (1980). «KING HWDF:?». Londres: Sociedade de Exploração do Egito. Journal of Egypt Archaeology. 42 
  • Gundacker, Roman (2015). «The Chronology of the Third and Fourth Dynasties according to Manetho's Aegyptiaca». In: Manuelian, Peter Der; Schneider, Thomas. Towards a New History for the Egyptian Old Kingdom: Perspectives on the Pyramid Age. Leida: Brill 
  • Grimal, Nicolas (1994). A History of Ancient Egypt. Hoboken, Nova Jérsei: Wiley-Blackwell. ISBN 978-0-631-19396-8 
  • Schlögl, Hermann Alexander (2006). Das Alte Ägypten: Geschichte und Kultur von der Frühzeit bis zu Kleopatra. Hamburgo: Beck. ISBN 3-406-54988-8 
  • Seidlmayer, Stephan (2001). Historische und moderne Nilstände: Historische und moderne Nilstände: Untersuchungen zu den Pegelablesungen des Nils von der Frühzeit bis in die Gegenwart. Berlim: Achet. ISBN 3-9803730-8-8 
  • Tiradritti, Francesco; Roveri, Anna Maria Donadoni (1998). Kemet: Alle Sorgenti Del Tempo. Milão: Electa. ISBN 88-435-6042-5