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Socialismo ético

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O socialismo ético é uma filosofia política que apela ao socialismo por razões éticas e morais, em oposição a razões econômicas, egoístas e consumistas.[1] Enfatiza a necessidade de uma economia moralmente consciente, baseada nos princípios do altruísmo, cooperação e justiça social, enquanto se opõe ao individualismo possessivo.[2]

Em contraste com o socialismo inspirado pelo racionalismo, materialismo histórico, economia neoclássica e teoria marxista, que baseiam seus apelos ao socialismo com base na eficiência econômica, racionalidade ou inevitabilidade histórica, o socialismo ético se concentra nas razões morais e éticas para advogar o socialismo.[1]

O socialismo ético tem alguma sobreposição significativa com o socialismo cristão,[1] fabianismo,[3] socialismo de guilda,[4] socialismo liberal,[5] reformismo social-democrata[6][1] e socialismo utópico.[7] Sob a influência de políticos como Carlo Rosselli na Itália, os social-democratas começaram a se desassociar do marxismo ortodoxo como representado pelo marxismo-leninismo,[8] adotando o socialismo liberal,[5] keynesianismo[8] e apelando à moralidade antes do que qualquer cosmovisão consistentemente sistemática, científica ou materialista.[9][10] A social-democracia fez apelos a sentimentos comunitários, corporativistas e às vezes nacionalistas, enquanto rejeitava o determinismo econômico e tecnológico geralmente característico do marxismo ortodoxo e do liberalismo econômico.[11]

Clement Attlee, primeiro ministro do Reino Unido (1945–1951)

O socialismo ético teve um impacto profundo no movimento social-democrata e no reformismo durante a segunda metade do século XX, particularmente na Grã-Bretanha.[6][1] O socialismo ético é distinto em seu foco nas críticas à ética do capitalismo e não apenas nas críticas às questões econômicas, sistêmicas e materiais do capitalismo.[1] Quando o Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) renunciou ao marxismo ortodoxo durante o Programa Godesberg na década de 1950, o socialismo ético tornou-se a filosofia oficial dentro do SPD.[12]

O termo socialismo ético inicialmente surgiu como um pejorativo pela economista marxista Rosa Luxemburgo contra o reformista, revisionista marxista Eduard Bernstein e os seus apoiantes, que evocavam ideais liberais neo-kantianos e argumentos éticos em favor do socialismo.[13] Socialistas éticos auto-reconhecidos logo surgiram na Grã-Bretanha, como o socialista cristão R. H. Tawney, e seus ideais foram conectados aos ideais socialistas cristãos, fabianos e socialistas de guilda.[14] O socialismo ético era uma ideologia importante dentro do Partido Trabalhista britânico.[15] O socialismo ético foi apoiado publicamente pelos primeiros-ministros britânicos Ramsay MacDonald,[16] Clement Attlee,[17] e Tony Blair.[15]

Os socialistas utópicos, uma das primeiras correntes do pensamento socialista moderno, apresentaram visões e esboços para sociedades ideais imaginárias ou futuristas, caracterizadas pelo estabelecimento de uma economia moral, com ideais positivos baseados em fundamentos morais e éticos como sendo a principal razão para a mudança na sociedade nessa direção.[7] Antes dos marxistas estabelecerem uma hegemonia sobre as definições de socialismo, "o termo socialismo era um conceito amplo" que se referia a uma ou mais das várias teorias destinadas a resolver o problema do trabalho através de mudanças radicais na economia capitalista. Descrições do problema, explicações de suas causas e soluções propostas (por exemplo, abolição da propriedade privada ou apoio a cooperativas e propriedade pública, entre outras) variavam entre as filosofias socialistas.[18]

R. H. Tawney, fundador do socialismo ético

RH Tawney denunciou o comportamento amoral e imoral egoísta que ele alegou ser apoiado pelo capitalismo.[1] Tawney se opôs ao que chamou de "sociedade aquisitiva" que causa com que a propriedade privada seja usada para transferir lucros excedentes para "proprietários sem função", ou seja, rentistas capitalistas.[2] No entanto, ele não denunciou os administradores como um todo, acreditando que a gerência e os funcionários poderiam se unir em uma aliança política de reforma.[2] Tawney apoiou o escoamento do lucro excedente por meio de tributação progressiva para redistribuir esses fundos em proporcionar bem-estar social (incluindo assistência pública à saúde, educação pública e habitação pública)[2] e a nacionalização de indústrias e serviços estratégicos.[2] Ele apoiou a participação dos trabalhadores nos negócios de gestão na economia, bem como a cooperação entre consumidores, funcionários, empregadores e Estado na regulação da economia.[2]

Embora Tawney apoiasse um papel substancial da empresa pública na economia, ele afirmou que, quando a empresa privada prestasse um serviço proporcional aos retornos do investimento que constitua uma propriedade privada funcional, então uma empresa poderia ser útil e legitimamente deixada em mãos privadas.[19] Thomas Hill Green apoiava o direito de oportunidades iguais para todos os indivíduos poderem livremente apropriar propriedade, mas alegava que a aquisição de riqueza não implicava que um indivíduo pudesse fazer o que quisesse uma vez que a riqueza estivesse em sua posse.[20] Green se opôs aos "direitos de propriedade de poucos" que estavam impedindo a propriedade de muitos.[20]

O socialismo ético foi defendido e promovido pelo ex-primeiro ministro britânico Tony Blair,[21][22] que foi influenciado por John Macmurray, ele próprio influenciado por Green.[23] Blair definiu o socialismo ético com noções semelhantes promovidas pelos socialistas éticos anteriores, como ênfase no bem comum, direitos e responsabilidades e apoio a uma sociedade orgânica na qual os indivíduos florescem por meio da cooperação.[21][22][23] Segundo Blair, o Partido Trabalhista teve problemas nas décadas de 1960 e 1970 quando abandonou o socialismo ético e ele acredita que a recuperação do partido exigiria um retorno aos valores éticos socialistas promovidos pela última vez pelo governo trabalhista de Attlee.[22][24]

Referências

  1. a b c d e f g Thompson 2006, p. 52.
  2. a b c d e f Thompson 2006, pp. 58–59.
  3. Thompson 2006, p. 58.
  4. Thompson 2006, p. 60.
  5. a b Bronner 1999, pp. 103–104.
  6. a b Dearlove & Saunders 2000, p. 427.
  7. a b Draper 1990, pp. 1–21.
  8. a b Bronner 1999, p. 103.
  9. Wright 1999, p. 86.
  10. Heywood 2012, p. 128: "The theoretical basis for social democracy has been provided more by moral or religious beliefs, rather than by scientific analysis. Social democrats have not accepted the materialist and highly systematic ideas of Marx and Engels, but rather advanced an essentially moral critique of capitalism."
  11. Berman 2008, pp. 12–13.
  12. Orlow 2000, p. 190.
  13. Steger 1997, p. 115.
  14. Thompson 2006, pp. 52–60.
  15. a b Tansey & Jackson 2008, p. 97.
  16. Morgan 2006, p. 29.
  17. Howell 2006, pp. 130–132.
  18. Brooks 1994, p. 75.
  19. Thompson 2006, pp. 60–61.
  20. a b Carter 2003, p. 35.
  21. a b Blair 1994, pp. 1–16.
  22. a b c Blair 1995, pp. 1–20.
  23. a b Carter 2003, pp. 189–190.
  24. Bevir 2005, p. 72.


— (2008). Understanding Social Democracy (PDF). What's Left of the Left: Liberalism and Social Democracy in a Globalized World. Cambridge, Massachusetts: Minda de Gunzburg Center for European Studies, Harvard University. Consultado em 29 de janeiro de 2016 
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