Saltar para o conteúdo

Pense nas criancinhas

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A frase "Pense nas criancinhas" (ou "Pense nas crianças") é um clichê que evoluiu para uma tática retórica.[1][2][3] Literalmente, refere-se aos direitos da criança (como nas discussões sobre trabalho infantil).[4][5][6] Porém, ao entrar em qualquer outro debate, visa aprofundar a sensibilidade das pessoas em relação a estes e, assim, tentar convencer o contrário, por meio de argumentos enganosos, a fazer o que o emissor ou o grupo da frase realmente pretende, sempre com a intenção de "não prejudicar as crianças."[1][2][3]

De acordo com o livro Art, Argument, and Advocacy (2002) argumentou que o apelo substitui a razão pela emoção no debate.[1] O eticista Jack Marshall escreveu em 2005 que a popularidade da frase deriva de sua capacidade de prejudicar a racionalidade, particularmente o discurso sobre a moralidade.[2] A frase também é usada por defensores da censura com o pretexto de defender as crianças de certas coisas, consideradas "perigosas".[7][8] Em Community, Space and Online Censorship (2009) é argumentado que classificar as crianças como bebês inocentes que precisam de proteção, é uma forma de obsessão sobre o conceito de pureza.[7] Um artigo de 2011 no Journal for Cultural Research observou que a frase surgiu de um pânico moral.[9] Segundo o jornalista Jerônimo Teixeira, em artigo para a revista Veja, "a frase soa como um ramerrão demagógico, com notas de sentimentalismo hipócrita."[10]

A frase foi dita por David Tomlinson interpretando Sr. Banks no filme Mary Poppins de 1964, onde ele pediu à personagem homônima interpretada por Julie Andrews para não desistir e "pensar nas crianças".[11] No entanto, não foi até o início de 1996 na série Os Simpsons, quando a personagem Helen Lovejoy popularizou a frase.[12][13][14] De acordo com o professor de direito Charles J. Ten Brink, da Universidade do Estado da Geórgia, o uso de Lovejoy de "pense nas crianças" é um bom exemplo de paródia. De fato, essa retórica foi chamada de "lei de Lovejoy",[14] "argumento de Lovejoy" ou "síndrome de Helen Lovejoy".[15]

Referências

  1. a b c Meany 2002, p. 65.
  2. a b c Marshall 2005
  3. a b Borschke 2011, p. 17
  4. National Child Labor Committee 1914, pp. 39, 73.
  5. Boyce 2003
  6. Perry 2010, p. 498.
  7. a b Beattie 2009, pp. 165–167.
  8. Keenan (October 1, 2014), p. GT4.
  9. Coleman 2011, p. 99.
  10. Teixeira, Jerônimo (24 de outubro de 2017). «Ninguém pensa nas criancinhas?». Veja. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  11. Laity 2013, pp. 118–119, 128.
  12. Ten Brink 2012, p. 789.
  13. Shotwell 2012, p. 141.
  14. a b Keenan (April 26, 2014), p. IN2.
  15. Hunt 2014, p. 27.
  • MEANY, John (2002). Art, argument, and advocacy: mastering parliamentary debate. New York: International Debate Education Association. ISBN 978-0-9702130-7-5. OCLC 438996525 
  • Marshall, Jack (16 de fevereiro de 2005). «'Think of the Children!': An Ethics Fallacy». Ethics Scoreboard (em inglês). Proethics, Ltd. Consultado em 30 de setembro de 2021. Cópia arquivada em 22 de fevereiro de 2014 
  • Borschke, Margie. «Rethinking the Rhetoric of Remix». Escola de Jornalismo e Comunicação da Universidade de Queensland. Media International Australia Incorporating Culture and Policy. 141: 17. doi:10.1177/1329878X1114100104 
  • COLEMAN, Rebecca; FERREDAY, Debra (2011). Hope and Feminist Theory. [S.l.]: Routledge. ISBN 978-0-415-61852-6 
  • BEATTIE, Scott (2009). Community, Space and Online Censorship. [S.l.]: Ashgate. pp. 165–167. ISBN 978-0-7546-7308-8 
  • Keenan, Edward (26 de abril de 2014). «Won't somebody please think of the children!». Toronto Star: IN2 – via LexisNexis 
  • Keenan, Edward (1 de outubro de 2014). «Thinking of the children is no laughing matter». Toronto Star: GT4 – via LexisNexis 
  • Penny, Laurie. «This divorce tax is emotional terrorism». New Statesman (em inglês). Consultado em 30 de setembro de 2021 
  • Hunt, Carol. «Don't use our children as shields to protect status quo; The Helen Lovejoy argument against gay adoption is simply discrimination in a 'caring' guise, writes Carol Hunt». Independent Newspapers Ireland Limited. Sunday Independent: 27 – via LexisNexis 
  • Laity, Kathryn A. (2013). «Chapter Nine: 'Won't somebody please think of the children?' The case for Terry Gilliam's Tideland». In: Birkenstein, Jeff; Froula, Anna; Randell, Karen. The Cinema of Terry Gilliam: It's a Mad World. Col: Directors' Cuts. [S.l.]: Wallflower Press. pp. 118–119, 128. ISBN 978-0-231-16534-1 
  • Shotwell, Mikaela (2012). «Won't Somebody Please Think of the Children?!». Cidade de Iowa: Universidade de Iowa. The Journal of Gender, Race & Justice. 15: 141 – via LexisNexis 
  • Ten Brink, Charles J. (2012). «Gayborhoods: Intersections of Land Use Regulation, Sexual Minorities, and the Creative Class». Universidade do Estado da Geórgia. Georgia State University Law Review. 28: 789 – via LexisNexis 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]