O poema é uma teia
de que aranha de que areia
que se desfaz e se tece
e se inflecte como uma carícia
num rosto ambíguo de mulher e menina
e num sopro ascende a uma crista
e desce a um ninho de ervas
e cintila e se apaga
no vago olhar de uma página
no seu estuário absoluto
António Ramos Rosa, Vasos Comunicantes diálogo poético, p. 64, 2006
Ao ritmo da palavra
um raio de sol
acende uma teia branca
de linha em linha
deslizam as carícias
de um fogo que cintila na rede
sobre a dança de um corpo
que se configura e se desfaz
numa poeira cintilante
Gisela Ramos Rosa, Vasos Comunicantes, diálogo poético, p. 65, 2006