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04 julho, 2009

a barreira do espaço

© Mario Jean, reflections


Chamo aqui de forma enviesada um pequeno excerto de uma reflexão sobre o espaço que abordei na minha tese de mestrado em Relações Interculturais (área de antropologia visual). A razão pela qual o coloco hoje neste lugar associando-o à belíssima imagem de Mario Jean (de uma barreira/espelho) inscreve-se na necessidade de mostrar como o espaço físico influi no espaço mental e consequentemente nas relações humanas quaisquer que sejam. O modelo que se aplica às cidades, pode ser transposto para outros lugares.

Nas cidades, o desenho das ruas, das praças, dos jardins, da concepção de centro e de periferia não são convencionadas por acaso (Silvano). Diria que é como se a estrutura ganhasse corpo ao materializar vontades ordenadoras que regulam espacialmente a massa social.
A análise das relações entre o espaço e o poder em Foucault (1999) é sublime. É no espaço que se colocam ou posicionam as relações humanas e é através destas que são traçados os lugares. Na sua obra (Foucault, 1975) associa ao corpo social a criação de espaços de enclausuramento. Estes são mantidos por um aparathus que cria os procedimentos pelos quais fixa, distribui e classifica os indivíduos, limitando-lhes a força e tornando-os visíveis através de um esquema de observação (mediático), de registo e anotação (Foucault, 1999:233). Com este autor, percebemos como uma rede de "micropoderes" desenvolve estratégias locais, regionais e familiares através de regulamentos que estabelecem a manutenção de relações específicas e localizadas entre os indivíduos. O espaço serve, pois, de meio e molde de uma acção conjugada, que mantém os indivíduos neutralizados por relações de poder balizadas por vários constrangimentos e pelas relações de produção. O poder apropria-se e marca todo o espaço (Pais, 2001) tornando desigual o acesso à mobilidade no seu seio, por conseguinte, vários condicionalismos materiais e culturais afectarão a distribuição humana no espaço.

Fica este breve texto para pensarmos por instantes numa questão sobre a qual penso devermos reflectir porque existimos, para além dos sonhos.


in Olhar a Diferença, Percurso antropológico pelas Imagens das Margens Sociais, Lisboa, 2002