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6.5.18

Leitões em Portugal




Leitões são tão populares em Portugal que é impossível dizer qual a melhor receita que se prova por lá -- estes da foto são do Mercado de Campo de Ourique. Como recheio de empadas e de sanduíches são as minhas versões preferidas. Se você perguntar, a quem te servir uma preciosidade dessas, de onde veio o animal, quem o criou e como, é grande a chance receber uma resposta completa sobre a trajetória do bichinho. Conhecer a procedência dos animais é comum nos restaurantes e tascas portuguesas -- e quanto mais se viajar pelo interior, mais isso se confirma.

14.6.17

As vendinhas (muitas)










Várias! Lindas, mais coloridas impossível! Todas em Londres (dá para notar que a coisa foi prolífica por lá... e tem mais...)

2.4.13

Guia Gastronômico das Favelas do Rio










Depois de meses de pesquisa, trabalho e espera, finalmente, é chegada a hora!
Vamos lançar o Guia Gastronômico de Favelas do Rio, com edição de Sérgio Bloch, textos meus e fotos sensacionais de Marcos Pinto, na Livraria Cultura, no Centro do Rio de Janeiro.
E atenção para as legendas destas belezuras aí de cima: o medalhão do Bar Lacubaco, no Vidigal; Tino e Leandro, pai e filho, donos do Bar do Tino, no Morro do Prazeres (a vista é 'feia'...); a vista que se tem da Laje do César, no Chapéu Mangueira (só abre para eventos); a comida maravilhosa - baião de dois, costela de boi, salada e farofa do Restaurante 48; o frango no bafo do Bar do Tino; Augusto, do 48, com o chef Olivier Cozan, com quem ele trabalhou; a capa do livro, que tem design assinado pelas meninas da Traço Design; e o Big Favella, do Complexo do Alemão - pertinho da estação Itararé do Teleférico.
Façam boa viagem pelas favelas cariocas. Bom apetite!


27.3.13

"Bares da Cidade"



Acabei de ouvir na vitrola - sim, vitrola mesmo - a canção "Bares da Cidade" e achei que este blog deveria tê-la registrada: "Do Lamas ao Capela, e da Mem de Sá, passo no Bar Luiz e no Amarelinho é que eu vou terminar"... Está no disco "Vida Boêmia" (1978), de João, que comprei por cinco reais na feira de antiguidades da Praça XV.  A voz de João  e a poesia de Paulo César Pinheiro, juntas, cantando alguns dos bares mais tradicionais do Rio que, para a nossa sorte, ainda estão de pé. 

Bares da Cidade, de João Nogueira e Paulo César Pinheiro
Anoiteceu
Outra vez vou sair
Andar por andar sem nada a esperar
Sem ter pra onde ir
Vou caminhar por aí a cantar
Tentando acalmar as tristezas por onde eu passar
A minha vida boêmia de bar em bar
É o meu amor sem paz
Por um amor vulgar
Que me abandonou
Chorando os meus ais
Me deixando também por maldade
Saudades demais
E eu vou levando minha alma aflita
À noite a cidade é tão bonita
Do Lamas ao Capela, e da Mem de Sá
Passo no Bar Luiz
E no Amarelinho é que eu vou terminar

11.4.12

Brasserie Rosário





Dia desses fui resolver pendências no Centro do Rio e aproveitei para tomar um café na Brasserie Rosário, e então percebi que nunca tinha falado dela aqui no blog, apesar de já tê-la frequentado algumas vezes. A casa, em pleno Rio Antigo, produz pães e doces de confeitaria deliciosos, tem mesinhas charmosas na rua -- fechada para carros -- e um ambiente de móveis de madeira aconchegante, apesar do pé direito alto. Lá dentro, um restaurante sobre o qual não posso opinar, já que nunca provei dos pratos anunciados na tabuleta de giz. Mas o lugar vale a visita, principalmente, por estar onde está. A Rua do Rosário é uma graça, com seus sobradinhos coloniais reformados e bem cuidados. Além disso, o sobrado no qual está instalada a Brasserie servia como sede da Tesouraria do Império, nos tempos de D. João VI.

Brasserie Rosário

10.4.12

Azeite de manjericão

O primeiro azeite a gente nunca esquece. É a coisa mais simples do mundo: um vidro de azeite extravirgem, pimenta dedo de moça inteira, ramos de manjericão fresco. Pronto. Geladeira. Quinze dias depois, provei um azeite delicioso, levemente apimentado e com sabor de manjericão. Comentei sobre minha aventura com o chef Gennaro Cannone, do Alessandro&Frederico, e ele aprovou, disse que o caminho é este mesmo. Dica: eu não furei, amassei ou cortei as pimentas, coloquei-as inteiras, para que não ficasse muito forte. E não é preciso ferver nem colocar sal. É só isso mesmo. Pode levar fé.

5.3.12

Moça bonita não paga






As fotos são de uma feira nos arredores de Paris. Antiiiiiigas... De 2005. Servem apenas para ilustrar a letra da canção que descobri na semana passada (valeu a dica, Ivan Accioly!): "Moça bonita não paga", do compositor Ratinho, morto no ano passado - e autor também de, entre outras, da famosérrima "Vai vadiar", com Monarco. Enfim, a letra do samba de 1982 da Caprichosos de Pilares fala sobre feiras e mercados, e é muito fofa.
PS.: Encontrei a letra aqui.

"Moça bonita não paga"

Vamos homenagear (Vamos homenagear)
A feira livre e o mercado popular (E o dito popular )
Quando vem o amanhecer
Um pouco antes do sol nascer
A feira livre está pronta
E nela desponta a cabrocha Lili
Fazendo o florista sorrir
E o vendedor ambulante
Dizer coisa interessante
Quando passa por ali (Lá vai Lili )


Vai seguindo seu caminho
Mas seu semblante se modifica
A flor se fere no espinho
Da inflação que se agita
O vendedor de laranja grita
Moça bonita aqui não paga
Pisa na casca de banana escorrega
Aqui não paga mas também não leva

Compra peixe Lili, compra peixe Lili)
Já é meio dia de bolsa vazia não pode sair) BIS

Tem zoeira, tem zoeira)
Hora de xepa é final de feira) BIS

1.12.11

O "Frango tite" de Ferreira Gullar


Faço aqui uma singela homenagem ao maior poeta brasileiro vivo - vivíssimo, diga-se, aos 81 anos - que pela segunda vez levou o Jabuti: uma historinha deliciosa contada por Ferreira Gullar, O Grande, que vem bem a calhar neste sítio. Atenção para o "realismo socialista dos restaurantes da Lapa". E para o "triste" significado de "tite", claro. 


Frango tite


Não tão rara quanto o peru nem tão frugal quanto o ovo, a galinha, comida de domingo, era naquela época o símbolo da fome nacional. Já muito antes de nós, o Barão de Itararé diagnosticara: "quando pobre come frango, um dos dois está doente".
Tenho proposto com certa insistência que alguém escreva, no Brasil, a sociologia da galinha, ou pelo menos defina o papel da galinha na psicologia nacional (sem alusões ao sexo mal definido como fraco). Na biografia dos brasileiros, na alma de cada um de nós, embrulhados aos nossos sonhos e desejos, estão alguns cacarejos, uns batidos de asa, um ovo roubado, uma clarinada matinal...
Mas foi o Sá quem descobriu a saída. Se durante a semana, estávamos condenados ao restaurante do Calabouço, domingo tínhamos obrigação de melhorar o cardápio. E o problema não era simples, pelo menos para mim. No Calabouço, com uma carteira falsa de estudante, eu pagava dois cruzeiros por refeição. Pagamento simbólico evidentemente. Bendito simbolismo que eu, na literatura, tratava com desprezo. Mas, aos domingos, não havia Calabouço: tinha-se que enfrentar mesmo o realismo socialista dos restaurantes da Lapa.
Mas o Sá descobriu que no China da Riachuelo, perto dos Arcos, servia-se aos domingos por preço de banana um prato que se chamava, sem rodeios, frango com arroz. E era verdade. Esse prato restaurou em nós a perdida dignidade dos domingos de outrora, iluminados sempre por uma galinha-ao-molho-pardo ou um frango-com-farofa-de-miúdos... Era com outra alma que a gente agora lia os suplementos dominicais, almoçava média com pão e manteiga, e esperava a noite. Sim, porque o frango era servido precisamente às sete horas da noite. E a freguesia, naturalmente, era grande. A partir das 6 e meia começava a chegar o pessoal que, como quem não quer nada, espiava para as mesas e ficava por ali - pois o frango era pouco e ninguém queria correr o risco de degradar seu domingo. Às 7 em ponto, o garçom anunciava:
- Atenção, pessoal, vai sair o tite!
Seguia-se o rebuliço das últimas disputas e arranjos: "Dá licença de botar uma cadeira a mais na sua mesa?" "Mas já tem cinco." "Se não, vou perder o frango..." "Deixa o rapaz sentar." E lá vinha, em pratos feitos que fumegavam por cima de nossa cabeça, na bandeja do Jacinto, o frango com arroz, vendido inexplicavelmente por cinco pratas. Também, quinze minutos depois, quando mal acabávamos de devorar o último farelo do frango, já se ouvia, irônica, a voz do garçom:
- Acabou o tite! Agora só sopa de entulho!
O "tite "... Por que "tite"? Aquele domingo saí com essa pergunta na cabeça. O Jacinto não dizia "vai sair o frango", dizia "vai sair o tite"...
Manifestei minha estranheza aos companheiros de quarto e o Sá, que lia Novos Rumos, retrucou com desprezo:
- Curiosidade pequeno-burguesa. Vê se algum operário, podendo comer frango por cinco pratas, vai-se preocupar com a gíria do garçom!
O Sá tinha razão. Tratei de esquecer o problema e fomos, mais uma vez, ao frango do China, ao tite com arroz. Mas eu vivia os meus últimos domingos de glória, pois, pouco mais tarde, deparei com o Jacinto tomando hidrolitol, no Largo da Lapa, e não resisti.
- Tite é o seguinte - explicou-me ele. - O senhor Shio, dono do restaurante, faz as compras da semana todo domingo na feira do Largo da Glória. Os frangos e galinhas são trazidos em engradados, se machucam na viagem e alguns chegam na feira morre-não-morre. O senhor Shio, sabendo disso, vai logo perguntando pros feirantes: "Tem galinha tite? Tem galinha tite?" E assim - continuou Jacinto - compra tudo o que é galinha triste que há na feira. Umas estão apenas tristes, outras já morreram de tristeza, mas o chinês compra assim mesmo. E justifica: "Vai moler mesmo!" - disse Jacinto, soltando uma gargalhada. Eu ri também, mas sem achar a mesma graça. Dentro de meu estômago, acabara de se converter em tristeza a euforia de tantos jantares dominicais, a cinco cruzeiros velhos, velhíssimos. Quando contei a história ao pessoal, o Sá me fuzilou com os olhos "Você é um estraga-jantares!"
Fez-se um longo silêncio naquele anoitecer de domingo.
O Sá falou finalmente: - Bem, vamos à sopa de entulho!

31.3.11

Enchendo linguiça

Não sei quem escreveu, de onde surgiu, nada, nada. Só sei que duas amigas me enviaram por email, é um texto que rola por aí, nos infinitos domínios da internet. Achei que seria legal postar aqui, é super criativo e revela a importância dos atos relacionados à alimentação, dos ingredientes etc. para o nosso dia-a-dia. A língua portuguesa está repleta de expressões metafóricas que têm a comida como tema, e alguém resolveu alinhavar boa parte delas num texto único. Vejam, é bem legal:

"Quando comecei, pensava que escrever sobre comida seria sopa no mel, mamão com açúcar. Só que depois de um certo tempo dá crepe, você percebe que comeu gato por lebre e acaba ficando com uma batata quente nas mãos. Como rapadura é doce mas não é mole, nem sempre você tem idéias e pra descascar esse abacaxi só metendo a mão na massa. E não adianta chorar as pitangas ou, simplesmente, mandar tudo às favas.

Já que é pelo estômago que se conquista o leitor, o negócio é ir comendo o mingau pelas beiradas, cozinhando em banho-maria, porque é de grão em grão que a galinha enche o papo.

Contudo é preciso tomar cuidado para não azedar, passar do ponto, encher lingüiça demais. Além disso, deve-se ter consciência de que é necessário comer o pão que o diabo amassou para vender o seu peixe. Afinal não se faz uma boa omelete sem antes quebrar os ovos.

Há quem pense que escrever é como tirar doce da boca de criança e vai com muita sede ao pote. Mas como o apressado come cru, essa gente acaba falando muita abobrinha, são escritores de meia tigela, trocam alhos por bugalhos e confundem Carolina de Sá Leitão com caçarolinha de assar leitão.

Há também aqueles que são arroz de festa, com a faca e o queijo nas mãos, eles se perdem em devaneios (piram na batatinha, viajam na maionese...etc.). Achando que beleza não põe mesa, pisam no tomate, enfiam o pé na jaca, e no fim quem paga o pato é o leitor que sai com cara de quem comeu e não gostou.

O importante é não cuspir no prato em que se come, pois quem lê não é tudo farinha do mesmo saco. Diversificar é a melhor receita para engrossar o caldo e oferecer um texto de se comer com os olhos, literalmente.

Por outro lado se você tiver os olhos maiores que a barriga o negócio desanda e vira um verdadeiro angu de caroço. Aí, não adianta chorar sobre o leite derramado porque ninguém vai colocar uma azeitona na sua empadinha não. O pepino é só seu, e o máximo que você vai ganhar é uma banana, afinal pimenta nos olhos dos outros é refresco.

A carne é fraca, eu sei. Às vezes dá vontade de largar tudo e ir plantar batatas. Mas quem não arrisca não petisca, e depois quando se junta a fome com a vontade de comer as coisas mudam da água pro vinho.

Se embananar, de vez em quando, é normal, o importante é não desistir mesmo quando o caldo entornar. Puxe a brasa pra sua sardinha que no frigir dos ovos a conversa chega na cozinha e fica de se comer rezando. Daí, com água na boca, é só saborear, porque o que não mata engorda."

29.3.10

Câmara Cascudo II

"Há muitos anos discutiu-se no Brasil se o esporte estava deseducando a mocidade ou era o alheamento às fontes da literatura clássica, dando equilíbrio, medida, clareza, disciplina.

Para mim, um dos fatores negativos é a decadência nacional da refeição doméstica, o abandono dos pratos tradicionais no cardápio de certos grupos sociais mais fornecedores de rapazes e moças aos colégios e às universidades. Não é o alimento em si, na potência intrínseca de sua substância, a fonte isolada da força vital. São os elementos psicológicos decorrentes da refeição. Cada vez há menos refeição e mais comidas, fáceis, encontráveis, vendidas nos botequins elegantes ou nas cantinas universitárias. A alimentação das classes jovens fundamenta-se numa série de sucedâneos e de "provisórios", de coisas supletivas, aperitivais, respondendo à fome sem eliminá-la. Há comida sintética, indicando na orla do menu o número de calorias contido. Prever, pelo dinamômetro, a intensidade da energia útil suficiente para abraçar a noiva. (...) Perde-se a continuidade na padronização do cachorro de qualquer temperatura e do sandwich de qualquer coisa. Do sapiens ao qualunque.

"História da alimentação no Brasil" (1967-1968)
pp.350-351, Global Editora, 2004

25.3.10

Câmara Cascudo I

Decidi que vou postar 'pílulas' de Câmara Cascudo, que pretendo serem diárias, vejamos. A leitura de "História da Alimentação no Brasil" (1967/1968) deveria ser obrigatória para qualquer brasileiro em formação escolar. Por acaso, hoje acordei irritada com a ideia de que dietas curam tudo, de que a salvação dos males do mundo está na mudança alimentar (estar irritada com a ideia não quer dizer que eu não concorde em parte com ela, que fique bem claro). O que me incomoda mesmo é o fundamentalismo. E adoro o tom muitas vezes irônico de Cascudo. Vamos lá, à página 366 da edição da Global, 2004:

"Aloysio de Castro, num discurso aos doutorandos [em Medicina, provavelmente?] de 1924, resume a sátira de Tristan Bernard aos imprevistos dietéticos. O homem gordo quis emagrecer. Exercícios. Dieta. Ficou com as pernas finas. Banhos de lama. Dieta. Resfriou-se. Laringite. Dieta. Curou-se mas o estômago tornou difícil a digestão; falta de apetite. Dieta gástrica, corretora. Voltou a engordar."

Ah, sim, parênteses: a foto é de uma barraca de orgânicos, com direito a 'grama' para curar todos os males, no inesquecível Borough Market, em Londres.

Sacolas de mercearia

sabe como é que faz
para ser feliz nessa porcaria?
sair andando
carregando
sacolas de mercearia

23.3.10

Quem é que não gosta de sardinha? (e de Amália?)




"O carapau e a sardinha"
Amália Rodrigues

De uma sardinha fresquinha
Diga-me lá quem não gosta
Salpicadinha, viva da costa
Assim vivinha,
Chegadinha de Cascais
Prateadinha
De comer, chorar por mais

Quem é que não gosta
Quem é que não gosta
De uma sardinha
Salpicadinha da costa?

Quando se ouve o pregão
Vê-se logo a mesa posta
Comer à mão, como se gosta
Muito gordinha
No pão saloio a pingar
Uma buchinha
Prá sardinha não queimar

Juntei uma petinguinha
Com um lindo jaquinzinho
Ela assadinha, ele fritinho
O casamento naquele dia se fez
Foi o padrinho o verdinho português

Quem é que não gosta
Quem é que não gosta
De uma sardinha
Salpicadinha da costa?

O carapau e a sardinha
Qual é o mais popular?
É a sardinha, não há que errar
Dos jaquinzinhos
Bem fritinhos, gosto eu
Mas a sardinha
É um petisco do céu

Quem é que não gosta
Quem é que não gosta
De uma sardinha
Salpicadinha da costa?

21.3.10

O pão quentinho de Óbidos

Coisas que só se pode ter em Portugal: deliciosos pães recheados preparados por simpáticas senhoras em sua simpática cozinha na linda e muito mais que simpática cidade de Óbidos. Se alguém um dia rascunhasse uma lista de remédios para a alma, colocaria certamente o pão caseiro quente no alto do ranking - ali, em primeiro ou segundo lugar, tendo como companheiro a batata assada com manteiga e o mingau de aveia com açúcar e canela...

Lá em casa - "minha casa" ampliada, que inclui as casas da minha avó, tios e tias -, entre um pão e outro preparado pela dona Ignez, minha avó querida, há sempre uma polêmica em torno dos segredos que envolvem o preparo de um bom pão, "é a mão do cozinheiro", "é o tempo de descanso", "é a temperatura do forno"... Lá pelas tantas, dona Cecília, responsável por esta que vos fala, repete sempre a mesma frase, em tom choroso: "Eu nunca aprendi a fazer pão como a sua avó". Sabe, sim, mãe, claro que sabe. É que o pão da mãe da gente é sempre melhor que qualquer outro!

Devo dizer que devoramos em família - eu e as tias! - este pão quentinho da foto, acompanhado de um bom vinho bebido no gargalo, dentro de um carro. Pão quente, vinho, família: é para ficar com a alma lavada!

16.3.10

Uma rabada e uma epifania


Vejam, não há nada de muito especial no fato de se comer uma rabada. A princípio, pelo menos, não deveria haver nada de muito especial. Acontece que a beleza dos momentos, os tais segundos de felicidade dos quais são feitas as nossas vidas, como já disse alguém, estão justamente nas coisas mais simples, nos atos mais corriqueiros, do cotidiano, da vida ordinária que levamos, do rame-rame, enfim. A princípio, pelo menos, é lá que deveriam estar nossas promessas de alegria. E eis que aí entra a rabada. Simples. Aliás, de uma simplicidade rara - a rabada leva pedaços de carne dura, despretensiosa, lentamente cozida, e batatas. Outras vezes, mais legumes, como cenoura. No Brasil, agrião. No entanto, a despeito da sua própria simplicidade, não há o que se compare a uma bela rabada. Um dia alguém me disse "minha mulher prepara uma rabada sensacional lá em casa: sem gordura nenhuma". Aquele SEM GORDURA me soou terrivelmente, fez marcas nos meus tímpanos. Não bastasse o SEM GORDURA gritante, o sujeito acrescentou um "nenhuma". SEM GORDURA NENHUMA. Jesus. Então, nomeemos o novo prato, o tal rabo de boi light, mas nunca vamos nos referir a este atentado com o nome de RABADA. Ora, tudo tem seu lugar.

Por fim, os momentos de prazer que tive quando comi a rabada para sempre registrada na foto acima, em Madri, (e a imagem bem dá mostras do quão saborosa estava a maldita) são intraduzíveis, verdadeira epifania. As madeleines de Proust sentiriam inveja do meu rabo.

25.10.09

Sobre o podrão (do Porto), algumas considerações



Este cachorro-quente - para os cariocas, o popular "podrão", e para os curitibanos, o "dogão" ou ainda, quem sabe, simplesmente o "pão com vina"... enfim, o aposto desta vez foi tão grande que perdi o fio da meada. Vamos lá, de novo. Este cachorro-quente foi traçado numa praça da cidade do Porto, lá pelas tantas da madrugada, quase dia claro, em excelente companhia de uma grande amiga. Ou seja, exatamente como devem ser traçadas estas igua(porca)rias que só fazem bem à nossa alma, e depois podem nos custar o sono. A receita do podrão por aqui é inspirada nas nossas, leva batata palha, milho verde, estas coisas - mas este aí tinha ainda uma cenourinha, que é excelente ideia, já que bota lá umas vitaminas e dá uma crocância gostosa. Outra boa ideia que os podrões brasileiros podiam copiar: pendurar tetas gigantes como as da foto, cheias de maionese, catchup, mostarda para facilitar a vida do cliente. E para terminar, que fique bem claro: eu não acho que ninguém deva consumir estas merdas, por favor. Mas a salsicha sai do corpinho, mais cedo ou mais tarde e seja lá de que forma, como tudo mais que entra pela boca. Portanto, já que alimento também deve ser bom para o espírito e o coração, de vez em quando, desde que em determinadas condições (fome, madrugada, bons amigos, bagunça), um podrão bem traçado no meio da rua não faz mal nenhum.

14.10.09

Pastelaria Vênus




Ai, quando me disseram que a melhor pastelaria da cidade ficava ao lado da minha nova casa... ainda não sei se é de fato a melhor de Coimbra, mas deve ser forte concorrente. Antes de mais nada, cabe avisar que pastelaria, em Portugal, é o que podemos chamar de padaria (embora nem todas vendam pão). O termo pastelaria aqui é usado no seu significado técnico gastronômico: trata-se do universo dos doces - e aqui também salgados, desde que pequenos, como os rissóis e pastéis (nossos risoles, bolinhos, etc.). Portanto, uma pastelaria portuguesa não é o lugar especializado na produção e venda de pastéis naquele formato clássico que conhecemos e tanto amamos no Brasil. Outra característica bastante comum das pastelarias por aqui é o fabrico próprio. Ah, sim, e os pequenos pastéis são vendidos frios (e eu não vejo o menor problema, já me acostumei). Mas voltemos à Vênus, pelamordediós, que este parênstesis ficou grande demais, ufa.
Na foto, um pastelzinho de bacalhau (milagrosamente quente - acho que dei sorte de pegar a fornada recém saída) e um rissol de camarão - desta vez, frio. Destaque para o bolinho, ops, pastel: textura cremosa, amanteigado, um sabor levemente adocicado por cebolas, gostinho de pimenta do reino... Nada de azeite, desnecessário. Domigo de sol, sentadinha do lado de fora, um chocolate quente, jornal e sem mais para o momento. Abraço.
Pastelaria Vênus
Al. Calouste Gulbenkian 31-RC, Coimbra, Portugal‎


12.10.09

Jeitinho brasileiro





Foi só dizer que Anastácia já se sentia em casa em Coimbra que o Brasilzão Véio começou a dar as caras por aí. É coxinha, brigadeiro, pão de queijo... uma farra. Comida típica brasileira também não falta, picanha, feijoada. Não experimentei absolutamente nada, ok?, minha filosofia não permite. Além disso, convenhamos: acabo de chegar, ainda preciso me entupir de bacalhau, bifanas e outras cositas más. Se bem que a coxinha tá com uma cara boa...