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terça-feira, 12 de novembro de 2024

A marcha do Pinguim


Numa das cenas mais absurdistas de Gotham, o Pinguim é trancado em um carro e enfiado numa prensa de sucata. Entre vidros estourando, metal se retorcendo e um fiapo de esperança, o malandro se salva usando apenas a lábia e o celular. A cena é impagável. Da mesma forma, o Pinguim-lixeiro de Danny DeVito em Batman: O Retorno também já exibia sua notável habilidade de improvisação e adaptação contra todas as probabilidades. Houve até quem o desconstruísse minuciosamente como uma boa tese sociológica.

Pinguim eleva as apostas e é de longe o maior produto artístico e comercial do personagem. Quadrinhos inclusos, desculpe. A HBO se esforçou. A minissérie em 8 partes vai até mais longe – não consigo pensar em nenhuma outra melhor neste ano. A criadora e showrunner Lauren LeFranc, que roteirizou vários episódios de Chuck e Agentes da S.H.I.E.L.D., estava acostumada com o suprassumo do enlatado esquemático e seguro para as crianças, mas a julgar pelo território sombrio e impiedoso de Pinguim, parece que ela saiu direto de um The Wire ou de um Sopranos.

O elenco é um primor. Colin Farrell desaparece dentro de toneladas de enchimento, maquiagem, ambição, carisma e sociopatia de seu Oswald "Oz" Cobb (gosto de pensar que seu papel igualmente grotesco em The North Water foi um protótipo bem sucedido). Que ator. Ele e a incrível Cristin Milioti, como Sofia Gigante, ex-Falcone, conduzem as danças de vida e morte da história. E ainda tem a veterana Deirdre O'Connell como Francis Cobb, a mãe do Oz, Clancy Brown como Sal Maroni, Shohreh Aghdashloo como a sua esposa, Nadia, e uma ponta de luxo de Mark Strong como Carmine Falcone, papel que pertencia a John Turturro em Batman, mas que ele declinou do repeteco.

Entre os nomes menos conhecidos, o destaque inevitável é do promissor Rhenzy Feliz como Victor Aguilar, um quase-Jason Todd do Pinguim. E Carmen Ejogo, que dá show (no bom sentido) como a prostituta Eve Karlo. Mas é visível que todos estavam numa sintonia finíssima ali, de Farrell até o estagiário que serve o cafezinho.


Havia um teto máximo a respeitar, afinal, a franquia DC é logo ali. Os roteiristas precisavam lidar com liberdade parcial e a inevitável barrigada. Não era surpresa nem para o gafanhoto mais bobinho que a coisa teria que terminar mais ou menos como começou. Um pouco atualizada, talvez, mas com o status quo intacto. Por mais que o Pinguim fosse ameaçado, espancado, baleado, apunhalado, eletrocutado, etc, ele não poderia morrer numa minissérie. Os demais, no entanto... E esta foi a deixa para brincadeiras cada vez mais nervosas. E algumas boas escadas também.

Só no episódio 6, "Gold Summit", existem dois momentos espetaculares, com Ejogo e Milioti brilhando no tenso diálogo entre Eve e Sofia, e Farrell subindo pelas tabelas de todas as premiações possíveis com um discurso para os chefes das Tríades de Gotham. A situação, com Oz propondo uma aliança em ambiente hostil, me lembrou do mesmo cenário adverso de Al Pacino e seu antológico discurso em City Hall – ressalto, "me lembrou", não que é igual, pelo amor do Bart. Pacino ali vociferou para os deuses. Mesmo com um personagem tão picareta e corrupto quanto o Oz.

Curiosamente, Pinguim é bem mais violento na sugestão e na atmosfera do que na violência explícita per se. Ok, é violento, é HBO, mas a exaustão sensorial após cada episódio não nega: é um genuíno assalto psicológico. Gatilhos são disparados por pessoas quebradas, gananciosas, ambíguas ou simplesmente perversas. É isso é ótimo.

Por mais que seja divertido acompanhar as aventuras de Oz e por mais empatia que algumas de suas convicções possam gerar, a minissérie reafirma seguidamente a sua natureza monstruosa. O arrepiante flashback dele com seus irmãos e a reveladora cena do dedo no cortador de charutos não deixam dúvidas.

E muito menos a soturna cena no final, à beira-mar. Lembrando que aquilo não foi o seu pièce de résistance...


SPOILER — ...afinal, sua mãe o fez jurar que a mataria caso ela ficasse irreversivelmente doente. Coisa que ele não faz e dá outra dimensão àquelas lágrimas. Mais do que Vic e Sofia, ela é, de longe, sua maior vítima.


Apesar da leve pisada no freio no último episódio, Pinguim manteve a alta octanagem até o fim. Excelente que o Batman não deu as caras. Uma das piores coisas dos quadrinhos é quando o mundo é tratado com se fosse um ovo de codorna, com todos se esbarrando e heróis oniscientes e onipresentes, prontos para estragar toda e qualquer negociata suspeita de esquina. Oito milhões de pessoas vivem em New York. São Paulo tem 11 milhões e meio. Faça as contas. Além do mais, o Batsinal fica ainda mais brilhante no céu quando o desafio sobe de nível. E subiu. Muito.

Plano de carreira reestruturado, o Pinguim hoje goza o status de anti-vilão. Por essa nem Burgess Meredith esperava.

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Nobres Criaturas

Com estreia apenas em 5 dezembro na Max, Comando das Criaturas fez questão de entregar um trailer no bonde do Halloween ‘24.


No post sobre Lobisomem na Noite, sonhei acordado sobre como seria bacana se a DC chamasse o diretor Michael Giacchino para o... comando de um Comando das Criaturas. No fim das contas, a produção não virou um longa-metragem, tampouco um live action. É uma série animada em 7 episódios com o próprio James Gunn como roteirista e showrunner.

Apesar da mera existência do desenho parecer um arrojo, não é o 1º rodeio da macabra superequipe no formato. Em 2019, o grupo estrelou um dos curtas da divertidíssima série DC Showcase ao lado do Sgt. Rock. E com roteiro de Walter & Louise Simonson e Tim Sheridan e direção de Bruce Timm. Régua lá em cima, portanto.

Mas a prévia é deliciosa e o gore é de lamber os beiços. A nova formação, apesar de ser uma variação de qualquer Esquadrão Suicida, parece lindamente disfuncional: os desmortos A Noiva e Eric Frankenstein, a anfíbia Nina Mazursky, mais o Doutor Phosphorus, Robô Recruta e Doninha, queridinha(o) do Gunn. Todos sob a liderança de Rick Flag Sr. – pai do Jr., duh – e tentando impedir a feiticeira Circe de alguma coisa aí. Cara-de-Barro também dá as... caras.

Um curioso adendo é a dublagem de Viola Davis re-re-reprisando a sua Amanda Waller, hoje uma instituição DC. Em meio a tantos astros varridos para o limbo das adaptações, a sua versão da personagem passou incólume pelo fim do Snyderverso e pela Revolução Cultural de James Gunn. Façanha comparável à Poderosa e ao Pirata Psíquico sobrevivendo alegres e faceiros a Crise nas Infinitas Terras.
De resto, diria que só faltou uma frase de efeito estúpida e badass pra fechar a conta. Mas fuçando nas informações do vídeo...
“You wanted monsters? You got motherfuckin’ monsters.”
...acho que essa se enquadra no perfil.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

A mágica de Oz


Normalmente comento séries só quando acaba a temporada. Por melhor que possa parecer no início, a coisa pode virar e terminar de uma maneira bem diferente. Mas vez ou outra é preciso abrir uma exceção: a estreia de Pinguim, da HBO, foi uma das premieres mais bacanas que já assisti. E não apenas no segmento das adaptações de HQs, mas no geral. Pura mágica narrativa da velha Hollywood.

O episódio "After Hours" se passa imediatamente após Batman (Matt Reeves, 2022). A trama se concentra no novo status quo de Gotham City após sua trágica inundação e a morte do chefão do crime Carmine Falcone, interpretado aqui por Mark Strong. O roteiro da showrunner Lauren LeFranc e a direção de Craig Zobel são cirúrgicos. Grim & gritty com gordura zero, o episódio segue a pegada dos grandes thrillers de crime e máfia. Tem uma estrutura meio Os Sopranos, é verdade, mas também bebe na jornada dos underdogs de Al Pacino em filmes do Brian De Palma como Scarface e O Pagamento Final.

Tudo nos seus devidos limites, evidente, mas sempre honrando as referências.

Colin Farrell, excepcional, mais uma vez desaparece em seu Oswald "Oz" Cobb. Se o episódio fosse apenas seu diálogo na antológica cena de abertura já sairia com o jogo ganho. A história também traz boas surpresas como o jovem dominicano Rhenzy Feliz no papel de Vic Aguilar e a participação especialíssima de Clancy Brown como Salvatore Maroni, antigo rival de Falcone.

Mas o grande trunfo neste início foi a Cristin Milioti assustadora no papel da psicopata Sofia Falcone. Uma força da natureza e uma ladra impiedosa de cenas.

Até aqui, uma horinha e pouco de um crime perfeito.

sexta-feira, 31 de março de 2023

Genndy a vapor

Notícia boa é o lançamento de qualquer série nova do menino gênio Genndy Tartakovsky.


Pelo visto, Unicorn: Warriors Eternal é um mergulho de Tartakovsky no universo da fantasia steampunk. O que foi bem inesperado. Ainda mais nesta entressafra de quase-pós-Primal. Reflexo do sucesso das ótimas Arcane e The Legend of Vox Machina, talvez?

O núcleo de personagens parece bem diverso e fervilhando de referências pop: a prévia abre com um Thanos fazendeiro passando o bastão para um Avatar Aang com trejeitos e movimentos do Astroboy, segue com uma Ravena irada, um Elric de Melniboné, um Saruman rasgando o copyright e um meca a vapor que parece saído de um Futurama desenhado pelo Mike Mignola. Melhor impossível.

Ou melhor, é: a série em 10 episódios foi inicialmente planejada para a programação "crianças e família" do Cartoon Network. Mas logo foi reescalada para o Adult Swim e HBO Max. Ou seja...

Groovy!

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Tudo sobre minha mãe


O release do filme de Almodóvar trazia uma passagem intrigante:

"Um ditado grego diz que apenas as mulheres que lavaram os olhos com lágrimas podem ver claramente".

Isso descreve bem a personagem Mother em Raised by Wolves, série recém lançada pela HBO Max. Mother é uma andróide (termo também originado do grego) e o tempo todo tem a lógica inflexível de sua programação bombardeada por experiências perturbadoramente humanas. Uma metáfora-tempestade-perfeita sobre a natureza da maternidade. E as metáforas não param por aí.

Na literatura, é comum autores recorrerem a outros planetas ou realidades alternativas para falar de suas visões políticas, sociais, filosóficas, etc. Ridley Scott sempre inseriu o artifício em suas incursões sci-fi e sempre se utilizando dos andróides como pivôs. São os seus peregrinos enviados a terras estranhas.

Apesar de criados à nossa imagem e semelhança, não são reféns dos mesmos princípios éticos e/ou religiosos – sendo a clássica regrinha de três nada mais que linhas de comando obsoletas prontas para serem reescritas. Foi assim com Ash (Alien), que classificou tais princípios como "ilusões de moralidade", com o replicante Roy Batty (Blade Runner) e seu resignado monólogo "Tears in the Rain" e com o David e sua necessidade de transcender a condição de filho/criatura (Prometheus) para se tornar também pai/criador (Alien: Covenant).¹

1 – Mitologicamente falando, praticamente um remake. Malditos gregos.

Foi uma jornada e tanto. E continua sendo.

Já nos primeiros três episódios, Raised by Wolves traz Ridley Scott em sua experiência mais intensa de humanidade sob os olhos de um andr... uma "pessoa artificial". E também a 1ª gynoid da vida do cineasta. Foi mal, Pris.


Ele é um dos produtores executivos e dirige os dois primeiros episódios. Seu filho, Luke Scott, dirige o terceiro. Mas apesar dos temas e da ambientação bem familiares, a série é criação de Aaron Guzikowski, que roteiriza os 4 primeiros episódios.

Em se tratando de HBO, é até redundância mencionar o alto nível da produção, mas vamos lá assim mesmo: efeitos especiais grandiosos, cinematografia que sobrecarrega a retina e muita inspiração na estética eternizada na franquia Alien, incluindo aí as artes do mestre H. R. Giger, ainda que ligeiramente diluídas pra não dar muito na cara.

Descontando o fato de que Ridley Scott segue em sua fixação de destruir naves espaciais gigantescas, não dá pra evitar certas conexões. Várias, aliás.

A premissa é um exercício de futurismo sombrio e, ao meu ver, uma extrapolação flagrante do que vivemos na atualidade. No ano 2145, a Terra foi devastada por uma guerra entre religiosos e ateus. Os poucos sobreviventes ganham o espaço em busca de um novo lugar para recomeçar.

Em segredo, os andróides Mother (Amanda Collin) e Father (Abubakar Salim) são enviados com um grupo de crianças a um planeta promissor e aparentemente desabitado. A missão é estabelecer uma colônia humana regida pelo ateísmo e com valores estritamente científicos. Os anos passam com uma cota acachapante de percalços que é pontuada pelo maior deles: uma nave com um contingente de religiosos chega ao planeta.

Comentar mais é desnecessário, mas já dá pra perceber o caminho arriscado – e riquíssimo – que Raised by Wolves escolhe trilhar.


Mesmo sem travar uma hard talk entre religião e ciência, o roteiro consegue deixar claro o que está em jogo ali. Tão interessante quanto observar a predisposição (genética?) de uma criança à crença em um poder superior invisível é acompanhar a incansável retórica de Mother. Sentenças como "a crença no irreal pode confortar a mente humana, mas também enfraquecê-la" ou "nunca avançaremos, a menos que resistamos ao impulso de buscar consolo na fantasia" parecem extraídas de anotações do Richard Dawkins.

Se o modelo Hyperdyne 120-A-2 era disfuncional, o caso de Mother é a completa experiência materna on crack. Um elo perdido entre a precursora Maria (com referência no design em seu modo Necromancer/Mamãe É de Morte), a Banshee do folclore celta (embora tenha me lembrado mesmo a Banshee Prateada!) e, obviamente, a zelosa Sra. Norma Bates. Ainda assim, Mother é capaz de emocionar em momentos de notável sensibilidade ao lidar com questões como luto, culpa e redenção. Como toda mãe tridimensional que se preze.

Amanda Collin brilha. Sua atuação é visceral e performática, evidente em cada pêlo eriçado e veia saltada de seu rosto. Sistema Stanislavski adaptado de algum tablado hardcore dinamarquês, com certeza. Este post é dela, por obséquio, mas um grande jogador precisa de um grande time. E isso ela teve.

Abubakar Salim executa com perícia um trabalho dificílimo como o passivo e circunspecto Father, que, ao mesmo tempo em que administra os excessos de Mother, evita sucumbir à força da natureza que ela representa. Impossível não lembrar daquele antológico James Woods de As Virgens Suicidas.

O garotinho Winta McGrath como o relutante Campion também é uma grata surpresa. Travis Fimmel e Niamh Algar como o casal de ex-guerrilheiros e impostores Marcus e Sue estão corretos. A cena das cirurgias feitas por um andróide semicarbonizado (2º episódio) é ótima.

Assistir Mother defendendo no grito (literalmente) a santidade de seu dever – e frequentemente assumindo o inglório manto de anti-heroína – é uma análise do quão traiçoeira é a linha que separa o amor e o ódio. Ou o céu e o inferno.

Definitivamente, ser mãe é padecer no paraíso.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Ressaca de trailers

Infortúnios de uma maior idade: DC FanDome pocando e eu pocando nas Heineken. Mas uma breve consulta a uns parayoutubers, uns minutinhos de teasers, trailers & sneak peaks e voilá: estou de volta ao jogo.


O teaser de Zack Snyder's Justice League – ah, a autoindulgência! – é como o último carimbo no cartório de registro civil, legitimando assim o punhado de ceninhas workprint que o diretor reproduzia em sua conta no Vero. Então, ao som de "Hallelujah" (de novo) temos o young Darkseid descendo o porrete logo na abertura, o Superman redivivo, o Lobo das Estepes versão Zack Snyder's Steppenwolf e um climão geral de BvS para quem precisa de BvS. Nada de preparação cinematográfica de 10 anos com filmes sobre a extensa e rica mítica dos Novos Deuses, Darkseid, Apokolips, etc – tudo será condensado em 4 episódios de uma hora cada.

Na minha época, o Guns N' Roses lançava dois discos duplos ao mesmo tempo e a gente rolava de rir com a pretensão. Então é isso: Zack Snyder's Justice League será o Use Your Illusion* dos millennials!

* trocadilho voluntário


Trailer Teaser meticulosamente correto de The Batman – ou deveria dizer Bate-Man? Porque a vontade com que ele bate num infeliz lá pelas tantas é de fazer até o Frank Castle convidar pra uma cerveja. Nada mal pra alguém com pinta de Robert Smith fase Disintegration. Gostei das camadas ainda rústicas do encapuzado em início de cruzada, da Mulher-Gata-de-Rua da tchutchuquinha Zöe Kravitz, do viés policial/detetivesco que a prévia sugere predominar e já escrevi um bucentésimo de vezes que Robert Pattinson é bom ator. Só tiraria mesmo a trilha com "Something in the Way", a música que todo mundo pulava em Nevermind.

Ah, a aquela placa frontal do uniforme é páia. Menos proteção, mais elipse, é que digo.



O trailer principal de Mulher-Maravilha 1984 é a versão estendida do que rolou até aqui, inclusive nas novas ousadias. Diana usando o Laço da Verdade para se balançar em raios é pura Física de Superamigos, mas o highlight (ops) periga ser a armadura "Águia Dourada", que promete render seu momento cosplay de Shayera. Se ainda colecionasse home video, esse ficaria ao lado de Barbarella, Xanadu, Flash Gordon e Galaxina.

Diante desse camp fest, achei a Mulher-Leopardo da Kristen Wiig meio escondida na prévia. Será que bateu uma vergonhinha alheia?



Que teaser safado de Black Adam. The Rock mesmo, só na narração em off e na arte conceitual. Lembrei das conversas "animadas" do Billy Batson com os Seis Anciões Imortais no seriado velhusco do Shazam. Pusta cheiro de naftalina.

Fun fato: o 1º papel do Dwayne também foi um supervilão egípcio. Que logo depois ganhou spin-off solo heróico. Será Teth-Adam o salvador do dia em seu debut cinematográfico?



Comentei faz um tempo que não era um gamer assíduo. E até há 1 segundo, continuava na mesma. Mas se teve alguma vez que fiquei na pilha de vender um rim (ou dois, com ajuda de algum samaritano visitante do blog) pra bancar um Playstation, foi com esse trailerão de Suicide Squad: Kill the Justice League. Além de parecer divertidíssimo, esse gráfico é de cair o queixo – relevando que sou lerdo pra essas coisas e meu queixo ainda estava no chão com os cinematics do Marvel Ultimate Alliance e do DC Universe Online.



E a "espiadela" do Esquadrão Suicida 2 de James Gunn leva o Zombie de Ouro Edição Extraordinária da 1ª Parte do DC FanDome. Desde Liga da Justiça sem Limites não vejo uma produção defender com tanta paixão a explosão de cores berrantes e as excentricidades estéticas extraídas dos gibis.

E John Cena paramentado de Pacificador per se. Nem precisava do "será como um Capitão América babaca": vai roubar a... ops!

...mas que vai, vai.

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

A companhia dos lobos

"Série de ficção científica dramática sobre andróides criando crianças humanas em uma colônia nos confins do espaço..."

– Hm, ok. Vou por na lista.

"...co-criada por Ridley Scott para a HBO Max."

– Caraaaaa....


Raised by Wolves é projeto conjunto da (Ridley) Scott Free Productions com o Turner's Studio T e a Madhouse Entertainment. O cineasta também é um dos produtores executivos e assina a direção dos dois primeiros episódios.

Na trama, um casal de andróides cria crianças humanas num planeta misterioso e recém-colonizado. Com as colônias divididas por diferenças religiosas, os andróides aprendem que lidar com os diversos aspectos das crenças humanas pode ser uma tarefa traiçoeira e complexa. O roteiro é de Aaron Guzikowski, do ótimo Os Suspeitos (2013).

A dinamarquesa Amanda Collin interpreta a gynoid Mother (entendi a referência!) e Abubakar Salim interpreta o andróide Father. Mas provavelmente o rosto mais conhecido do elenco é Travis Fimmel, o Ragnar da série Vikings, aqui no papel de Marcus.

Visualmente, o padrão Ridley Scott de imagética sci-fi não decepciona. Claro, os créditos são todos da equipe que trabalha para reeditar a consagrada identidade visual do homem – mas, no final das contas, é ele quem aprova ou não o resultado final. Então... está lá o sugestivo mix de Blade Runner e até dos Alien erigindo o pano de fundo.

Ah, e Prometheus. Afinal, há uma boa chance da religião ser novamente hackeada numa produção de Ridley Scott. Será que dessa vez ele vai deixar o roteirista nos mostrar até onde vai a toca do coelho?

Estreia em 3 de setembro.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Watching Watchmen


Impressõezinhas rápidas & rasteiras: 1 hora de narrativa cautelosa e atmosférica. Inúmeros easter-eggs visuais e algumas micropontes ligadas diretamente aos quadrinhos. Abertura impactante e previsível, dando o tom do resto da trama indisfarçavelmente pretensiosa. Em um dia normal, Damon Lindelof com premissas lentamente desveladas não trabalhamos. E isso já há algum tempo. Mas é o mais novo projeto Watchmen rejeitado por Alan Moore, então vamos jogar pela camisa.

Conflito racial substituindo a frustração pós-Vietnã e tensão da Guerra Fria originais. O episódio sugere um plot geral que respira sozinho e aspira sua própria independência. Isso é ótimo.

Arquimedes voando mais uma vez. Mesmo breve (e feio como sempre), foi lindo.

Ação ok. Grafismo existente, mas contido.

Regina King em plena forma, hipermotivada. Don Johnson novamente num contexto supremacista - seu 1º longa pós-Miami Vice foi o hit de locadora Na Trilha dos Assassinos (1989), onde enfrentava a KKK, enquanto em Django Livre (2012) ele integrava a organização racista. Jeremy Irons enigmático, instigante e à vontade (literalmente) em seu Ozymandias. Tim Blake Nelson em stand-by. Inesperado resgate do grande Louis Gossett Jr.

Jurava que ia tocar "Strange Fruit" na última cena. Ia me deixar muito mal, mas teria ficado bacana.

Até aqui, de boa, HBO. E vamos ao próximo.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

"...And There Will Be Blood"


Ok, essa justifica o hype. O 9º episódio, penúltimo da 3ª temporada, deve ter atingido uns 9.0 na Escala Kirkman! Memorável. A ser alçado ao panteão com glórias, junto com os melhores e mais impiedosos cliffhangers de 24 e Homeland.

Não li os tijolos que compõem a obra, mas tenho certeza que o escritor George R.R. Martin deve estar bem satisfeito com os sensoriais em frangalhos que aqueles 50 minutos deixaram nações afora. É sempre um deleite ver profissionais que seguem à risca seus objetivos e não fogem da tarefa, por mais árdua e inglória que seja.

Ao contrário de certos falaciosos por aí...

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Imagens do dia



Conseguiram melhorar o que já estava perfeito...

Bônus:


Com o perdão do trocadilho, The Walking Dead, a revista, não anda lá bem das pernas. Mas brindar a 100ª edição com uma arte de capa de Frank Quitely merece o crédito!

Lembrei da pobre vovozinha que empurrava comida aos netinhos numa música do Pungent Stench:
"Estou com fome mas não se incomode, você não precisa cozinhar porque você é o meu lanche!"

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A day at the races


Certa vez me atrevi a jogar umas partidas de dominó com uns coroas numa espelunca com cerveja a preço de custo. Até ali, pra mim, o inocente joguinho era apenas um entretenimento evasivo, motorizado pela sorte. Ledo engano. Os amigos, todos profissionais de boteco 24/7, sabiam quais peças eu tinha, quais eu precisava e quais estavam no banco. Isso já na primeira rodada. Particularmente irritante era o hábito que tinham de "adivinhar" com qual peça eu iria jogar. Mais ainda, me forçavam a jogar as peças específicas que eles queriam, me fazendo afundar no banco. A carroçada foi inevitável. Graças a Deus não era a dinheiro e aqueles camaradas não eram da máfia russa. Claro, depois fui saber que existem várias modalidades de jogo, estratégia, uma matemática aplicada simples e que eu era um peregrino numa terra pagã.

É um universo com uma física à parte e duas leis soberanas: nada é o que parece e sorte é a gente que faz. Isso se estende por outros jogos de forma mais evidente, como no pôquer, ou quase totalmente insuspeita, como nas apostas em corridas de cavalos. Pelo menos, foi isso que vi no piloto de Luck. Uma completa desmistificação.

As credenciais impressionam. Luck é a nova série da HBO. No elenco, Nick Nolte, Dennis Farina, John Ortiz e Kevin Dunn. Dustin Hoffman protagoniza e produz. O piloto foi dirigido por Michael Mann e escrito por David Milch (Deadwood), criador da série.

A trama acompanha um dia na vida de várias pessoas em posições radicalmente diferentes e todas interligadas por um grande esquema nas corridas. Hoffman faz um figurão do crime organizado recém-saído de uma estadia de 3 anos na cadeia e que agora volta à cidade para reassumir seus negócios. Farina faz seu motorista e assistente, talvez a figura mais próxima de um amigo. Pouco foi entregue sobre o amargo personagem de Nick Nolte, apenas que é um treinador veterano com um passado traumático envolvendo a morte de um cavalo campeão. John Ortiz, por sua vez, é dono de um estábulo e tem um cavalo de altíssimo rendimento, mas condicionado para correr mais devagar nas prévias (tornando-o assim um azarão de ouro pra quem tem a informação). E Kevin Dunn faz parte de um pequeno grupo de apostadores inveterados, do tipo que come, bebe e respira no hipódromo.

O piloto dá várias pistas sobre o que vem a seguir - e que provavelmente não corresponderá à expectativa de quem vê esse dream team cinematográfico. A trama não vem mastigada pra quem não conhece o mundo das corridas, a construção é lenta e metódica, não há qualquer alívio em termos de informação e o ritmo narrativo não faz média com o espectador. É roteiro de gente grande. E gente grande da velha escola. Uma segunda assistida se faz bastante oportuna, mas a premissa é cristalina no que quer entregar: apesar do nome, Luck não tem nada a ver com sorte.

O núcleo formado por Dunn é dos mais promissores - particularmente o personagem de Jason Gedrick (bem distante de seus tempos de Águia de Aço), um apostador de olho clínico que poderia ser um peixe grande, não fosse seu vício nas cartas. Dennis Farina está sensacional como sempre, bem como John Ortiz, um pilantra ganancioso de marca maior. Já Nolte, que novidade, passa a maior parte da história completamente impenetrável. Mas a velha raposa sabe o que faz. Assim que solta uma ou duas falas mais intimistas, traz de volta o espectador que estava quase desistindo de seu personagem, em velocidade de dobra. Timing elevado ao status de arte.

Quanto à Dustin Hoffman, me abstenho de qualquer análise. Não é pra mim. O que esse colosso faz em cena deveria ser isolado, estudado, catalogado e conservado em laboratório para as gerações futuras chegarem a um consenso razoável. Magnetismo irresistível, potencializado por uma carreira com um índice ridículo de concessões e equívocos. Quando ele fala, você cala a boca e presta atenção. Quando não, também.

A direção de Michael Mann é soberba, só pra variar. Com o recurso da ação bastante reduzida para seus parâmetros, o cineasta direciona suas lentes para as engrenagens do sistema. Num registro meio candid camera temos um intensivão de como flui o capital pelos bastidores. Quem são os incautos casuais que acham que aquele pode ser seu dia de sorte, quem são os apostadores que jogam pra ganhar e quem realmente ganha dinheiro ali, chova ou faça sol. O tom é de denúncia, em paralelo com o Oliver Stone de Um Domingo Qualquer, mas não fica só nisso. Nas cenas que antecedem as corridas e as corridas propriamente ditas, Mann chuta a lata e entra em seu modo cinemascope.

Nunca vi uma corrida de cavalos filmada desse jeito, in loco. As cenas são absolutamente eletrizantes, poderosas, viscerais. Eu diria até que são majestosas, em uníssono com a elegância absurda dos animais - o que é surpreendente pra mim, vindo de um esporte que não me dizia nada até a semana passada. A forte sensação de que aquilo realmente está acontecendo ali chega a ser desconcertante. O lugar daquelas sequências não deveria ser outro senão no maior IMAX 3D disponível neste planeta.

Um atrativo de peso que não sei se será repetido nos próximos episódios. Se não, pouco importa, ganhamos de qualquer jeito. Os dados já foram lançados. E Dumbledore está vindo aí...


Luck estréia no dia 29 de janeiro.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Dick on, conscience off


"...and everything's gonna be alright".

Já estava sentindo falta das tiradas do Andy. A 3ª temporada de True Blood chegou a mil e já meteu uns bons três plots a serem degustados lentamente, como um bom vinho. Tomara que Lafayette retorne ao high standard do início e que o Magistrado ganhe mais espaço dessa vez.

E, lógico, sempre torcemos para que a estonteante Jessica se inspire na Sookie e finalmente apareça como veio ao mundo (dos humanos).

Falando em Sookie ("Sookie, Sookie, Sookie..."), a doce e caliente garçonete de Bon Temps acabou de ganhar uma homenagem do malandrão Snoop Dogg. A letra é pimenta pura.




"Bring your best friend Tara, I got some real Eggs for her to eat"

Yo!

quinta-feira, 26 de março de 2009

BLOOD SUGAR SEX MAGIK


Em 2008, os vampiros voltaram com tudo aos meios pop. É bem verdade que o filão dos sanguessugas esteve mais evidência devido ao hit Crepúsculo, mela-cueca teen com gosto de isopor e sem sangue nas veias, com o perdão do trocadilho. Mas quem soube procurar, viu que o fino mesmo foram o sueco Deixe Ela Entrar, um dos meus favoritos do ano passado, e a espirituosa série da HBO, True Blood.

True Blood é baseado na série de livros Sookie Stackhouse, que eu nunca li, e adaptado por Alan Ball, que eu já assisti. Ball é criador da fabulosa e "peculiar" série A Sete Palmos. Por essa prévia experiência, absolutamente anti-ortodoxa para os padrões televisivos, a proposta de uma série vampírica avançou imediatamente centenas de clics no terreno do insólito. Mas até o terceiro ou quarto episódio eu ignorava tudo isso e já tinha até esquecido a série na gaveta do Buffy & quetais. Erro fatal.

Quem me deu o chutão necessário foi o zombie renegado Fivo, que resumiu a premissa espetacularmente aos moldes botequísticos, como convém. Segue abaixo a pérola descritiva, com links que adicionei por pura diversão irracional.


"É uma cidadezinha do interior da Louisiana, com todo o sotaque carregado que vem junto. A Vampira (engraçado como o nome Rogue em português ficou Vampira e a atriz que fez a personagem foi cair logo num filme desses) é uma garota comum que tem o dom de ler mentes e é virgem, pois nunca conseguiu se relacionar com ninguém justamente pq lê suas mentes. Anos antes uma empresa japonesa desenvolveu um sangue sintético que substituiria o sangue humano, então os vampiros saíram do armário, deram as caras, tentam viver em harmonia com os humanos e criou-se um clima de X-Men quanto à intolerância, só que naquele microcosmo.

Bem... a menina trabalha num daqueles bares de estrada e tem que se esforçar para não ler as mentes alheias. Um dia um vampiro chega no bar e os dois passam a ter uma fúria foguenta mútua e enrustida sinistra. Em paralelo, uma mulher que costumava trepar com vampiros morre e o irmão da Vampira, vampirófobo, é suspeito. Depois uma filmagem local o inocenta, mas a outra mulézinha que ele pega tb é dada a trepar com vamps, pois dizem que eles têm uma libido absurda. Aliás, tem um mercado negro de sangue vampiro que faz a pessoa ficar com a mesma libido.

Alguns vampiros meio pervertidos se metem a fazer merda pela cidade.

Enfim... todas as regras de vampiros estão lá... estaca, sol, convidar para entrar, hipnose etc. Só não viram morcego. A Vampira está benzaça, com um ar inocente e ao mesmo tempo safada, como uma pinup mangá. O cara que faz um negão viado e a prima dele, que fala com o sotaque escroto, estão ótimos tb.(...)"



Isso aí.

Destacando sem patinar em spoilers: os cliffhangers são cruéis com o espectador e faziam a espera semanal se transformar em tortura chinesa; o clima de devassidão e putaria é constante, crescente e intumescido - a ex-Vampira Paquim, por exemplo, protagoniza uma cena de arrancar palmas conjuntas de Manara e Serpieri; a (r)evolução da personagem Tara, que passa de irritante à apaixonante, numa soberba perícia da atriz Rutina Wesley, fantástica; Lafayette (o negão viado), interpretado por Nelsan Ellis, um tremendo ladrão de cenas; tudo o que remete à segunda temporada é muito promissor, da misteriosa Maryann (Michelle Forbes) ao sugestivo culto do reverendo Steve Newlin (Michael McMillian); e por fim, a trilha.

A excelente abertura já mostra o alto nível da seleção com a sensacional "Bad Things", de Jace Everett. No decorrer da série, se ouve de AC/DC e Reverend Horton Heat até Wilco e Black Rebel Motorcycle Club. Cada episódio tem o nome de uma das canções de sua trilha e as faixas reservadas aos créditos finais são um show à parte, com temáticas relacionadas à cena derradeira. Nesse ponto, o "campeão das chamadas" é o personagem Sam, que motiva as trilhas de fechamento do quarto e nono episódios, com "That Smell", do Lynyrd Skynyrd, e "Walking the Dog", de Rufus Thomas, docemente sarcásticas nas respectivas situações.

Daí que fiz uma compilação das doze trilhas finais, com direito à capa surrupiada da (boa) hq. Muito country, southern, blues, bluegrass e rock'n'roll estradeiro pra ouvir matando uma garrafa de whisky. A única baixa é o melancólico instrumental do quinto episódio, de Nathan Barr (compositor oficial da série), que voou abaixo do radar do Google e foi prontamente substituído por outro som do mesmo capítulo.



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Anexo não tão off-topic

Capa do novo Heaven & Hell:


Algo entre Labirinto do Fauno e os primeiros discos do Dio. Tranquilamente uma das capas mais profanas, agressivas e instigantes em muito, muito tempo.

Achei do caralho! Os velhinhos se reinventaram, mais uma vez.