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segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Auf Wiedersehen, Herr Kier


Udo “Kier” Kierspe
(1944 - 2025)

Udo Kier era uma força da natureza. Imparável – em nível dramático e volume de produção.

Estrelou mais de 200 filmes, tanto grandes produções quanto grandes trasheiras, participou de clipes de Madonna e Korn, trabalhou em game (Call of Duty: WWII), foi Adolf Hitler umas três vezes, foi vampiro pelo menos duas vezes e, entre seus últimos projetos, estão dois hits brasileiros até o talo.

Em outras palavras, Udo Kier gabaritou.




Legado suficiente para uma eternidade é isso aí.

Vielen Dank für alles, Udo Kier.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Hoje o mundo ficou menos estranho


David Keith Lynch
(1946 - 2025)

Se foi o grande David Lynch. E escrever isso traz uma sensação tão surreal quanto seus filmes. Há tempos o homem virou uma ideia e, como ensinaram, ideias não morrem.

Lynch nunca teve a menor intenção de agradar, pelo contrário. Esse negócio de zona de conforto não era com ele. Fez videoclipes, projetos para a TV, toneladas de curtas, comerciais e até webséries, mas, paradoxalmente, contabilizou apenas dez longas em 57 anos de carreira. Mas que longas.

A estreia radical já com Eraserhead (1977) e seguindo com o humano O Homem Elefante (1980), seu divisivo Duna (1984) que cresci assistindo e adorando, o platô de perfeição cinemática atingido em Veludo Azul (1986) e Coração Selvagem (1990), a série-evento Twin Peaks (1990-1991), os labirintos neo-noir de A Estrada Perdida (1997) e Cidade dos Sonhos (2001) até a ternura raiz de História Real (1999); todos brilhantes aos seus modos e obsessões.

Ainda não assisti a saideira, com Império dos Sonhos, de 2006, nem o seu retorno a Twin Peaks, em, duh, Twin Peaks: O Retorno, de 2017. Mas tive um último aperitivo de luxo: sua ponta como o lendário cineasta John Ford, na melhor cena de Os Fabelmans (2022), de Steven Spielberg.

Lynch é, fácil, um dos caras que mais reassisto na vida. E o fascínio segue o mesmo. A mágica, a estranheza e a transgressão não vão se exaurir nunca.

It is with deep regret that we, his family, announce the passing of the man and the artist, David Lynch. We would...

Publicado por David Lynch em Quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Bravo, Mr. Lynch!

sábado, 17 de agosto de 2024

Domingo é dia de descanso e Programa Silvio Santos


Senor “Silvio Santos” Abravanel
(1930 - 2024)

Uma eulogia ao Silvio Santos? Respeitosamente, declino.

Além de ser um dos raros tópicos em que o conhecimento público realmente tem propriedade, há um vasto material esmiuçando em detalhes a sua lendária trajetória. E o que dizer de novo sobre a figura que melhor entendeu as complexas nuances do povo brasileiro, da política e do entretenimento de massa?

Silvio Santos era maior que a vida. Um comunicador que deu a volta na relação e se tornou um símbolo, um reflexo da nossa identidade. Algo que só ele e outros mestres da velha escola, como o Chacrinha, tinham. E levaram o segredo consigo.

Dificilmente surgirá alguém parecido. E estou sendo generoso aí.

Este não será um domingo qualquer.

Obrigado por tudo, Silvio!

Ps: com tanta comoção e solenidade, só lembro dos guris que trocavam um videogame por uma bolinha de ping-pong na brincadeira do foguete. O Patrão era demais.

terça-feira, 31 de outubro de 2023

No olho da possessão

Deve ser alguma conjunção astral promovida pelo Samhain, mas há exatos 4 anos postei um vídeo que trazia a reação do público de uma sessão do clássico Halloween, em 1979. Então, nada melhor do que escancarar as porteiras do além com o documentário The Cultural Impact of The Exorcist, que também traz as reações do público de sua época.


Em tempos de vídeos react, isto aqui deixa todo mundo no chinelo. Culpa dos "Bills" William Friedkin e William Peter Blatty.

É justo afirmar que O Exorcista deixou muita gente com PTSD após a exibição. E é prova inconteste de que as famosas reações ao filme não eram apenas lenda urbana. Pessoas chorando, desmaiando e/ou se arrastando nauseadas para fora das salas no meio do filme eram uma constante. Filas quilométricas dando a volta em quarteirões também. Policiais organizando as filas e funcionários dos cinemas preparados para dar os primeiros socorros não era algo que se via todo dia.

Mais do que isso, as multidões que esperavam horas debaixo de sol, chuva e neve para assistir um filme é algo lindo de (re)ver – a Warner precisou alugar mais salas em esquema four walling emergencial para dar conta do povão disposto a pagar para sentir medo. É o poder da arte.

Outro aspecto curioso foi o intenso engajamento da comunidade afro-americana pelo filme, algo que ainda suscita algumas boas teorias. No Brasil, a comoção foi similar, mas com aquela gaiatice canarinho, claro.

Encontrei poucas informações sobre o doc. Apenas que foi transmitido originalmente pela TV em Westwood, California. Sua importância, no entanto, é de acervo histórico. Está na MUBI, inclusive.

Em dezembro, O Exorcista completa jovens 50 anos de lançamento. Uma criança ainda. E possuída.

terça-feira, 15 de agosto de 2023

Lana & Clark


A Rede Brasil vem mantendo um combinado bacanudo de séries live action do Superman em sua programação noturna. O Filho de Krypton costumava aterrissar exclusivamente nas noites de quarta – ou, como era carinhosamente vendida, na Superquarta. Mas ultimamente tem se fragmentado também pelas terças.

Pegaram de tudo. Desde o romcom Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman e o folheteen Smallville: As Aventuras do Superboy, que envelhece dignamente apesar da saturação e da sensação cabulosa de ver a Allison Mack saltitando por ali, até As Aventuras do Super-Homem, o "Superman PB" com George Reeves e as melhores Lois Lane's saídas dos quadrinhos – as maravilhosas Phyllis Coates na 1ª temporada e Noel Neill nas demais.

E ainda um produto kryptoniano adulterado que nunca tinha ouvido falar: Superboy. O seriado é coisa dos picaretas Ilya e Alexander Salkind, produtores dos três primeiros filmes do Super. Entre 1988 e 1992 foram produzidos 100 episódios em impressionantes 4 temporadas. Ao que consta, manteve uma boa audiência nos EUA. Como, só Rao explica.

Os efeitos são de uma trasheira olímpica. Chapolin perde. A estética é de produção Z com figurinos de pornô softcore.

O elenco é pavoroso. Os Superboys John Haymes Newton (na 1ª temporada) e Gerard Christopher (nas seguintes) são canastríssimos. E Stacy Haiduk, como Lana Lang, também matou as aulas de artes cênicas. George Lazenby, o James Bond de 007 - A Serviço Secreto de Sua Majestade (1969), chega a fazer umas pontas como Jor-El.

Krypton deve ter rolado no que sobrou do seu eixo gravitacional.


Claro que sigo acompanhando. Gosto de testemunhar a catástrofe até o fim. Mas também tenho curiosidade por alguns episódios. Consta que vários quadrinistas trabalharam nos roteiros, incluindo gente como Mark Evanier, J.M. DeMatteis e Denny O'Neil. Pois é.

Os boletos dos anos 90 não eram brincadeira.

Ps: apesar da cara de fotonovela, a HQ spin-off era melhor, de longe. Li as 22 edições + especial quase numa tacada só.

terça-feira, 18 de julho de 2023

Os Livros de Jô


“O prazer de comprar é quase tão grande, pra mim, quanto o prazer de ler o livro.”

Por muitos anos não entendi essa afirmação do saudosíssimo Jô Soares, em entrevista ao Roda Viva. Lembro que tentava reduzir a uma semântica involuntária, mais relacionada à objetificação da arte. Mas essa conta não fechava porque: 1 - Jô nunca foi ostentador; 2 - seu amor pela leitura era genuíno e escancarado. A verdade é que ainda não estava pronto.

Muitas compras e algumas leituras depois, entendi o que ele resumiu tão genialmente – e, craque, ainda matou no peito outra questão igualmente periclitante. Uma coisa independe da outra. São maçãs e laranjas.

Em situações mais extremas, isso pode ter relação com a bibliomania, a aquisição compulsiva de títulos em nome da coleção, sem que haja a real intenção de lê-los. Caso dos famosos lombadeiros – e peço 1 minuto de silêncio em homenagem àquele nosso amigo Salvático. Também pode ter relação com a FOMO, ou "fear of missing out" (medo de perder algo), síndrome ligada à ansiedade e gatilho frequente em se tratando de quadrinhos.

E quando o ritmo da aquisição de títulos ultrapassa a nossa capacidade de lê-los?

Nesse caso, o ensaísta e estatístico Nassim Nicholas Taleb cunhou o termo Antibiblioteca. Para ele, os livros não lidos que compõem essa Antibiblioteca são um lembrete constante de tudo o que desconhecemos. Um incentivo para continuarmos lendo, continuarmos aprendendo e nunca ficarmos confortáveis achando que já sabemos o suficiente.

Há quem diga que a Antibiblioteca não difere de uma biblioteca normal, onde também existe "uma coleção de livros não lidos por um extenso período de tempo". É o que diz Kevin Mims, do New York Times, que prefere o conceito do Tsundoku. Mais simplista e pragmático, significa, literalmente, a pilha de livros (ou gibis, revistas, etc) que você comprou e ainda não leu.

Gosto da ideia por trás da Antibiblioteca. Mas seria mais bacana (e honesto) afirmar que do meu home office tenho uma linda vista para uma paisagem Tsundoku...


* Neste post tentei emular o estilo do essencial Leituras do Dia, de Rodolfo S. Filho, que esteja descansando em bom lugar. Nunca chegamos a conversar, mas sempre me diverti e aprendi com as suas publicações. Era visita diária/semanal obrigatória há vários anos. Faz e ainda fará muita falta.

sábado, 10 de junho de 2023

Whoa, Oa!

Quem diria. Desenhos de sábado de manhã num sábado de manhã. Achava que a grade infantil - ou infanto-juvenil? - na TV aberta já tinha ido pro vinagre há éons.

No caso do SBT, é bom ver que não. E ainda com a ótima e solenemente ignorada Lanterna Verde: A Série Animada.



A série fechou em meros 26 episódios. Não vejo muitos órfãos por aí. Provavelmente tem algo a ver com o CGI superbásico no lugar da animação tradicional da linha Animated. Deve ter rolado uma estranheza. Mas a produção de Bruce Timm e a direção de Sam Liu e Rick Morales não deixaram a peteca cair.

Esse episódio, "Babel", o 21º da temporada, é um bom exemplo. Hal Jordan, Kilowog e o Lanterna Vermelho Razer tentam sobreviver numa cidadela hostil. O problema é que seus anéis estão descarregados e, sem o tradutor universal, eles nem mesmo conseguem compreender um ao outro. O resultado é engenhoso e impagável.

Teve mais um na sequência. Até onde vi, estão exibindo na ordem. Boa, Patrão!

quinta-feira, 23 de março de 2023

E viva à liberdade de pressão

Vez ou outra, algumas pérolas que jaziam no limbo televisivo conservadas n'algum VHS embolorado ressurgem no YouTube. Bruce Dickinson figurando no Que Som É Esse?, da antiga MTV, é uma dessas.


O quadro era um rip-off da seção "Cabra-Cega", da revista Bizz. O cantor, que promovia seu show solo no Festival Skol Rock 97, preferiu atirar a cerimônia pela janela e deixar as coisas mais... divertidas, para espanto da então VJ Chris Couto.

Dickinson sempre foi um fanfarrão e levantou ali uma bola perfeita para a jornalista cortar. Uma não, duas. Atirar na vaca sagrada alternativa Sonic Youth e brincar com a teoria conspiratória da morte de Kurt Cobain a mando da esposa Courtney Love fariam brilhar a retina de qualquer repórter com faro por uma declaração mais polêmica. Mas a Chris Couto — e nada contra a Chris Couto — seguiu travada em sorrisos tímidos, congelada num script sabor oportunidade-perdida.

É certo que o jornalismo cultural brasileiro já registrou momentos de autoafirmação e da mais puta pura iconoclastia. Isso nem se discute. Uma outra face, porém, foi criada sob medida para gravadoras e artistas: a da imprensa-parça, com abordagens bajuladoras, entrevistas fofinhas e ousadia zero.

Só que, em algumas ocasiões, os próprios entrevistados se encarregam de tocar fogo no parquinho. Ainda bem. Porque senão...

Ps: em 2011, o Sonic Youth fez o último show de sua carreira no festival SWU, em São Paulo. Momento histórico em que o jornalismo brazuca - também envolvendo outra ex-VJ - seguiu comendo mosca. Ó vida. Ó chinelagem.

sábado, 4 de março de 2023

"I've seen the future and it will be Batman..."


Não assisti ao Batman de Tim Burton no cinema. Na época, só estudava. A grana pingava (até hoje). Consegui ir ver apenas Batman: O Retorno, três anos depois. Mesmo caso de RoboCop 2, O Exterminador do Futuro 2 e As Tartarugas Ninja II - O Segredo do Ooze. Mas o hype gigantesco do filme original foi incomparável. Aliás, hype não: zeitgeist.

Começava ali um novo modo de enxergar o gênero dos super-heróis e de levar isso até o público neófito. Aquele, que responde pela maioria esmagadora da espécie humana. Foi um longo processo que começou com Dennis O'Neil, Frank Miller e Alan Moore, lá nas HQs mesmo — tudo isso foi destrinchado com mais propriedade no blog do Sadovski.

O fato é que sempre achei milhões de vezes mais interessante observar o impacto disso no público não iniciado do que em fanboys como o rapaz na miniatura do vídeo. E como objeto de estudo, Batman dificilmente será equiparado. Ninguém nunca havia visto nada sequer parecido antes. A excitação geral era evidente em cada olhar, até mesmo em estrelas e veteranos de cinema, acostumados com o deslumbre massivo da indústria. Foi um legítimo fenômeno pop cultural.

Sábias palavras do Prince. 1989 ainda não acabou...

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Até logo, Sr. Boldrin


Rolando Boldrin
(1936 - 2022)

Poucos souberam personificar e traduzir tão bem a alma interiorana do país quanto o ator, cantor, compositor e apresentador Rolando Boldrin.

Quando moleque, nunca perdia um Som Brasil. Mesmo, às vezes, sem entender direito os seus deliciosos 'causos'. E até hoje, depois de velho, dificilmente começo um domingo sem as reprises matinais do Sr. Brasil.


Hoje, o país perdeu dois de seus filhos mais amorosos. E um pedaço imenso de sua identidade cultural.

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

A felicidade não se compra


José Eugênio Soares
(1938 - 2022)

Triste, devastadora notícia. E relacionada a um cara que só levou alegria ao Brasil.

Jô Soares entendia como poucos a complexidade do perfil brasileiro e cunhava sátiras profundas numa linguagem simples com uma facilidade que só os gênios seriam capazes. Na ativa desde a década de 1950, Jô enveredou por quase todos os campos artísticos e performáticos possíveis, seja na música, teatro, cinema, literatura e até nos quadrinhos, pelos quais sempre foi apaixonado — inclusive é dele a tradução na 1ª HQ da Barbarella publicada aqui, via Linográfica Editora.

Tanto nos especiais ou em seus programas estouradíssimos, Jô era uma referência pop na era pré-internet. Mas provavelmente sua grande sacada tenha sido sua própria reinvenção quando importou o modelo americano dos talk shows modernos. Foi um marco. E segue influente ainda hoje.

Confesso que nos últimos anos já não acompanhava tanto. Era visível seu estado cada vez mais debilitado e melancólico. Jô nunca superou o baque da partida de seu amado filho Rafael, em 2014. Agora finalmente estão juntos, pra sempre naquele dia da foto.

Penso, feliz, que a recepção lá do outro lado tenha começado com abraços carinhosos de seus queridos amigos Max Nunes e Chico Anysio. E, claro, com uma gargalhada estrondosa do bom e velho Bira.

Obrigado por tudo, Jô!

domingo, 31 de julho de 2022

Aye, Aye Lieutenant!


Grace Dell "Nichelle" Nichols
(1932 - 2022)

Impossível mensurar a representatividade e a influência exercidas por Nichelle Nichols sobre gerações do mundo inteiro. Mas dá para ter alguma ideia com o conselho que ela recebeu do próprio Martin Luther King.

Segue um trecho extraído do ZdO 2018:


A história é bem conhecida. Em 1967, quando a atriz Nichelle Nichols disse a Martin Luther King que planejava deixar seu papel de Uhura em Star Trek para seguir carreira no teatro, o bom pastor lhe passou um sabão:

"Pela primeira vez somos vistos como deveríamos ser vistos. Você não tem um papel negro. Você tem um papel igual."

E continuou:

"Você é a nossa imagem do lugar para onde estamos indo. Você está 300 anos à frente e isso significa que onde estaremos tem início agora. Continue o que está fazendo. Você é nossa inspiração."


E não precisa de mais nada. Ou melhor, só uma coisa: "Thank you, Nichelle."

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Ele era o melhor no que fazia...


Isaac Bardavid
(1931 - 2022)

Com o veterano ator, dublador e poeta Isaac Bardavid vão-se as expectativas de novas aparições na mídia, sempre simpaticíssimo, e de novos trabalhos com seu vozeirão rascante inconfundível. Carioca de Niterói, se formou em Direito em 1976, mas já havia se apaixonado pela dramaturgia dez anos antes. Participou de grandes hits noveleiros como as primeiras versões de Irmãos Coragem, Selva de Pedra e Escrava Isaura, onde fez o assustador capataz Seu Chico, entre muitas outras. E nunca parou.

Prolífico em frente e fora das câmeras, Bardavid pertencia, digamos, à Era de Bronze da dublagem nacional. Sua voz tomou de assalto o imaginário brasileiro em personagens como o histriônico Esqueleto, o computador K.I.T.T. de A Super Máquina e, claro, o irascível Wolverine no desenho da Fox e na versão live action com Hugh Jackman.

E lógico que foi só a ponta do iceberg. O grande papel dele mesmo foi de "esposo, pai, vô, bisavô e amigo".


Isso que é um legado.

Muito obrigado por tudo, Seu Isaac!

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Goodbye, Mighty Isis


Joanna Kara Cameron
(1951 - 2021)

Joanna Cameron (ou JoAnna, dependendo do crédito) não era muito conhecida pelas últimas gerações, mas tem seu lugar no rodapé da história da cultura pop. Iniciou a carreira de atriz no finzinho da década de 1960 e figurou em algumas poucas produções para o cinema —a TV logo se tornou seu habitat natural/profissional, mas quase estrelou Love Story (1970) no lugar de Ali MacGraw, o que seria uma dramática mudança de eventos. No fim, acabou concentrando sua atuação em participações em seriados, dos famosos Daniel Boone e Columbo a pérolas da obscuridade televisiva.

Seu grande momento, no entanto, foi protagonizando Poderosa Ísis, série produzida pela Filmation e co-criada pelo próprio Lou Scheimer (que certamente reaproveitou alguns elementos dali para sua She-Ra, anos depois). Ísis durou breves duas temporadas, de 1975 a 1977, mas a caracterização marcante de Joanna como a super-heroína/deusa egípcia rendeu um título próprio nos quadrinhos DC e um crossover no seriado Shazam!, além de um cult following canino através das décadas.

Depois disso, Joanna fez apenas cameos em algumas séries. Um deles, no notório seriado setentista do Homem-Aranha —de biquíni, com a benção de Rá. Seu último trabalho em frente às câmeras foi, ironicamente, no telefilme Swan Song, de 1980.

A partir dali, sua vida se passou distante dos sets de filmagem: trabalhou por 10 anos como enfermeira cuidadora e atualmente atuava como gerente de marketing em dois hotéis no Hawaii. No máximo, fez algumas raras aparições em comic cons. Mas o legado como a pioneira super-heroína já estava garantido na posteridade.

Não por acaso, a notícia de sua passagem foi divulgada por uma ex-companheira de set, Joanna Pang, a Cindy Lee de Poderosa Ísis.


A série era voltada ao público infantil, com narrativas simples, lições de moral e orçamento muito mais limitado do que a série da princesinha Marston. Mas a figura carismática de Joanna personificada como a super-heroína, mesmo com indumentária simplória, eclipsava demais complicações.

Joanna era magnífica.


E Poderosa...


Thank you for everything, JoAnna!

terça-feira, 27 de julho de 2021

Vá em paz, Seu Orlando!


Orlando Drummond Cardoso
(1919 - 2021)

Falar que o genial Orlando Drummond fez a alegria de várias gerações é até redundância. Ele pertence a um seleto grupo cuja vida se funde com a história do entretenimento brasileiro - onde sua carreira teve início em 1942. O homem é uma lenda.

E o melhor de tudo: foram 101 anos de uma vida plena e incrivelmente produtiva.

Obrigado por tudo, Orlando Drummond.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

"Você viu o nascer do sol esta manhã?"


Com essas palavras, levei minha primeira porrada com uma série de tevê. E, quem diria, foi num episódio de Magnum.

Pra situar: na primeira metade dos anos 1980, os seriados americanos – chamados carinhosamente de "enlatados" – eram uma alternativa salvadora ao bandejão de novelas e filmes das décadas de 1950/60/70 reprisados ad nauseum. Em sua maioria, elas tinham uma pegada bem-humorada, sem grafismos ou nada parecido, mas ao menos eram relativamente atuais. E estamos falando de um gap de 1 ano entre o lançamento nos EUA e aqui. O que era inacreditável para aquela época. E inacreditável para esta.

Então, tinhamos lá a nossa cota de Carro Comando, CHiPs, A Super Máquina, Esquadrão Classe A, Duro na Queda, etc... E Magnum. Em comum, todas protagonizadas por heróis no sentido mais clássico da palavra. O Magnum de Tom Selleck era o exemplar perfeito. Detetive particular, festeiro, malandro, mulherengo, um bon vivant com sua coleção de camisas havaianas estoura-retina e eventuais arranhadinhas na quarta parede. Mas também dono de uma extensa ficha militar com seus anos servindo nos Navy SEALs. O cara era durão, mas sem perder a ternura.

Em suma, um genuíno all-american hero, com um inabalável código ético e moral como só os marketeiros yankees sabiam vender. E eles sabiam. Ah, sabiam.

Apesar da linha de trabalho, Thomas Sullivan Magnum III era a quintessência do sujeito boa praça que não media esforços para ajudar um amigo. E que jamais, jamais, daria o primeiro tiro. Aliás, isso era o versículo 0 da Bíblia dos enlatados: leve a justiça, não a execute.

E assim, Magnum seguiu +/- familiar até o episódio duplo que abre a 3ª temporada, "Did You See the Sunrise?". Escrita por Donald P. Bellisario, produtor e co-criador da série, a história traz Magnum e seu velho amigo T.C. (Roger E. Mosley) às voltas com o ardiloso Ivan (o ótimo Bo Svenson), um coronel soviético que fez a dupla comer o pão que o diabo amassou durante a Guerra do Vietnã. Ao final de uma turbulenta trama ao melhor estilo The Manchurian Candidate, Magnum parecia pronto para conduzir Ivan até a mão firme da justiça.

Ou assim pensava aquele molequinho em frente à TV.


Uma cena excepcional até hoje.

Não que Ivan não merecesse – fora tudo o que aprontou, ele ainda foi o responsável pela morte brutal do simpático Mac (Jeff MacKay), que estava na série desde o início. Mas lembro vividamente como foi caótico processar isso que foi uma subversão de tudo que era feito no segmento até então. Era como o primeiro tiro de uma guerra.

E o famoso tema da série, quebrando a crueza da conclusão com seu clima upbeat ensolarado, dava o toque surreal...

Hoje, anos depois de Jack Bauer normatizar esse tipo de coisa umas 35 vezes/episódio, soa até trivial, a despeito do Selleck no modo sangue-nos-olhos. Mortes causadas por um herói a sangue frio-subzero simplesmente não existiam nesse formato. Não ainda. Miami Vice só estrearia dois anos depois. O Homem da Máfia, cinco. E nenhum destes tinha um good guy.

O episódio ganhou uma espécie de cult following ao longo dos anos. Bellisario ainda se diverte ao comentar o impacto da cena.

Magnum podia ser uma das séries mais assistidas, mas não das mais comentadas. Naquela semana, tudo mudou. Pra sempre.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

TV Quarentena

Confesso que tinha deixado de acompanhar o épico retorno da trindade JaspionChangemanJiraiya nas manhãs de domingo da Band por conta de um velho TOC pós-Y2K: o esquizofrênico padrão de resolução das redes de TV na exibição de conteúdo antigo.

Felizmente, no início do mês, a Sato Company anunciou a mudança de resolução das clássicas séries tokusatsu. Finalmente a pavorosa esticada widescreen 16:9 daria vez às resoluções 4:3 originais. Só um problema ainda (avisei que era TOC): os mattes, aquelas barras escuras que surgiriam nas laterais.

Curioso, dei uma zapeada marota. E gostei de ver.




Olha aí o Jiraiya visionário...





Nada como um pouco de criatividade e senso estético.

A mesma sacada serviu bem no repeteco do mundial de 93. Partidinha da tarde, pra fazer a digestão.


Mas enquanto a Sato/Band deram um show de (tele)visão, a Globo parecia o tiozão que não manja de porra nenhuma e se mete a fuçar/desconfigurar o equipamento alheio. Ao exemplo dos jogos da seleção e das corridas da Fórmula 1 dos domingos anteriores, a OMNI-BR repetiu a tosca esticada wide na icônica vitória de Ayrton Senna no GP do Brasil em 1991.

O resultado são carros achatados de 1/2 metro de altura por quatro de largura e 8 de comprimento e mecânicos hobbits parrudos trabalhando nos boxes.

Bem, amigos da Rede Bobo, aqui temos o...


Jeito Errado #1




Até o nosso eterno campeão Ayrton parece ter levantado o troféu em Júpiter, com o triplo da dificuldade que teve, o que parecia impossível.


Correndo por fora (perdoe o trocadilho), a Rede Brasil não esticou full em wide, mas na exibição do seriado Lois & Clark recorreu ao famigerado pan & scan – literalmente um recorte em cima e embaixo de um vídeo full para forçar um formato wide inexistente no original. Nem sei qual é pior.

O que nos leva ao...


Jeito Errado #2

...com um bônus tão impagável que nem lembrei de resoluções e TOCs. Pobre Escoteirão.




#BruceWayneCurtiuIsso

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Retrospec Fevereiro/2019


1/2 - Para o horror de quem detesta comprar pela internet, a Panini lança o antecipado Senhor Milagre de Tom King com exclusividade na loja virtual - embora se encontre o título em algumas raras comic shops. Longe de urubuzar a eficiência da malandragem canarinho, mas acho que a Amazon vai mastigar e cuspir esse plano infalível aí.

3/2¹ - Ah, se foi a Julie Adams, uma das atrizes mais lindas da paróquia. Do alto de suas 92 primaveras, a bela ficou eternizada como a doce Kay, a damsel in distress do clássico O Monstro da Lagoa Negra. Mas não era só um rostinho bonito, simétrico, gracioso & perfeito - vide suas marcantes participações em Bonanza ("The Courtship", S02E16) e O Incrível Hulk ("Life and Death", S01E10).

3/2² - Roger Waters escreveu, não leu e o pau comeu. Defender o Maduro é pedir pra levar another brick in the head. Mas em tempo: está certo sobre as ambições petrolíficas dos USTrump em cima da arrasada Venezuela, o assunto mais importante aqui que ninguém irá debater na atual briga de adultinhos extremistas.


5/2 - Editora Culturama empolgadíssima com o início das prensagens da linha Disney. Vou no embalo e filmarei minha impressora em ação.

7/2 - Mais um fim de era: foi-se o Albert Finney. Esse era dos grandes. Era dono de uma carreira longeva, mas lembro de cabeça os poucos (e ótimos) filmes que vi com ele: 007 - Operação Skyfall, os Bournes Ultimato e Legado, Peixe Grande, Erin Brockovich, Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto, Traffic, Assassinato no Expresso Oriente, Lobos e, claro, o clássico da Sessão da Tarde natalina (da minha época) Scrooge/O Adorável Avarento.

8/2 - Incêndio no centro de treinamento do Flamengo deixa 10 garotos mortos e três feridos - um em estado gravíssimo. O clube não tinha laudo para alojamentos na área e muito menos liberação para os seis contêineres adaptados como dormitórios. Mais um triste capítulo escrito pelo nosso jeitinho brasileiro.

9/2 - Jogada mestra do mkt Marvel: site noventista do filme Capitã Marvel emulando as velhas home pages hospedadas no Geocities, Tripod, Angelfire e afins. E ainda vem com joguinho dentro. Felizmente, as conexões atuais superam os 56k de banda mínima necessária.

11/2 - Como tudo que é ruim pode piorar, partiu o Ricardo Boechat inesperadamente, aos 66. Um dos grandes expoentes do jornalismo brasileiro - e, do 1º escalão, um dos únicos ainda provocadores e relevantes. No rádio era um primor (concordando ou não com ele) e na TV ninguém quebrava o gesso cênico do âncora para (re)colocar os pingos nos i's daquele jeito.


Veja o comentário de Ricardo Boechat sobre a declaração do deputado Jair Bolsonaro durante o voto no processo de impeachment.
Publicado por Jornal da Band em Segunda-feira, 18 de abril de 2016

12/2¹ - A Liga Extraordinária 1898 a 230 minions. Caráleo, Devil... digo, Devir.

12/2² - Se vai a talentosa cantora Deise Cipriano, do grupo Fat Family. É clichê, mas se tivesse nascido americana ela teria uma belíssima e produtiva carreira e o reconhecimento merecido em vida.

13/2¹ - Sai de cena Abigail Izquierdo Ferreira, a Bibi Ferreira, aos 96. A alcunha de "A 1ª Dama do Teatro Brasileiro" é pouco para sintetizar a carreira desta mulher incrível. Atriz, cantora, dançarina, apresentadora, musicista, compositora, diretora, ela é o patrimônio cultural de um Brasil de tempos mais românticos, esperançosos e felizes.

13/2² - Senhor Milagre de Tom King é visto em bancas de São Paulo e do sul do país. Seria mesmo um senhor milagre (da estratégia furada)?

14/2 - Spawn volta ao Brasil com a fase Paul Jenkins. O lançamento será via editora New Order. Aguardamos ansiosamente pelo lançamento de Blue Monday - hein, hein?

15/2 - A liga dos grandes segue com mais baixas: desta vez foi o ator suíço Bruno Ganz, que, além das participações antológicas em Asas do Desejo, O Amigo Americano, Lutero, Nosferatu: O Vampiro da Noite e Os Meninos do Brasil, também fez o Adolf Hitler mais impressionante do cinema, em A Queda. Gênio.

18/2 - as séries Jessica Jones e Justiceiro são canceladas, concluindo assim o Programa Extermínio Marvel Total®, da supervilã Netflix. Mordam-se de inveja, Metalóide e Pete-Pote-de-Pasta.

21/2¹ - Foi-se Peter Tork, cantor, baixista, guitarrista e tecladista dos icônicos e controversos The Monkees. Além de exímio músico, era amigo de Stephen Stills (o quão foda é ser amigo de Stephen Stills?). Ainda assisto algumas reprises da jurássica série no toscanal Rede Brasil. Tork era o Monkee ingênuo e empolgado.

21/2² - Stanley Donen dá adeus e com ele um enorme pedaço da História do Cinema. Entre (muitas) outras coisas, ele co-dirigiu Cantando na Chuva e dirigiu Sete Noivas para Sete Irmãos, O Pequeno Príncipe (de 1974), o divertido Saturn 3 e o classicaço Charade. Fraquinho, o homem. Ironicamente, sua última incursão no cinema foi Feitiço do Rio (1984), uma trasheira filmada no Brasil com Michael Caine, Demi Moore e José Lewgoy. Tinha que ser.

Lendas do Universo DC - Novos Titãs vol 2 (Panini Comics) 13 erros detectados até agora.
Publicado por Todo Dia Um Erro Nos Quadrinhos Diferente em Domingo, 24 de fevereiro de 2019

24/2 - Festinha comemorativa dos TREZE ERROS encontrados em Lendas do Universo DC - Os Novos Titãs vol. 2 até agora. Ouvi dizer que teve até bolo (de barro). Porra, Panini!

25/2 - Lá se foi o Mark Hollis, frontman do Talk Talk, um dos grupos rock/synthpop britânico que praticamente moravam nas 10+ do rádio durante os anos 80. A piazada atual deve conhecer o hit "It's My Life" na versão do No Doubt. Ou já é muito velha também?

26/2 - Gibis mensais com capa cartão e lombada canoa ao estilo Batman: Cavaleiro Branco. E, claro, um ligeiro aumento nos preços de capa. A Panini quer ser a Rainha de Paus de Fevereiro mesmo. Não perdoa nem as moedinhas que iam sobrar pra padaria.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

The Duel After


E falando em 2001: Uma Odisséia no Espaço, quando molequinho, esse era tradicionalmente o primeiro filme que eu assistia no ano. Na madrugada de réveillon, todos os canais saíam do ar, exceto a Globo, que exibia 2001 após a Missa do Galo, quase ao alvorecer do dia. Claro... "assistia" é só força de expressão: após alguns minutos, eu dormia como se não houvesse amanhã. Nem a macacada quebrando ossos ao som de Strauss me mantinha acordado.

Conforme fui envelhecendo, fui tomando jeito - alcancei o espaço e aos poucos (bem aos poucos) fui me aproximando da grandiosa sequência final em Júpiter. Finalmente! Não entendia nada daquilo, mas... finalmente!

Até hoje mantenho o ritualzinho de início de ano. Mas no lugar da obra-prima de Kubrick na Globo, o posto foi assumido - now, in D.V.D. - por Encurralado, o famoso Duel (1971) de Steven Spielberg. Esse foi o primeiro longa do cineasta, embora originalmente não tão longo para o cinema (74 min.) e produzido para um programa semanal do canal ABC.

Durante muito tempo, Encurralado foi o filme que inaugurou minha grade anual da 7ª Arte. Por algum motivo, o ano não começava pra mim antes de revisitar a saga de um inofensivo motorista (Dennis Weaver) sendo caçado por um assustador caminhão-tanque ao longo de uma highway no deserto de Mojave. Mas já há uma trinca de anos que o debut Spielberguiano tem dividido a telinha com outro telefilme. E produzido pelo mesmo canal.

Em novembro de 1983, a comportada e superfamília ABC resolveu aterrorizar o público americano - e o resto do planeta - com a exibição de O Dia Seguinte (The Day After). O filme era a dramatização do medo mais recorrente na época: uma guerra nuclear entre Estados Unidos e União Soviética. O momento em que os mísseis são disparados dos silos nas bucólicas paisagens do Kansas e os efeitos old school misturando montagens e cenas de arquivo reais são arrepiantes. E os espólios do conflito fazem os sobreviventes invejarem quem morreu nos ataques.

Ainda hoje o filme traz uma carga deprê incrível. Especialmente para aqueles que se lembram daquela versão de mundo com duas Alemanhas. Isso graças ao olhar clínico do diretor Nicholas Meyer no elenco estelar - todos francamente engajados a fazer do filme um manifesto desesperado, mas sem panfletarismo: apenas se valendo dos apectos mais pungentes que uma grande atuação pode alcançar.

Nunca vi o Steve Guttenberg tão triste e miserável num filme. Difícil não ser impactado pela cena em que uma mãe (Bibi Besch) se recusa a aceitar que as bombas estão vindo e insiste em arrumar o quarto dos filhos. Ou acompanhar a lenta derrocada moral e psicológica de um médico veterano interpretado magnificamente pelo saudoso Jason Robards.


Além da natureza árida e da impiedosa descontrução do elemento humano, o que esses dois filmes têm em comum são seus protagonistas encarando um cenário inglório, quixotesco. São a epítome da máxima "coisas ruins também acontecem com pessoas boas".

Mas acima de tudo, são sobre pessoas que mesmo diante disso tudo, continuam seguindo, olhando para frente, para o futuro, por menos promissor que ele pareça.

Por quê? Não sei. Mas, estranhamente, é uma boa maneira de começar um ano.