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quinta-feira, 27 de novembro de 2025

The Smashing Corgan


Há algum tempo acompanho o conteúdo do Track Star* – tenho um fraco pela premissa do cabra-cega musical. Conspiram a favor do canal a dinâmica enxuta, a seleção diversificada de gêneros e um entrevistador não-pentelho que sabe ouvir, pra variar. E essa edição com o Billy Corgan é um escândalo de boa.

Corgan – que tem um podcast viciante, The Magnificent Others with Billy Corgan – é franco como uma tijolada. Acerta tudo (menos uma armadilha picareta lá pro final), despeja um conhecimento histórico-musical absurdo, um impagável desdém por New York e sua voracidade hipsterista e uma bagagem de causos sensacionais. E com a moral de ilustrar um deles com um show em que divide o palco com David Bowie...

Imagina se o careca não estivesse mal-humorado.

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Zeros e uns nos trouxeram até aqui


Em 30 de abril de 1993, a World Wide Web entrava em domínio público. Três meses antes, o Jesus Jones já antecipava em Perverse o admirável cybermundo novo que surgia no horizonte. Trinta anos mais tarde, temos que convir que não é exatamente admirável, mas tanto a WWW quanto o disco foram divisores de águas. Perverse é o mais ousado e ambicioso registro do grupo britânico. Caso tivesse dado continuidade às trips revisionistas de 1991 e 1992, ele seria presença certa na leva seguinte.

Aliás, fico admirado em saber que a banda também curte.

Perverse está numa lista dos “10 álbuns matadores de carreira” não é à toa. O Jesus Jones vinha de sensação alternativa no Reino Unido com o debut Liquidizer, de 1989, ao sucesso mainstream com Doubt, de 1991, puxado pelo hit “Right Here, Right Now”. Até ali, seu techno-rock (ou rocktrônica) era associado às cenas rave e indie dance, mas também tinha ressonância com o público das rádios e da MTV.

Com Perverse, a história foi diferente. O tom do álbum era denso e sombrio, com muita influência de industrial e trance. A capa, estranhíssima, trazia um luchador sob um filtro psicodélico e uma saturação vermelha estoura-retina.

O figura Mike Edwards (vocalista, letrista, guitarrista, tecladista, faz-tudo) experimentou uma imersão tecnológica completa. Escreveu tudo em casa usando um sampler Roland W-30. Foi o 1º álbum gravado inteiramente por computador, com exceção dos vocais. As faixas foram registradas em jurássicos disquetes de 3½ polegadas (lembra disso?). A produção ficou a cargo de Warne Livesey, que trabalhou em discos do The The e vários do Midnight Oil, entre eles o clássico multiplatinado Diesel and Dust. Ele certamente encontrou ali o material mais esquisito de sua carreira.

A obsessão de Edwards por ciberespaço e pela revolução digital imprimiu em Perverse contornos de álbum conceitual.

De cara, em “Zeroes and Ones”, ele prevê, com notável precisão, os impactos positivos e negativos da internet na vida das pessoas. “The Devil You Know” tem camadas trance, climas orientais e recortes de guitarra onde se percebe nitidamente a influência da banda suíça The Young Gods. As animadas “Get a Good Thing”, “Magazine” e “Don't Believe It” atualizam a velha sonoridade, as soturnas “From Love to War” e “Yellow Brown” navegam em ondas synth DepecheModescas, “The Right Decision” traz um groove electro infeccioso, “Your Crusade” é uma paulada pop/rave'n'roll, o tribalismo industrial de “Tongue Tied” emenda na raivosa techno com Ø BPM de “Spiral” e no grand finale com o épico progressive house “Idiot Stare”. Um álbum espetacular.

E complicado de tocar ao vivo. Do setlist atual, apenas três faixas comparecem. Como o próprio Edwards comentou, foi uma abordagem fascista: “'essa é a canção, nada mais importa'. Havia músicas no álbum que os membros da banda não tocaram." E mesmo nas exceções, a execução ainda é cabulosa.

É o caso de “The Devil You Know”, a música de Perverse mais próxima de um hit.


Em várias aparições na TV e mesmo no DVD Live at The Marquee, de 2005, o riff – na verdade, uma saraivada de guitarras sampleadas à “Skinflowers”, do TYG – soa precário ao vivo. A menção honrosa vai para a esforçada apresentação no programa The Word, na ocasião em que promoviam o single.

Mesmo inevitavelmente ultrapassado pelo futuro, Perverse ainda soa refrescante e intenso. Uma experiência memorável de ousadia eletrônica de uma banda de rock em plena era grunge.

E, ao contrário de todo aquele futurismo e tecnologia de ponta, tive a K7 original. Comprada na Mesbla.

Bons tempos, ainda que low tech.

terça-feira, 27 de agosto de 2024

O culto ao Lagarto Mágico


Na zaga: Cook Craig, Ambrose Kenny-Smith, Michael Cavanagh e Lucas Harwood; No ataque: Stu Mackenzie e Joey Walker

Era mais fácil acertar na loteria do que antecipar o sucesso atual do King Gizzard & the Lizard Wizard. Esperaria isso de outras bandas cult ad eternum, tipo Gallon Drunk, The BellRays ou até o Squirrel Nut Zippers. Mas a evolução das espécies – e da indústria musical – tinha outros planos.

O sexteto australiano foi fundado por Stu Mackenzie, Joey Walker e pelo ex-integrante Eric Moore em 2010, quando estudavam indústria musical na Universidade RMIT, em Melbourne. Conheci em 2019, no pesadão Infest the Rats' Nest. Desde então, o grupo não saiu mais do play e das minhas listas de melhores do ano. E afirmo isso da forma menos deslumbrada possível, visto que os caras são ratos (ou lagartos) de estúdio: só em 2022 eles lançaram cinco álbuns. Contando com o excelente Flight b741, lançado este mês, eles já contam com 26 discos de estúdio. E olha lá se não desovaram mais algum enquanto termino de datilografar.

O mais impressionante é que cada registro trafega por um gênero diferente. Tem pra todo mundo: rock psicodélico, heavy metal, stoner, thrash metal, garage rock, space rock, música eletrônica, progressivo. E sem perder a identidade.

Mas nada é ao acaso. Além de multi-instrumentistas impecáveis, são operários 24/7, trabalhadores heavy duty. E é evidente que souberam, como poucos, ressignificar a desconstrução do disco ao seu favor.

O resultado são os shows concorridíssimos das últimas turnês – sold out na Europa e agora, nos Estados Unidos e Canadá. Ao que consta, o cachê atual da banda gira entre 150 e 300k (Bidens, of course) para datas na América do Norte. Abaixo da linha do Equador, deve ser o triplo do valor mais os rins e as córneas do público.

Mas até nisso o grupo resolveu subverter e está transmitindo cada apresentação do atual rolê em lives no seu canal do YouTube. A ação é qualquer coisa de espetacular. Seguem os shows de sábado e domingo últimos.




De Cleveland/Ohio a Newport/Kentucky são 402 km. Deve ter sido um corre daqueles. 24 horas de busão, toneladas de equipamentos, seis abençoados mais equipe. Operários mesmo.

Logo mais, tem outro.

Ps: as lives são removidas na sequência, mas sempre tem um samaritano que reposta. Lógico que não devem durar muito também.

quarta-feira, 8 de maio de 2024

O dia em que o gravador desligou


Steve Albini
(1962 - 2024)

Steve Albini, cara. Se foi o Steve Albini. Aí é pra desanimar de vez mesmo.

Difícil mensurar a sua importância para o som alternativo e até para o rock mainstream do final do século passado. Mal dá pra discernir os dois. E sobre os novos tempos, nunca foi de medir palavras.

Adoro as suas bandas e ex-bandas: o Big Black, o Rapeman (ah, esse nome hoje) e o Shellac – que conquistou seu lugar num ZdO de tempos imemoriais – nunca se ausentaram dos meus monitores e fones por muito tempo. Mas foi o seu lado produtor, ou, como ele gostava de ser chamado, "gravador", que me apresentou a um mundo de maravilhas musicais. E mudou a minha vida.

Surfer Rosa (Pixies), Rid of Me (PJ Harvey) e Tweez (Slint) são clássicos no meu caderninho. Fora tudo em ele que meteu a mão do Jon Spencer Blues Explosion, The Breeders, Zeni Geva, Stinking Lizaveta, The Jesus Lizard, Neurosis e uma carrada de outros. Teve muita porcaria também, claro. E acho tanto o In Utero, do Nirvana, quanto o Walking into Clarksdale, do Jimmy Page & Robert Plant, discos problemáticos, mas, ainda assim, fascinantes exercícios do wall of sound albiniano.

Só divagando. A porrada foi grande.

Albini partiu ontem, trabalhando no estúdio. Apesar de ser uma fera ao vivo, tenho a impressão que ele se foi em seu palco preferido...

segunda-feira, 10 de abril de 2023

“Respeitável público, com vocês...”


The Butthole Surfers Movie promete destrinchar a trajetória da cultuada banda texana, um dos pilares da música alternativa americana — da verdadeira música alternativa, transgressora, irreverente e barulhenta, anos-luz de engambelações tipo Post Malone, Machine Gun Kelly e Billie Eilish. E o Lollapalooza dos primórdios tem tudo a ver com isso.

As apresentações anárquicas e proibidonas dos Surfers sempre foram lendárias, mas invariavelmente relegadas ao circuito underground. Na primeira edição do Lollapalooza, porém, isso mudou. Foram mais de 20 datas cruzando os Estados Unidos entre julho e agosto de 1991. Lá, os Surfers desfilaram todo o seu repertório de bizarrices, putarias e da mais pura insanidade-na-marca-do-pênalti, como comprovam as "brincadeiras" com fogo e as cenas do vocalista Gibby Haynes empunhando um trabuco em pleno palco e praticando tiro ao alvo sobre as cabeças do público (!!).

O Lolla atual pode ser a epítome do entretenimento gourmet inofensivo, mas houve um tempo em que a millennialzada leite com pera sairia de lá traumatizada...

O doc está cheio de depoimentos de gente como Jim Jarmusch, Richard Linklater, Steve Albini, Flea, Ice-T, Henry Rollins, Thurston Moore (Sonic Youth), Donita Sparks (L7), East Bay Ray (Dead Kennedys), Buzz Osborne (Melvins) e mais um punhado de notáveis. A previsão de estreia é para o final de abril.

A direção é de Tom Stern, que coleta material sobre o grupo desde 1986, quando ainda era um estudante de cinema. A co-produção dele com Noa Durban foi bancada através de um Kickstarter que arrecadou mais que o dobro da meta pretendida.

Pelo visto, muita gente também quer surfar naquele Butthole.

quinta-feira, 23 de março de 2023

E viva à liberdade de pressão

Vez ou outra, algumas pérolas que jaziam no limbo televisivo conservadas n'algum VHS embolorado ressurgem no YouTube. Bruce Dickinson figurando no Que Som É Esse?, da antiga MTV, é uma dessas.


O quadro era um rip-off da seção "Cabra-Cega", da revista Bizz. O cantor, que promovia seu show solo no Festival Skol Rock 97, preferiu atirar a cerimônia pela janela e deixar as coisas mais... divertidas, para espanto da então VJ Chris Couto.

Dickinson sempre foi um fanfarrão e levantou ali uma bola perfeita para a jornalista cortar. Uma não, duas. Atirar na vaca sagrada alternativa Sonic Youth e brincar com a teoria conspiratória da morte de Kurt Cobain a mando da esposa Courtney Love fariam brilhar a retina de qualquer repórter com faro por uma declaração mais polêmica. Mas a Chris Couto — e nada contra a Chris Couto — seguiu travada em sorrisos tímidos, congelada num script sabor oportunidade-perdida.

É certo que o jornalismo cultural brasileiro já registrou momentos de autoafirmação e da mais puta pura iconoclastia. Isso nem se discute. Uma outra face, porém, foi criada sob medida para gravadoras e artistas: a da imprensa-parça, com abordagens bajuladoras, entrevistas fofinhas e ousadia zero.

Só que, em algumas ocasiões, os próprios entrevistados se encarregam de tocar fogo no parquinho. Ainda bem. Porque senão...

Ps: em 2011, o Sonic Youth fez o último show de sua carreira no festival SWU, em São Paulo. Momento histórico em que o jornalismo brazuca - também envolvendo outra ex-VJ - seguiu comendo mosca. Ó vida. Ó chinelagem.

segunda-feira, 20 de março de 2023

Positive creep


Quando o Nirvana botou os pés no palco do Reading Festival, em 30 de agosto de 1992, o trio estava na crista do tsunami alternativo. Foram dias insanos para quem curtia um pingado noise e queria fugir da ressaca hard/glam dos anos 1980.

Vi uns trechinhos da apresentação, exibida na época pela (então descoladinha) TV Bandeirantes. Kurt Cobain entrando numa cadeira de rodas travestido com uma longa peruca loira e clima de ensaio empolgado diante de 60 mil doidões e doidonas.

Nesses anos todos, nunca ouvi a performance completa. Pelo menos até dia desses, ao conferir o monumental Live at Reading, pack de CD + DVD lançado em 2009. E me surpreendi muito.

Apresentação coesa, sem firulas, porrada atrás de porrada, tudo muito bem calibrado para funcionar naquele espaço gigantesco — 150 acres da Little John's Farm — com andamentos ligeiramente mais lentos, pesados e arenosos, mesmo nas baladas. Um showzaço. Mal dá pra acreditar que, quatro meses depois, a banda cometeria algumas das apresentações mais caóticas da história do showbiz em pleno Hollywood Rock, com praticamente o mesmo setlist.

Em algum multiverso grunge, o Nirvana entregou aqui o show que fez no Reading. E o Reading recebeu a nossa bomba. Que se fodam os ingleses.

sábado, 28 de janeiro de 2023

The Television will not be televised


Thomas “Tom Verlaine” Miller
(1949 - 2023)

Que tristeza saber da passagem de Tom Verlaine, frontman do grande Television. Tanto o Marquee Moon (1977) quanto o Adventure (1978) estão entre os discos que mais ouvi nesta vida. Clássicos indiscutíveis. Tão básicos e seminais para o rock quanto uma guitarra poderia ser.

Aliás, adoro o apelido que o NYT deu para o Verlaine: o "deus relutante da guitarra." Com justa razão.

Verlaine era um completo alienígena para os tempos atuais, um forasteiro deslocado no tempo. Holofotes nunca foram a sua praia. Música sempre foi a única prioridade.


E o fim de uma era segue a passos largos...

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

“Let me stand next to your fire...”


Assistindo Desastre Total: Woodstock 99 (Trainwreck: Woodstock '99, 2022) tive a sensação de viajar no tempo, mas num outro espaço. Acompanhei o festival a exatos 7.622 km e dois fusos horários de distância do epicentro: no conforto do meu lar, estirado em minha poltrona favorita, com tira-gostos variados e rodadas incessantes de caipirinhas e latinhas de Skol (outra época!). Na tela, headliners raivosos, som no talo e um maremoto humano ensandecido — com pintos e peitos à mostra e balangando via satélite — que ainda hoje deixa atônitos até habitués em megafestivais.

Tudo levava a crer que estava testemunhando a experiência rock and roll definitiva. Mal sabia do inferno social e humanitário que estava se desdobrando ali em tempo real. Ou melhor, até desconfiava...

Lembro que, a certa altura, um VJzinho qualquer pergunta a um garoto sobre as cenas de violência e quebra-quebra da noite anterior. Ele é categórico: "cara, você tem Limp Bizkit, Rage Against the Machine e Metallica se apresentando um depois do outro... queria o quê?"

Aquele momento, vindo de um guri ressacado, foi didático. A escalação do palco principal não tinha a menor ressonância com os auspícios de paz & amor do icônico Woodstock. Foi uma estratégia adotada já na edição de 1994, quando a marca foi ressuscitada no vácuo das primeiras edições do bem-sucedido Lollapalooza. A gasolina estava lá, só faltava o fogo.

Dividido em três episódios, o documentário da Netflix explora esse e outros pontos nevrálgicos que levaram o Woodstock 1999 a uma quase tragédia sem precedentes. O trabalho de pesquisa e resgate de imagens de arquivo é espetacular. E o diretor Garret Price também sabe do peso dos depoimentos de quem esteve in loco e faz uma boa seleção de woodstockers, com artistas, jornalistas, membros do staff do festival e do próprio público.

E ainda foi esperto — e sortudo — o bastante para colher a versão dos promotores Michael Lang e John Scher. Afinal, eles tinham muito que explicar.



Logo nos primeiros minutos, duas cenas surreais dão conta que até os deuses tentaram avisar: o então prefeito local Joseph Griffo inaugura o evento com a tradicional quebra da garrafa de champagne e só consegue na 9ª tentativa; e o momento em que o Soul Brother Nº 1 James Brown recebe o espírito do Rei do Soul Tim Maia (falecido um ano antes) e se recusa a estrear o palco principal enquanto não receber o cachê integral antes do show, mesmo com a banda já tocando a introdução e o público urrando.

Mas o doc não deixa dúvidas sobre quem foram os grandes vilões do evento: os preços hiperinflacionados e as deficiências de infraestrutura.

O Woodstock '99 foi realizado numa antiga base aérea americana, situada em Rome, NY. É um monstro de 3.600 acres onde cada direção era uma verdadeira peregrinação sob o sol escaldante do verão americano. Para economizar nos custos (e, talvez, amortizar um pouco do prejuízo da malfadada edição de 94), a produção contratou seguranças com pouca ou nenhuma experiência, batizou o contingente de "Patrulha da Paz" e tudo certo.

Outra grande ideia para as contas bancárias foi simplesmente não pagar as prestadoras responsáveis pelo saneamento e fornecimento de água, incluindo aí a manutenção dos banheiros químicos. Tenha em mente um público estimado em 200 mil pessoas ao longo de quatro dias e o resultado é um só: o horror, o horror...

O que veio a seguir foi de revirar o estômago. Aquelas imagens eternizadas na cultura pop do público coberto de lama, mergulhando na lama, rolando na lama e até pegando jacarezinho na lama... adivinha: não era lama. Era merda. Muita merda. Merda pra tudo que é lado. Mesmo num calor senegalesco, a falta d'água era frequente nas bicas e nos chuveiros distribuídos na área, mas talvez fosse até uma providência do destino — testes feitos durante o festival constataram que toda a rede de água estava severamente contaminada por fezes. Eles sabiam. Só não avisaram ao público.

E com as barracas de comida e bebida enfiando a faca sem dó (garrafinha de água: US$ 4) era como vislumbrar a derrocada dos antigos ideais, agora pervertidos pela ambição e pelo materialismo. Era o fogo que faltava. Cansado de ser maltratado, humilhado e explorado, o público se voltou contra tudo e contra todos. Inclusive contra ele mesmo.

De certo modo, foi um intensivão de neoliberalismo.


O diretor Price consegue achados tragicômicos em meio aos crescentes riots, como o momento em que um dos membros da equipe faz uma barricada na porta do escritório, como se estivessem cercados por zumbis. E não hesita em se aventurar por terrenos controversos, como o dilema dos artistas de rock pesado num ambiente instável. Pelo contrário. Korn fez um show visceral, com a vantagem da escalação no primeiro (e relativamente calmo) dia. Mas é difícil não ficarmos menos do que convencidos que o Limp Bizkit e seu frontman Fred Durst acirraram bastante os ânimos já exaltados. E que os caras do Red Hot Chili Peppers podiam ter ido dormir sem tocar "Fire" bem no momento em que se propagavam os incêndios que marcaram o fim do festival.

Desastre Total eventualmente cede a algumas concessões. É nítido que Metallica e Rage Against the Machine foram poupados. No caso do primeiro, lembro bem do coro de "Die! Die!", que a banda sempre puxa no meio de "Creeping Death", destoando de toda a estética psicodélica-flower power do evento. E no caso do Rage e sua incendiária apresentação, ao menos foi registrada a arrepiante cena da turba repetindo o mantra/grito de ordem "Fuck you, I won't do what you tell me" enquanto destruíam, pilhavam e violentavam tudo pelo caminho. Mas dá pra botar na conta da metragem.

Não ajudou a romantizada que deram no Woodstock original. Ficou parecendo um piquenique de fadinhas e hobbits no Condado. E não foi nada disso. Outra bola fora envolve a pior faceta do festival, que foram os vários casos de estupro. Já estava quase no final do último episódio e achei que o assunto não seria sequer mencionado, o que teria dado perda total no doc. Mas foi. Em algo como cinco minutos. Pois é.

Também é traçado um perfil da mentalidade machista e privilegiada do jovem-branco-de-fraternidade que predominou no festival. O que foi um dedo na ferida admirável.

A narrativa aniquila qualquer impressão sobre o promotor John Scher que não seja a de um businessman negligente e ganancioso. Mas curiosamente patina em assimilar a figura serena e enigmática de Michael Lang, falecido pouco depois as filmagens. Ele foi co-idealizador e promotor do festival original e, pelas imagens da época, já era um personagem e tanto. Merecia um doc à parte.

O Woodstock '99 teve apenas 4 dias, mas, pelo jeito, rendeu assunto para 23 anos. E contando...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Let's try to sleep now...


Mark William Lanegan
(1964 - 2022)

Na conta oficial do Twitter, apenas o breve e impessoal aviso de um amigo, apressadamente pedindo respeito à privacidade da família. É inevitável pensar, não tão lá no fundo, "epa, calma aí, amigo... como é que é o negócio?" E pegando no braço, inclusive. Como é que soltam uma dessa, do nada, numa terça-feira qualquer?

Para quem viveu plenamente o rock entre o final da década de 1980 e o início da década de 1990, o músico, compositor, escritor e espetacular cantor já havia garantido sua cadeira no panteão da música. Seja com o Screaming Trees, nas colaborações com o Queens of the Stone Age, com a Isobel Campbell ou seja na carreira solo com sua discografia estranha, imprevisível e interessantíssima. É uma lenda do rock desde o dia um.

Essa foi pra sumir com o chão abaixo dos pés. Se foi o Mark Lanegan. Numa rara terça-feira qualquer.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Pavões do Barulho


Uma das maiores surpresas do jornalismo musical do ano. O jornalista e diretor André Barcinski lançou Pavões Misteriosos originalmente em 2014 pela editora Três Estrelas, do Grupo Folha. É uma das investigações mais completas já impressas sobre o cenário da música brasileira embaixo e fora dos holofotes. Agora, com uma reedição turbinada com 400 páginas extras, vira quase uma Bíblia da bizarrice pop-canarinha.

E Barulho: Uma Viagem pelo Underground do Rock Americano saiu em 1992, pela editora Paulicéia. Foi um livro-evento para todo mundo que curtia rock não-farofa do final da década de 1980 até o início da década de 1990. O material foi resultado de uma viagem de dois meses e ½ fotografando e entrevistando alguns dos pilares da seara alternativa da época —figuras como Steve Albini, Jello Biafra, Ministry, Nirvana, Mudhoney, Ramones, Red Hot Chili Peppers e por aí foi. Algumas destas reportagens inclusive foram editadas na revista Bizz como "amostra grátis" numa série de matérias sensacionais intitulada, logicamente, Barulho. Brodagem pura, só pra ficar nos anos 90.

O que é mais curioso sobre essas futuras reedições (autopublicadas, por sinal) é a discrepância absurda de timing. Pavões foi escrita na mesma pegada analítica e documental de publicações seminais como Mojo, Uncut e a Rolling Stone gringa. Material atemporal para ler, reler e manter sempre ao alcance da mão para consultas. Já Barulho...

Kurt Cobain botou um fim em boa parte daquela história poucos anos depois, quase todos os Ramones se foram, o palco desabou, a indústria morreu, enfim. O único fator que justifica a publicação de Barulho hoje é a força da nostalgia.

Barcinski nunca demonstrou grande interesse em um relançamento do livro —meio um álbum de fotos com textos curtos e diagramação marota pra dar aquele realce— e até se mostrava a favor de seu compartilhamento digital. Certamente, os pedidos de reimpressão da turba carente na casa dos quarenta e alguma pesquisa de mercado (de revivais) devem ter mudado os planos. Um Catarse teria sido um belo termômetro de alcance público.

Também não deixa de ser sintomático que os dois livros tratem da música produzida há, pelo menos, trinta anos. E claro que vou correr atrás dos dois. Pode me chamar de Matusa nostálgico, mas não de ter mau gosto musical.

sábado, 20 de abril de 2019

O salmo da Wax Trax!

Pra quem foi tomado de assalto por aqueles loucos de Chicago no fim da década de 1980, o trailer de Industrial Accident: The Story of Wax Trax! Records é puro deleite de bad trip boa. E "com simpatia".


Só mesmo um doc longa-metragem para descrever a importância da Wax Trax! para a cena alternativa americana. A loja/gravadora fundada por Jim Nash e Dannie Flesher foi seminal durante a efeverscência do pós-punk, da new wave, da eletrônica e do industrial do início dos anos 80. Seus padrões artísticos, estéticos e comportamentais transgressores e anti-establishment se estenderam muito além da seara musical - e continuam até hoje, ironicamente inseridos até no universo pop, ainda que a esmagadora maioria do público (e dos artistas) sequer se dê conta disso.

Em terra brazilis, onde as informações chegavam com alguns anos de atraso e à conta-gotas, o selo teve até certa exposição. Principalmente através da revista Bizz e das matérias do jornalista André Barcinski, incluídas também em seu livro Barulho: Uma Viagem pelo Underground do Rock Americano.

Meu 1º contato com a Wax Trax! foi justamente pela icônica revista. O marco zero foi a capa do Sepultura circa Arise levando um corta-luz das verdadeiras estrelas da edição: o Ministry. "Massacre eletrônico"? Já me ganhou só pelo conceito - lembrando que, naquela época, Internet só existia em filmes, livros e gibis; e como importar discos era para ricos, o jeito era viver de conceitos.

Depois vieram os artigos da célebre turnê Ministry/Helmet/Sepultura e do lançamento dos clássicos The Mind Is a Terrible Thing to Taste e Psalm 69 em terra, oh, brazilis. Finalmente. E assim meu salário de office-boy foi pro sal numa tacada só.

Houveram outras convergências pelo caminho, mas o trecho da estrada com tijolos de ouro foi esse. Embora sejam mais do que raros, tenho certeza que existem por aí outros brasileirinhos sobreviventes que ainda curtem Ministry, Lard, Revolting Cocks, Pailhead, Chris Connelly, KMFDM, My Life with the Thrill Kill Kult, Laibach, The Young Gods e outras pérolas WaxTraxianas que trilharam um caminho semelhante. Isso se as vicissitudes do dia a dia - também conhecidas como família, filhos, plano de saúde, aluguel, IPVA, etc. - não expurgaram essas lembranças e sensações à fórceps, deixando no lugar só um toquinho útil pagador de contas.

Se for o caso, uma sessão de Industrial Accident poderá reativar alguns neurônios há muito adormecidos e causar um grande estrago no seio familiar...

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Live on 90's


Quando soube que o Soundgarden finalmente lançaria seu primeiro álbum ao vivo, pensei que seriam registros extraídos de shows pós-reunião. Nada mais natural, já que o grupo se concentrou bastante nos grandes festivais (Lolla, Big Day Out, Download, Voodoo Experience) e estes fornecem um quórum de luxo pra qualquer disco ao vivo. Contudo, Live on I-5, lançado em 2011, traz performances de shows da turnê do Down on the Upside, registradas entre novembro e dezembro de 1996. Seria lançado na mesma época, mas a banda resolveu fechar o boteco sem nem liberar uma saideira.

Sempre achei que o fim do Soundgarden teve a questão financeira como principal gatilho, embora estivesse em seu auge técnico quando encerrou as atividades. A performance registrada em Live on I-5 demonstra bem isso. Graças ao trabalho do produtor Adam Kasper, também o responsável pela captura dos shows (num trampo com 16 anos de gap!), o álbum mostra o grupo mais evoluído e coeso do que nunca. Mesmo a sempre problemática performance on stage do Chris Cornell se sobressai sem grandes chamuscadas.

Do set list, meu Jesus Christ Pose, tenho nem o que falar. É um desfile de hits da antologia Soundgardeana, com "Spoonman", "Let Me Drown", "Slaves and Bulldozers", "Head Down", "Fell On Black Days", "Ty Cobb", "Black Hole Sun", a maravilhosa "Rusty Cage" e muitas outras... sem falar na histeria coletiva provocada por "Outshined" (o produtor se empolgou na masterização aí, mas ainda assim...). De quebra ainda tem dois covers descoladões: "Helter Skelter", do Fab Four, e o clássico Stoogeano "Search and Destroy".

Mesmo sendo parte da reabilitação pública do grupo (missão iniciada pela coletânea Telephantasm, de 2010), Live on I-5 acaba saindo melhor do que a vil encomenda. É um discaço pra ouvir até furar o CD/DVD/BD/HD. E, sem dúvida, de uma das melhores bandas daquela safra.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

She-Wolfe of the Satan's Service


Faria muito mais sentido se Chelsea Wolfe fosse natural de algum lugarejo perdido do leste europeu ou de algum país pródigo na cena black metal. Mas foi mesmo a ensolarada Califórnia quem pariu uma das revelações mais sombrias da cena alternativa. Ovelha negra per se, a cantora, guitarrista e compositora passa longe do ideário californiano padrão, do rock alto astral e das pistas de skate aos calçadões de Venice e às onipresentes praias - exceto, claro, se estiver nublado.

O tom é de uma suavidade melancólica, liricamente pesada, estranha e de uma forma incomum, sedutora. Não é uma música de fácil assimilação, mas certamente muito recompensadora para iniciados em Nick Cave, My Bloody Valentine, PJ Harvey, Portishead, Patti Smith e esquizoidices quetais. Em suma, uma resposta das profundezas à new age popstar de Florence + The Machine. Get out!!

Esse negrume todo ganhou a atenção da crítica indie e também a afinidade de fãs ilustres, ilustríssimas. Merecido.


Ἀποκάλυψις ("Apokalypsis"), seu segundo álbum, é arrepiante. Lançado no final de 2011, virou figurinha fácil nas listinhas mais descoladas de melhores do ano. Na parte melódica, o disco tem lá seus momentos "PJ & The Banshees", mas a obsessão por morte e desespero impregnada nas letras, o instrumental fúnebre, as vocalizações fantasmagóricas, a atmosfera soturna... porra, é de fazer até os caras do Ghost se mijarem nas batinas.

Não há nada de poser na cantora californiana. Ela é the real deal. Tori Amos fez uma cover do Slayer, Chelsea Wolfe fez uma do Burzum!

O som foi batizado de doom folk pela crítica, mas é apenas uma tentativa pífia de categorizar a demon-girl. A única música que se aproxima do rótulo talvez seja "Pale on Pale", um pesadelo sepulcral de sete letárgicos minutos com uma indefectível influência de "Black Sabbath", a música. A intro "Primal/Carnal" parece saída de uma missa negra ministrada pelo próprio Pazuzu e "To The Forest, Towards The Sea" é trilha pra fugir da bruxa de Blair e de toda a população demoníaca de Amityville e Cuesta Verde. Vade retro.

Já nas músicas "Demons" e "Friedrichshain" ela reafirma sua vocação pra PJ Harvey do inferno.


Mas é nas demais faixas que a artista destrincha mais a fundo sua identidade musical (ainda em formação, segundo ela), que lembra vagamente uma versão dark da Nico, a icônica musa ex-integrante do Velvet Underground.

Não duvidaria se o cultuado disco Chelsea Girl também escondesse alguma profecia sobre uma Chelsea sinistra de um futuro próximo...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

ROCK AND SOUL


Motown vs. SubPop. MC5 + Aretha Franklin. The Stooges com Tina Turner no lugar do Iggy Pop. Para um crossover deste nível são imprescindíveis: talento, intima com o lado mais selvagem do rock'n'roll e a disposição de tornar tudo isto possível (e palatável). Calhou do californiano The BellRays ter estas três características em abundância.

Conheci a banda só ano passado, pelo excepcional álbum Have A Little Faith, de 2006 (pra que servem as listas, senão pra deixar alguém indispensável de fora?). É uma porrada na cara e um orgasmo para o espírito. Bob Vennum (baixo) e Craig Waters (batera) gerenciam uma cozinha pesada, carregada de grooves matadores, e a guitarra de Tony Fate parece uma cruza dos riffs de Wayne Kramer e Johnny Ramone.

Mas a estrela é mesmo a poderosa vocalista Lisa Kekaula. Quando ela começa a cantar, a mística deste mix entra em ação e faz todo sentido do mundo. Que voz. Que voz. Que voz.

Quem compareceu aos shows da banda no ano passado (no Inferno Club, em Sampa, e ao lado do Mudhoney no festival brasiliense Porão do Rock), com certeza saiu extasiado. Ainda mais com o presentão que ganharam no bis...



Angus ficaria orgulhoso.

The BellRays está de disco novo, Hard Sweet And Sticky. Já é o 9º álbum de sua discografia, fora os splits e EP's. Ainda estou degustando, mas a primeira impressão é de que a sonzeira agora flui mais acessível. Contudo, o punch rocker continua intacto - e o vozeirão também!


"Blues is the teacher. Punk is the preacher."

sexta-feira, 25 de março de 2005

Feliz Páscoa pra todo mundo! Hoje é dia de caçar coelhos com uma metralhadora! Mas antes, alguns comentários... coisa básica. Discos e algumas correções.

Let's get it on...


AFGHAN WHIGS - GENTLEMEN
(Elektra/1993)


Uma verdade sobre o Afghan Whigs é que o grupo sempre foi bom demais pra fazer sucesso. Apesar de ter pertencido ao cast da mesma Sub Pop que canalisou o grunge de Seattle, ela fez parte de um seleto time de bandas que foram sufocadas por hits que dominaram o cenário do rock americano nos anos 90. Coisinhas como Alive, Man in the Box, Hunger Strike e, principalmente, Smells Like Teen Spirit. Mas, ao contrário da conotação pop que o termo "rock alternativo" tem hoje, o Afghan Whigs nunca deixou os corações e mentes daqueles que buscaram algo mais do que aquilo que rolava nas paradas de sucesso. Essa busca podia ser até árdua, mas, no final, era verdadeiramente compensadora.

Liderada pelo compositor e vocalista Greg Dulli, a banda evoluiu de um barulhento pós-punk de garagem para uma sonoridade mais sofisticada, melódica, plasticamente mais bem trabalhada e fluída, e, num lampejo de genialidade underground, repleta de influências de soul e rhythm'n'blues (chegaram a regravar uma música do Barry White). Isso tudo sem deixar de lado a inevitável herança oitentista no wave e letras que são um verdadeiro soco no estômago existencial, no pior sentido dor-de-cotovelo possível. Desilusões amorosas fudidas, finais de relacionamento nada agradáveis e pura auto-comiseração são destilados nas letras ácidas e no senso de humor predatório de Dulli, que ainda é dono de uma entrega quase suicida nos vocais. O Afghan Whigs é uma das bandas mais passionais do rock e Gentleman foi o momento em que eles mais se enxergaram nessa condição. Um disco perfeito até na capa... belíssima.

Ps.: Reza a lenda que os integrantes da banda se conheceram nos idos de 86, durante uma estada em comum num presídio em Cincinnati, sua terra natal. Belo background...


FIREBIRD - DELUXE
(Music for Nations/2001)


Bill Steer é um sujeito rodado. Egresso de formações extremas como o Napalm Death e o podrão Carcass, ele ensaiou um retorno à cena de forma inusitada, à frente de pérolas stoner rock como Badlands e The Cry of Love. Dessa forma, o excelente Firebird acabou sendo uma espécie de cream of the cream de tudo o que Steer andou aprendendo (e tocando) nos últimos anos. Em um retorno às raízes on the road do rock, a banda pode ser simplesmente classificada de stoner, mas aí seria uma injustiça cruel. Stoner é Nebula, Orange Goblin, Fu Manchu e outras (boas) bandas que não conseguem dar nem um passo pra fora da sombra do Black Sabbath. O Firebird estabelece uma relação mais próxima dos power trios dos anos 60 e 70, com riffs ganchudos e freqüentes, e aquelas passagens intensas entremeadas com momentos mais suaves e bluesy. As referências imediatas são grupos clássicos como Cream, Mountain, Blue Cheer, Rush fase John Rutsey e até o Jimi Hendrix Experience. Firebird é uma excursão lisérgica na pré-história do hard rock. A viagem é, no mínimo, fascinante.

A formação da banda nesse disco é toda ex-metálica - além de Steer nos vocais e na guitarra, completam o time Ludwig Witt (bateria e percussão, ex-Spiritual Beggars) e Leo Smee (baixo e órgão, ex-Cathedral). Aliás, a técnica old school de Bill Steer (cujo belo vocal me lembra o de Eric Clapton nos áureos tempos do Cream) tem sido muito elogiada. E realmente ele arrebenta nas seis cordas - vide pedradas como Dirt Trap, Forsaken, Sinner Takes All e Sad Man's Quarter. Destaque também para a belíssima Miles From Nowhere, com uma atmosfera idílica parecida com a do clássico Thank You, do Led Zeppelin, e para a última faixa, o boogie-woogie Slow Blues, que de "slow" não tem nada e traz a harmônica mais alucinada que ouço desde os primeiros discos do Blues Traveler.

A faixa para download não consta no disco. Trata-se de um cover pesadão para Working Man, do Rush, que só saiu em um single lançado no mercado japonês.


CIRCUS OF POWER - MAGIC & MADNESS
(Columbia/1993)


A boa impressão já começa pela bela arte da capa, feita pela fera Tate Mosesian. E o Circus of Power não desaponta, mandando ver um rockão estradeiro de respeito. Algo assim, entre o drunk'n'roll do AC/DC fase Bon Scott e blues rock cheio de slide guitar. Infelizmente, suas bases hard rock acabaram colocando a banda no gueto heavy do final dos anos 80, justamente quando o estilo dava seus últimos suspiros no mainstream. Sem o tino comercial de bandas como G'NR, Bon Jovi e Skid Row, o CoP acabou morrendo na praia noventista, embora fosse milhões de vezes mais interessante que todos aqueles ícones poser. Magic & Madness é o seu terceiro álbum, e considerado por muitos como o seu melhor. Não faço a mínima idéia se é mesmo, pois nunca ouvi nenhum dos outros. :P

Às vezes, o COP lembra um The Cult sem frescuragem. Tanto é que o próprio Ian Astbury, vocal do Cult, faz uma participação na ótima Shine. Outro convidado especialíssimo é o grande guitarrista Jerry Cantrell, do Alice in Chains, que manda acordes e vocais na grudenta Heaven & Hell. Confira também as pesadonas Evil Woman, Poison Girl, a animada Dreams Tonight e, a melhor de todas, Mama Tequila, cujo refrão virou o meu grito de guerra nº1.

Ótimo álbum!


SLAYER - UNDISPUTED ATTITUDE
(American/1996)


Puta que o pariu! Me sinto com vontade de porrar o próprio capeta quando ouço esse álbum. Cansado de ver conterrâneos do thrash jogando seu passado pela privada e de testemunhar a ascensão de bobagens poppy punk, os reis da Zona Sul do Céu, Vsa. Megafodescência Slayer resolveu revisitar podreirinhas memoráveis do punk/hardcore. Ah, se todos os álbuns de covers fossem assim! É festa punk feita por profissionais da agressão desenfreada. Pra bater a cabeça até perder as orelhas. Os caras conseguiram amplificar ainda mais a porradaria dos clássicos do Verbal Abuse, D.R.I., GBH, Minor Threat e até do TSOL, quando esse era punk.

Para os fãs mais ortodoxos do "metálico" Slayer, só uma ou duas infos de grátis. Em seus primeiros shows, tanto o Slayer quanto o Metallica tocavam para uma platéia dividida entre headbangers e punks. Claro que rolavam tretas, mas o fato é que a sonoridade das duas continham naturalmente elementos hardcore. E o Slayer, ao lado do badmotherfucker Ice-T, já havia demonstrado sua veia crusty, através de um medley arrasador do Exploited que saiu na memorável trilha sonora do filme Uma Jogada do Destino. Definitivamente o Slayer tem raízes hardcore. E afinal, o que é o thrash metal senão uma evolução do hardcore, que por sua vez é uma evolução do punk...? Achou ruim? Então pode cair dentro que eu tô ouvindo Undisputed Attitude e não vou perder pra ninguém na porrada nesse momento. :)

Além do quê, só aqui você pode ouvir uma instituição como o Slayer tocando furiosamente o classicaço I Wanna Be Your Dog, dos Stooges - providencialmente rebatizada I Wanna Be You God. Mas a velha torção no pescoço comparece sim, e a última faixa, Gemini, é autoral. Peso gótico e deprê, South of Heaven' style.

A propósito... sabia que o Ramones e o Black Sabbath fizeram uma tour conjunta nos anos setenta? É sério, li isso numa entrevista antiga com o falecido Joey Ramone. Diz ele que eram dez confusões por música executada.


LIV KRISTINE - DEUS EX MACHINA
(Massacre/1998)


Eu sou suspeito pra falar.

Antes de sair do Theatre Of Tragedy para formar o Leaves' Eyes, a cantora norueguesa Liv Kristine Spenæs concebeu um magistral e etéreo debut solo. Longe das guitarras distorcidas e dos backings death metal que caracterizam o som do Theatre, Deus Ex Machina talvez seja a primeira vez em que Liv se mostra por inteira, entregue e despida (quem dera!) artisticamente, sem as amarras do estilo gothic metal que a limitava. Pra quem nunca nem ouviu falar de Liv Kristine, basta dizer que ela é influência confessa de Tarja Turunem, do Nightwish. Dentro do gothic metal - e aí vai um espectro que começa no ultra-obscuro The Sins Of Thy Beloved e termina no mega-estourado Evanescense - Liv Kristine, ao lado de Aneke van Giersbergen (do The Gathering), é a maior precursora do estilo.

Apesar da atmosfera suave, Deus Ex Machina não se enquadra no formato pop. Transitando por paisagens new age, pelo gótico romântico e por climas soturnos pontuados com efeitos eletro-percussivos, Liv está à vontade e supera fácil tudo o que ela já fez anteriormente, incluindo aí o seu trabalho memorável no Theatre Of Tragedy. Daí saem a intrincada melodia da faixa-título (que é mais difícil de cantar do que parece), a bela Waves Of Green, a bad trip nórdica de Huldra, a soft-gregoriana Portrait: Ei Tulle Med Øyne Blå, a linda, mas muito linda mesmo, In The Heart of Juliet, e a sensacional 3 AM, que conta com o vozeirão dark de Nick Holmes, do Paradise Lost.

Deus Ex Machina é um disco pra se ouvir com a luz apagada e com algumas velas acesas. E se estiver acompanhado... que seja uma ótima companhia pra não estragar o momento.

Mas como eu disse...


...sou suspeito pra falar.



FÊNIX NEGRA 2 X GALACTUS 0
Brilho Eterno de um Blog sem Lembranças



18 de março de 2004... um ano e poucos dias atrás. Foi quando eu escrevi um texto admirando pela enésima vez o Galactus e sua fome eterna de planetas incautos. Para ilustrar o texto, catei aleatoriamente algumas imagens na web, que retratavam o gigante cósmico se estranhando com Jean Grey, numa história que eu tinha quase certeza que já havia lido.

Depois, nos coments, soube pelo jpvolley (fala aê jp!) que essas imagens, do grande Alan Davis, eram de uma história que saiu numa edição do Excalibur e que ali não era a Jean Grey, e sim Rachel Summers, totalmente overpower. Corretíssimo. Até porquê, nunca fui especialista nos mutunas mesmo.



Alan Davis e a justa cósmica... clique nas imagens

Mas a dúvida persistia... eu já tinha lido uma história com a Jean encarando o velho Galan. Num belo dia, durante um raio-x de rotina em um sebo, (re)descubro essa história como um bônus na revista Marvel Especial 8 - A Saga da Fênix Negra. Era O que Aconteceria se Fênix Não Tivesse Morrido?, um daqueles elseworlds narrados pelo Vigia.


Jean Grey já bateu o celestial também! Clique nas imagens

Comparando as imagens dos dois confrontos... dá pra ver que Alan Davis "curtia bastante" a série What If... Galactus está praticamente com a mesma postura quando dispara uma rajada de energia em Jean/Rachel, e nas duas histórias ele termina batendo em retirada após ver a magnitude de sua adversária. Ficou igualzinho. Não é à toa que eu me confundi... :)


dogg, querendo saber se hoje pode beber cerveja

segunda-feira, 7 de março de 2005

I AM WHAT I AM

...and that's all what i am!


É o Popeye, se fosse criado por Garth Ennis ao invés de Elzie C. Segar. Ambientação nos anos 30 e atmosfera dos primórdios áureos dos quadrinhos (tipo Os Sobrinhos do Capitão, Tintin e o marinheiro citado), mas carregada de escatologia, palavrões, ultra-violência e vileza, típicas de um Vertigo/MAX da vida. Assim é The Goon, cria do desenhista e roteirista Eric Powell. Começei a ler sem maiores expectativas, mas fui fisgado quase que de imediato... É divertidíssimo!

Goon é um aventureiro tough-guy e aparentemente superforte, mas sem maiores explicações (igualzinho ao Popeye em começo de carreira... o espinafre/soro-do-supersoldado foi criado na última hora quando o sailor man começou a fazer sucesso). Junto com Franky, seu manager e parceirão, Goon encara tudo quanto é tipo de missão (acredite... tudo mesmo) e tem uma coleção de inimigos tão variada quanto bizarra: psicopatas, mafiosos, vampiros, lobisomens, robôs, mutantes, monstros sub-aquáticos, ratazanas gigantes, feiticeiros, aberrações genéticas, demônios e principalmente... mortos-vivos em larga escala.




Talvez seja esse oceano de possibilidades que torna as aventuras tão divertidas. Ao mesmo tempo, a mistura - sempre espirituosa - de maniqueísmo (p&b) com mundo-cão (cinzento) é um dos pontos mais peculiares de sua narrativa. Ainda estou lendo a fase indie na Avatar Press, mas pelo que li na coluna de Érico Assis, do Omelete, ele já está em sua 10ª edição pela Dark Horse.

Outra coisa bacana são os 'folhetins educativos' presentes ao longo das HQs. Coisas do tipo "como arrancar o escalpo de um lobisomem" ou "adote um morto-vivo", que eu gentilmente destaquei aí embaixo... clique na imagem.


Eric Powell faz de The Goon um projeto autoral tão bacana quanto Mike Mignola com seu Hellboy ou, no mínimo, Erik Larsen e seu Savage Dragon. E pela trajetória lenta, mas sempre ascendente (o que é essencial), The Goon provavelmente será um hit dentro de alguns anos, com direito a adaptação para os cinemas e tudo. Deus me ouça!


E já que mencionei mortos-vivos... >:)

THE RETURN OF THE TRIOXYN


Você já assistiu isso antes... projeto ultra-secreto envolvendo armas químicas dá errado, e voilá... hordas putrefactas de mortos-vivos esfomeados à caça de cérebros frescos. Essa é a premissa de A Volta dos Mortos-Vivos 4: Necropolis e, caracas, A Volta dos Mortos-Vivos 5: Rave To The Grave. O primeiro filme da série, de 1985, foi uma pérola da nojeira bem-humorada. Já o segundo foi uma paródia acéfala (sem trocadilhos) do primeiro, sendo que este já era uma paródia dos filmes de George A. Romero. No terceiro filme, houve uma reinvenção até interessante, levada a cabo pelo insano Brian Yuzna (de Re-Animator).

Produzidos simultaneamente, o quarto e o quinto episódios ainda não têm data de estréia definida e, pela sinopse divulgada, é uma chupação violenta em cima de Resident Evil: O Hóspede Maldito (!!):

"Julian, Zeke, e seus amigos, são típicos estudantes do colegial curtindo um marasmo teenager-mauricinho, até que um terrível acidente de moto coloca Zeke no hospital, do qual ele desaparece misteriosamente e sem deixar vestígios. Seus amigos investigam seu paradeiro e tudo leva a crer que a famigerada corporação Umbrell... digo, Hybratech está envolvida. A Hybratech conduz perigosos experimentos com o composto Trioxyn-5, um poderoso agente químico capaz de despertar os mortos!"

...e blá-blá-blá...


Claro que isso é só uma desculpa pra que os desmortos sejam vomitados de suas covas apodrecidas e sairem em busca de miolos pulsantes (eu sei que miolos não pulsam, mas essa descrição ficou maneira!). O problema é que depois de pauleiras viscerais como Extermínio e Madrugada dos Mortos, ficou bem difícil pra série conseguir surpreender novamente o público fangore.

E dando uma de Grunge, do Gen¹³... se fosse eu no lugar do diretor Ellory Elkahem (Elka-quem?!), botava pra quebrar nas cenas de sexo (dezenas de playmates nuinhas em pêlo) e na violência escatológica (cérebros, tripas... tripas, cérebros...).

É, ué... às vezes a intensidade fala mais alto, e já que o roteiro é batidão mesmo...

Agora, o que eu não faria mesmo é colocar no filme um arremedo descarado do super-zumbi Nemesis. É, aquele mesmo de Resident Evil...


Mais triste ainda é ver o ótimo Peter Coyote (Lua de Fel) figurando no elenco desse filme pra lá de suspeito...

Bom... seja o que Ed Wood quiser.

A propósito, no site oficial tem um mapa da "genealogia living dead". Bastante elucidativo.


O mestre Romero está lá, devidamente centralizado. Eles tinham de ensinar essas coisas nas escolas!

:P


The next: the new fuckin' top 5!!

EVERGREY - THE INNER CIRCLE
(Hellion/2004)


Esse é bem recorrente aqui no top five, mas nunca comentei a respeito. E o negócio é o seguinte... todo o fã de rock pesado tem de ouvir esse disco. É quase uma obrigação didática. Há muito que as bandas da área tentam alcançar o tal álbum perfeito, tarefa que se tornou uma verdadeira caça ao Graal artístico. Não raro, o que se consegue são resultados assépticos, mecânicos e frios - embora "visualmente" magistrais. A harmonia idealizada entre técnica sobre-humana e energia emocional na música ainda está engatinhando, mas já encontra no Evergrey o seu grande representante. E The Inner Circle consegue atingir um nível ainda maior que seu excelente álbum anterior, Recreation Day (2003).

Thrash, progressivo, pop, soft rock, AOR, heavy tradicional, gothic metal e até gospel (!) comparecem de forma extremamente coesa, tornando a textura sonora do Evergrey um elemento único, superior. Esse disco (conceitual, aliás) só não é indescritível porque dá pra comentar ao menos uma coisa ao seu respeito: fenomenal. É impensável destacar apenas uma faixa, e o diamante In The Wake Of The Weary está aí para download como homenagem à sensacional vocalização soul de Carina Englund. Compre, roube, se vire.


THERAPY? - TROUBLEGUM
(A&M Records/1994)


Outro habitué dos 5+. Mas não tem como. O irlandeses do Therapy? cometeram um disco definitivo, atemporal. Calma... não é nada daqueles clássicos irretocáveis, hiper-complicados e altamente respeitáveis (e chatos!). Troublegum é um dos melhores discos de party rock dos anos 90 - incluindo-se aí uma lista de full-lenghts que vai dos clássicos Time's Up, do Living Colour, e The Real Thing, do Fenemê, ao Blood Sugar Sex Magik, do RHCP.

Troublegum é uma maravilha de sonzeira guitar rock. O trio formado por Andrew Cairns (guitarra e vocais), Michael McKeegan (baixo) e Fyfe Ewing (bateria), tira água de pedra com a antiqüíssima equação baixo-guitarra-bateria, com soluções criativas e efetivas (até hoje), repleta de ganchos perfeitos. E a banda não mede esforços. Rola de tudo: hardcore, thrash, power pop, surf rock, industrial rock, e um clima inequívoco de pop rock oitentão.

O Therapy? já fez discos memoráveis (High Anxiety, Infernal Love e a porrada federal Nurse), mas Troublegum é o que equilibra o melhor de uma banda dona de uma química incendiária. Pauladas como Knives, Screamager, Nowhere, Isolation, Trigger Inside - enfim, o disco inteiro - dão choque na alma e fazem bem ao corpo. Rock good vibration é isso aí.

E detalhe... tem a participação mais do que bem vinda de Page Hamilton, líder do Helmet. São dele os acordes de guitarra em Unbeliever. Cai dentro, meu chapa. Isso é trilha sonora de festa americana organizada por gente grande. Pra ouvir no talo.


CRACK UP - DEAD END RUN
(Moonstorm Records/2000)


Death'n'roll. Esse é um tipo de crossover que sempre viveu mais no conceito do que na prática, de fato. Formações extremas e experimentalistas como o Napalm Death fase Lee Dorrian, o Brujeria, o Agathocles e o genial (e sumido) Pungent Stench já bicaram o estilo, mas nunca o tomaram como estrutura-base - mesmo por quê, a viagem dos caras era outra. Restou à banda alemã Crack Up honrar a camisa e se tornar o maior (senão o único) representante do gênero. E não é que a coisa funciona às mil maravilhas?

Com a explosão típica do death jogando a favor de uma pegada rocker, a banda acaba mostrando o quão inédita e, ao mesmo tempo, simples é essa proposta. "Como é que não pensaram nisso antes?"... é a primeira coisa que vem a mente após ouvir pérolas do naipe de Maximum Speed, Dead Good Motherfucker, Better Dancer, Stallknecht, Evenflow (não é a do Pearl Jam!), Rock The Coffin', a sintomática It's Shit e a faixa-título.

Por vezes, a sonzeira parece pop demais (melodias à Beatles rolando ao fundo [!!], refrães pegajosos, riffs), mas acaba sendo incrível constatar que um estilo totalmente anti-comercial poderia rolar no volume 10 sem estranhar. E de uma forma bem mais íntegra do que um In Flames da vida (um Metallica do death).

O único porém desse disco do Crack Up é que eu tenho certeza que ele soaria ainda melhor se eu estivesse pilotando uma Harley Davidson na hora. Ou melhor ainda... esse V8 cavernoso da capa...


ASTRAL DOORS - OF THE SON AND THE FATHER
(Hellion/2003)


Jesus, Maria e José... Tenho até medo de escrever sobre esse que é um dos melhores discos lançados em 2003. Então, nada melhor (pra minha batata) do que expor meu background rockeiro... Existe - quase que sempre - um "interesse científico" da minha parte a respeito de vários estilos de Música. Mas o que eu mais ouço de forma constante e recorrente é o rock'n'roll old school, não tenho como negar. Thin Lizzy, Foghat, Bad Company, Free, Sabbath, Led Zep, Aero, - estamos chegando - Purple, Dio e... - chegamos - Rainbow. A instituição Ronnie James Dio, ao lado do mestre Ritchie Blackmore, integrou o Rainbow, uma das maiores bandas da História do Rock e referência atemporal - inclusive para dinossauros consagrados como Iron Maiden, Judas Priest e, puta que o pariu, acho que todo mundo da cena heavy atual.

E o quê isso tem a ver com o Astral Doors? A banda sueca é responsável pela atualização dessa vertente tradicional do rock, da melhor maneira que ela poderia soar se fosse concebida hoje pelas formações clássicas do Rainbow, do Deep Purple, do Uriah Heep ou mesmo do Jethro Tull. É heavy rock visceral, orgânico e autêntico, honrando o legado de bandas tão precursoras quanto Cream e o Blue Cheer. Pra quem é straight rocker, o Astral Doors seja talvez o grupo que mais atraia interesse em toda a cena, pois carrega consigo a responsa de um estilo que é um dos mais difíceis de compor e executar - já que o virtuosismo narcisista não tem nenhum apelo aqui.

Desde a abertura, com Cloudbreaker, seguindo com clássicos imediatos como a faixa-título (cuja levada, ao vivo, deve se comparar a Highway To Hell...), a maravilhosa Slay The Dragon, In Prison For Life, The Trojan Horse, Burn Down The Wheel, Rainbow Your Mind e a incrivelmente ganchuda Man On The Rock, esse disco é absurdamente essencial nesses dias tão artificiais e descartáveis. É o feeling e o calor da paixão trazidos novamente para dentro do rock'n'roll. Já não era sem tempo.

"I'm a Man On The Rock... Like Jesus Christ...!!"


...TRAIL OF DEAD - SOURCE TAGS & CODES
(Interscope Records/2002)


Duas verdades... uma - o nome da banda é "And You Will Know Us by the Trail of Dead"... e duas - você precisa conhecê-la. E foda-se o que você miseravelmente caracteriza como estilo, gênero ou abordagem. Foda-se. Foda-se. Foda-se. Não cometa o erro que eu cometi. Essa banda está acima do bem ou do mal, acima de contextualizações. Ela apenas é. ...Trail of Dead, por algum acaso, se utiliza da permissividade outsider rock para dar continuidade a sua cartarse niilista seek and destroy cíclica, a dicotomia auto-impingida, a auto-destruição, ao nirvana. Sources Codes & Tags é mais do que um álbum. É uma experiência, uma bad trip da lisergia movida a feedbacks de acordes saturados. É como tocar o próprio cérebro em um mundo mágico do impossível.

É fatalismo feito onda sonora.

É uma forma de vida.

É perigoso.

...Trail Of Dead transcende tudo isso e esse álbum ainda não é o suficiente.

Sem mais.

Embarque.


dogg... insane in the fuckin' brain