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quarta-feira, 11 de junho de 2014

Vai ter NINJA! Lançado o novo portal http://www.midianinja.org




Comover, viralizar, politizar! As vésperas da Copa do Mundo no Brasil, Mídia Ninja lança plataforma colaborativa e rede social voltada para o midiativismo e para o jornalismo cidadão. Fruto de uma parceria com a plataforma Oximity, radicalizamos nossa proposta, apostando na produção colaborativa, no financiamento coletivo e na livre distribuição de todos os nossos conteúdos. 

Foi em junho de 2013, quando todo o país foi tomado por manifestações, que nos tornamos uma alternativa de mídia independente. A multidão, que para muito além dos 20 centavos, se manifestava por mais direitos e por mais democracia, ao chegar em casa das ruas e se ver na televisão filmada a partir de helicópteros e descrita por apresentadores que os chamavam de vândalos, buscou nas redes novas representações. 

No meio de “tiro, porrada e bomba” e de toda a repressão e criminalização dos movimentos que se seguiu, os ninjas criaram uma rede de colaboração em todo o Brasil, pelo interior e capitais, transformando o streamming, a linguagem do fotojornalismo e a cobertura em tempo real das ruas em uma nova forma de mobilização. Desde então, seguimos ajudando a criar ondas de participação e viralização nas redes em sinergia com milhares de ativistas e movimentos.

Tudo isso é apenas o começo! Estamos juntos! Afinal, Junho é o aniversário de Junho! Hora de fortalecer as lutas globais e o movimento midialivrista no Brasil. 

Somos Todos Ninjas!

domingo, 22 de setembro de 2013

"As Redes e as Ruas" - Análise de uma Imbricação Ascendente, por Manuel Castells, sociólogo espanhol



Sinopse: “Principal pensador das sociedades conectadas em rede, Manuel Castells examina os movimentos sociais que eclodiram em 2011 – como a Primavera Árabe, os Indignados na Espanha, os movimentos Occupy nos Estados Unidos – e oferece uma análise pioneira de suas características sociais inovadoras: conexão e comunicação horizontais; ocupação do espaço público urbano; criação de tempo e de espaço próprios; ausência de lideranças e de programas; aspecto ao mesmo tempo local e global. Tudo isso, observa o autor, propiciado pelo modelo da internet.

O sociólogo espanhol faz um relato dos eventos-chave dos movimentos e divulga informações importantes sobre o contexto específico das lutas. Mapeando as atividades e práticas das diversas rebeliões, Castells sugere duas questões fundamentais: o que detonou as mobilizações de massa de 2011 pelo mundo? Como compreender essas novas formas de ação e participação política? Para ele, a resposta é simples: os movimentos começaram na internet e se disseminaram por contágio, via comunicação sem fio, mídias móveis e troca viral de imagens e conteúdos. Segundo ele, a internet criou um “espaço de autonomia” para a troca de informações e para a partilha de sentimentos coletivos de indignação e esperança – um novo modelo de participação cidadã.”

Adquira o livro (R$49,90): http://bit.ly/162oe2Z.





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"BRASIL: ESCUTAR ÀS RUAS"
Artigo de Manuel Castells em La Vanguardia - 29/06/2013

“Estava andando por São Paulo e Porto Alegre, falando de meu livro sobre os indignados do mundo, quando surgiu o movimento que sacudiu o Brasil. Espontâneo como todos os demais, sem líderes como todos os demais, surpreendendo a políticos e analistas como todos os demais. Originado na internet e tomando as ruas em mais de 90 cidades para fazer-se valer. A faixa que abria a manifestação no Rio de Janeiro dizia “Somos a rede social”. Ao que acrescentava outro manifestante “Saímos do Facebook e agora estamos na rua”.

“Vem, vamos pra rua; Pode vir que a festa é sua”, cantavam as pessoas se apropriando de uma canção publicitária relativa à Copa das Confederações. Quem iria pensar que os brasileiros protestariam a organização da Copa do Mundo de Futebol porque, como dizia outra faixa em Belo Horizonte, “já temos estádios de primeiro mundo, agora nos falta um país”? No lugar deste desperdício, que consideram manchado de corrupção, querem investimento público em transporte, educação e saúde. O movimento, iniciado em São Paulo contra o aumento das tarifas de transporte, respondeu a um chamado criado no Facebook do Movimento Passe Livre.

Em seu manifesto se autodefinem como “um movimento social autônomo, horizontal e apartidário, que jamais pretendeu representar o conjunto de manifestantes que tomaram as ruas do país”. Após terem conseguido a revogação do aumento das tarifas, continuam reivindicando a “Tarifa Zero”, ou seja, a gratuidade do transporte público, porque “a mobilidade é um direito universal”. 

E de fato o caos urbano se deve a uma urbanização que segue as pautas da especulação imobiliária, a atividade mais destrutiva, característica de um modelo insustentável de crescimento econômico e territorial. Depois se somaram demandas diversas, dirigidas à gratuidade e qualidade de educação e saúde, assim como um clamor contra a corrupção nas administrações e uma crítica do modelo político que as ruas não reconhecem como democrático. 

75% dos brasileiros apoiam o movimento. O partido do Governo, o PT de Lula, defensor da esquerda latinoamericana, sofreu um choque emocional. Alguns de seus líderes, como o governador de Brasília ou o ministro do Interior, utilizaram de imediato mão duríssima contra os protestos, empregando fogo real em alguns casos, com o resultado de vários mortos (estatística em curso), centenas de feridos e milhares de detidos. 

Até que a presidente Dilma Rousseff, em um gesto sem precedente na curta história dos movimentos de indignados pelo mundo, declarou que “tinha a obrigação de ouvir a voz das ruas”. Fez gala de cintura política e também de um certo poço de convicção de quem foi torturada e encarcerada pela ditadura. É uma mulher de esquerda, que tem tentado controlar a corrupção que corroe seu partido e seu governo. Ofereceu diálogo, recebeu algumas pessoas do movimento e prometeu investir em melhorias no transporte, saúde e educação. Também reprimindo àqueles ministros e dirigentes que consideraram inicialmente o movimento como um tema de ordem pública e ordenaram vigiar as redes sociais. E aceitou a crise de representatividade dos partidos e a necessidade de sua reforma, propondo uma assembleia constituínte para mudar a Constituição e submeter a plebiscito popular uma reforma do sistema político, tentando assim superar as travas que os políticos têm colocado sempre no Congresso a qualquer tentativa de limitar seus privilégios. 

Como é lógico, políticos de todas as tendências, em particular do opositor PSDB, se pronunciaram contra o plebiscito. De modo que nem a anulação do aumento que provocou a indignação, nem as promessas da presidente, enfrentadas pela classe política, apaziguaram o movimento, senão que o reforçaram. E ampliaram suas demandas, que agora incluem a desmilitarização da polícia e os direitos dos povos indígenas, submetidos à pressão de grandes empresas depredadoras da Amazônia.

Ninguém o esperava no Brasil e ninguém entende esse movimento, o qual parece incrível depois de três anos em que movimentos similares têm surgido em todo o mundo. É que esse sistema político atual, nem no Brasil nem em nenhuma parte, têm a capacidade de assimilar o que de verdade está acontecendo: que os cidadãos se expressem politicamente de forma autônoma sem passar pelos partidos. E a esquerda o entende ainda menos que os outros. Inclusive órgãos de imprensa esquerdista na América Latina acusam o movimento de ser uma conspiração imperialista contra um governo de esquerda. 

Claro que existem manifestantes de direita nas ruas do Brasil, e inclusive alguns grupos violentos e extremistas. Mas é que os movimentos autônomos não são de esquerda ou direita, expressam ao conjunto da sociedade, em sua pluralidade ideológica, e cada qual trata de aproveitar a conjuntura. Apesar disso, a imensa maioria são jovens sem outra afiliação além de seu desejo de viver a vida, em lugar de lutar por cada gesto cotidiano. São jovens que não dividem o entusiasmo pelo crescimento econômico do Brasil porque não vivem de estatísticas. “Não são uns centavos, são nossos direitos”, diziam as ruas de São Paulo. O emaranhado de comentaristas e acadêmicos que interpretam o movimento segundo sua ideologia não conseguem aceitar a realidade do que não entra em suas categorias. Por isso a vontade de reforma política e de políticas sociais da presidente têm surpreendido e alarmado a classe política, a exceção de Marina Silva, a popular líder ecologista, ex-ministra de Lula, candidata presidencial, que se colocou a serviço do movimento com sua Rede Sustentável. Se abre assim uma luta interna pelo sistema político entre quem quer reconciliar-se com a sociedade e quem nem sabe o que contesta.

Desde o Brasil chegam duas mensagens. Para os indignados: a mudança é possível incrementando a pressão das ruas, em quantidade e em qualidade. Para os políticos: quanto antes aceitarem a obsolescência de uma democracia esclerótica, mais fácil será a transição a novas formas de representação que conectem os cidadãos com as instituições."

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sábado, 29 de junho de 2013

"Uma cidade muda não muda!" - Reflexões de Vladimir Safatle...

Cartum suíço sobre as manifestações no Brasil;
o soldado que lança a bola de futebol na direção da massa de revoltados diz:
“Isso não funciona mais!"

“A POLÍTICA OXIGENADA"
Análise de Vladimir Safatle @CartaCapital (26/06/2013)

“Os acontecimentos das últimas semanas são a verdadeira face da política daqui para a frente. Longe de reclamações genéricas ou palavras vazias de ordem, ela se foca em um problema preciso e concreto, mas com força para abalar o edifício do discurso oficial. Aconteceu em Santiago do Chile, quando os estudantes saíram para denunciar que atrás do milagre chileno havia uma população espoliada pelos custos exorbitantes das escolas. No Brasil, ao escolher lutar contra o preço vergonhoso de um transporte público miserável e montado principalmente para alimentar máfias de empresários, os manifestantes mostraram quão pouco as cidades brasileiras melhoraram nas últimas décadas, quão pouco os serviços públicos foram realmente reconstruídos. Ao fazê-lo, desvelaram a verdadeira face do “milagre brasileiro". Como bons psicanalistas, focaram em um sintoma para mostrar como este, na verdade, expunha os impasses da totalidade.

(…) O povo dispôs-se ainda a acreditar que os grandes eventos, a Copa do Mundo e as Olimpíadas, trariam benefícios concretos para as cidades e melhorariam nossa vida cotidiana. Os brasileiros se deram conta, no entanto, de que os beneficiados formam uma casta de empresários e empreiteiras acostumados a lucrar muito com os contratos públicos.

Juntou-se ainda a indignação contra um poder incapaz de se defender a não ser pelo uso da força bruta. A Polícia Militar há muito tempo deveria ter sido extinta por cotidianamente se comportar como uma manada de porcos selvagens. Poder que, como sempre, tentou calar o descontentamento na base da bala de borracha e do gás lacrimogêneo vencido. E que expôs sua fraqueza…

Uma coisa é certa. Há décadas este país não tem uma geração de jovens tão politizada, corajosa e brilhante quanto esta que levou a cabo as manifestações. (…) Conseguiram parar os poderes da República e deixar a repressão policial completamente atordoada. Com precisão cirúrgica, obrigaram a suspensão dos aumentos no transporte público e mostraram à população mais pobre com quem ela pode contar para lutar por uma sociedade realmente igualitária e dotada de serviços públicos dignos e respeitosos em relação aos cidadãos… Cabe admirar a sensibilidade desses jovens em compreender o modo dos embates do futuro. Diante deles só cabe dizer: ‘Confiamos em vocês. Vocês demonstraram força e inteligência. Sigam em frente. A verdadeira democracia é barulho e luta.’



Na FOLHA DE S. PAULO de 24 de Julho de 2013
:

“Há de se admirar a ironia. Passamos décadas esperando por uma grande mobilização popular e, quando ela ocorre, alguns querem desqualificá-la por ver risco de guinada conservadora ou profusão de pautas genéricas.

Em vez de explorar as potencialidades das manifestações, alguns parecem mais preocupados em construir, o mais rápido possível, uma explicação para o fracasso que pretensamente virá. Mas política popular sempre foi conflito e embate em torno de significantes que circulam em gritos e gestos de recusa.

Há um exemplo ilustrativo nesse sentido. Um dos tópicos mais presentes nas manifestações é a rejeição aos partidos. Já faz anos que ouvimos manifestantes, em todas as partes do mundo, recusarem as mediações dos partidos em prol da invenção de mecanismos de democracia direta. São pessoas que adquiriram a consciência de sua força política e que não veem razão para transferir tal força para partidos profundamente hierárquicos e guiados pelo raciocínio tático. Elas têm razão.

Vimos, no entanto, uma profusão de análises insistindo em não haver democracia sem partidos e instituições fortes, que a recusa a partidos é necessariamente conservadora. Tais análises são simplesmente equivocadas.

Quem acredita nelas deve estar acometido de um “fetichismo da representação” que nos fixa na ideia da necessidade insuperável da representação política, isso em uma época na qual a participação popular pode ser feita, cada vez mais, por meio da pulverização de mecanismos de decisão.

De fato, democracia pede modelos de organização, mas nada exige que tais organizações políticas sejam necessariamente partidos.

Mesmo se aceitarmos a necessidade da estrutura parlamentar, por que, por exemplo, um eleitor não poderia votar em um candidato independente ou em candidatos de movimentos sociais? De onde saiu a ideia de que partidos de vem ter o monopólio da representação política? Nesse sentido, a rejeição aos partidos pode ser a base da reinvenção de uma política muito mais democrática.

Partidos tiveram sua importância em vários momentos da história brasileira e mundial. Por meio deles, demandas sociais ganharam força e pressão junto ao Estado. Esse tempo, porém, passou e não voltará mais.

O problema não é com a decadência dos principais partidos brasileiros e mundiais, mas com a forma-partido enquanto tal, que perde muito facilmente sua função de caixa de ressonância das insatisfações populares e de espaço de criatividade política. Se abandonarmos nossos medos, outras formas de organização virão." 



Trechos da obra "A Esquerda Que Não Teme Dizer Seu Nome":


"Talvez a posição atual mais decisiva do pensamento de esquerda seja a defesa radical do igualitarismo. Juntamente com a defesa da soberania popular, a defesa racial do igualitarismo fornece a pulsação fundamental do pensamento de esquerda. [...] A luta contra a desigualdade social e econômica é a principal luta política. Nossas sociedades capitalistas de mercado são 'paradoxais' por produzirem, ao mesmo tempo, aumento exponencial da riqueza e pauperização de largas camadas da população. Quebrar esse paradoxo é tarefa da política. Apenas um exemplo: enquanto o PIB dos EUA cresceu 36% entre 1973 e 1995, o salário-hora de não executivos (que são a maioria dos empregados) caiu 14%. No ano 2000, o salário real de não executivos nos Estados Unidos retornou ao que era há 50 anos. Dados como estes demonstram que, diante dos modelos liberais, ou seja, sem forte intervenção de políticas estatais de redistribuição, nossas sociedades tendem a entrar em situação de profunda fratura social por desenvolverem uma tendência radical de concentração de riquezas.

Um exemplo do tipo de ação que uma defesa radical do igualitarismo pode produzir foi sugerido pelo candidato de uma coligação francesa de partidos de esquerda à eleição presidencial de 2012, Jean-Luc Mélenchon. Consiste na proposição de um "SALÁRIO MÁXIMO", com um teto que impediria que a diferença entre o maior e o menor ganho fosse superior a 20 vezes. Em uma realidade social de generalização mundial das situações de desigualdade extrema, tais propostas trazem para o debate político a necessidade de institucionalização de políticas contra a desigualdade."

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"A democracia depende de um aprofundamento da transferência de poder para instâncias de decisão popular que podem e devem ser convocadas de maneira contínua. (…) Com o desenvolvimento das novas mídias, é cada vez mais viável, do ponto de vista material, certa “democracia digital” que permita a implementação constante de mecanismos de consulta popular. (…) O verdadeiro desafio democrático consiste em criar uma dinâmica plebiscitária de participação popular.

Tal dinâmica é desacreditada pelo pensamento conservador, pois ele procura vender a ideia inacreditável de que o aumento da participação popular seria um risco à democracia - como se as formas atuais de representação fossem tudo o que podemos esperar da vida democrática. Contra essa política que tenta nos resignar às imperfeições da nossa democracia parlamentar, devemos dizer que a criatividade política em direção à realização da democracia apenas começou. Há muito ainda por vir.


O plebiscito é simplesmente a essência fundamental de toda vida democrática. (...) Vale a pena lembrar que a noção de soberania popular implica transferência de poderes em direção à democracia direta. Um exemplo valioso são as declarações de guerra. Na época da Guerra do Afeganistão, enquanto a maioria da população era contrária à iniciativa, o Parlamento espanhol aprovou o envio de tropas àquele país. Ou seja, naquele momento o Parlamento da Espanha não representava o povo - o mesmo povo que morreria devido às consequências da decisão do Parlamento. Em situações como esta, a decisão deveria passar para a democracia direta."

 
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 "Mesmo a tradição política liberal admite, ao menos desde John Locke, o direito que todo cidadão tem de se contrapor ao tirano, de lutar de todas as formas contra aquele que usurpa o poder e impõe um estado de terror, de censura, de suspensão das garantias de integridade social. Nessas situações, a democracia reconhece o direito à violência, já que toda ação contra um governo ilegal é uma ação legal. (...) Um dos princípios maiores que constitui a a tradição de modernização política da qual fazemos parte afirma que o direito fundamental de todo cidadão é o direito à rebelião e à resistência."

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"No fundo, essa é uma sociedade que tem medo da política e que gostaria de substituir a política pela polícia."

 

 
  
Assista acima a excelentes falas do filósofo Vladimir Safatle, professor da USP e grande estudioso de Hegel, Derrida, Lacan (dentre outros), em que ele analisa as manifestações populares, fala sobre a luta pela instauração de uma democracia real, defende os impostos sobre grandes fortunas e analisa o cenário global de crise do capitalismo após os colapsos financeiros de 2008... Vale muito a pena conferir!  

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