Mostrando postagens com marcador documentário. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador documentário. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

#SOSMaranhão: Um texto de Zeca Baleiro, um curta de Glauber Rocha, um doc de Andrea Tonacci...


Por Zeca Baleiro

Leio com assombro as notícias que chegam do Maranhão. Imagens e relatos dolorosos e repugnantes despejados em tempo real em sites, jornais e telejornais, escancarando a nossa vergonha e impotência diante de barbaridades que já extrapolam nossas fronteiras e repercutem mundo afora.

Como todos, estou pasmo. Mas nem tanto. Nasci no Maranhão e sei que a barbárie (a todos agora revelada de um modo talvez sem precedentes) já impera há anos na prática de seus governantes vitalícios, que agem como os velhos donos das capitanias hereditárias do passado.

Se o crime organizado neste momento dá as cartas e oprime o povo com ameaças e ações dignas dos mais perigosos terroristas, é porque há uma natural permissão -a impunidade crônica dos oligarcas senhores feudais, que comandam (?) o Estado com mãos de ferro há 47 anos (a minha idade exatamente) e que, ao longo desse tempo, vem cometendo atrocidades sem castigo, com igual maldade, típica dos grandes tiranos e ditadores.

Esses donos do poder maranhense (e nunca dantes a palavra “dono” foi empregada com tanta adequação como aqui e agora) são exemplo e espelho para que criminosos ajam sem nenhum medo da punição.

Pois a miséria extrema que assola o Estado há décadas, o analfabetismo estimulado pela sanha dos coiotes ávidos de votos, a cultura antiga de currais eleitorais, a corrupção mais descarada do mundo e o atentado ao patrimônio histórico de sua bela e triste capital são crimes tão hediondos quanto os cometidos no complexo penitenciário de Pedrinhas.

A diferença crucial é que, enquanto os bandidos que agora aterrorizam (e matam) a população aos olhos assustados da nação estão em presídios infectos e superlotados, os criminosos de colarinho branco (e terninho bege) habitam palácios.

No meio do caos, soa tão patética quanto simbólica a notícia veiculada dias atrás neste jornal sobre abertura de licitação para o abastecimento das residências oficiais da governadora.

A lista de compras é de um rigor e de uma opulência espantosos. Parece coisa da monarquia francesa nos dias que antecederam sua queda.

No presídio de Pedrinhas, cabeças são cortadas. Resta saber se, para além dos muros da prisão, alguém um dia irá para a guilhotina.


ZECA BALEIRO é cantor e compositor
Compartilhe no Facebook

#SOSMaranhão toma conta das ruas de São Luís; veja fotos.


* * * * *
Um curta de Glauber Rocha:


Um documentário de Andrea Tonacci

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Itamar Assumpção documentado [filme completo para ver on-line ou downloadar]


DAQUELE INSTANTE EM DIANTE
Documentário completo sobre Itamar Assumpção

Documentário da série "ICONOCLÁSSICOS" que percorre a trajetória musical do Nego Dito Itamar Assumpção, desde os anos da Vanguarda Paulista na década de 1980 até a sua morte aos 53 anos. Com depoimentos daqueles que conviveram com o artista, o filme reúne uma seleção de imagens raras garimpadas em acervos e arquivos particulares, que mostram sua presença antológica nos palcos e momentos de intimidade entre amigos e familiares. Saiba mais: matéria de Mateus Potumati na + Soma e de Rogério Skylab no Godard City.

Assista on-line @ Vimeo (inclui opção de DOWNLOAD):

São Paulo, 110 min, 2011. 
Realização INSTITUTO ITAÚ CULTURAL E MOVIEART
Direção ROGERIO VELLOSO

terça-feira, 27 de novembro de 2012

"A Sociologia é um Esporte de Combate" [Documentário completo sobre Pierre Bourdieu]

"A SOCIOLOGIA É UM ESPORTE DE COMBATE!"


“Weber está de acordo com Marx ao afirmar que a religião cumpre uma função de conservação da ordem social contribuindo para a “legitimação” do poder dos “dominantes” e para a “domesticação dos dominados”. (...) A religião favorece o desenvolvimento de um corpo de especialistas incumbidos da gestão dos bens de salvação. (...) Extremamente raro nas sociedades primitivas, o desenvolvimento de um verdadeiro monoteísmo está ligado à aparição de um corpo de sacerdotes organizado.
Isto significa que o monoteísmo, totalmente ignorado pelas sociedades cuja economia se baseia na coleta, na pesca e/ou na caça, somente se expande nas classes dominantes das sociedades fundadas em uma agricultura já desenvolvida e uma divisão em classes nas quais os progressos da divisão do trabalho se fazem acompanhar por uma divisão correlata, a divisão do trabalho de dominação e, em particular, da divisão do trabalho religioso. 
O corpo de sacerdotes deriva o princípio de sua legitimidade de uma teologia erigida em dogma, cuja validade e perpetuação ele garante. (...) Afirma-se a tendência dos especialistas de fecharem-se na referência autárquica ao saber religioso acumulado... O resultado da monopolização da gestão dos bens de salvação por um corpo de especialistas religiosos, socialmente reconhecidos como os detentores exclusivos desta competência específica, acompanha a desapropriação objetiva daqueles que dele são excluídos e que se transformam por esta razão em "leigos" ou "profanos", destituídos do capital religioso (enquanto trabalho simbólico acumulado).  
Como bem observa Weber, tendo em vista que a visão do mundo proposta pelas grandes religiões universais é o produto de grupos bem definidos (teólogos puritanos, sábios confucionistas, brâmanes hindus, levitas judeus etc.) e até de indivíduos (como os profetas) que falam em nome de grupos determinados, a análise da estrutura interna da mensagem religiosa não pode ignorar impunemente as funções sociologicamente construídas que ela cumpre: primeiro, em favor dos grupos que a produzem e, em seguida, em favor dos grupos que a consomem. 
Um sistema de práticas e crenças está fadado a ser considerado como magia ou como feitiçaria, no sentido de religião inferior, todas as vezes que ocupar uma posição dominada na estrutura das relações de força simbólica. (...) No âmbito de uma mesma formação social, a oposição entre a religião e a magia, entre o sagrado e o profano, dissimula a oposição entre diferenças de competência religiosa que estão ligadas à estrutura de distribuição do capital cultural.  
Pode-se verificar esse fato na relação entre o confucionismo e a religiosidade das classes populares chinesas, relegadas à ordem da magia pelo desprezo e pela suspeita dos letrados que elaboram o ritual refinado da religião do estado e que impõem a dominação e a legitimidade de suas doutrinas e de suas teorias sociais, apesar de algumas vitórias locais e provisórias dos sacerdotes taoístas e budistas cujas doutrinas e práticas estão mais próximas dos interesses das massas. 
Toda prática ou crença dominada está fadada a aparecer como profanadora na medida em que, por sua própria existência e na ausência de qualquer intenção de profanação, constitui uma contestação objetiva do monopólio da gestão do sagrado e, portanto, da legitimidade dos detentores desse monopólio... ” 


PIERRE BOURDIEU
in: "A Economia das Trocas Simbólicas"
Ed. Perspectiva
Pgs 32-45

Saiba mais sobre Bourdieu,
um dos grandes sociólogos do século XX, neste
documentário (completo e legendado em português):

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Uma Cachoeira de Corrupção - Clipping de uma Ladroagem sem Fim



O "pacto" firmado foi o seguinte: Cachoeira pagava 30% dos lucros da jogatina ao carequinha Demóstenes; o protegée da Revista Veja, apesar de vestir a máscara de "mosqueteiro da ética", enchia os bolsos com milhões de reais no backstage.
 "Demóstenes tinha direito a 30% da arrecadação geral do esquema de jogo clandestino, calculada em aproximadamente 170 milhões de reais nos últimos seis anos. Na época, o império do bicheiro incluía 8.000 máquinas ilegais de caça-níqueis e 1.500 mil pontos de bingos.

A jogatina foi desbaratada na Operação Monte Carlo e as contas apresentadas pela PF demonstram que a parte do parlamentar deve ter ficado em torno de 50 milhões de reais. O dinheiro, segundo a PF, estava sendo direcionado para a futura candidatura de Demóstenes ao governo de Goiás."
CARTA CAPITAL, Os 30% de Demóstenes (Março de 2012)



"Logo após ser preso, o juiz determinou que Cachoeira fosse transferido para um presídio federal de Mossoró (RN) porque os procuradores temiam que ele continuasse a comandar o esquema criminoso de dentro de uma prisão de Goiás. “Em mais de uma década, Carlinhos Cachoeira dedicou-se a comprar informações e proteção de agentes do estado vendíveis. Em outras palavras, tornou a sociedade e o próprio estado mais vulneráveis ao crime”, escreveu Lima. 

Os números listados na Justiça Federal falam por si só do tamanho da investigação que une os negócios de Cachoeira com a rotina do governo de Goiás. Ao todo foram identificados como integrantes da quadrilha do bicheiro 43 agentes públicos. Desses, seis delegados da Polícia Civil, 30 policiais militares, dois delegados da PF, um administrativo da PF, um policial rodoviário federal, dois agentes da Polícia Civil e dois servidores municipais."- CARTA CAPITAL - O Crime no Poder

"A reportagem de capa de Carta Capital, "O Crime Domina Goiás", assinada pelo jornalista Leandro Fortes, aborda documentos, gravações e perícias da Operação Monte Carlo que indicam uma sinergia total entre o esquema do bicheiro, Demóstenes e o governador de Goiás, Marconi Perillo" ( "O Estranho Sumiço da Carta Capital Das Bancas de Goiânia", Abril de 2012). "Carros sem placa de identificação percorreram as bancas de jornal de Goiânia, capital de Goiás, com homens comprando, de uma só vez, todos os exemplares disponíveis..." (Brasil 247, Abril de 2012).

Um relatório da Polícia Federal, narra a Revista Época, "de 73 páginas e 169 diálogos telefônicos", indica que "são contundentes os indícios de que a Delta deu dinheiro a Perillo. Alguns desses 169 diálogos já vieram a público; a vasta maioria ainda não. Encontram-se nesses trechos inéditos as provas que faltavam para confirmar a simbiose entre os interesses comerciais da Delta em Goiás e os interesses financeiros de Marconi Perillo.


O exame dos diálogos interceptados fez a Polícia Federal, baseada em fortes evidências, conclui que:

1) assim que assumiu o governo de Goiás, no ano passado, Marconi Perillo e a Delta fecharam, diz a PF, um “compromisso”, com a intermediação do bicheiro Carlinhos Cachoeira: para que a Delta recebesse em dia o que o governo de Goiás lhe devia, a construtora teria de pagar Perillo;
2) o primeiro acerto envolveu a casa onde Marconi Perillo morava. Ele queria vender o imóvel e receber uma “diferença” de R$ 500 mil. Houve regateio, mas Cachoeira e a Delta toparam. Pagariam com cheques de laranjas, em três parcelas;
3) Perillo recebeu os cheques de Cachoeira. O dinheiro para os pagamentos – efetuados entre março e maio do ano passado – saía das contas da Delta, era lavado por empresas fantasmas de Cachoeira e, em seguida, repassado a Perillo. 
4) a Delta entregou a um assessor de Marconi Perillo a “diferença” de R$ 500 mil;"

REVISTA ÉPOCA, "Como a Delta pagava Marconi Perillo"


* * * * *
"O líder do PT na Câmara dos Deputados, deputado Jilmar Tatto (SP), defendeu nesta segunda-feira, 16 de Julho, o afastamento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), devido aos indícios de envolvimento de Perillo com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Segundo o deputado, é uma "temeridade" que a população do Estado tenha Perillo como governador.

 "Para o bem do povo de Goiás, ele tem que sair rápido do governo", afirmou Tatto. O petista disse que, se a Assembleia Legislativa de Goiás "tiver o mínimo de decência", deve abrir o processo de impeachment contra o governador. "Perillo mentiu descaradamente sobre a relação dele com Carlos Cachoeira na CPI", disse Tatto.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado." 
Portal Terra


Em resumo: manda aí a real, Laertón! 

"SAI DISGRAMA!"
GOIÂNIA EM MARCHA CONTRA A CORRUPÇÃO
(Documentários independentes sobre o Movimento Fora Marconi)




Uma produção indiegena e tosqueira... do Depredando o Orelhão. Trilha sonora a cargo de Dead Kennedys, Rage Against the Machine e Raul Seixas (1); The Clash, AC/DC, Legião Urbana (2). Inclui fotografias de Jean-Pierre Pierote, Tiago Lemos e muitos outros fotógrafos anônimos. Tudo filmado com câmera tremida nas mãos, seguindo os preceitos estéticos do Dogma 1,99, em meio às marchas contra a corrupção de 2012 em Goiânia. "Sai, disgrama!"

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Belo Monte - Anúncio de Uma Guerra [assista o documentário na íntegra]

“Belo Monte - Anúncio de uma Guerra”


(Documentário - Brasil - 2012 - 1h44min - diretor: André D'Elia)

“O Brasil do futuro: como diz Beto Ricardo, metade uma grande São Bernardo, a outra metade uma grande Barretos. E um punhado de Méditerranées à beira-mar plantados, outro tanto de hotéis de eco-turismo em locais escolhidos dentro do Parque Nacional “Assim Era a Amazônia”, criado pela Presidente Dilma Roussef (em segundo mandato) no mais novo ente da federação, o Iowa Equatorial, antigo estado do Amazonas. Bem, esse é só um pesadelo que me acorda de vez em quando…” (VIVEIROS DE CASTRO)

Dilma só aparece uma vez no filme, mas sua participação ligeira se encerra com uma fala que carrega um famoso maquiavelismo: "há males que vem para o bem", diz em reunião com sua trupe nossa presidenta. É o retorno do celebérrimo "o fim justifica os meios". Que soem os alarmes da suspeita (mais uma vez!) diante de idéias assim! Afinal de contas, que males são estes que se supõe como necessários? E vem eles para o bem de quem? Ademais, não há uma certa arrogância em se bancar o profeta visionário que consegue prever com certeza os caminhos que levam aos amanhãs cantantes? 

A mesma lorota já ouvimos antes: "não se faz uma omelete sem quebrar alguns ovos". O desenvolvimento do Brasil exigiria, para que a omelete saísse ao gosto do Palácio, alguns "efeitos colaterais": milhares de índios expulsos das terras onde habitaram seus ancestrais, Altamira lançada ao Caos da superpopulação e das epidemias tropicais, e tudo em prol dos sacrossantos interesses de crescimento desse país que, após tanto tempo de Complexo de Vira-Lata, parece subitamente de ego inflado, pavoneando-se de estar entre a meia-dúzia de economias mais pujantes do globo. E se tem algo que aprendi lendo as tragédias gregas de Ésquilo, é isso: a soberba causa desgraça certa. 

Os que estão embevecidos com a utopia desenvolvimentista, ainda hoje, parecem pintar um cenário cor-de-rosa dos tempos que virão: um Brasil "financeiramente forte", "competitivo no mercado internacional", com bolsas de valores bombadas e demais blá-blá-blás economicistas. Enquanto isso, muitos de nós, brasileiros, não conseguimos enxergar senão com horror e pavor a perspectiva de que brotem McDonalds às margens do Rio Xingu e que logo as latinhas de Coca Cola estejam boiando nas águas junto aos cadáveres dos cardumes. 

Quiçá em algumas décadas teremos realizado a proeza de que se abram dúzias de Shopping Centers na Amazônia, rodeados por imensos favelões e outros bolsões de pobreza, onde novos Caveirões da Polícia Militar possam reprimir os que tem pouco para que possam prosseguir na bonança os que têm demais. Amazônia, 2050: gigantescos outdoors de néon anunciam as mais novas maravilhas em promoção nos Wal-Marts que vieram tomar o lugar da antiga rainforest. E as outrora cristalinas águas dos rios agora estão imundas feito as do Tietê.

Essa megalomania do desenvolvimentismo, esta vontade cega de crescimento, merece ser questionada: desenvolver o Brasil em direção ao quê? Qual o nosso modelo e paradigma de civilização digna de ser imitada? Queremos de fato seguir na senda dos EUA, feito uns totózinhos servis, de mentalidade ainda colonizada, que só sabem seguir pelas vias abertas pelos outros? Vamos ficar pagando-pau pra quem cagou em cima do Protocolo de Kyoto e que não pára de se meter em guerras no Oriente Médio para defender o interesse da indústria petrolífera? Queremos de fato imitar um país cujos gastos com tanques, bombas, mísseis e demais armas de destruição em massa dá de lavada em qualquer outro país? Queremos de fato prosseguir botando lenha na fogueira do Industrialismo, quando as ruas de nossas metrópoles mal conseguem suportar novos afluxos de carros em nossas avenidas abarrotadas? Queremos o tal do desenvolvimento ao preço da uma catástrofe ambiental, de um desflorestamento brutal dos alvéolos verdes amazôneos, tão cruciais para o planeta quanto são os pulmões que cada um de nós carrega no peito?

Se Belo Monte está sendo feita para o bem das grandes empresas e das grandes empreiteiras, se o governo Dilma só está tão obstinado em prosseguir com a obra por causa da grana alta correndo nos bastidores do poder, comprando eleições e mandando e desmandando com a força da bufunfa, então não tenho dúvida de que mais e mais multidões vão engrossar o coro: "Um, dois, três, quatro, cinco, mil / Ou pára Belo Monte ou paramos o Brasil!"
* * * * * 

Viveiros de Castro: “Em uma fotografia de Miguel Rio Branco, que mostra um cárcere na Bahia, lemos uma frase arranhada no reboco da parede: “Aqui o filho chora e a mãe não ouve”. Frase terrível. Seria isso o Estado: onde o filho chora e a mãe não ouve. O lugar geométrico de todos os lugares onde o filho chora e a mãe não ouve. E ao mesmo tempo, o dossel que nos protege… Fora da cela, fora da jaula, seremos devorados – é o que nos contam. 
Uma intenção poético-política sempre esteve comigo e diz muito diretamente respeito a um outro modo de imaginar o Brasil: o Brasil como multiplicidade complexa, original, polívoca, antropofágica. Quem sabe mesmo um “país do futuro” em outro sentido - no sentido de que o Brasil abriga virtualmente em si uma idéia futura, inédita, do que pode ser um país? Invenção, experimentação. Contra vento e maré, reinventar o Brasil. Com os índios, entre outros. 
Uma boa política, aquela que me desperta simpatia de início, é aquela que multiplica os possíveis, que aumenta o número de possibilidades abertas à espécie. Uma política cujo objetivo é reduzir as possibilidades, as alternativas, circunscrever formas possíveis de criação e expressão, é uma política que descarto de saída. 
A diversidade das formas de vida é consubstancial à vida enquanto forma da matéria. Essa diversidade é o movimento mesmo da vida. A diversidade dos modos de vida humanos é uma diversidade dos modos de nos relacionarmos com a vida em geral, e com as inumeráveis formas singulares de vida que ocupam todos os nichos possíveis do mundo que conhecemos. A diversidade é um valor superior para a vida. A vida vive da diferença; toda vez que uma diferença se anula, há morte. “Existir é diferir”. 
É do supremo e urgente interesse da espécie humana abandonar uma perspectiva antropocêntrica. Os rumos que nossa civilização tomou nada têm de necessários… é possível mudar de rumo, ainda que isso signifique mudar muito daquilo que muitos considerariam como a essência mesma da nossa civilização. 
Falar em diversidade socioambiental não é fazer uma constatação, mas um chamado à luta. Não se trata de celebrar ou lamentar uma diversidade passada, residualmente mantida ou irrecuperavelmente perdida. A bandeira da diversidade real aponta para o futuro: a diversidade socioambiental é o que se quer produzir, promover, favorecer. Não é uma questão de preservação, mas de perseverança. Não é um problema de controle tecnológico, mas de auto-determinação política."
EDUARDO VIVEIROS DE CASTRO
in: Encontros (org. Renato Sztutman)
Azougue Editorial
Leia na íntegra




Assista ao documentário on-line ou faça o download: