Glicínias
As Glicínias são umas das minhas flores preferidas. Acho belíssima a forma como pendem nas escadas enferrujadas e ou cantarias e varandas gastas pelo tempo.
Encontro-as inebriadas de poesia e de história quando as vejo afirmarem o passado que gerações idas com elas levaram, dos risos espontâneos que ecoam onde não se sabe, das crianças que brincaram nos pátios, dos brinquedos e dos corações partidos, dos choros, das traições, das partidas custosas e das falsas alegria à chegada.
Brotam virilmente das paredes quebradas pela saudade, numa promiscuidade muda, que atravessa os anos, que atravessa os olhares e o olfacto.
Vi-as hoje, numa manhã passada em Sintra, e viajei mentalmente parado em frente à Villa Roma e Seteais a contemplá-las.
Lembrei-me da coroa que em 1900, Emília colocou no funeral do Eça entrelaçada em glicínias e hortênsias. Não existe flor que encerre tanta triteza e tanta saudade.