1.
Quando sepultam uma época,
O salmo fúnebre não soa,
Às urtigas, aos cardos
Caberá enfeitá-la.
E apenas os coveiros vivazes
Trabalham. As coisas não esperam!
E um silêncio, Senhor, um silêncio tal
Que se ouve o tempo passar.
Mas depois ela assoma,
Como um cadáver no rio primaveril, –
O filho, todavia, não reconhecerá a mãe.
E o neto desviará os olhos com enfado.
E as cabeças inclinam-se mais,
Como um pêndulo a lua move-se.
E eis – sobre Paris tombada
Agora um silêncio destes.
5 de Agosto de 1940
anna akhmatova
poemas
trad. joaquim manuel magalhães e
vadim dmitriev
relógio d´água
2003