terça-feira, março 18, 2025

ucraniana CCLXXXVI - a vitória da Rússia e a clamorosa derrota da União Europeia em todas as frentes

Rússia: depois da cooperação com o Ocidente, veio o aviso sério de Putin (Munique, 2007), ao ver, com a invasão do Iraque, de que massa é feita aquele covil de ganância e pulhice; a resposta ao miserávelzinho agente americano que estava na presidência da Geórgia (hoje na cadeia) e às manobras de diversão respectivas no antigo espaço soviético, culminando com a apetecível Ucrânia.

A estratégia (?) norte-americana do execrável Joe Biden falhou rotundamente; a inflexão de Trump "apenas" salvou os Estados Unidos de maior humilhação (quem não se lembra deste senil a dizer de fugida a um jornalista que os EUA estavam sem munições?)

Os dirigentes da UE, esses metem nojo; antes, pela vassalagem,; agora, pela estupidez e a desesperada tentativa de fuga para a frente que iremos ver como acaba (talvez acabe com a UE, infelizmente): um Macron em perda em África, a aproveitar-se do vazio temporário da Alemanha, apoiado na desorientada Inglaterra. Dos grandes países parece ser a Itália e a Polónia (em circunstâncias diferentes) que melhor sabem o que querem (ou não querem). 

Dirigentes da UE abaixo de cão: Leyen, uma abusadora descarada, o que é uma vergonha para os líderes europeus eleitos; Costa, tão fala-barato lá como cá, zero em substância, 20 em parlapatice; para não falar das duas coisinhas que arranjaram para as relações exteriores e mantiveram a presidir ao PE. Ridículos, de mão estendida, à espera que Trump lhes dê atenção, mas fingindo que não o ouvem. Putin despreza-os, e nunca tanto desprezo foi tão merecido.

3 versos de Cristóvão de Aguiar

«em outra língua  trago um sabor / a merda ressequida -- é o medo // roendo-me às ocultas como traça»

«Ouve o meu desabafo» Sonetos de Amor Ilhéu (1992)

segunda-feira, março 17, 2025

Sócrates faz bem

Fartei-me aqui de falar sobre Sócrates e dos atrasos de vida no sistema da Justiça em Portugal. A justiça acompanha o jornalismo e a política partidária na pocilga em que transformam o país. Incompetentes, medíocres e até maus.

Estou-me nas tintas para o julgamento de Sócrates. E nauseado também. Depois de tanto tempo (nem me vou dar ao trabalho de ver quantos anos já passaram), é agora que vai haver julgamento? E, provavelmente, com a expertise que têm demonstrado, correndo o risco de ver o julgamento anulado. É mesmo isso que parece estarem a pedir.

Para já, Sócrates mandou-os à merda. É isto.

3 versos de José Alberto Oliveira

«A tarde afoga-se na marina do Vieux Port, / acontecem desavenças por tão pouco, / rosas que murcham no íntimo de Maio:» 

«Como regressei de Marselha, incólume, quase», O que Vai Acontecer? (1997) 

domingo, março 16, 2025

Camilo Castelo Branco, no dia do bicentenário

Rafael Bordalo Pinheiro
Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (Bairro Alto, Lisboa, 1825 – São Miguel de Seide, Vila Nova de Famalicão, 1890).

Escritor completo, cultivou todos os géneros literários: é o efabulador romântico de Romance de um Homem Rico (1861) e Amor de Perdição (1862), o escritor realista de A Queda dum Anjo (1866) ou O Retrato de Ricardina (1868), o romancista “histórico” de A Filha do Regicida (1875), o autor ironicamente à la page com o naturalismo em Eusébio Macário (1879) e A Corja (1880); é o poeta de Nas Trevas (1890); o dramaturgo de O Morgado de Fafe em Lisboa (1861); o folhetinista de cordel de Maria! Não me Mates que Sou Tua Mãe (1841); o polemista de O Clero e o Sr. Alexandre Herculano (1850) ou Vaidades Irritadas e Irritantes (1866); o memorialista das Memórias do Cárcere (1862); o crítico de Esboços e Apreciações Literárias (1865); o biógrafo de D. António Alves Martins – Bispo de Viseu (1870); o epistológrafo da Correspondência com Vieira de Castro (1874); o antologiador do Cancioneiro Alegre (1879); o historiador comprometido do Perfil do Marquês de Pombal (1882); o publicista de O Vinho do Porto (1884)…

Entre as convulsões da Guerra Civil e a agonia do Ultimato, o Portugal do século XIX, dos Cabrais à Regeneração, espelha-se na obra de Camilo. Mas, erudito, vem de trás, das crónicas vigiadas de Fernão Lopes aos cartapácios fantasiosos de Frei Bernardo de Brito; prosador exímio e mestre da língua, é herdeiro do Padre António Vieira e está também na génese de Aquilino Ribeiro; instável, sarcástico, violento e ao mesmo tempo lírico, encerra uma verdade envolta em fingimento que não deixa indiferente o leitor do século XXI.  

É um dos génios tutelares da cultura portuguesa. O seu nome próprio, Camilo, tem dimensão idêntica aos de Camões, Vieira, Bocage, Garrett, Antero, Eça, Cesário ou Pessoa. Amor de Perdição emparceira em peso e relevância canónicos com Os Lusíadas, Menina e Moça, Viagens na Minha Terra, Os Maias, O Livro de Cesário Verde, , Clepsidra, Mensagem, Andam Faunos pelos Bosques, A Selva, Mau Tempo no Canal, Sinais de Fogo, Para Sempre – clássicos absolutos. Escritores como Teixeira de Pascoais, Aquilino, Vitorino Nemésio, José Régio, João de Araújo Correia, entre muitos outros de primeira água, sentiram-se interpelados pelo génio do «colosso de Seide», dedicando-lhe estudos de amplitudes várias; também artistas plásticos como Roque Gameiro, Stuart Carvalhais, Francisco Valença, Leal da Câmara, Diogo de Macedo, Tom, João Abel Manta ou Mário Botas não lhe ficaram indiferentes.

O tempo, ele próprio – em boa parte graças aos jornais e às bibliotecas itinerantes, primeiro, ao audiovisual e aos curricula escolares, depois – encarregou-se de tornar o acervo literário de Camilo em elemento identitário dos portugueses, o que se verifica quando a cultura popular se deixa impregnar pela criação erudita, e vice-versa. Esse intercâmbio fecundo é a glória dos criadores: por um lado assegura a perenidade do seu nome e de parte da sua obra; por outro, acrescenta densidade à comunidade nacional em que o autor e os seus livros se fizeram.

O legado artístico camiliano constitui-se como património incomparável. O mesmo se passa com outras manifestações seculares equivalentes em importância: das cantigas de D. Dinis e os autos de Gil Vicente à obra romanesca dos nossos maiores escritores contemporâneos; das gravuras rupestres do Vale do Côa aos projectos de Siza Vieira, passando pelos painéis de Almada Negreiros; das sonatas de Carlos de Seixas às sinfonias de Luís de Freitas Branco e à guitarra de Carlos Paredes; dos retábulos da escola de Nuno Gonçalves às telas de Júlio Pomar, dos retratos de Columbano aos cartoons do seu genial irmão, Rafael Bordalo Pinheiro – a cultura portuguesa não é susceptível de ser apreendida sem estas, e outras, manifestações do espírito. Assim com Camilo Castelo Branco.


Texto inédito, datado de 31-V-2010

sábado, março 15, 2025

Django Reinhardt, «Blues For Ike»

fragmentos

«Quem a vida lava / Que vidas oculta?» Liberto CruzÚltima Colheita -- «Livro de Registos» (2022)

«Pátria é a soma de interesses nobres, de deveres sagrados, de justas aspirações, de puras finalidades, de ideal e sonho, em que a tua actividade e a tua ventura não diminuem, antes servem, a ventura dos do teu sangue e a das outras Pátrias.» Augusto Casimiro, O Livro dos Cavaleiros -- «Da Pátria» (1922)

«Há uma espécie de indulgência que é a indulgência do desinteresse. Uma indulgência mil vezes nefasta -- porque igualiza tudo e todos.» José Bacelar, Revisão 2 -- Anotações à Margem da Vida Quotidiana -«Prefácio» (1936)

sexta-feira, março 14, 2025

4 versos de Fernando Namora

«A infância foge dos braços / mas o peso continua: / é a vida que pergunta / quando acaba.» 

«Evidência», Marketing (1969)

quinta-feira, março 13, 2025

King Oliver's Creole Jazz Band, feat. Louis Armstrong, «Chimes Blues»

3 versos de Fernando Grade

 «A barba do cão faz anos / e nesses cabelos a crescer / ficamos todos mais velhos.» 

«Há livros perversos que mordem o pêlo do cão», O Livro do Cão (1991)


quarta-feira, março 12, 2025

3 versos de Cesário Verde

«Lembra-me, de manhã, quando nas praias anda, / Por entre o campo e o mar, bucólica, morena, / Uma pastora audaz da religiosa Irlanda.» 

«Manhãs brumosas», O Livro de Cesário Verde (1887)

terça-feira, março 11, 2025

Peter Gabriel, «Intruder» (New Blood Version)

o que está a acontecer

«Desde as quatro horas da tarde, no calor e silêncio do domingo de Junho, o Fidalgo da Torre, em chinelos, com uma quinzena de linho envergada sobre a camisa de chita cor-de-rosa, trabalhava. Gonçalo Mendes Ramires (que naquela sua velha aldeia de Santa Ireneia, e na vila vizinha, a asseada e vistosa Vila-Clara, e mesmo na cidade em Oliveira, todos conheciam pelo "Fidalgo da Torre") trabalhava numa novela história, "A Torre de D. Ramires", destinada ao primeiro número dos "Anais de Literatura e de História", revista nova, fundada por José Lúcio Castanheiro, seu antigo camarada de Coimbra, nos tempos do Cenáculo Patriótico, em casa das Severinas.» Eça de Queirós, A Ilustre Casa de Ramires (1900)

«O Sr. Silva, inquieto e resfolegando como um hipopótamo, passeava no seu escritório. O seu traje era muito simples: andava de cuecas e alpercatas de estopa com sola de cortiça. Este vestido, conquanto singelíssimo, e o primeiro talvez que se seguiu ao que trajou Adão no Paraíso, dava-lhe ares dum sátiro voluptuosamente gordo.» Camilo Castelo Branco, A Filha do Arcediago (1854)

«A torre da Sé deformou-se: o granito aliado à névoa, a névoa de mistura com a noite, abriram arcarias, alongaram as portas,  e fizeram dos restos da muralha antiga um tropel caótico. É um amálgama de realidade e pesadelo, trapos de nuvens e palácios desmedidos.» Raul Brandão, A Farsa (1903) 

a entrevista de Montenegro

Ficaria de mal com a minha consciência se, depois de ouvida a entrevista, não acrescentasse ao que aqui escrevi o seguinte: dando de barato que o PM disse a verdade e que as explicações foram convincentes, resta apenas isto: teríamos de confiar na palavra do PM de que sempre exerceu as suas funções com honestidade e que quando um potencial conflito de interesses se antevia, ele se abstinha de  tomar parte nas respectivas decisões concernentes. No entanto, resultaria bizarro se a nação não tivesse outro remédio senão a confiança na palavra dada do governante, quando esse governante, por via conjugal ou outra, beneficiou de um estipêndio a que absolutamente se deveria eximir. 

3 versos de Florbela Espanca

«Lá passa a doida cantando / Num suspiro doce e brando / Que mais parece chorar!» 

«A doida», Antologia Poética (ed. Fernando Pinto do Amaral)

4500 euros x quantos meses?

Não há volta a dar: são 4500 euros por mês no orçamento familiar, enquanto primeiro-ministro, mas já antes como líder do PSD, entregues por uma sociedade que tem negócios que dependem de confirmação estatal.  Não querem eleições? Ainda bem. Demita-se o PM e apresente o partido um nome para formar novo governo. Está o caso resolvido. Com eleições, será um merecido massacre: 4500 euros vezes quantos meses? O líder de um partido de governo a ser subvencionado por uma empresa que tem negócios com o Estado? Onde é que há ponta por onde se pegue?... Como disse António Filipe -- eleito deputado também com o meu voto, felizmente --, ninguém é obrigado a ser primeiro-ministro. 


segunda-feira, março 10, 2025

por aí


Mário Domingues

 

4 versos de Carlos Queirós

«Canto a cálida calma do teu corpo, / Deitado na praia; / A fina brisa que te ondula a saia, / O Sol que queima a tua pele!» 

de «Sete caprichos para ela», Desaparecido (1935)

domingo, março 09, 2025

«Redemption Song» (Bob Marley)

serviço público: "Portugal à deriva na tempestade -- quatro notas de leitura" (Viriato Soromenho Marques)

"Nem os fanáticos que queriam declarar guerra ao império britânico, na sequência do Ultimato de 1890, nem o furioso Afonso Costa, colocando Lisboa a ferro e fogo em maio de 1915 para enviar, por decisão unilateral, milhares de soldados analfabetos para a Flandres, se comparam à façanha do mesquinho consenso nacional que vai de António Costa a Rui Tavares, numa contemporânea demonstração da veracidade da tese de Unamuno que considerava ser Portugal um país de suicidas."

aqui

a autobiografia de Eric Hobsbawm - II. frases

4. «Vivíamos a bordo do Titanic, e toda a gente sabia que o choque com o iceberg se avizinhava.»

3. «O sonho da Revolução de Outubro permanece algures vivo em mim, nalgum recanto da minha intimidade, como se se tratasse  de um desses textos que foram apagados, mas que continuam à espera, perdidos num disco duro de um computador, que um especialista apareça para os recuperar.»

2. «Não tenho qualquer obrigação moral de observar as práticas de uma religião ancestral e muito menos de servir o pequeno Estado-nação militarista, culturalmente frustrante e politicamente agressivo, que solicita em termos raciais a minha solidariedade.» (sobre Israel)

1. «A minha vida desenrolou-se ao longo de quase todo o século mais extraordinário e mais terrível da história humana.»

(continuação daqui)

Eric Hobsbawm, Tempos Interessantes -- Uma Vida no Século XX (2002) Trad. Miguel Serras Pereira, Porto, Campo das Letras, 2005

sexta-feira, março 07, 2025

Byron Stripling, «West End Blues»

defesa europeia, ou começar a casa pelo telhado

Ao contrário do que escrevem para aí uns asnos todos os dias, a unanimidade de ontem  quanto ao rearmamento europeu é muito mais aparente do que efectiva. É facílimo concordar com empoderamento (peço desculpa pela palavra horrível) europeu quando se embrulha a Ucrânia com a Gronelândia e o Árctico com o Sahel...

Quando for a doer é que se vai ver, já dizia o Shakespeare: quem comanda quem e o quê, e quem é comandado, contra quem, onde e como. Minudências...

Como até a minha boxer já percebeu, não é possível uma política externa e de defesa comum com esta União Europeia -- felizmente, acrescento, porque se é para isto, mais vale deixar como está.

Continuam sem perceber um boi, estas andorinhas do jornalismo. Mas não são as únicas (ainda ontem, ao ouvir o quase sempre lastimável debate com Agostinho Costa, malgré lui). Tenho aliás aprendido que há tetrápodes que riem e burricos que moderam.

4 versos de José Pascoal

«Pertences / Ao comum dos mortais / Que contam os silêncios / Pelos dedos das mãos.» 

«Na segunda pessoa», Sob Este Título (2017)

correspondências

(Frei João Álvares aos monges de Paço de Sousa, 1467) «Aos filhos amados em Deus, monjes do moesteiro de S. Salvador de Paço de Sousa, da ordem de S. Bento, saúde e bênção em Nosso Senhor Jesu Cristo. Certo é que Nosso Senhor Deus, por sua bondade e misericórdia, ordenou que todos assi fôssemos juntos, como somos, polo legamento da caridade, pola (qual) eu cá onde ando, e vós lá onde estais todos a reveses possamos gouvir de nossos benefícios e orações, e que eu convosco e vós comigo nos hajamos de salvar, e que todos juntamente, feitos executores do que prometemos, possamos receber a glória que nos é prometida se perseverarmos com boa obediência nos santos mandamentos da regra.» in Andrée Rocha, A Epistolografia em Portugal (1965)

(José da Cunha Brochado a desconhecido, 1696) .../... «Estas reverentes vozes na fé do indulto deste dia mereçam, meu Senhor, alguma dissimulação na graça de V. Ex.ª, a cujos preceitos quer a minha obediência ter a ousadia de resignar-se. Deus guarde a V. Ex.ª muitos anos / 7 de Maio de 1696.» Cartas**

(Eugénio de Andrade a Jorge de Sena, 1955) .../... «E, para que lhe não fique a menor dúvida, dir-lhe-ei só mais isto -- um dos poemas do livro, suponho que o intitulado Frente a frente, é-lhe dedicado -- bem assim como todo o livro à Sofia -- dedicatórias essas que retirei, por razões óbvias, nas cópias que mandei. Quando o livro for publicado você encontrará tais dedicatórias no seu lugar.» .../... Cartas de Eugénio de Andrade a Jorge de Sena*


** ed. António Álvaro Dória, 1944

* ed. António Oliveira, 2015

quinta-feira, março 06, 2025

4 versos de Carlos Queirós

«Na cidade nasci; nela nasceu / A minha dispersiva inquietação; / E o meu tumultuoso coração / Tem o pulsar caótico do seu.» 

«Cidade», Desaparecido (1935)

quarta-feira, março 05, 2025

3 versos de Armando Taborda

«escondes-Te / em tudo o que há / para não Te mostrares» 

Palavras, Músicas e Blasfémias que Envelheço na Cidade (1986)

terça-feira, março 04, 2025

6 versos de José Régio

«E uns olhos que era difícil, / E era admirável, / Fitar. / Contava dum outro Reino, / E ensinava / Um novo modo de amar.» 

«Quando Deus fala», As Encruzilhadas de Deus (1936)

ucraniana CCLXXXV - falemos da "ameaça russa" à Europa, e dos alertas necessários

Existe uma ameaça russa? Existe pois! Vejamos:

1. Quando o compromisso -- tomado com Gorbachev! -- de os Estados Unidos não expandirem a Nato para a área do antigo Pacto de Varsóvia é desprezado...;

2. Quando as plataformas para mísseis são colocadas em países como a Polónia com o argumento de servirem sistemas defensivos relativamente a possíveis ataques do Irão...;

3. Quando um homem de Washington, que ocupava então a presidência da Geórgia, avança com tropas sobre território russo, provocando a resposta que se conhece...;

4. Quando são rasgados os Acordos de Minsk, subscritos por Rússia, Ucrânia, França e Alemanha, sem nenhuma intenção destes de serem cumpridos, segundo confessaram, enganando uma vez mais os russos...;

5. Quando a desestabilização política é fomentada por ong's na própria Rússia, na Bielorrússia, no Casaquistão, na Geórgia, na Ucrânia -- aqui com a visível intervenção política dos americanos no terreno, com a deposição do presidente eleito, o que leva à subsequente ocupação e anexação da Crimeia (após referendo que obviamente a Rússia ganharia sempre, sem precisar de recorrer a fraude), seguindo-se as intervenções nos oblasts separatistas do Donbass...;

Depois, foi a guerra.

Sim, a Europa, principalmente agora com a nova política americana, tem todas as razões para temer a "ameaça russa", uma vez que a Rússia não vai deixar-se imolar como cordeiro para a Páscoa, no que faz muito bem.

Mas o que a Europa realmente deve temer, são os seus dirigentes: em negação, Starmer quer mandar britânicos para o matadouro; Macron propõe, com falsa candura, uma trégua aos russos por um mês, uma grande oportunidade, segundo eles, para Putin mostrar a sua boa-fé -- como se ele estivesse ávido de reconhecimento por parte destes indivíduos; como se a Rússia não estivesse a ganhar no campo de batalha -- trégua para quê?... Ursula von der Leien, que faz de estadista eleita, dirige -- pretende dirigir e deixam-na -- a política europeia de defesa, como se tal lhe fosse atribuível. E por estes três me fico.

Trump acaba de suspender a transferência de meios militares para a Ucrânia por tempo indeterminado. O plano europeu que Starmer apresentará ao POTUS deverá ter um lindo destino, o caixote do lixo, se é que nesta altura ainda exista. Boots on the ground sob a protecção americana. Faz rir, certo? 

Menos graça é ouvir comentadores sem vergonha e incompetentes -- é difícil ver tanta incompetência e cegueira juntas -- falarem da tal ameaça russa, da potência invasora e da vítima invadida, da sensibilização da opinião pública e dos eleitorados, e do "medo" da Europa, segundo estes valentões das dúzias. A propaganda desbragada vais continuar, a não ser que a paz se estabeleça rapidamente, por acordo ou capitulação. Vai continuar a lavagem ao cérebro e será bom que os povos da Europa estejam atentos para onde os querem levar.

E dialogar com a Rússia, não?... Basta olhar o mapa e ver o que era a ocupação da Crimeia e do Donbass, e o que é agora, ao fim destes três anos. Que estúpidos...

segunda-feira, março 03, 2025

Abbey Lincoln, «Live for Life»

e que viva o Brasil, o Brasil são, o Brasil democrático, o grande Brasil!

Como já muitos disseram, «Ainda estou Aqui» não precisava de Óscar nenhum para ser o grande filme que é, de que não gostam os bronco-fascistas brasileiros e portugueses nem o fanatismo totalitário woke. Viva Walter Moreira Salles, Marcelo Rubens Paiva, Fernanda Torres e todos os outros. E viva eu, que tenho raízes no grande Brasil também da escravatura!


Arturo Holmes


6 versos de José Agostinho Baptista

«ainda me perturbam todos os nomes e as regiões agora / desabitadas / gente que vi partir deixando o olhar parado à volta / nas encostas e nos telhados vermelhos / gente perdida nas altas escarpas do norte e / no passado interminável...»

«Nunca mais sossegou a minha vida», Deste Lado Onde (1976)

domingo, março 02, 2025

"Napoleão" 1/3

Recebo da Gradiva, o tomo III de Napoleão, com texto de Noël Simsolo (1944), desenhos de Fabrizio Fiorentino (1973), com supervisão de Jean Tulard (1933), um dos mais destacados historiadores deste período da História iniciado com a Revolução Francesa. 

aqui escrevi que Napoleão Bonaparte (1769-1821) é uma das poucas personagens de carne e osso que compara com as grandes personagens da ficção, de Ulisses a Dom Quixote, tal a desmesura da sua personalidade e do efeito da sua acção, que ainda hoje continua a marcar o Velho Continente, do edifício judiciário à mentalidade geopolítica -- veja-se a Guerra da Ucrânia. Contextualizando um pouco mais, Napoleão, génio político e militar -- embora nem todos assim o considerem tal, como Tolstói em Guerra e Paz (1869) -- perdura no imaginário comum ocidental, e não só, de conquistadores, guerreiros e e estadistas lendários, de Alexandre o Grande e Júlio César a Carlos Magno e Gengis Khan, Carlos V ou mesmo Luís XIV.

O resultado final é bastante bom, mesmo se o traço de Fiorentino não seja o que mais aprecio, mas é uma subjectividade minha; o trabalho conjunto, muito difícil numa obra de cariz biográfico como esta, estou a pensar, por exemplo, nas dificuldades da découpage, que foram muito bem contornadas, em favor da fluidez da narrativa.

O primeiro tomo compreende o período que vai da infância na Córsega, período controverso quanto a informações fidedignas, à retirada do Egipto para ganhar a França.

sábado, março 01, 2025

Bruce Springsteen, «Jackson Cage»

o que está a acontecer

I- «Em 1815, um dos mais abastados mercadores de panos da Rua das Flores, na cidade do Porto, era o Sr. António José da Silva. E, a 23 de Agosto do mesmo ano, o negociante da Rua das Flores que mais suava e bufava aflito com a calma era o mesmo Sr. António José da Silva. O Sr. António, como os seus caixeiros o chamavam, tinha razão para suar. As bochechas balofas e trémulas, dilatadas pelo calor do Estio, ressumavam-lhe um suco oleoso, que descia em regos pelos três rofegos da barba e vinha aderir à camisa às duas grandes esponjas, que formavam os seios cabeludos do nosso amigo atribulado.» Camilo Castelo Branco, A Filha do Arcediago (1854)

«Ai que ma levam! / É o único grito que irrompe do escuro, lúgubre, aflitivo, raspado. Depois o silêncio, a mudez concentrada da noite, a nuvem negra coalhada sobre as ruínas da vila toda lavada em lágrimas. Só aquele grito ressoa na praça solitária.» Raul Brandão, A Farsa (1903)

«Depois, demorando nele os olhos pestanudos e pretos: / -- Oh Jacinto "Galeão", que andas tu aqui, a estas horas, a rebolar pelas pedras? / E Jacinto, aturdido e deslumbrado, reconheceu o senhor infante D. Miguel! / Desde essa tarde amou aquele bom infante como nunca amara, apesar de tão guloso, o seu ventre, apesar de tão devoto, o seu Deus!» Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (póst., 1901)  

sexta-feira, fevereiro 28, 2025

ucraniana CCLXXXIV - Zelensky esqueceu-se de que era o moço de fretes dos Estados Unidos

Não foi bonito, mas foi muito bem feito, e lembrou-me de quando o Zelensky tinha encontros com estes patéticos dirigentes europeus, ou era recebido nos seus parlamentos, e  se achava à vontade para dar reprimendas aos anfitriões. Pois não era ele o moço de fretes dos Estados Unidos?

Não sei se ele caiu numa armadilha, nem me interessa. Fartos do presidente ucraniano, Vance disse-lhe o óbvio: era o tempo da diplomacia -- essa mesma diplomacia que Biden não autorizou que prosseguisse na Turquia. Pois não era o objectivo daqueles idiotas infligir uma "derrota estratégica" à Rússia? Era. E Zelensky, como moço de fretes, obedeceu, secundado pelos lacaios da UE.

E Trump disse a verdade àquele aldrabão/incompetente/inconsciente (riscar o que não interessa): quer ele estava a brincar à III Guerra Mundial. Ou já se esqueceram dos pedidos/exigências da no fly zone, que poria a Nato em guerra directa com a Rússia? Esta foi uma das primeiras das muitas brincadeiras de Zelensky.

Carlos Branco num dos seus textos, classificou Zelensky como um instrumento da administração Biden; eu chamo-lhe o mesmo, sem carícias: moço de fretes. 

O frete deixou de ser preciso, e Zelensky ou assina ou assina -- caso contrário é deixado à sua sorte. De qualquer modo, o destino da Ucrânia está traçado, graças à inteligentíssima estratégia de Biden e dos idiotas da UE, com a activissima colaboração do Zelensky: um país amputado e controlado pela Rússia, ou amputado pela Rússia e o remanescente subjugado pelos Estados Unidos. Brilhante!

A União Europeia cacareja. E a verdade é que não pode fazer outra coisa -- não por estar desarmada, mas pelo que tenho referido: não é um país ou uma federação. Países com interesses diferentes não podem ter uma política externa comum. Mas isto fica para depois.

e a propósito da USAid, alguém voltou a ouvir falar dos lutadores pela liberdade e democracy na Geórgia? Não?...

Falta-lhes o subsílio (como diz o povo) da benemérita USAid, que parece financiava também ópera transgénero na Colômbia, que deve ser uma coisa maravilhosa de se ver e ouvir.

Nobel da Inclusão para o Joe Biden, já!

-- Ah, mas o gajo é o porco que queria provocar uma derrota estratégica à Rússia, até ao último ucraniano...

- E isso que interessa?!... 

(Nota: é possível que a USAid tenha actividades meritórias. Não sei, não fui ver. Na verdade, estou-me nas tintas.)

2 versos de Fernando Jorge Fabião

«Quando falas / uma brisa furtiva povoa a casa» 

Nascente da Sede (2000)

quinta-feira, fevereiro 27, 2025

Crosby, Stills, Nash & Young, «Déjà Vu»

oh, o PCP e as autárquicas em Lisboa...

Mas por que diabo iria o PCP aliar-se em Lisboa com os amigos do Zelensky -- o mesmo é dizer -- o homem da nato em Kiev, estúpida e imbecilmente apoiado entre nós, do Chega ao Bloco, sempre às ordens e de cu para o ar? Só se não tivesse coluna vertebral... Digo eu, que voto onde me apetece, e ainda não tenho candidato em Cascais.

E lá se vai também outra oportunidade para fazer de Junho o mês arco-íris em Lisboa (o grande projecto do Livre, quando fez caminho  com Medina). Pobre Lisboa, pobres sardinhas, pobres varinas de outrora, pobres duendes... 

Mal por mal, antes o Moedas, vigiado pelo CDS, é claro.

4 versos de Fernando Namora

«Na varanda do vizinho / todas as manhãs / canta / a rola da minha infância.»  

«Canto», Marketing (1969)

quarta-feira, fevereiro 26, 2025

os interesses permanentes de Portugal situam-se no Atlântico e na Ibéria, não na Europa Oriental, nomeadamente na Ucrânia -- ou seja:

Agora que parece avizinhar-se o fim da Guerra da Ucrânia, através da previsível entente entre os Estados Unidos e a Rússia, convém lembrar a políticos loquazes como Marcelo Rebelo de Sousa (e aos papagaios do comentário, se tivessem vergonha e competência) que os interesses permanentes de Portugal e o seu espaço geopolítico principal são o Atlântico e a Ibéria -- esquematicamente: Estados Unidos (mais do que a Inglaterra, por razões óbvias), a Espanha, estado multinacional, e os países da CPLP. A Ucrânia para Portugal, país que assinalará os seus 900 anos em 1128 (Batalha de S. Mamede -- e não em 1143, como pretendem para aí uns chungas) -- para Portugal, a Ucrânia representa aproximadamente zero. Bem sei que já não estamos no Século XIX, mas a História e a Geografia continuam -- e de que maneira.

É claro que não podemos ignorar que somos um país europeu e que pertencemos à União Europeia. Esta (ainda) é uma extraordinária construção política, e é também uma associação de estados independentes com interesses próprios, por vezes conflituantes. Não é uma confederação, e muito menos uma federação. E também já vi o seu fim mais longe.

Há, na União Europeia quem queira a guerra com a Rússia (coitados). Se os bálticos, os finlandeses, os escandinavos ou os polacos, por razões e medos históricos querem guerra, eles que a façam; se a França quer tirar desforço por estar a perder posições em África por causa da Rússia, ela que se enterre sozinha, que a nós não nos interessa nada. O perigo islamita radical, larvar mas real no Magrebe, tanto é combatido por franceses como por russos, estes talvez o façam até melhor, e pelo menos não têm contra si o pó dos antigos países colonizados  


bonecos


3 versos de Rui Knopfli

«Amo-te cidade da infância, / com girassóis e casas de madeira e zinco / a dormir na neblina da memória.» 

«Carta para um amor», O País dos Outros (1959)

estampanços


André Carrilho, Fado



 

terça-feira, fevereiro 25, 2025

vária

«Sem boas estradas não se pode fazer a guerra, tão grande é a influência que o motor exerce nesta luta devastadora e gigantesca. Se a gasolina desaparecesse, a guerra não poderia continuar. Faltava-lhe o camion, e sem camions não há, no nosso tempo, possibilidade de alimentar exércitos com rapidez.» Adelino Mendes, «A cidade d'Albert», (A Capital, 29-III-1917), Repórteres e Reportagens de Primeira Página (s.d.)

«Só tenho pena de não me restar o tempo necessário para ver em que tudo isso vai dar. Bem que gostaria. / Oitenta anos vividos intensa, ardentemente, de face para a vida, em plenitude. Minha criação romanesca decorre da intimidade, da cumplicidade com o povo. Aprendi com o povo e com a vida, sou um escritor e não um literato, em verdade sou um obá -- em língua iorubá da Bahia obá significa ministro, velho, sábio: sábio da sabedoria do povo.» Jorge Amado, Navegação de Cabotagem (1992)

«E os olhos delas perecem dizer-me: "Recordas-te", trémulos, querendo falar... Disse-me um dia Henri Heine, prosseguindo no meu espírito esta identificação perturbadora, entre as floritas mudas e a alma errante dos mortos que nos foram caros: "Os perfumes, meu filho, são os sentimentos das flores. Assim como as emoções do coração são mais profundas de noite, se estamos sós e sem testemunhas, assim as flores parecem esperar que escureça, para no espaço exalarem seus perfumes, almas nostálgicas de noivas!, numa fantástica ronda de divagações emotivas."» Fialho de Almeida, «Pelos Campos», O País das Uvas (1893)

atrasos de vida

Desde o início da guerra entre os EUA e a Rússia na Ucrânia que muito se tem falado em Munique '38 e o nefasto apaziguamento de Hitler, que se verificava já pelo menos desde 1936, com a reocupação do Ruhr. A equiparação é fácil de entender, Putin o novo Hitler, e, claro, associando-lhe características idiossincráticas e ideológicas do estafermo austríaco: insânia, espaço vital, superioridade rácica e todo o folclore, para sugestionar simplórios. Que pivôs feitos jornalistas à pressão ou uns quantos pobres de Cristo do direito ou das relações internacionais o digam, ao fim de três anos de estupidez começa a ser tradicional; que historiadores de meia-tigela venham com comparações fáceis mas erradas, é uma nódoa de que não poderão limpar-se. 

(Lembram-me outros historiadores que no seu activismo se esqueceram de que o eram,  contestando a palavra/expressão Descobrimentos para designar uma parte fundamental das navegações e expansão portuguesas. Que estúpidos...)

Mas... -- há sempre um mas. Se enquanto vigorar a Nato, um ataque, por exemplo, aos países do Báltico ou à Polónia seria suicidário (e para quê, o ataque?...), não se segue que, no momento, presente Estónia, Letónia e Lituânia, com uma forte minoria de nacionais russos entre a sua população (num dos países, quase chega aos 50%), não devam ter em atenção o tipo de política que a estes é dirigida, e não fazer como na Ucrânia, perseguição, proibição, massacre até -- sem dúvida o que levou as autoridades russas a falarem com merecido desprezo da necessidade de desnazificação. (Também há para lá nazis, embora os propagandistas de cá digam que não). 

Ontem ouvi o major-general Agostinho Costa referir-se a este pormaior; e seria bom que estes mini-estados resistissem à tentação fácil. Se é a guerra que eles querem -- como se fartam de gritar -- começá-la será facílimo. Imitem a Ucrânia. Destas provocações, sim, é preciso ter medo. 

4 versos de Valter Hugo Mãe

«agora eu era linda outra vez / e tu existias e merecíamos / noite inteira um tão grande / amor» 

O Resto da Minha Alegria (2003)

domingo, fevereiro 23, 2025

Nat Adderley, «Tadd»

ucraniana CCLXXXIII - a crise profunda e talvez irreversível da UE

Que a opinião pública, desenquadrada e alheia da complexidade das questões estratégicas e diplomáticas se deixasse levar como uma criança por onde um forte arsenal de propaganda de serviços secretos, ong's dissimuladas e utilização da incompetência me(r)diática a dirigia foi compreensível, pelo menos ao princípio, pois com desenvolvimento a que se assistiu qualquer bípede com dois dedos de testa percebeu que não se tratava de uma guerra da Rússia com a Ucrânia, mas entre aquela e os Estados Unidos (a minha cadela já o tinha compreendido ao fim de seis meses). Inaceitável é a incompetência e indigência de boa parte dos académicos, ou a excessiva prudência de alguns deles, mesmo sabendo que ao princípio não era nada fácil furar a barragem de fogo propagandístico que era lançada até ao absurdo.

O que assistimos agora na Europa é não apenas negação e cobardia dos grandes países, em especial França e Inglaterra, para não falar na cúpula da UE -- a Polónia mostra-se apesar de tudo mais realista, enquanto que os Países Bálticos, no seu pavor patológico, não desistiram ainda de nos arrastar para uma guerra com a Rússia. (Há que ter calma, que a Nato ainda não acabou; e só acreditarei no seu fim depois de ver.) 

Para já, o plano dos americanos é deixar-nos, europeus, com o menino nos braços e fazer-se pagar (um outro nome para pilhagem) da "ajuda" à Ucrânia, como dizem os jornalistas analfabetos. Uma win-win-win situation: levam-lhe a guerra e destruição (com cumplicidades internas e europeias, claro), sacam-lhe boa parte das terras raras e aposto como ainda terão parte de leão no reerguer do país.  

As viagens da semana que começa de Macron e Starmer aos Estados Unidos e de Sánchez e ainda von der Leyen e Costa à Ucrânia (porquê?, o que vão lá fazer? com mandato de quem?... Vai ser cómico ouvi-los.) serão muito esclarecedoras. A UE, sim, está em risco, por demissionismo de boa parte dos governos europeus que levou ao extravasar de competências da Comissão Europeia.  

Algumas desta reflexões foram suscitadas pelo esplêndido artigo do major-general Carlos Branco

«Boots of Spanish Leather» (Trevor Willmott & Juliana Richer Daily)

sábado, fevereiro 22, 2025

o que aconteceu

«Agora deitem Vossorias consultas e digam-me: quem tudo lo manda no concelho? Quem? O doutor Alípio, o filho da Ruça da Folgosela, com porta aberta aos marchantes na feira de S. Mateus. Quem recolhe boas novidades? O pele-de-asno do Bisagra com umas barreiras rabosanas, donde não valia a pena enxotar a milheira, quando ainda o mundo não andava torto.» Aquilino Ribeiro, O Malhadinhas (1922)

«Oh! moços que vos dirigíeis vivamente a S. Carlos, atabafados em paletós caros onde alvejava a gravata de soirée! Oh! tipóias, apinhadas de andaluzas, batendo galhardamente para os touros quantas vezes me fizestes suspirar! Porque a certeza de que os meus vinte mil réis por mês e o meu jeito encolhido de enguiço, me excluíam para sempre dessas alegrias sociais, vinha-me então ferir o peito -- como uma frecha que se crava num tronco, e fica muito tempo vibrando!» Eça de Queirós, O Mandarim (1880)

«À saída da aldeia, recuou estarrecido. Vira um fantasma branco a destacar das trevas, e agachado na raiz dum castanheiro. / -- Ó Zé da Mónica, és tu? -- perguntou o suspeito fantasma. / -- Sou eu, tia Brites -- respondeu o rapaz suspirando ofegante. / Credo! Que medo você me fez!» Camilo Castelo Branco, Maria Moisés (1876-77) 

sexta-feira, fevereiro 21, 2025

Paredes toda a semana: «Verdes Anos»

2 versos de Camões

 «Já no largo Oceano navegavam, / As inquietas ondas apartando;»

Os Lusíadas I-19 (1572)

quinta-feira, fevereiro 20, 2025

Paredes toda a semana: «Variações em Ré Maior»

ucraniana CCLXXXIII - da política europeia na guerra da Ucrânia

Durante a administração Biden, a União Europeia fez o que a América mandou; na administração Trump, a União Europeia fará o que a América mandar e o que a Rússia autorizar.

4 versos de Sebastião da Gama

«Que não há rio nem rua nem montanha / nem floresta nem prado nem jardim / nem pensamento algum nem livro algum / em que não me apareças, sorridente.» 

«Obsessão», Pelo Sonho É que Vamos (póst. 1953)

quarta-feira, fevereiro 19, 2025

Django Reinhardt, «Night and Day» (Paris, 10.03. 1953)

ucraniana CCLXXXII - quando os fariseus choram pelo fim do Direito Internacional

Em cada hipócrita há um detestável vigarista. Ler e ouvir lamentações pelo "fim" do Direito Internacional e a prevalência do direito do mais forte, vinda de criaturas que se marimbaram para o assalto ao Iraque (quando não o apoiaram...), esses mesmos indivíduos que falam dos nossos valores, mas, em muitos casos, não tugem nem mugem quando os delinquentes do governo israelita massacram indiscriminadamente, em vindicta de contorno veterobíblica, a população inteira da Faixa de Gaza -- ler e ouvi-los sem os insultar é tarefa impossível.

ucraniana CCLXXXI - quando o pseudo-jornalismo é ao mesmo tempo tendencioso, desonesto e ignorante

Está aqui na TSF, podia ser o Público, e a imprensa quase toda. Depois de resumirem as declarações do Trump, o redactor introduz um período da sua lavra, para explicar aos mentecaptos que o lêem que ele, Trump, está a trumpar, está a mentir. Leia-se:  

«[,,,] "Hoje ouvi dizer 'não fomos convidados'. Bem, vocês [Ucrânia] estão lá há três anos. Deviam ter acabado com isto há três anos. Nunca o deviam ter começado", disse Trump sobre o conflito na Ucrânia. / A guerra foi desencadeada pela Rússia que invadiu o país em fevereiro de 2022.» (sublinhado meu)

E o pior é que este incompetente e analfabeto (ou analfabeta) provavelmente acha que está a ser honesto, que foi realmente assim, mesmo que, deixando a deontologia pelas ruas da amargura, sinta a necessidade de meter o bedelho na matéria noticiosa -- um pouco como aqueles inomináveis pivôs, que, após declarações de um convidado que diga algo diferente das convicções do criaturo, rematam com um aparte discordante a declaração que o seu convidado acabava de fazer, tendo assim -- malcriadamente e desrespeitando também os telespectadores -- a última palavra...  

Nada disto é novo, e no que respeita à guerra da Ucrânia (entre a Rússia e os Estados Unidos, q.e.d.) há três anos que estamos a aguentar esta pocilga informativa.

2 versos de Dick Hard

 «Pau Pau / Beijo Beijo»

«História breve de meretriz que trocava favores sexuais por sanduíches de queijo» /

/ De Boas Erecções Está o Inferno Cheio (2004)

Paredes toda a semana: «Sede»

terça-feira, fevereiro 18, 2025

o que está a acontecer

«Pastas sobre pastas de nuvens álgidas, que a noite transforma em crepes, amontoam-se na escuridão. O granito revê água. E sob a chuva ininterrupta, sob as cordas incessantes, a vila, envolta na treva glacial, parece lavada em lágrimas...» Raul Brandão, A Farsa (1903)

«Avançava cautelosamente, inclinando a cabeça para não tocar no tecto. À medida que se aproximava da claridade exterior, via-se que se tratava de um homem novo. O polícia sabia a sua idade exacta. Mas não era necessário ler o papel que o polícia trazia no bolso: Januário de Sousa, filho de Ana Maria e de pai incógnito, etc.; bastava deitar o rabo do olho à sua pele morena, lisa e macia, que nem a água passada a ferro na popa dos barcos, para se ver que ele não tinha mais de vinte anos, apesar de os seus olhos parecerem exaustos por não se sabia quantas madrugadas do princípio do mundo.» Ferreira de Castro, A Experiência (1954)

«Seu avô, aquele gordíssimo e riquíssimo Jacinto a quem chamavam em Lisboa "o D. Galeão", descendo uma tarde pela Travessa da Trabuqueta, rente de um muro de quintal que uma parreira toldava, escorregou numa casca de laranja e desabou no lajedo. Da portinha da horta saía nesse momento um homem moreno, escanhoado, de grosso casaco de baetão verde e botas altas de picador, que, galhofando e com uma força fácil, levantou o enorme Jacinto -- até lhe apanhou a bengala de castão de ouro que rolara para o lixo.» Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (póst., 1901)

Paredes toda a semana: «Mudar de Vida»

segunda-feira, fevereiro 17, 2025

por aí


Gérard Castello-Lopes
Algarve, 1957

 

Paredes toda a semana: «Dança da Aldeia»

2 versos de Fernando Jorge Fabião

«as veias dos mapas  são fundas / como minas abandonadas» 

Nascente da Sede (2000)